O Livro de Cânticos e Sua Verdadeira Interpretação

Autor: Jeremy James, Irlanda, 5/2/2022.

Há uma obrigação sobre todos nós, como cristãos nascidos de novo, de procurar continuamente obter uma maior compreensão da Palavra de Deus. Até mesmo em sua idade avançada o apóstolo Paulo estudava as Escrituras. Quando ele pediu a Timóteo para lhe trazer vários itens que ele havia deixado em Trôade, mencionou especificamente "os pergaminhos" (2 Timóteo 4:13).

Sabemos também que profetas como Isaías registraram profecias que eles próprios não compreenderam plenamente. Sem dúvidas, eles refletiram depois sobre aqueles versos e consideraram o possível papel deles no plano futuro de Deus para a humanidade.

Alguns grandes teólogos, notavelmente Martinho Lutero, ficaram perplexos com o livro do Apocalipse e até perguntaram por que ele tinha sido incluído no cânon. Entretanto, compreendemos a simbologia desse livro admirável hoje e somos grandemente abençoados pelas compreensões que ele nos dá a respeito dos eventos do fim dos tempos.

Ainda resta um livro que ainda não alcançou uma interpretação consistente e universalmente compartilhada. Esse livro é Cânticos (também conhecido como Cantares de Salomão), uma obra que para muitos e tão alegórica que eles perderam a esperança de algum dia aprender, com alguma certeza, o que ele realmente significa.

Parte 1

Não repetiremos aqui as incontáveis opiniões, a maioria das quais é especulativa, sobre o possível significado do livro. Alguns dos comentaristas que examinamos são de alta reputação, mas uma clara compreensão desse livro em particular parece ter escapado deles. As interpretações díspares se acumularam em um velocidade que, escrevendo na primeira metade do século 19, Adam Clarke, um teólogo metodista, achou adequado agrupá-las em seis categorias, como segue:

  1. Ele é um epitalâmio sobre o casamento de Salomão com a filha do faraó, rei do Egito; e não deve ser compreendido de outra forma. (Um epitalâmio é um poema a ser recitado por ocasião de um casamento, desejando ao casal bênçãos abundantes e felicidade conjugal.).

  2. Ele é uma alegoria que fala do tratamento que Deus deu aos hebreus ao tirá-los do Egito e conduzi-los pelo deserto até a Terra Prometida.

  3. Ele tem o objetivo de representar a encarnação de Jesus Cristo, ou seu casamento com a natureza humana.

  4. Ele representa o amor de Cristo pela igreja, as almas eleitas, e o amor delas por Ele.

  5. Ele é um poema alegórico sobre as glórias de Jesus Cristo e da virgem Maria.

  6. Ele é uma coleção de idílios sagrados, porém não existe concordância a respeito do significado espiritual dos mesmos.

Outras interpretações já foram oferecidas desde então, bem como variações sobre aquelas já propostas. A visão popular hoje é que Cantares de Salomão, tomado como um todo, é um poema nupcial, ou um conjunto de poemas (um epitalâmio) escrito por Salomão para celebrar seu casamento com o amor de sua vida. Como tal, ele é uma alegora espiritual que expressa o amor de Cristo por Sua igreja.

Como veremos em um momento, essa interpretação não é apoiada pelo texto. A abordagem geral para esse livro tem sido grandemente influenciada pelas várias suposições funcionais que fizeram os eruditos irem para a direção errada: (1) Salomão, como um tipo de Cristo, precisa ser o herói e o amante; (2) A mulher ("a Sulamita") precisa representar a igreja; (3) O texto precisa ser compreendido o tempo todo como expressão de várias formas da alegria do amor conjugal; (4) A mulher pode ter somente um pretendente; e (5) como um epitalâmio, ou poema nupcial, ele requer que Salomão e Sulamita sejam marido e mulher.

Uma Nova Interpretação

Podemos resumir nossa nova interpretação de Cânticos como segue:

Cânticos é um relato escrito por Salomão, possivelmente quase uma confissão, de uma tentativa que ele fez para acrescentar ao seu já grande harém uma linda mulher, que estava comprometida (na própria estimativa dela) com outro homem, e as tentativas dela, bem como as de seu verdadeiro amor, de escapar das garras de Salomão e de ficarem juntos.

O relato, desde o início até o fim, consiste totalmente de eventos reais e pessoas reais. Existem somente três oradores no total em Cânticos. A visão que era amplamente aceita que as mulheres na corte de Salomão constituíam um "coro" não é válida.

Esta interpretação coloca os três "atores" nos seguintes papéis:

  1. Salomão é um tipo de homem carnal. Ele também representa o mundo e suas infindáveis atrações materiais.

  2. Sulamita é uma alma de coração puro, que vive somente para o amor. Como tal, ela representa todos que amam a Deus em verdade. Ela está preparada para perder tudo para estar com seu amado.

  3. O homem que ela ama é um simples pastor. O amor dele por ela é puro e sem limites. Ele representa o amor de Deus pelo homens e mulheres justos.

A narrativa dramática ocorre em grande parte como segue:

Cânticos 1: A mulher está no palácio de Salomão, cercada por criadas que foram colocadas ao seu serviço. Ela confidencia para elas que seu verdadeiro amor é um pastor que vive na região montanhosa próxima a Gileade. Ela foi tomada por Salomão como uma de suas muitas mulheres, mas o coração dela deseja estar em outro lugar. Salomão tenta impressioná-la com palavras lisonjeiras e retórica romântica. Ele deve ter ouvido o rumor que a mulher amava outra pessoa. Provavelmente, esta é uma dificuldade que ele já tinha encontrado muitas vezes antes, mas normalmente seu charme, riqueza e reputação quebraram toda a resistência. Na mente dela, ela está redigindo uma carta, que pretende enviar para seu verdadeiro amor.

Cânticos 2: A mulher e o pastor de ovelhas trocam cartas. Eles desejam estar um com o outro. Os planos deles tomam forma e ele faz a longa e cansativa viagem até Jerusalém para resgatá-la. Ela parece confidenciar para algumas de suas criadas que ele está vindo buscá-la. Ele sobe até a janela do quarto dela e pede que ela se apresse.

Cânticos 3: Ela sai do palácio durante a escuridão da noite. De algum modo, o encontro combinado deles é atrasado e ela percorre a cidade, tentando encontrá-lo. Ela pergunta aos guardas noturnos se eles o viram. Quando os dois finalmente se encontram, eles percebem que se atrasaram tanto que os homens de Salomão estão vindo para levá-la de volta. Salomão a coloca sob prisão domiciliar e designa uma guarda militar de 60 homens em volta dos aposentos dela. Ele também decide se casar com ela sem mais delongas e colocar um fim em todas essas traquinagens. Os convites para o casamento são distribuídos.

Cânticos 4: É feito um relato extenso das palavras de amor proferidas pelo pastor para sua amada durante os breves momentos em que eles estiveram juntos, antes da chegada dos homens de Salomão. A cena imaginada expressa a intensidade do amor que ele sente por ela.

Cânticos 5: O pastor sabe que seu tempo é curto. Ele faz outra valente tentativa de resgatar sua amada antes do casamento. Ele consegue se evadir dos guardas e chegar até a porta do quarto dela, mas não consegue destravar a porta. Ele tenta por algum tempo, mas ouve os guardas e decide fugir. Quando os guardas vão embora, ela consegue abrir a porta e ir até a rua, para procurar o pastor. Infelizmente, os guardas noturnos, que caminhavam pelas ruas, a veem e percebem o que ela está querendo fazer. Desta vez, eles a prendem à força, antes que os soldados de Salomão cheguem. Ao fazerem isso, eles a espancam e, aparentemente, causam ferimentos. O rei fica furioso com ela e a interroga na frente de suas mulheres, concubinas e criadas. Ele não consegue compreender por que ela está se comportando assim. A mulher tenta explicar por que razão ela ama o pastor.

Cânticos 6: Ela precisa passar pelo interrogatório, embora seja degradante. Salomão oferece-se para localizar o pastor para ela (por que?), porém ela desconfia que as intenções dele não boas e dá uma resposta vaga. Salomão tenta usar de lisonjas mais uma vez, mas ela está com os ouvidos fechados. Em sua mente, ela relembra as palavras maravilhosas proferidas pelo pastor para ela. Enquanto isso, o pastor está pensando nela e no que ela terá de suportar no palácio. Ele sente conforto com o conhecimento que Deus a protegerá.

Cânticos 7: Neste momento de solidão, agravado por uma combinação de dor e estresse, ambos encontram consolação pensando um no outro. Usando imagens poéticas vívidas, ele faz um belo relato de seu amor por ela. Durante toda essa situação, eles pensam um no outro como marido e mulher.

Cânticos 8: Nestes versos de encerramento, ela reflete sobre os eventos que levaram a esta situação trágica, como Salomão chegou a ouvir falar da beleza dela e procurou obter a mão dela em casamento, aparentemente buscando a permissão da família dela. De algum modo, ela sucumbiu à pressão e foi levada ao palácio. Depois que chegou ali, ela percebeu que tinha cometido um erro terrível.

Não é dito para nós como a saga inteira termina. Ela deu prosseguimento ao planejado casamento com Salomão? Isto é altamente duvidoso. Ela fugiu e viveu feliz depois com seu cônjuge pastor? Não podemos ter certeza, mas isso também é duvidoso. Salomão poderia mandar matar o rapaz, exatamente como o pai dele matou Urias para ficar com Bate-Seba. Ou, talvez, ela foi mantida depois disso como uma concubina no palácio, em vez de como uma esposa. Teria sido vergonhoso para Salomão permitir que ela fosse embora. Isso daria a todo Israel a impressão que um simples pastor tinha superado o rei.

Antes de dar início a uma exposição verso por verso do texto, devemos observar que o único comentarista bem conhecido que promoveu essa interpretação do pastor-amante, tanto quanto podemos dizer, foi William MacDonald (que também escreveu um excelente comentário sobre toda a Bíblia). Entretanto, ele evita os aspectos mais desafiadores da narrativa bíblica, recorrendo às sequências de sonhos. Isto lhe permite ignorar, por exemplo, a violência infligida à Sulamita e as tentativas do pastor-amante de libertá-la do palácio. A abordagem dele é em grande parte especulativa e ele atribui muitas citações à pessoa errada.

Parte 2

Comentário Verso por Verso

No início do comentário de cada verso, mostramos o nome de quem está falando. Ao interpretar este livro, é importante compreender quem está falando em cada verso; caso contrário, haverá grande confusão. Existem somente três pessoas que falam.

Cânticos 1

1. "Cântico dos cânticos, que é de Salomão."

Salomão. O rei Salomão reivindica a autoria.

2. "Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho."

A mulher. Ela está falando sobre o homem a quem ama. A referência a ele na terceira pessoa sugere que todas as referências subsequentes a ele na segunda pessoa são aquilo que ela pretende dizer quando o vir em seguida.

3. "Suave é o aroma dos teus unguentos; como o unguento derramado é o teu nome; por isso as virgens te amam."

A mulher. Este homem é o verdadeiro amor dela. As "virgens" são as servas solteiras, que estão procurando um marido. Elas também poderiam vir a amá-lo.

4. "Leva-me tu; correremos após ti. O rei me introduziu nas suas câmaras; em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que do vinho; os retos te amam."

A mulher. Em sua imaginação, ela diz a ele que o rei Salomão a levou até seu palácio. Talvez ela esteja escrevendo isso em uma carta. As "virgens" no verso anterior são, portanto, as servas que a atendem. Ela quer que seu verdadeiro amor venha e a busque. Ela acredita que as servas iriam alegremente com ela.

5. "Eu sou morena, porém formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão."

A mulher. Ela chama suas criadas de "filhas de Jerusalém". Presumivelmente, elas nasceram e cresceram ali, enquanto que ela veio de outro lugar. Ela diz que é morena, algo que deveria ser incomum no palácio, ou entre as muitas mulheres de Salomão.

6. "Não olheis para o eu ser morena, porque o sol resplandeceu sobre mim; os filhos de minha mãe indignaram-se contra mim, puseram-me por guarda das vinhas; a minha vinha, porém, não guardei."

A mulher. Ela atribui sua tez morena ao tempo que passou sob o sol. Parece que os irmãos dela ("os filhos de minha mãe") a colocaram para cuidar de um vinhedo, o que requeria passar longas horas debaixo do sol. Não é dito aqui por que eles ficaram "indignados" com ela. [Veja 8:6].

7. "Dize-me, ó tu, a quem ama a minha alma: Onde apascentas o teu rebanho, onde o fazes descansar ao meio-dia; pois por que razão seria eu como a que anda errante junto aos rebanhos de teus companheiros?"

A mulher. O verdadeiro amor dela é um pastor que cuida de um rebanho. Ela quer saber onde ela poderia encontrá-lo. Presumivelmente, ao meio-dia ele faria seu rebanho descansar na sombra. Ela diz que andaria errante se tentasse encontrá-lo. Por esta razão, ela quer saber a localização exata dele ao meio-dia. (Ela irá até ele, ou enviará uma mensagem.)

8. "Se tu não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres, sai-te pelas pisadas do rebanho, e apascenta as tuas cabras junto às moradas dos pastores."

O verdadeiro amor dela. Parece que ele recebeu a mensagem dela e está enviando uma resposta. Ele garante que, se ela tiver dificuldade em encontrá-lo, deve ir até as tendas onde os outros pastores se reúnem e aguardá-lo ali ("apascenta as tuas cabras").

9. "Às éguas dos carros de Faraó te comparo, ó meu amor."

Salomão. O rei Salomão tenta conquistar a afeição dela. Ele a compara a uma de suas visões favoritas — as belas éguas criadas pelo faraó do Egito.

10. "Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço com os colares."

Salomão. Ele usa metáforas convencionais e não convincentes para lisonjeá-la.

11. "Enfeites de ouro te faremos, com incrustações de prata."

Salomão. Ele também promete mimá-la com as roupas e adereços mais caros.

12. "Enquanto o rei está assentado à sua mesa, o meu nardo exala o seu perfume."

A mulher. Enquanto a mulher se assenta à mesa do rei, ela sabe que sua grande beleza tem um efeito sobre ele, mas isto não é algo que ela possa controlar.

13. "O meu amado é para mim como um ramalhete de mirra, posto entre os meus seios."

A mulher. Ela pensa em seu verdadeiro amor e isto tem um efeito tranquilizante sobre ela, como um "ramalhete de mirra". Ela pensa especificamente no toque suave dele durante a noite.

14. "Como um ramalhete de hena nas vinhas de Engedi, é para mim o meu amado."

A mulher. A palavra hebraica que foi traduzida como hena é kopher, um termo altamente significativo, que pode significar resgate, cobertura ou redenção. A tampa da Arca da Aliança é o kopher, enquanto que a Arca de Noé foi coberta por dentro e por fora com kopher, ou betume (também piche). Aparentemente, a palavra hebraica também significa hena, uma planta com um perfume acentuado: "um arbusto, ou árvore de baixa altura, com flores brancas e cheirosas que crescem em cachos, como as uvas". [Brown Driver Briggs]. Mesmo se a planta não for especificamente hena, o contexto nos diz que ela está se referindo a uma planta florida, cheirosa e atraente.

15. "Eis que és formosa, ó meu amor, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas."

Salomão. O rei Salomão continua a tentar ganhar a afeição dela, usando palavras suaves tiradas direto do manual do apaixonado.

16. "Eis que és formoso, ó amado meu, e também amável; o nosso leito é verde." "Eis que és formosa, ó amada minha, e também amável; o nosso leito é verde."

Salomão. A palavra hebraica que é traduzida como "verde" é ra'anan (H7488 na Concordância de Strong), o que pode significar luxuriante, fresco, verdejante, ou verde. Entretanto, dificilmente Salomão está se referindo aqui à cor do leito conjugal, mas, ao contrário, à qualidade luxuriante ou fértil da relação conjugal. Novamente, a ênfase neste verso está na beleza sensual, prazer e intimidade sexual.

17. "As traves da nossa casa são de cedro, as nossas varandas de cipreste."

Salomão. O rei a faz lembrar que ele vive em um palácio magnífico. Ela iria ser feliz e contente se vivesse com ele.

Cânticos 2

1. "Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele descreve a si mesmo como o lírio dos vales, uma imagem muito humilde. Este não é um homem que está orgulhoso de sua própria importância.

2. "Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele vê sua amada como uma flor do campo, um "lírio", exatamente como ele mesmo. Infelizmente, sua amada está agora entre os "espinhos", a elite rica lá em Jerusalém.

3. "Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar."

A Mulher. As árvores comuns que produzem lenha não podem ser comparadas com a macieira, que produz frutos nutritivos. O amor dele sustenta o coração dela. Quando ela está com ele, a sombra dele a protege do calor opressivo do dia.

4. "Levou-me à casa do banquete, e o seu estandarte sobre mim era o amor."

A Mulher. A "casa do banquete" foi onde ele a alimentou com seu amor. O amor dele foi como um abrigo, ou um estandarte que cobriu ambos.

5. "Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor."

A Mulher. Ela reflete com grande ternura sobre o amor que ele tem por ela e seu efeito poderoso. O esmagamento dessas maçãs do amor produziu uma sidra deliciosa que a deixou bêbada, embriagada com amor.

6. "A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace."

A Mulher. Ela reflete sobre o tempo em que eles se deitaram juntos, com profunda afeição em seu local especial de encontro, a "casa do banquete". Ela relembra especificamente a sensação maravilhosa que experimentou quando a mão direita dele a abraçou.

7. "Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que queira."

A Mulher. Ela sabe que ele está vindo para encontrá-la e levá-la para estar com ele. Ela pede que suas servas permitam que ele descanse quando chegar, após sua longa jornada.

8. "Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros."

A Mulher. Ele chegou! Ela ouve a voz dele e estava pensando ternamente nele, enquanto ele vinha pelos montes, até chegar.

9. "O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do veado; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades."

A Mulher. Ele está fora da área do palácio, atrás dos muros. Presumivelmente, ele não quer ser visto pelos guardas do palácio. Ele precisa ter boa forma física para conseguir chegar até ali, sendo "semelhante ao gamo, ou ao filho do veado". Ele até espreita pelas grades das janelas.

10. "O meu amado fala e me diz: Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele a chama, para ela ir até ele, para juntar suas coisas e fugir. Há um grande senso de urgência aqui.

11. "Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele planejou bem o momento de sua visita. A primavera chegou e o clima está adequado para a viagem deles.

12. "Aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele está um pouco nervoso. Talvez ela hesite. Portanto, ele menciona as coisas que sabe que a agradarão e atrairão, o tapete de flores silvestres nos campos e os pássaros que cantam, que ela tanto ama.

13. "A figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele continua com suas palavras para atrai-la, lembrando-a do suave aroma campestre que ela nunca encontrou na cidade. Em seguida, ele a chama mais uma vez, para se levantar e ir embora com ele.

14. "Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele deseja ver a face e ouvir a voz dela. Ela pode estar se escondendo, com seu coração palpitando nervosamente, pois sabe que, ao fazer isso, estará rejeitando o grande rei.

15. "Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele então a faz lembrar do trabalho maravilhoso dela ao cuidar do vinhedo, afastando os animais e os insetos que causavam danos ao vinhedo e aos seus frutos tenros.

16. "O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios."

A Mulher. Ela tomou sua decisão. Ela irá voltar com ele! "O meu amado é meu, e eu sou dele!" Ela irá para o local em que ele vive, entre as flores silvestres do campo.

17. "Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter."

A Mulher. Ela pede que ele se apresse. Eles querem percorrer a maior distância possível antes que nasça o dia. Ela sabe que assim que sua ausência foi notada, Salomão enviará seus homens atrás dela. O nome da localidade Beter significa "separado".

Cânticos 3

1. "De noite, em minha cama, busquei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei."

A Mulher. Depois de esperar por ele tanto tempo, quando ela finalmente teve uma oportunidade de fugir com ele, de algum modo eles ficaram separados. Quando ela chegou ao local onde eles tinham combinado o encontro romântico, ele não pôde ser encontrado em parte alguma.

2. "Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei."

A Mulher. Ela está ansiosa e agitada. Depois de sair do palácio, ela percorreu a cidade no meio da noite, procurando por ele.

3. "Acharam-me os guardas, que rondavam pela cidade; eu lhes perguntei: Vistes aquele a quem ama a minha alma?"

A Mulher. Os guardas noturnos a abordam; eles devem ter achado estranho ver uma mulher perambulando pelas ruas naquela hora. Ela pergunta se eles viram o pastor.

4. "Apartando-me eu um pouco deles, logo achei aquele a quem ama a minha alma; agarrei-me a ele, e não o larguei, até que o introduzi em casa de minha mãe, na câmara daquela que me gerou."

A Mulher. Ela conseguiu localizá-lo! Ele o agarra apaixonadamente e deseja estar de volta à própria aldeia deles, longe desta situação crítica. Ela sabia que os guardas iriam apresentar um relatório a respeito dela e em bem pouco tempo um grupo de busca seria enviado para localizá-la.

5. "Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis, nem desperteis o meu amor, até que queira."

A Mulher. Há um toque de histeria aqui. Ela repete as mesmas palavras proferidas em Cânticos 2:7. Quando ela falou essas palavras na última vez, tudo era tão promissor e seu coração irradiava alegria diante da perspectiva de encontrar seu amado. Agora que ela finalmente o tem ao seu lado, os planos deles estão desmoronando.

6. "Quem é esta que sobe do deserto, como colunas de fumaça, perfumada de mirra, de incenso, e de todos os pós dos mercadores?"

A Mulher. Ela vê os homens de Salomão vindo buscá-la, com grande fúria, aparentemente com o próprio Salomão no comando.

7. "Eis que é a liteira de Salomão; sessenta valentes estão ao redor dela, dos valentes de Israel,"

A Mulher. Ela é levada de volta ao palácio e colocada na câmara de dormir de Salomão. Desta vez ela não estaria correndo riscos: sessenta soldados bem treinados faziam a guarda ao redor

8. "Todos armados de espadas, destros na guerra; cada um com a sua espada à cinta por causa dos temores noturnos."

A Mulher. A cena é perturbadora para ela. Ela subitamente foi de um estado de expectativa pacífica para um local de aprisionamento luxuoso, em um quarto protegido por guardas armados.

9. "O rei Salomão fez para si uma carruagem de madeira do Líbano."

Salomão. Salomão estava decidido a se casar com esta mulher antes que ela lhe causasse mais problemas. A carruagem estava no centro da procissão dos noivos.

10. "Fez-lhe as colunas de prata, o estrado de ouro, o assento de púrpura, o interior revestido com amor, pelas filhas de Jerusalém."

Salomão. A carruagem dos noivos foi finalizada com as decorações mais opulentas e magníficas que o dinheiro pode comprar. Provavelmente, essa carruagem em particular foi usada nas cerimônias de casamento anteriores dele.

11. "Saí, ó filhas de Sião, e contemplai ao rei Salomão com a coroa com que o coroou sua mãe no dia do seu desposório e no dia do júbilo do seu coração."

Salomão. A proclamação real é divulgada, convocando todas as famílias nobres para participarem desse casamento organizado às pressas.

Cânticos 4

1. "Eis que és formosa, meu amor, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas entre as tuas tranças; o teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte de Gileade."

O Verdadeiro Amor Dela. Estas parecem ser palavras de ternura que ele compartilhou com ela antes de terem sido rudemente separados pelos homens de Salomão. Como ele é um pastor, as metáforas e imagens que usa são tiradas da natureza e da vida no campo.

2. "Os teus dentes são como o rebanho das ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e nenhuma há estéril entre elas."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele menciona os rebanhos de ovelhas que são da mais alta qualidade. Esta não é uma imagem que Salomão teria usado!

3. "Os teus lábios são como um fio de escarlate, e o teu falar é agradável; a tua fronte é qual um pedaço de romã entre os teus cabelos."

O Verdadeiro Amor Dela. Compare o rico e sincero caráter dessas imagens com aqueles usados por Salomão em Cânticos 1.

4. "O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para pendurar armas; mil escudos pendem dela, todos broquéis de poderosos."

O Verdadeiro Amor Dela. Esta imagem está mais próxima ao tipo que Salomão poderia ter usado, porém um pastor que vive na área rural e vê a torre de Davi pela primeira vez ficaria muito impressionado.

5. "Os teus dois seios são como dois filhos gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios."

O Verdadeiro Amor Dela. Novamente, ele usa imagens que são familiares a um pastor de ovelhas.

6. "Até que refresque o dia, e fujam as sombras, irei ao monte da mirra, e ao outeiro do incenso."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele usa as mesmas palavras iniciais, ao falar com ela, que ela usou para se dirigir a ele em Cânticos 2:17. Quando ela as usou, elas estavam cheias de esperança. Aqui, ele as usa para lembrá-la que ele não está desistindo da esperança, que continuará a aguardar por ela e viver diariamente sentindo a fragrância ("mirra" e "incenso") do amor deles.

7. "Tu és toda formosa, meu amor, e em ti não há mancha."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele vê a verdadeira beleza espiritual dela, ao contrário de Salomão, que via apenas o aspecto carnal.

8. "Vem comigo do Líbano, ó minha esposa, vem comigo do Líbano; olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde os covis dos leões, desde os montes dos leopardos."

O Verdadeiro Amor Dela. Nestes versos (8-15), ele é dominado pela intensidade do amor que sente por ela. Ele a lembra que ela é sua esposa. Em seguida, ele pede com grande urgência que ela deixe Jerusalém ("Líbano") com ele, indo para bem longe da cidade. Ele quer que ela viaje com ele para o leste, para a terra dele e viva na vista de suas montanhas, onde os vivem felinos selvagens.

9. "Enlevaste-me o coração, minha irmã, minha esposa; enlevaste-me o coração com um dos teus olhares, com um colar do teu pescoço."

O Verdadeiro Amor Dela. Novamente, ele a chama de sua esposa e até usa a palavra "irmã" para enfatizar a natureza permanente do relacionamento conjugal deles. Este também é um modo de dizer que eles são uma mesma carne. O intenso amor dele por ela é despertado pela visão de um simples colar do pescoço dela. (Isto certamente não é algo que Salomão teria dito!).

10. "Que belos são os teus amores, minha irmã, esposa minha! Quanto melhor é o teu amor do que o vinho! E o aroma dos teus unguentos do que o de todas as especiarias!"

O Verdadeiro Amor Dela. Ele repete as palavras-chaves esposa e irmã. Ele também enfatiza que é o amor dela que mais importa para ele, não o corpo dela. Ele nunca conheceu outro amor como este.

11. "Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano."

O Verdadeiro Amor Dela. Aqui, ele fala sobre o efeito poderoso que os beijos dela têm sobre ele. O "Líbano" neste verso refere-se à região próxima ao Monte Hermon, não Jerusalém. (Jerusalém é chamada de Líbano em alguns lugares na Bíblia por que muitos dos majestosos cedros do Líbano foram usados na construção do Templo e do palácio de Salomão.)

12. "Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha,"

O Verdadeiro Amor Dela. A esposa e "irmã" é dele para sempre. A fonte do amor dela é somente para ele.

13. "Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes, o cipreste com o nardo."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele enfatiza a fragrância excepcional do amor dela, a fartura constante de frutos.

14. "O nardo, e o açafrão, o cálamo, e a canela, com toda a sorte de árvores de incenso, a mirra e aloés, com todas as principais especiarias."

O Verdadeiro Amor Dela. A imagem no verso 13 é expandida.

15. "És a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano!"

O Verdadeiro Amor Dela. O único amor que dá vida a ele é o amor dela. Jesus usou essa imagem em referência a si mesmo! Veja João 4:10 ("... ele te daria água viva") e João 4:14 ("... porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna").

16. "Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que destilem os seus aromas."

A Mulher. Ela pede que os ventos assoprem a fragrância dela até o local em que o amado dela cuida de suas ovelhas. Ao dizer isso, ela está confirmando a santidade do relacionamento conjugal e sua fidelidade inabalável.

Cânticos 5

1. "Já entrei no meu jardim, minha irmã, minha esposa; colhi a minha mirra com a minha especiaria, comi o meu favo com o meu mel, bebi o meu vinho com o meu leite; comei, amigos, bebei abundantemente, ó amados."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele a lembra do amor que fizeram, do efeito poderoso que aquilo teve sobre ambos. Ele experimentou uma alegria e doçura diferente de qualquer coisa que poderia imaginar.

2. "Eu dormia, mas o meu coração velava; e eis a voz do meu amado que está batendo: abre-me, minha irmã, meu amor, pomba minha, imaculada minha, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos das gotas da noite."

A Mulher. De algum modo, o pastor conseguiu chegar até o quarto em que ela dormia. Talvez ele tenha dormindo ao relento por vários dias ("orvalho" e "gotas da noite"), após eles terem sido separados e agora está fazendo outra tentativa de resgatá-la.

3. "Já despi a minha roupa; como a tornarei a vestir? Já lavei os meus pés; como os tornarei a sujar?"

O Verdadeiro Amor Dela. Ele lhe diz que não está indo embora sem ela. Ele somente colocará seu casaco novamente quando estiver indo embora com ela; ele lavou seus pés para facilitar a entrada no palácio e não os sujará novamente até que ela parta com ele.

4. "O meu amado pôs a sua mão pela fresta da porta, e as minhas entranhas estremeceram por amor dele."

A Mulher. Ele tenta entrar no quarto, porém a trava não cede. Quando ele fez isso, ela se sentiu profundamente tocada por aquilo que ele estava tentando fazer.

5. "Eu me levantei para abrir ao meu amado, e as minhas mãos gotejavam mirra, e os meus dedos mirra com doce aroma, sobre as aldravas da fechadura."

A Mulher. Ela se levanta da cama e tenta liberar a trava a partir de dentro. A referência à mirra neste verso pode parecer erótica.

6. "Eu abri ao meu amado, mas já o meu amado tinha se retirado, e tinha ido; a minha alma desfaleceu quando ele falou; busquei-o e não o achei, chamei-o e não me respondeu."

A Mulher. Quando ela finalmente consegue abrir a porta, ele já tinha ido embora. Presumivelmente, o barulho das atividades deles tinham alertado os guardas do palácio e, quando ele percebeu a aproximação deles, decidiu correr e se esconder.

7. "Acharam-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me, tiraram-me o manto os guardas dos muros."

A Mulher. Mais uma vez, ela sai para encontrar seu amado nas ruas da cidade. Desta vez, os guardas não queriam correr o risco de incorrer na ira de Salomão. Eles a espancaram, aparentemente causando ferimentos e tomaram à força o manto que ela necessitava para caminhar à noite pela cidade.

8. "Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que, se achardes o meu amado, lhe digais que estou enferma de amor."

A Mulher. De volta ao palácio, ela implora que suas criadas levem uma mensagem urgente ao seu amado. Ele precisa saber que ela tentou sair do quarto e se juntar a ele.

9. "Que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, que tanto nos conjuras?"

Salomão. O rei está furioso. Ele a entrevista e pergunta algo assim: "O que há de tão bom com este sujeito? Por que você está tão decidida a estar com ele? Afinal, existem muitos outros rapazes com boas qualificações no mundo. E por que você faz essas acusações pavorosas sobre mim? Estou apenas tentando ajudar."

10. "O meu amado é branco e rosado; ele é o primeiro entre dez mil."

A Mulher. Ela tenta colocar em palavras as qualidades especiais que distinguem seu amado dos outros homens.

11. "A sua cabeça é como o ouro mais apurado, os seus cabelos são crespos, pretos como o corvo."

A Mulher. Ela não foi abençoada com o dom da poesia, mas faz o melhor que pode para explicar por que o pastor que ela ama é tão especial

12. "Os seus olhos são como os das pombas junto às correntes das águas, lavados em leite, postos em engaste."

A Mulher. [Veja o comentário no verso 11.]

13. "As suas faces são como um canteiro de bálsamo, como flores perfumadas; os seus lábios são como lírios gotejando mirra com doce aroma."

A Mulher. [Veja o comentário no verso 11.]

14. "As suas mãos são como anéis de ouro engastados de berilo; o seu ventre como alvo marfim, coberto de safiras."

A Mulher. [Veja o comentário no verso 11.]

15. "As suas pernas como colunas de mármore colocadas sobre bases de ouro puro;o seu aspecto como o Líbano, excelente como os cedros."

A Mulher. [Veja o comentário no verso 11.]

16. "A sua boca é muitíssimo suave, sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém."

A Mulher. Ela concluiu, dirigindo-se, não a Salomão, mas às criadas colocadas à sua disposição. Ela possivelmente tinha perdido todo o respeito por Salomão neste ponto e não queria descrever seu amado para ele diretamente

Cânticos 6

1. "Para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? Para onde se retirou o teu amado, para que o busquemos contigo?"

Salomão: Salomão pergunta à mulher aonde ela acha que o amado dela pode ter ido. Ele se oferece para ajudá-la a encontrá-lo. (Uma proposta realmente estranha).

2. "O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para apascentar nos jardins e para colher os lírios."

A Mulher. Ela dá a Salomão aquilo que deve ter parecido uma resposta evasiva.

3. "Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu;ele apascenta entre os lírios."

A Mulher. Ela quer que Salomão saiba que está perdendo seu tempo ao tentar conquistar o coração dela.

4. "Formosa és, meu amor, como Tirza, aprazível como Jerusalém, terrível como um exército com bandeiras."

Salomão. Salomão tenta usar lisonjas, comparando-a com um grande exército, sentindo talvez a grande força interior dela! Ele também a compara a duas cidades, Jerusalém e Tirza. Esta última era uma cidade importante no norte de Israel naquele tempo.

5. "Desvia de mim os teus olhos, porque eles me dominam. O teu cabelo é como o rebanho das cabras que aparecem em Gileade."

A Mulher, citando seu amado. Em sua mente, ela abafa as palavras proferidas por Salomão, lembrando as verdadeiras expressões de amor feitas pelo pastor dela. Ele a comparou com a verdadeira sinceridade dos rebanhos em Gileade.

6. "Os teus dentes são como o rebanho de ovelhas que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e não há estéril entre elas."

A Mulher, citando seu amado. O esposo-pastor dela a estava comparando ao que, aos seus olhos, era a mais perfeita manifestação de beleza natural no mundo.

7. "Como um pedaço de romã, assim são as tuas faces entre os teus cabelos."

A Mulher, citando seu amado. Ele também a comparou com a romã, a fruta mais frequentemente associada com o amor romântico.

8. "Sessenta são as rainhas, e oitenta as concubinas, e as virgens sem número."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele sabe que sua esposa será interrogada na corte de Salomão. Ela será cercada por 60 rainhas (mulheres de Salomão) e 80 concubinas, além de incontáveis e lindas virgens.

9. "Porém uma é a minha pomba, a minha imaculada, a única de sua mãe, e a mais querida daquela que a deu à luz; viram-na as filhas e chamaram-na bem-aventurada, as rainhas e as concubinas louvaram-na."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele pensa na situação dela, sozinha no meio de tantos. Todavia, ele está confiante que eles verão o quão especial ela é, notando as mesmas qualidades que ele vê nela e elogiem seu caráter.

10. "Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército com bandeiras?"

O Verdadeiro Amor Dela. Ele a imagina ali em pé, no meio de tantos, porém mesmo assim inabalável. A pureza dela é sua proteção. (Veja o verso 6:4).

11. "Desci ao jardim das nogueiras, para ver os frutos do vale, a ver se floresciam as vides e brotavam as romãzeiras."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele procura se acalmar, pensando nos tempos maravilhosos em que caminhava pelos vales, para buscá-la e observá-la à distância.

12. "Antes de eu o sentir, me pôs a minha alma nos carros do meu nobre povo."

O Verdadeiro Amor Dela. Subitamente, ele se sente tranquilizado. Amminabid [H5971 na Concordância de Strong] significa o povo comum ou, com referência a Israel, o povo de Deus (confira Êxodo 15:13 e Deuteronômio 32:36). Ele sabe que Deus está com ela e que Sua força a sustentará.

13. "Volta, volta, ó Sulamita, volta, volta, para que nós te vejamos. Por que olhais para a Sulamita como para as fileiras de dois exércitos?"

O Verdadeiro Amor Dela. Ela grita, chamando sua amada para retornar. O coração dele deseja vê-la novamente. Ao fazer isso, ele pensa em todas as pessoas reunidas na corte de Salomão e pergunta o que elas veem quando olham para a sua amada. Embora eles possam não saber ainda, estão olhando para uma adversária poderosa. A amada dele conseguirá resistir a eles, exatamente como um exército. Melhor ainda, ela é como dois exércitos, de modo que a vitória é certa. [Veja os versos 6:4 e 6:10].

Ele a chama de "Sulamita". Este é o nome de um animal de estimação, ou um diminutivo com o significado similar de "Minha Pombinha" ou "Pequena cheia de paz".

Cânticos 7

1. "Quão formosos são os teus pés nos sapatos, ó filha do príncipe! Os contornos de tuas coxas são como jóias, trabalhadas por mãos de artista."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele inicia mais uma vez uma descrição poética, exaltando a beleza e as qualidades maravilhosas de sua esposa Sulamita. Os versos 1-9 estão cheios de imagens de um ambiente campestre. As localidades são aquelas próximas à região montanhosa em que ele vive. (Veja Isaías 52:7).

2. "O teu umbigo como uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre como montão de trigo, cercado de lírios."

[Veja o comentário para o verso 1.]

3. "Os teus dois seios como dois filhos gêmeos de gazela."

[Veja o comentário para o verso 1.]

4. "O teu pescoço como a torre de marfim; os teus olhos como as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz como torre do Líbano, que olha para Damasco."

[Veja o comentário para o verso 1.]

5. "A tua cabeça sobre ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça como a púrpura; o rei está preso nas galerias."

[Veja o comentário para o verso 1.]

6. "Quão formosa, e quão aprazível és, ó amor em delícias!"

[Veja o comentário para o verso 1.]

7. "A tua estatura é semelhante à palmeira; e os teus seios são semelhantes aos cachos de uvas."

[Veja o comentário para o verso 1.]

8. "Dizia eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; e então os teus seios serão como os cachos na vide, e o cheiro da tua respiração como o das maçãs."

[Veja o comentário para o verso 1.]

9. "E a tua boca como o bom vinho para o meu amado, que se bebe suavemente, e faz com que falem os lábios dos que dormem."

[Veja o comentário para o verso 1.]

10. "Eu sou do meu amado, e ele me tem afeição."

A Mulher. É como se ela ouvisse as expressões de amor dele à distância. Ela sabe em seu coração que ele pensa nela constantemente.

11. "Vem, ó amado meu, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias."

A Mulher. Ela também anela estar com ele e caminhar nos campos, exatamente como faziam antes de Salomão vir e separá-los.

12. "Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se já aparecem as tenras uvas, se já brotam as romãzeiras; ali te darei os meus amores."

A Mulher. Ela pensa nos tempos especiais que eles tiveram juntos e os locais que gostavam de visitar.

13. "As mandrágoras exalam o seu perfume, e às nossas portas há todo o gênero de excelentes frutos, novos e velhos; ó amado meu, ó amada minha eu os guardei para ti."

O Verdadeiro Amor Dela. Ele parece responder ao convite secreto dela, dizendo-lhe que a terra está repleta de frutos e com a alegria da colheita. Há fartura no pedaço de terra dele e é possível sentir o cheiro das mandrágoras. Esta planta é famosa por suas propriedades afrodisíacas. O cheiro deve ter feito ele se lembrar ainda mais de sua amada. Sabemos que ele está esperando por ela, porque ele guardou muitos frutos selecionados para ela.

Cânticos 8

1. "Ah! quem me dera que foras como meu irmão, que mamou aos seios de minha mãe! Quando te encontrasse lá fora, beijar-te-ia, e não me desprezariam!"

A Mulher. A mulher reflete sobre os eventos que levaram à sua situação. Exatamente como o amado dela pensa nela como sua irmã, ele gosta de pensar nele como seu irmão. Se fosse assim, o relacionamento deles seria permanente e imune às interferências. Além disso, a proximidade entre eles não a faria ser desprezada.

2. "Levar-te-ia e te introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias; eu te daria a beber do vinho aromático e do mosto das minhas romãs."

A Mulher. Se ele fosse irmão dela, ela poderia levá-lo para dentro de sua casa. Isto seria a coisa mais natural do mundo. Depois que estivessem dentro de casa, eles poderiam viver como marido e mulher.

3. "A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua direita me abrace."

A Mulher. Ela se refere novamente ao verso 2:6, indicando que o amor que eles tinham conhecido ao ar livre seria compartilhado dentro de casa.

4. "Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que queira."

A Mulher. Ela se refere novamente aos versos 2:7 e 3:5, indicando novamente que o relacionamento que eles tiveram antes seria renovado na casa da mãe dela.

5. "Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado? Debaixo da macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu à luz."

A Mulher. Ele vê a si mesma no início do relacionamento, encostada ao braço dele. Em seguida, ela pensa na mãe dele, a mulher que trouxe aquele homem maravilhoso ao mundo e à vida dela. Ele pensa nele como o fruto precioso da macieira.

6. "Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas."

A Mulher. Ela queria confirmação que o vínculo amoroso deles era inquebrável e pediu que ele exibisse em seu braço algum sinal de seu total compromisso com ela. As pessoas precisavam saber que ela pertence a ele. Caso contrário, outros pretendentes poderão vir e tentar conquistar o coração dela. Isto somente promoverá ciúmes e conflito.

É bem possível que ele deixou de fazer isso, de modo que deu a impressão que ela ainda estava procurando um marido. Podemos também ver aqui por que os irmãos dela ficaram "indignados" com ela no verso 1:6. Eles acreditavam que tinham o direito de acertar o casamento dela com Salomão.

7. "As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam."

A Mulher. Ela sabe além de qualquer dúvida que o amor deles é inextinguível, que é impagável e que nada no mundo pode ser comparado a esse amor.

8. "Temos uma irmã pequena, que ainda não tem seios; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que dela se falar?"

A Mulher. Ela fala sobre as circunstâncias que levaram à terrível situação deles. Os irmãos mais velhos dela tinham feito planos para encontrar um marido para ela, assim que alcançasse a idade suficiente para ser dada em casamento.

9. "Se ela for um muro, edificaremos sobre ela um palácio de prata; e, se ela for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro."

A Mulher. Eles queriam o melhor para ela. Aparentemente, eles a viam em uma bela casa, condizente com uma mulher de grande beleza. "Muro" neste contexto significa casta e "porta" significa promíscua.

10. "Eu sou um muro, e os meus seios são como as suas torres; então eu era aos seus olhos como aquela que acha paz."

A Mulher. Ela cresceu e se transformou em uma beldade admirável e casta. A notícia sobre ela circulou e Salomão ouviu a respeito dessa criatura altamente desejável. Depois que ele a viu, decidiu imediatamente acrescentá-la à sua coleção de mulheres.

11. "Teve Salomão uma vinha em Baal-Hamom; entregou-a a uns guardas; e cada um lhe trazia pelo seu fruto mil peças de prata."

Salomão foi um empresário muito bem sucedido e teve muitos empreendimentos comerciais. Ele arrendou seu vinhedo em Baal-Hamon e esperava que os viticultores lhe pagassem anualmente 1.000 peças de prata de aluguel. (Esta referência aos negócios e lucro é um sinal que Salomão era alguém que tinha aquilo que queria e estava grandemente preocupado com os bens materiais.)

12. "A minha vinha, que me pertence, está diante de mim; as mil peças de prata são para ti, ó Salomão, e duzentas para os que guardam o seu fruto."

A Mulher. Ela tomava conta de um vinhedo que deveria estar próximo ao vinhedo de Salomão. O número "duzentos" parece indicar o pagamento anual feito aos trabalhadores que cuidavam do vinhedo de Salomão.

13. "Ó tu, que habitas nos jardins, os companheiros estão atentos para ouvir a tua voz; faze-me, pois, também ouvi-la."

A Mulher. Este é um verso crítico. A tradução parece não captar o que está em vista. Ele essência, ela está dizendo: Os servos de Salomão obedeciam ao que ele dizia e ela também estava obrigada a obedecer. Em resumo, quando a família dela mandou que ela aceitasse a proposta de casamento de Salomão, ela achou que não tinha escolha, senão aceitar. A brevidade do verso é um sinal que qualquer referência a esse terrível erro causou grande sofrimento a ela.

14. "Vem depressa, amado meu, e faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes dos aromas."

A Mulher. Ela chama seu amado em alta voz e com o coração partido, implorando que ele venha rapidamente e a leve para casa.

Parte 3

Qual é o propósito deste livro extraordinário? Temos uma pista no último verso dele:

"Vem depressa, amado meu, e faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes dos aromas." [Cânticos 8:14].

Compare isto com o penúltimo verso da Bíblia:

"Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus." [Apocalipse 22:20].

Aqui, o Pastor assegura à Noiva que Ele virá em breve!

Cânticos não é um livro sobre a igreja especificamente, mas sobre todos os que amam a Deus. Nesta época atual, aqueles que amam a Deus, também amam e reverenciam Seu Filho, Jesus Cristo. Entretanto, é um erro afirmar que Cânticos esteja se referindo à igreja especificamente. O livro estava acessível aos santos do Velho Testamento e não poderia conter declarações explícitas sobre a igreja. O apóstolo Paulo confirmou que a igreja era um mistério até que Cristo veio ao mundo. Ao contrário, Cânticos está celebrando o amor de Deus por todos os homens e mulheres justos, um amor que podemos experimentar somente se o valorizarmos e estimarmos acima de tudo o que este mundo terreal pode oferecer.

Neste livro, o próprio Salomão simboliza tudo o que o mundo pode oferecer, mas a Sulamita não quer nada disso! Ela tinha conhecido o verdadeiro amor e está disposta a abrir mão de tudo para recuperá-lo. Ele estava até mesmo preparada para suportar com paciência a horrível humilhação e o sofrimento que viriam com sua decisão.

O fato que o livro nunca mencione o Templo, os sacrifícios ou o sacerdócio também é significativo. Isso torna o livro incrivelmente "amigável aos gentios", um livro do Velho Testamento — como Eclesiastes — que um gentio poderia ler e estudar e não se sentir excluído de sua mensagem central. Visto deste modo, o livro deixava aberta a possibilidade que Deus poderia um dia alcançar os gentios, exatamente como alcançou os judeus.

Devemos nos perguntar por que Salomão escreveu esse livro. Afinal, o livro o apresenta sob uma perspectiva negativa. A resposta pode estar na visão amplamente aceita que ele se arrependeu de sua apostasia, perto do fim de sua vida. Há algum suporte para isso no comentário feito por Jesus: "E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles." [Mateus 6:28-29]. É duvidoso se Jesus teria se referido a Salomão nesses termos se ele tivesse morrido como um apóstata. Mas, se ele se arrependeu, então é possível que esse livro estava conectado de algum modo com sua mudança de coração.

Quando ele olhou para o passado e considerou sua vida — conforme registrada no livro de Eclesiastes — ele viu somente vaidade. Talvez ele tenha continuado com sua reflexão e se lembrado da Sulamita, uma mulher que estava preparada para perder tudo pelo amor. Ela era uma pessoa que vivia por algo que transcedia totalmente a visão materialista e sombria do mundo. À medida que ele considerou aquela mulher admirável, deve ter compreendido que, apesar de toda sua extraordinária sabedoria e conhecimento, ele nunca tinha conhecido o puro amor incondicional que ela sentia pelo seu amado.

Ele também teria visto como sua própria cobiça tinha causado miséria e humilhação a ela. O homem mais sábio de todos os tempos não conseguiu discernir o que uma simples moça do interior pôde ver com perfeita clareza. E, aquilo que ela viu o fez entender que ele era, na realidade, um tolo no meio de tolos.

Em sua idade avançada, talvez mais de vinte anos depois de tê-la encontrado, ele veio a compreender o que ela tinha e o que representava. Ele finalmente compreendeu qual tinha sido a motivação dela. Tomado por uma verdadeira convicção de sua própria pecaminosidade, ele se arrependeu diante do Senhor Deus de Israel.

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Autor: Jeremy James, artigo em http://www.zephaniah.eu
Data da publicação: 1/3/2022
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/canticos.asp