Se você assistiu à cobertura antes e durante as Olimpíadas de Pequim de 2008, sem dúvida se lembra de ter visto reportagens sobre a luta dos tibetanos pela independência. Nos últimos tempos e, especialmente, durante as Olimpíadas, o assunto da nacionalidade tibetana reapareceu na mídia como um ponto de contenda entre a China e os habitantes daquela região do Himalaia.
A luta do Tibete sob o domínio chinês não é nova. Desde a invasão chinesa em 1950 e o exílio do governo tibetano, o Movimento Tibete Livre tem crescido lentamente diante dos olhos do público. Entretanto, somente a partir dos anos 1990s é que esse movimento ganhou um ímpeto mais forte. Portanto, não é surpresa que os comentários durante as Olimpíadas de 2008 tenham enfocado algumas vezes esse ponto sensível do Himalaia.
Dois itens ocupam o centro do cenário nesse drama: a soberania política envolvida na busca pela autodeterminação e a espiritualidade tibetana. Essa mistura de política com religião está centralizada no líder político exilado do Tibete, um indivíduo que também é o líder espiritual da nação o Dalai Lama.
Nos últimos anos, os livros escritos pelo Dalai Lama receberam ampla aclamação em todo o mundo ocidental e ele é publicamente apoiado por diversos astros do mundo do cinema. O Dalai Lama também é um hóspede frequente de chefes de Estado e de outros líderes religiosos proeminentes. Ele se tornou um mensageiro internacional da paz e uma celebridade global com uma multidão de fãs e seguidores.
Para ajudar nossos leitores e assinantes a compreenderem melhor o significado do Dalai Lama, estamos reimprimindo um artigo que foi publicado na edição do Outuno de 1999 de Hope For The World Update. O artigo reflete algumas das experiências do autor durante as celebrações do Kalachakra, em 1999, em Indiana; esse exercício espiritual do Budismo Tibetano foi manchete nos jornais no meio-oeste americano durante o mês de agosto daquele ano.
Nota: Esta reimpressão foi modificada em relação ao original, acrescentando informações adicionais.
O atual Dalai Lama do Tibete, também conhecido como Sua Santidade o Dalai Lama (o termo "Dalai Lama" é um título), é supostamente a reencarnação de uma longa linhagem de mestres budistas, que se estende a vários séculos. Dentro do Budismo Tibetano, acredita-se que o Dalai Lama seja a reencarnação do Buda da Compaixão, uma entidade espiritual que atravessa o tempo e o espaço durante os ciclos de morte e renascimento; em outras palavras, com a morte de seu atual hospedeiro humano, o espírito reaparece na vida do próximo bebê-menino tibetano escolhido.
Em 6 de julho de 1935, em uma pequena aldeia no nordeste do Tibete, Lhamo Dhondrub nasceu no lar de uma família de camponeses. Naquele mesmo ano, o décimo terceiro Dalai Lama morreu. Após a morte do Dalai Lama, o regente do Tibete foi ao lago sagrado Lhamo Lhatso, a cerca de 150 km ao sul da capital. Ali, o regente recebeu uma visão de telhados de monastérios de diferentes cores e uma casa com azulejos azul-turquesa. Com base na mensagem mística do regente e equipados com os segredos da visão, lamas (monges budistas) de alto escalão empreenderam uma busca em todo o Tibete para encontrarem o Dalai encarnado.
Dois anos após a morte do décimo terceiro Dalai Lama, um monge de alto escalão do Monastério Sera liderou um grupo de busca até a casa de Lhamo Dhondrub. O monge, que foi disfarçado como um servo, usava um rosário que tinha pertencido ao falecido Dalai Lama. Lhamo, que naquele tempo tinha dois anos de idade, reconheceu o rosário e queria que lhe fosse entregue. O monge disfarçado prometeu dar o rosário se Lhamo adivinhasse quem ele era. Lhamo respondeu que ele era "Sera aga", um lama de Sera.
O pequeno menino tibetano também adivinhou corretamente que o "servo" era o verdadeiro líder do grupo de busca e divulgou seu nome correto. Após esse encontro inicial, o menino passou por uma série de testes, incluindo "escolher artigos corretos que tinham pertencido ao décimo terceiro Dalai Lama" [1]. A busca para encontrar a reaparição do próximo Buda encarnado tinha chegado ao fim.
Depois que foi admitido como o décimo quarto Dalai Lama, Lhamo foi renomeado como Jetsun Jamphel Ngawang Lobsang Yeshe Tenzin Gyatso – Oceano de Sabedoria, Suave Glória, Santo Senhor. No Tibete, o atual Dalai Lama é frequentemente referido como Yeshe Norbu, "A Presença". [2].
Em 1967, mais de uma década após a invasão chinesa ao Tibete e do exílio do Dalai Lama, o décimo quarto Dalai Lama iniciou uma jornada mundial para promover a unidade global, a fraternidade universal e uma harmonia religiosa. Desde aquele tempo ele se tornou um hóspede especial nos salões do poder, de Washington a Londres, de Brasília a Wellington, das Nações Unidas até ao Vaticano e ao Palácio de Lambeth (NT: Residência oficial, em Londres, do Arcebispo da Cantuária, o líder espiritual da Igreja Anglicana).
O reconhecimento veio de todas as partes do mundo. Além de diversos graus honoríficos, o Dalai Lama recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1989 e foi agraciado com prêmios do Instituto Franklin e Eleanor Roosevelt, do Templo da Compreensão, do Programa do Meio Ambiente da ONU, da Fundação Paz na Era Nuclear, do Conselho Mundial de Gestão e do Instituto de Pesquisas da América. Ele recebeu o título de cidadão honorário de Houston, Texas, e de Wheaton, Illinois. Em 1979, os prefeitos de San Francisco e de Los Angeles lhes deram as chaves de ambas as cidades. A Universidade Hebraica de Jerusalém lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa em 1994. [3].
Vindo em nome da paz, o Dalai Lama prega uma mensagem de esperança por meio da unidade da humanidade: harmonia mundial via governança global e, mais importante ainda, da unidade espiritual. [4]. Considere os comentários dele em 4 de setembro de 1997 ao participar da Conferência Fórum 2000, em Praga, na República Tcheca.
Nesse evento, o Dalai Lama falou sobre "a aceitação de padrões universalmente vinculantes dos direitos humanos" e o desenvolvimento de uma "estrutura política global". Ele falou sobre a desmilitarização de todo o planeta, propondo a "abolição de todas as forças defensivas nacionais... a criação de uma força internacional para a qual todos os Estados-membro contribuiriam." Ele sonhou abertamente com uma "sociedade global interdependente e cooperativa", em que as preocupações com a superpopulação e o meio ambiente seriam tratadas no nível internacional. [5].
Além da governança global, o trabalho religioso do Dalai Lama enfoca a unidade interfé, a ideia que todas as fés podem se unir em torno de preceitos espirituais universais e aceitáveis. Para este fim, ele se envolve ativamente em encontros com líderes religiosos de outras fés, incluindo papas católicos romanos, o arcebispo de Cantuária, grão-rabinos (o Lama tem um interesse especial no misticismo judaico por causa da Cabala), autoridades islâmicas, xamãs e gurus hindus.
Em 1999, o Dalai Lama visitou o estado americano de Indiana para participar de um ritual budista profundamente ocultista, o Kalachakra. Essa série de ritos e sua assembleia de monges e instrutores espirituais foram um marco religioso para o meio-oeste dos EUA.
Girando as Rodas do Tempo
Atraindo milhares de seguidores do Dalai Lama de todo o mundo, o Kalachakra é um evento do Budismo Tibetano que ocorre ao longo de vários dias e que incorpora orações, danças rituais, iniciações de alunos, meditações para a cura e harmonia, e ritos da Terra. O Kalachakra é mais do que apenas uma simples cerimônia: é um evento ritualístico e de celebração que incorpora diversos exercícios espirituais, cerimônias e outras funções religiosas. A parte central de tudo isto é a criação da gigantesca Mandala do Kalachakra, uma mandala multicolorida, de construção intrincada um símbolo espiritualmente energizado, feito com areias.
Antes de 1999, o Kalachakra, também conhecido como "Virar a Roda do Tempo", tinha sido realizado em três ocasiões nos Estados Unidos. Entretanto, o Kalachakra de 1999, realizado em Bloomington, Indiana, foi especialmente significativo, pois foi o último antes da chegada do novo milênio.
Para abrigar o Kalachakra, um novo santuário de três andares foi construído no Centro de Cultura Tibetana em Bloomington, que foi fundado pelo irmão mais velho do Dalai Lama, Thubten Jigme Norbu, em 1979. [Nota: Em 2008, o centro foi renomeado como Centro Cultural Budista Tibetano e Mongol.].
Com relação ao Kalachakra, o portal budista BuddhaNet oferece os seguintes detalhes:"Normalmente, a cerimônia completa dura doze dias. Primeiro, existem oito dias de rituais preparatórios, durante os quais os monges constroem a mandala. Em seguida, os estudantes recebem a iniciação, após o que recebem a permissão de ver a mandala de areia concluída. A cerimônia termina quando os monges liberam a energia positiva da mandala para o mundo material por meio de um ritual final."
"A palavra tibetana para iniciação é wong-khor, que literalmente significa dar permissão, ou conceder a autoridade para a prática do Tantra. A pessoa que confere a iniciação é conhecida como Mestre do Ritual, ou Mestre Vajra, pois vajra é o objeto do ritual que corta a ilusão e representa a mente indestrutível. Como o próprio Tantra sobrevive por meio da transmissão direta feita pelo Mestre Vajra, a iniciação cumpre o compromisso do Mestre Vajra de transmitir o Tantra sem diminuí-lo de forma alguma, sempre para o benefício de todos os seres sencientes."
"Durante a iniciação, o estudante faz um voto similar de respeitar e preservar os ensinos. Desse modo, o estudante entra na linhagem... O estudante, gerando-se como a deidade, é apresentado aos novos padrões mentais que o ajudarão a abandonar o antigo e destrutivo condicionamento, trazendo-o assim mais para perto da experiência da suprema felicidade da consciência do Kalachakra." [6].
Em seguida, BuddhaNet explica o poder espiritual do ritual do Kalachakra e o papel do Dalai Lama nesse trabalho.
"Muitos objetos bonitos são usados nos rituais do Kalachakra. O thekpu é a casa especial onde a mandala é construída. Existe um trono revestido por brocado no qual o Mestre Vajra, neste caso, Sua Santidade o Dalai Lama, se assenta para fazer a iniciação. O altar à deidade Kalachakra contém oferendas preparadas e objetos do ritual. Grandes tapeçarias de seda do Buda, de Kalachakra e de várias deidades protetoras são penduradas em torno da casa, do trono e do altar."
"No primeiro dia, um representante dos estudantes pede ao Mestre Vajra para fazer a iniciação, e ele consente, mostrando sua grande compaixão pelos alunos. O mestre pede então a permissão dos espíritos locais para usar sua morada. Geralmente, os espíritos não querem cooperar e então, para apaziguá-los, os monges assistentes realizam a Dança da Terra, fazendo gestos simbólicos com as mãos e com os pés. As preces, músicas e danças subjugam todos os espíritos que poderiam interferir."
"Após as danças, o Dalai Lama recebe de Tenma, o espírito da Terra, em nome de todos os espíritos locais, a permissão para prosseguir com a cerimônia. A mandala abrigará muitas das milhares de divindades encontradas no Budismo Tibetano durante a cerimônia. Punhais simbólicos são agora colocados em volta da mandala para protegê-la. Todos os objetos a serem usados durante os muitos rituais precisam ser abençoados pelo Dalai Lama, incluindo a corda que é usada para construir a mandala, e as areias coloridas." [7].
Depois de passarem por Sete Iniciações da Infância, os estudantes do Budismo Tibetano agora 'nascem de novo' e podem prosseguir em sua jornada espiritual. No fim do ritual, o Dalai Lama libera a energia espiritual e as entidades que estão mantidas na Mandala.
"Após concluírem as iniciações da infância e 'renascerem', os estudantes podem entrar no mundo ideal da Roda do Tempo o universo da iluminação, governado pela divindade Kalachakra.. Eles podem agora ver a mandala. A mandala de areia do Kalachakra mostra os 722 deuses e deusas, bem como o palácio em que eles habitam. As quatro faces da divindade chamada de Kalachakra também são mostradas..."
"Na última parte da cerimônia, o Dalai Lama recita orações, agradece a participação das 722 divindades e pede que deixem a mandala e retornem às suas moradas sagradas. Ele remove a areia que representa simbolicamente as divindades e então corta a mandala de um lado a outro usando uma ferramenta do ritual. A areia é varrida com um pincel e amontoada no centro da plataforma. Em seguida, os monges colocam a areia em urnas e a transportam até um riacho próximo. Com cânticos e mais orações, um assistente do ritual derrama a areia na água e a perfeita paz do Kalachakra flui com ela até o mundo real. A mandala agora desapareceu da vista, mas permanece para sempre na memória daqueles que entraram em seu reino de perfeição." [8].
Embora a principal atração do Kalachakra de agosto de 1999 tenha sido o próprio ritual, muitos eventos paralelos ocorreram em apoio ao Budismo Tibetano. Filmes, músicos e outros artistas deram aos seguidores e visitantes opções adicionais para a expansão da experiência do Kalachakra. Entre as apresentações beneficentes estavam as Artes Místicas do Tibete, em que monges realizaram a Dur-dak Gar-cham, também conhecida como Dança dos Senhores Esqueletos, uma apresentação para lembrar a todos da natureza transitória deste mundo.
Para aqueles que seguiram o Kalachakra, a experiência do ritual foi vista como uma liberação de poderosas forças espirituais que têm o objetivo de fortalecer a paz mundial e trazer a alvorada de uma Nova Era.
Em todas as cerimônias, palestras e no próprio ritual, um tema espiritual transcendente foi reforçado: todas as religiões são caminhos para "Deus" e juntos, podemos nos reconectar com o divino.
Misturando os Deuses
Com o subtítulo oficial "Um Ensino Interfé para a Paz Mundial", o Kalachakra atraiu representantes de outras religiões. Na cerimônia de abertura realizada na Arena da Praça do Mercado, em Indianápolis, quatro indivíduos de fé mundiais anunciaram seu apoio ao Dalai Lama e à sua mensagem. Saudando "Sua Santidade" estavam o Dr. Clark Williamson, do Seminário Teológico Cristão de Indianápolis, o imã Michael Saahir, do Centro Islâmico Nur-Allah, a irmã Margaret Funk, uma freira católica que é a diretora-executiva do Diálogo Interfé Monástico, e o rabino Dennis Sasso, da Congregação Israelita Beth-el Zedeck.
Considere as saudações dadas por esses líderes na cerimônia de boas-vindas ao Dalai Lama. As citações a seguir foram extraídas de gravações em áudio do evento de boas-vindas:
Dr. Clark Williamson (representando as denominações protestantes da corrente dominante do Cristianismo):
O imã Michael Saahir (representando o Islã):"Todas as coisas podem e precisam ser questionadas. Nada está acima de questionamento. Este é um tipo de princípio antidogmático, não é mesmo? Mas, é um princípio marcante para este dia em que estamos tentando conversar sobre o pluralismo religioso e interfé, e em diálogo e cooperação inter-religiosos. Somente para lembrar: nenhum de nós tem um canto exclusivamente seu na verdade absoluta."
A irmã Margaret Funk (representando o Catolicismo Romano):"É uma honra estar aqui na Arena da Praça do Mercado, diante deste belo ajuntamento de crentes de várias fés e formações, e apresentar saudações à Sua Santidade o Dalai Lama, em nome das comunidades islâmicas aqui de Indianápolis. Também agradecemos ao Centro Cultural Tibetano por gentilmente convidarem nosso povo. O imã W. Muhammad, que é o porta-voz da comunidade islâmica nos EUA também envia saudações especiais e incentiva os trabalhos e o apoio à Sua Santidade... Que Deus nos abençoe com paz em abundância por aquilo que aprenderemos durante este Kalachakra, liderado por Sua Santidade o Dalai Lama."
Rabino Dennis Sasso (representando o Judaísmo):"Somos cidadãos privilegiados de Indiana por darmos as boas-vindas a Sua Santidade o Dalai Lama a este estado. Ele é mais do que um homem repleto de paz, porque também nos ensina como incorporar a paz em nossa vida cotidiana. Pretendo acompanhar Sua Santidade aqui em Bloomington nestes próximos dez dias e ser uma observadora do rito de iniciação do Kalachakra. Como já fiz meus votos como uma freira católica romana, não serei uma participante, mas espero estar aqui como se estivesse em meu próprio retiro espiritual... O ritual do Kalachakra é uma capacitação... ele tem uma energia singular de trazer a sabedoria... Sim, Indiana é a primeira beneficiária deste ajuntamento sagrado de pessoas de mente similar que estão seguindo Sua Santidade a Bloomington."
"Antigamente, assumia-se que Oriente era Oriente e Ocidente era Ocidente e que os dois nunca se encontrariam. Hoje não. Em nossa aldeia global, o Oriente e o Ocidente de fato se encontram... a visita de Sua Santidade o Dalai Lama nos oferece uma oportunidade de crescermos mais em um profundo conhecimento e admiração pelas tradições espirituais e culturais uns dos outros. Como um instrutor de Judaísmo e como um estudante das religiões do mundo, encontro no Budismo nobres verdades e uma tradição rica em reverência... O Judaísmo e o Budismo Tibetano, em particular, compartilham diversas características intelectuais e espirituais... um sistema de disciplina ritual e um objetivo mais elevado de iluminação metafísica. Logicamente, ao mesmo tempo que compartilhamos similaridades, também reconhecemos as diferenças. Essas diferenças refletem nossa singularidade espiritual e enriquecem nossos variados cenários do sagrado. Entretanto, onde nossos caminhos divergem não é tão importante quanto o ponto em que eles se interceptam."
De acordo com a irmã Funk, o sumo sacerdote do Budismo Tibetano tem uma especialmente profunda conexão interfé com a comunidade monástica católica. Funk explicou esse vínculo durante a cerimônia de abertura:
"Em 1996, ele (o Dalai Lama) esteve aqui em Indiana, a convite de nossa diretoria, para vir à Abadia do Getsêmani, onde 200 de nós, monges e freiras, nos reunimos para dialogar sobre as práticas da meditação."
Essa conexão inter-religiosa foi fortalecida durante o Kalachakra. Na segunda-feira, dia 23 de agosto, um serviço interfé para o qual a participação estava restrita a pessoas convidadas, promovido pelo Centro Cultural Tibetano e liderado pelo Dalai Lama, foi realizado na Igreja Católica de São Carlos. [Nota: desde o ritual do Kalachakra, a Abadia do Getsêmani tem participado de outros eventos interfé monásticos com o Dalai Lama e líderes budistas.].
Entretanto, não foram apenas líderes religiosos que deram as boas vindas à deidade budista em Indiana. Na cerimônia de abertura, o governador Frank O’Bannon, o prefeito de Indianápolis, Stephen Goldsmith, e o ator Steven Segal caminharam, um de cada vez, até o pódio e deram as boas-vindas ao Dalai Lama, tratando esse homem do Tibete com o título elevado de "Sua Santidade".
Todavia, a abordagem interfé que honra todas as supostas deidades e seus emissários é inválida de acordo com a seguinte mensagem dada no livro do profeta Isaías:
"Porque assim diz o SENHOR que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada: Eu sou o SENHOR e não há outro... Nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar. Anunciai, e chegai-vos, e tomai conselho todos juntos; quem fez ouvir isto desde a antiguidade? Quem desde então o anunciou? Porventura não sou eu, o SENHOR? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim. Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro." [Isaías 45:18, 20b-22].
Apoio ao Lama
O apoio ao Dalai Lama e ao ritual do Kalachakra foi imenso e generalizado em todo o meio-oeste americano. Durante sua estadia, o Dalai Lama esteve na frente e no centro das atenções na mídia. Ele apareceu nas redes das emissoras de televisão, foi uma figura constante no noticiário na noite e recebeu uma enorme divulgação na imprensa. No lado cívico, as cidades de Indianápolis e Bloomington promoveram a visita do Dalai Lama e ofereceram suporte para o líder budista. Da mesma forma, a Universidade de Indiana garantiu que o Dalai Lama tivesse uma plataforma para poder falar. Além disso, para proteger o sumo Lama, o Departamento de Estado dos EUA cuidou da segurança.
Por trás dos bastidores estava a Junta dos Conselheiros do Kalachakra. Os membros incluíam Oscar Arias (membro da Comissão Sobre Governança Global), o rabino Eric Bram, da Congregação Hebraica de Indianápolis, os atores Richard Gere e Harrison Ford, o Dr. Paul A. Crow (Discípulos de Cristo), o congressista Benjamin A. Gilman, o Rev. Timothy Kelly (abade, Abadia do Getsêmani), Myles Brand (reitor da Universidade de Indiana), Mary Margaret Funk (diretora-executiva do Diálogo Interfé Monástico), Elie Wiesel (Prêmio Nobel da Paz em 1986), e outros.
Os ingressos para assistir ao Kalachakra custavam a partir de 375 dólares. Entretanto, para quem quisesse ficar perto das celebridades, o preço subia para 1.000 dólares o assento. A participação no banquete de boas-vindas custava 500 dólares. Somente as duas apresentações públicas do Dalai Lama tiveram preço popular: 10 dólares o assento. Com mais de 40.000 pessoas participando da primeira apresentação e muito mais na segunda, esses dois eventos geraram uma receita considerável.
É claro que o custo total para realizar o Kalachakra foi elevado. De acordo com o jornal Indianapolis Star, o custo de trazer o Dalai Lama e seus monges aos EUA foi de 2 milhões de dólares. Mas, como a colunista Ruth Holladay salientou: "Os seguidores do Dalai Lama não estão preocupados com o preço da tranquilidade." [9].
Realidades Demográficas
Sendo um pesquisador cristão sobre as questões da globalização, acreditei que seria importante comparecer às duas apresentações públicas do Dalai Lama. Enquanto estava aguardando para passar pela revista dos seguranças na entrada para a primeira palestra, ouvi dois devotos de Chicago discutirem uma visita anterior do Dalai Lama à cidade deles. Ouvindo a conversa, fiquei sabendo que quando o Dalai Lama visitou Chicago alguns anos atrás, o público foi relativamente pequeno e a resposta da mídia foi moderada, na melhor das hipóteses. Por outro lado, a visita a Indiana recebeu uma tremenda atenção da mídia e literalmente milhares de seguidores e curiosos foram ouvir o líder tibetano falar.
No segundo evento público, que ocorreu na Universidade de Indiana, em Bloomington, as multidões se aglomeraram para encontrar um assento que lhes desse uma boa visão do Dalai Lama. Observando tudo isto, não pude deixar de notar a demografia: independente do fato que essa segunda palestra pública foi realizada em um campus universitário, os jovens e adultos jovens eram o grupo demográfico predominante. Um grupo de adolescentes, todos aparentando ter menos de dezesseis anos, se assentou diretamente atrás de mim. À minha direita um casal anotava cada palavra do Lama; à minha esquerda a família de um jovem casal com um menino também fazia anotações entusiasticamente; na minha frente havia uma mulher com duas filhas adolescentes. Por toda a parte que eu olhasse havia jovens, estudantes universitários e jovens profissionais ocupando todos os assentos. Em comparação com uma década atrás, quando seria difícil encontrar um jovem ocidental que tivesse algum conhecimento sobre o Tibete, um número grande agora está imerso nos ensinos desse mestre oriental.
Olhando agora para os ritos do Kalachakra de 1999, o que foi obtido? Para o Budismo nos EUA, novos seguidores e um tremendo crescimento no interesse do público geral; para o movimento interfé, conexões mais firmes entre as linhas religiosas; para o mundo, a liberação de energias ocultistas; e para os cristãos em Indiana, a confusão. Por que confusão?
Porque a comunidade cristã no meio-oeste ficou angustiada com a visita do Dalai Lama. Diversos líderes cristãos proeminentes apoiaram abertamente esse encontro budista e, apesar de alguns terem expressado oposição ou preocupação, as vozes deles em geral não foram ouvidas. Os membros de uma igreja, a Northview Christian Live, de Carmel, Indiana, compareceram à primeira palestra para orar e pedir proteção contra a enganação espiritual e o fascínio com o ocultismo que acompanhavam o Kalachakra.
Entretanto, cristãos de outras igrejas estavam apoiando o evento, distribuindo a programação do Kalachakra aos visitantes! [10]. De um modo geral, a resposta das igrejas cristãs esteve estranhamente ausente. Um dos maiores e mais potentes rituais ocultistas estava sendo realizado no Cinturão da Bíblia no meio-oeste americano, porém a maioria silenciosa permaneceu firme no seu modo de vida tradicional o silêncio.
Notas Finais
1. Governo do Tibete no Exílio, "Discovery of His Holiness 14th Dalai Lama", http://www.tibet.com/DL/discovery.html, acessado em 7/10/1999.
2. Idem.3. Governo do Tibete no Exílio, "Major Awards conferred on His Holiness the Dalai Lama", http://www.tibet.com/DL/awards.html, acessado em 7/10/1999.
4. Veja o livro do Dala Lama, Ancient Wisdom, Modern World: Ethics for a New Millennium.
5. Discurso de Sua Santidade o Dalai Lama na Conferência Fórum 2000, em Praga, República Tcheca, 3-7 de setembro de 1997, http://www.tibet.com/DL/forum-2000.html, acessado em 7/10/1999.
6. Veja BuddhaNet, "The Kalachakra Initiation Explained", http://www.buddhanet.net/kalini.htm.
7. Idem. 8. Idem.9. Ruth Holladay, "Dalai Lama’s followers aren’t troubled by tab for tranquility", The Indianapolis Star, 17/8/1999, pág. B1.
10. Judith Cebula, "A peaceful century", The Indianapolis Star, 17 de agosto de 1999, pág. A2.
Autor: Carl Teichrib, artigo original em http://www.forcingchange.org, Edição 8, Volume 2.
Data da publicação: 23/6/2011
Revisão: http://www.TextoExato.com
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