A Teologia da Substituição Rejeita e Perverte o Propósito Profético de Deus para Israel

Autor: Jeremy James

Cristo descreveu Satanás como um mentiroso e homicida desde o princípio. Isto sugere que Satanás é extremamente engenhoso ao exercer ambas essas funções diabólicas. Os puritanos estavam bem cientes dos poderes de enganação de Satanás e os escritos deles estão repletos de advertências a esse respeito. Mas, os pregadores dos tempos modernos, em grande parte, negligenciam ou subestimam terrivelmente o envolvimento de Satanás nos assuntos humanos.

Hoje, grandes segmentos da igreja estão em uma condição verdadeiramente deplorável, em grande parte por que muitos cristãos não são capazes de ver por causa das incontáveis camadas de enganos que Satanás usa para confundir e iludir suas vítimas.

Quando eu me converti, fiquei admirado com a quantidade impressionante de promessas que o Senhor fez aos filhos de Israel e que estão registradas em Sua Santa Palavra. Entretanto, ao discutir essas questões doutrinárias pela primeira vez com cristãos nascidos de novo, fiquei surpreso ao descobrir que muitos deles não acreditavam que aquelas promessas ainda se aplicavam a Israel. Em vez disso, eles diziam, as promessas tinham sido removidas em bloco de Israel e transferidas para a igreja. Todavia, quando eu exigia uma justificativa bíblica para essa opinião, as respostas deles não faziam muito sentido.

Como um recém-convertido, eu lia a Bíblia como um texto literal. Assumi que Deus tinha dito de forma bem clara e direta aquilo que Ele queria que compreendêssemos e que Suas palavras deveriam ser tomadas pelo valor de face. Embora eu não percebesse isto naquele tempo, eu estava seguindo a Regra de Ouro de Cooper da Interpretação Bíblica:

"Quando o sentido claro das Escrituras atender ao senso comum, não procure outro sentido; portanto, considere cada palavra em seu sentido primário, ordinário, usual e literal, a não ser que os fatos do contexto imediato, estudados à luz de passagens relacionadas e de verdades axiomáticas e fundamentais, indiquem claramente uma direção diferente."

Portanto, o que meus novos amigos cristãos tinham feito e eu não? Eles tinham adotado a visão, talvez sem pensar muito na questão, que partes da Bíblia eram literais e partes eram alegóricas. No primeiro caso, eles consideravam que a Bíblia queria dizer aquilo que dizia claramente mas que, no segundo caso, acreditavam que ela queria dizer algo diferente daquilo que estava escrito claramente e que o significado literal deveria ser desconsiderado.

Existiam imensos problemas com isto, em minha opinião. Primeiro, como eles sabiam quais partes da Bíblia eram alegóricas e quais não eram? E quem decide qual é o "real" significado? Em segundo lugar, fiquei chocado com o fato que a maioria das partes que eles tinham decidido serem alegóricas referia-se ao relacionamento atual de Deus com os filhos de Israel. Por que o Senhor trataria do futuro de Seu povo escolhido de um modo vago e poético quando sempre tinha tratado as outras fases da história deles em termos muito literais e específicos?

Além disto, era bizarro para mim que tantos cristãos sinceros aceitassem como literais somente aquelas profecias bíblicas que já tinham sido cumpridas, mas tratassem como alegóricas aquelas que ainda não se cumpriram.

Algo estava seriamente errado. Vastas porções das Escrituras estavam sendo empurradas para um beco sem saída alegórico e qualquer validade atual era negada, exceto na medida em que elas pudessem ser aplicadas à igreja. Além disso, incontáveis passagens em Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Zacarias e muitos outros locais não poderiam ser aplicadas à igreja sem serem distorcidas, enquanto outras eram interpretadas de forma tão vaga e não específica que pareciam não acrescentar nada à Palavra de Deus. Isto era especialmente evidente naquelas passagens em que o Senhor usava linguagem forte e imagens poderosas para transmitir aquilo que era claramente uma mensagem muito específica.

Uma Proposição de Quatro Palavras

Toda esta confusão poderia ser rastreada a apenas uma proposição, a de que "a igreja substituiu Israel". Incrivelmente, com base nessa proposição altamente controversa, milhões de cristãos professos estavam plenamente preparados para desconsiderar ou rejeitar o significado claro da Santa Palavra de Deus em incontáveis passagens das Escrituras.

Se não tiver fundamento, então essa proposição de quatro palavras precisa certamente se qualificar como uma das maiores e mais bem-sucedidas mentiras de Satanás. Por meio dela, Satanás conseguiu:

  1. Separar o povo judeu para sempre das promessas incondicionais que Deus lhe fez.

  2. Alegorizar extensas passagens das Escrituras — possivelmente 10% ou mais da Bíblia — e dar a elas um significado que, na maioria das vezes, é inconsistente ou até mesmo conflitante com o restante das Escrituras.

  3. Apresentar a possibilidade que Deus pode fazer promessas que depois não consegue cumprir.

  4. Apresentar a possibilidade que a vontade soberana de Deus pode ser estorvada por algo que o homem possa fazer ou deixar de fazer.

  5. Apresentar a possibilidade que outras partes das Escrituras também são alegóricas e, desse modo, transformar a Palavra de Deus em algo que somente os teólogos podem interpretar.

  6. Destruir completamente a relevância profética do livro do Apocalipse.

Quando se considera que dois dos principais objetivos de Satanás são a aniquilação do povo judeu e a destruição da Santa Palavra de Deus, então a mentira de quatro palavras é verdadeiramente uma obra-prima satânica. Ela até consegue fazer os cristãos questionarem se Deus um dia honrará Suas promessas àqueles que foram salvos. Afinal, se Ele pôde fazer diversas alianças com Seu povo escolhido, alianças dos tipos mais gloriosos, e depois colocá-lo de lado sem possibilidade de recurso, então a extensão em que Suas promessas podem ser consideradas de forma literal é colocada seriamente em dúvida.

O que poderia dar mais satisfação a Satanás?

Não estou sugerindo nem por um momento que quem defende a Teologia da Substituição não tenha integridade, pois muitos cristãos maravilhosos acreditam nessa enganação. Mas, estou questionando a lógica da posição que eles adotam e incentivando-os a reexaminá-la atentamente (e com muita oração). Este estudo destina-se a motivar os cristãos nesse sentido e a fornecer um relato conciso e objetivo da natureza preocupante e das implicações corrosivas da Teologia da Substituição.

O Nascimento da Teologia da Substituição

Para compreender por que tantos teólogos respeitados aceitaram a proposição das quatro palavras, precisamos recuar até os tempos apostólicos. Até que se veja a extensão em que, historicamente falando, essa ampla interpretação foi moldada pela inveja racial e política religiosa, a paixão com a qual ela é defendida pode ser difícil de compreender. Afinal, por que a reinterpretação mais radical e extensa da clara palavra das Escrituras deveria ser relativa quase que exclusivamente a um único assunto — o status futuro de Israel?

Tensões entre o Judaísmo Mosaico e a igreja existiram desde o início. Os legalistas na Igreja Católica Romana, que estava então em formação, exploraram e aumentaram essas tensões para seus próprios fins. Os judeus estiveram tradicionalmente isentos da perseguição sob as leis da antiga Roma, enquanto que os cristãos, por ser recusarem a reconhecer o imperador como deus ou como um representante de deus na Terra, foram tratados como uma seita hostil ao Estado romano. Os cristãos primitivos tentaram se descrever como um ramo, ou como uma derivação do Judaísmo, de modo a fazerem uso da clemência oferecida sob a Lei Romana, mas os juristas não aceitaram esse argumento. Os agentes do poder eclesiástico conseguiram explorar essa injustiça, ou falta de paridade na lei, para ampliar o fosso entre o Judaísmo Mosaico e a igreja gentia.

As relações entre os cristãos e os judeus também foram prejudicadas pela desastrada tentativa judaica de se libertar do jugo romano durante a revolta de Bar Kochba, nos anos 132-135. Um importante rabino tinha tolamente declarado que o líder da revolta, certo Simão Bar Kochba, era o longamente aguardado Messias. Embora muitos cristãos de origem judaica estivessem dispostos a apoiar uma revolta sob liderança judaica, eles não podiam participar de uma campanha chefiada por um falso Messias. Como o fracasso da revolta produziu a destruição da nação judaica e sua dispersão a todos os cantos do Império, a falta de apoio militar ativo por parte dos cristãos de origem hebraica fez surgir um considerável ressentimento entre os judeus.

A queda de Jerusalém na primeira revolta judaica e a destruição do Templo, no ano 70, levou muitos teólogos cristãos a concluírem que, como Deus tinha abolido o sistema de sacrifícios na Lei Mosaica, também tinha terminado Sua aliança com aqueles judeus — de longe a maioria — que tinham deixado de aceitar a mensagem do Evangelho. Assim, embora a igreja nas primeiras décadas de sua existência consistisse quase que exclusivamente de judeus étnicos e os líderes da igreja primitiva fossem todos de origem judaica, uma grande mudança em sua organização e liderança ocorreu após o ano 70. Líderes de origem gentia adquiriram uma influência muito maior na igreja e teólogos de origem gentia começaram a reinterpretar o Velho Testamento de uma maneira cada vez mais não-judaica.

Como muitos desses teólogos tinham estudado a filosofia grega e eram grandemente influenciados pela mentalidade pagã que a fundamentava, o afastamento da perspectiva judaica se acelerou. Os judeus foram gradualmente retratados como recebedores indignos do favor de Deus na época precedente. Dado o papel deles na crucificação de Jesus Cristo e a posterior rejeição à conversão ao Cristianismo, eles eram vistos, não simplesmente como pecadores perdidos que tinham sido enganados por Satanás, mas como participantes covardes em um grande mal, que estavam agora destinados a uma existência miserável no tempo em que ainda vivessem na Terra e a uma bem-merecida condenação na eternidade.

Se Deus tivesse rejeitado os judeus e revogado Sua aliança com eles, então certamente eles deveriam ter sido destruídos e não apenas espalhados por todo o mundo conhecido daquele tempo. Por que Deus os tinha preservado? Inicialmente, essa questão incomodou os bispos e teólogos, mas eles concluíram que Deus permitira que os judeus sobrevivessem e que a desgraça deles fosse manifesta por todo o império, como uma evidência visível da severidade dos julgamentos de Deus. Em resumo, isto é o que acontece com aqueles que rejeitam o Messias.

Esta atitude insolente e frequentemente hostil começou a aparecer cada vez mais nos escritos e sermões dos bispos mais influentes da igreja primitiva. Considere, por exemplo, as seguintes diatribes escritas por um dos mais estimados teólogos de seu tempo, João Crisóstomo, bispo de Constantinopla (falecido no ano 407):

"Os judeus sacrificam seus filhos a Satanás... eles são piores do que as bestas selvagens. A sinagoga é um prostíbulo, um covil de ladrões, o templo de demônios dedicado a cultos idólatras, uma assembleia criminosa de judeus, um local de encontro para os assassinos de Cristo, uma casa de má fama, uma habitação da iniquidade, um abismo de perdição."

"Os judeus desceram a uma condição inferior a dos mais vis animais. A libertinagem e as bebedeiras os levaram ao nível do bode e do porco lascivos. Eles só sabem uma coisa: satisfazer seus ventres, embriagar-se, matar e bater uns nos outros."

"A sinagoga é uma maldição, obstinada em seu erro, recusa-se a ver ou ouvir, deliberadamente perverteu seu julgamento, extinguiu em mesma a luz do Espírito Santo."

Muitas acusações similares feitas por líderes da igreja daquele tempo estão registradas na literatura. Virtualmente todos os assim chamados "pais da igreja" — que lançaram os fundamentos teológicos da Igreja Católica Romana — expressam seu desprezo pelo povo judeu. Entre eles estão Justino Mártir, Ambrósio de Milão, Agostinho de Hipona, Hilário de Pointiers, Cipriano de Cartago, Inácio de Antioquia e Orígenes de Alexandria.

A Motivação Política Que Está Por Trás da Teologia da Substituição

A teologia da igreja primitiva e dos assim chamados "pais da igreja" foi moldada, em parte, por considerações políticas. Essas considerações incluíram a criação de uma "sucessão apostólica", por meio da qual certos bispos poderiam ser considerados possuidores da mesma autoridade que os apóstolos originais e tinham, portanto, o direito de exercer controle de ampla abrangência sobre a igreja e seus ensinos. Essa estrutura de poder eventualmente evoluiu para o papado, onde o bispo de Roma tornou-se Pontifex Maximus, um título pagão que anteriormente era atribuído aos imperadores romanos.

Para isto funcionar, todas as alternativas possíveis teriam de ser suprimidas, em particular qualquer desafio potencial pela comunidade judaica. Como os apóstolos e seus principais discípulos eram todos judeus, seus descendentes poderiam reivindicar ter herdado ou possuir alguma forma de autoridade eclesiástica. Isto nunca poderia ser permitido. Os judeus teriam de ser desacreditados, tanto individualmente e como uma nação. O melhor modo de fazer isso seria afirmar que qualquer status espiritual, ou eleição, que os judeus tinham possuído anteriormente, agora tinham passado em sua totalidade para a igreja. Em resumo, a igreja tinha substituído Israel. Além disso, a substituição seria considerada, não simplesmente como um acidente na história, mas como um evento divinamente ordenado.

Como a Bíblia continha inúmeros versos proféticos relacionados com a salvação final dos judeus como uma nação e promessas incondicionais de Deus nesse sentido, para não mencionar o futuro retorno triunfante deles à terra de Israel, tornou-se necessário neutralizar essas passagens bíblicas e substituí-las em cada caso por um significado alternativo plausível. Em grande parte, a proposição de quatro palavras, "a Igreja substituiu Israel", deu uma base para fazer isso. Mas, algumas passagens eram tão literais e enfáticas que um estratagema adicional foi necessário. Isto se tornou o método alegórico de interpretação bíblica. Mesmo que suas regras não fossem claras e os resultados não fossem convincentes, o principal objetivo foi alcançado. O significado literal das promessas de Deus para Jacó e seus descendentes foram afundados para sempre em um mar de ambiguidade profética.

O texto das Escrituras poderia ser interpretado somente como os teólogos instruíssem. Isto levou no tempo devido à supressão oficial da própria Bíblia, e à situação em que somente membros do clero católico romano podiam possuir um exemplar. O controle exclusivo deles sobre a Palavra de Deus foi reforçado, condenando as massas a um baixo nível de alfabetização e proibindo a tradução da Bíblia para as línguas e dialetos locais. O latim era uma língua estrangeira para a maioria das pessoas, de modo que a Vulgata, a tradução da Bíblia aprovada por Roma, não era compreensível, exceto para os monges e cléricos mais velhos.

O Poder da Doutrinação

A natureza insidiosa da Teologia da Substituição é muito mais fácil de compreender quando se vê de onde ela veio e por que a igreja — entenda-se aqui a Igreja Católica Romana — rotineiramente utilizou doutrinação e propaganda, junto com uma forma severa de censura, para manter o controle social. Quando vista sob esta luz, a Teologia da Substituição não é uma "teologia" de forma alguma, mas um modo vantajoso de fortalecer o poder de Roma.

Essa doutrinação de longo curso foi tão eficaz que até reformadores religiosos excepcionais, como Lutero e Calvino foram incapazes de identificá-la. Obviamente, eles compreenderam que grande parte daquilo que Roma ensinava era errado, mas eles não foram longe o suficiente em suas análises. Ambos tinham sido membros da elite cultural antes de se rebelarem e, como ex-padres, tinham sido instruídos por muitos anos na visão oficial que os judeus eram degenerados, vis e incapazes de obterem a redenção. Um desprezo visceral desse tipo, instilado desde a infância, é muito difícil de ser abandonado mais tarde, e nenhum dos dois conseguiu questionar esse aspecto de suas crenças. Como resultado, a Teologia da Substituição foi mantida tanto pelo Calvinismo (a Igreja Reformada, ou Presbiteriana), e pelas Anglicanas e Episcopais.

Hoje, somente algumas poucas igrejas cristãs rejeitam a Teologia da Substituição. As demais a ensinam para seu rebanho. Consequentemente, dezenas de milhões de cristãos bem-intencionados em todo o mundo estão sendo enganados pela mentira de quatro palavras de Satanás que "a igreja substituiu Israel". As implicações disso para a igreja como um todo são muito perturbadoras. Em vez de apoiarem a vontade de Deus em uma questão que eles sabem — ou deveriam saber — que é muito próxima do coração de Deus, números substanciais estão ativamente resistindo a Ele.

A fundação de Israel, em 1948, como um Estado independente e pátria do povo judeu deveria ter feito os cristãos despertar e estremecer, porém parece que poucos reconheceram o notável significado daquele evento. A profecia estava sendo cumprida diante de seus olhos, porém a vasta maioria dos cristãos não quis saber.

Essa rejeição do propósito profético do Deus para Israel também tem sérias implicações para os cristãos individuais. Nossa vida de oração e nosso relacionamento diário com o Senhor está intimamente vinculado com nossa compreensão e aceitação das Escrituras, a vontade expressa de Deus. Se existem passagens nas Escrituras que temos dificuldade em compreender, o que devemos fazer é levá-las diante do Senhor em oração e buscar a luz da compreensão. Isto deveria ser óbvio, mas mesmo assim milhões de cristãos hoje estão perfeitamente dispostos a rejeitarem, ou desconsiderarem, grandes porções da Bíblia, vendo-as exclusivamente por meio das lentes da Teologia da Substituição.

Será que nunca passa pela cabeça deles que o significado daquilo que Deus disse é exatamente aquilo que está escrito e que a mentira das quatro palavras foi uma vil enganação?

É ainda mais impressionante quando pregadores e pastores ensinam essa doutrina sem nunca se preocuparem em examiná-la em cada detalhe por si mesmos. Se fizessem isso, eles certamente veriam o mal que podem causar ao aceitarem cegamente uma proposição que, como não tem fundamento, pode apagar, diminuir ou corromper grandes porções da Santa Palavra de Deus.

Tendo dito tudo isto, vamos agora examinar o que o Senhor realmente tinha em vista com suas declarações proféticas sobre Israel e por que a Teologia da Substituição não pode de modo algum ser verdadeira.

As Alianças de Deus com Israel

Existe um princípio estabelecido da interpretação bíblica, que é aceito pelos eruditos e expositores há várias gerações: que a frequência com que um assunto é mencionado nas Escrituras é uma medida de sua importância relativa. Isto é válido independente se a repetição é no mesmo capítulo, no mesmo livro, ou até mesmo em livros diferentes. Aos olhos de Deus, toda a Bíblia é um só livro e Ele é o único autor. Deus enfatiza a importância que atribui a certas verdades ou princípios repetindo-os. Precisamos levar isso em consideração em nosso estudo das Escrituras e avaliar sua relevância.

Com base nisto, podemos esperar que palavras como fé, esperança, amor, pecado, sacrifício e salvação apareçam de forma proeminente, e elas realmente aparecem! A tabela a seguir relaciona o número de vezes que elas aparecem na Bíblia (na Versão Autorizada do Rei Jaime):

Palavra
Ocorrências
247 vezes
Esperança 130
Amor / Caridade 339
Pecado 448
Sacrifício 297
Salvação 164
TOTAL 1.625
Agora, compare a tabela acima com a seguinte:

Palavra
Ocorrências
Israel 2.576 vezes
Jacó 377
Davi 1.139
Jerusalém 814
Abraão 250
"Meu povo" 217
TOTAL 5.373

Isto nos diz alguma coisa? Usando um princípio básico da interpretação bíblica, podemos ver que as Escrituras estão destacando um povo e um local que são de imensa importância para o Senhor Deus de toda a criação. Somente as referências a Israel excedem em muito a soma de todas as referências na Bíblia inteira a fé, esperança, caridade, amor, pecado, sacrifício e salvação.

Os críticos reagem a isto com a mesma afirmação abrangente — que a igreja substituiu Israel e se tornou "Meu povo" aos olhos de Deus. Mas, isso pode ser alcançado de forma igualmente fácil adicionando-se a igreja à lista. Nâo há necessidade alguma de substituir Israel. (É exatamente assim que o apóstolo Paulo trata a questão em sua epístola aos Romanos — que discutiremos em instantes.).

Quando o Senhor se refere a Israel, Jacó, Davi e Jerusalém em Sua Santa Palavra, Ele faz isso no contexto da aliança que fez com Abraão. Isso signfica que Israel somente pode significar Israel, Jacó somente pode significar Jacó, Davi somente pode significar Davi e Jerusalém somente pode significar Jerusalém. Uma vez que eles sejam removidos desse contexto — isto é, o cumprimento no tempo devido da aliança com Abraão — eles perdem seus significados.

Portanto, uma compreensão correta da aliança com Abraão é crucial para uma correta compreensão da Bíblia como um todo. Infelizmente, em minha experiência, somente uma pequena minoria de cristãos estudou de verdade a aliança, como ela foi declarada solenemente e as várias ocasiões posteriores em que ela foi confirmada.

Aqui está a passagem-chave das Escrituras:

"Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência. E creu ele no SENHOR, e imputou-lhe isto por justiça. Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para herdá-la. E disse ele: Senhor DEUS, como saberei que hei de herdá-la? E disse-lhe: Toma-me uma bezerra de três anos, e uma cabra de três anos, e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho. E trouxe-lhe todos estes, e partiu-os pelo meio, e pôs cada parte deles em frente da outra; mas as aves não partiu. E as aves desciam sobre os cadáveres; Abrão, porém, as enxotava. E pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão; e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele. Então disse a Abrão: Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia. E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumaça, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades." [Gênesis 15:5-17].

O Senhor disse a Abrão (que ainda não tinha sido renomeado como Abraão) para apanhar três animais e duas aves, mas não especificou o que fazer com eles. Entretanto, de acordo com um costume bem-estabelecido, Abraão sabia o que deveria fazer. O modo tradicional de selar uma aliança, particularmente quando uma questão de grande importância estava envolvida, era sacrificar diversos animais domésticos e preparar uma grande fogueira para as carcaças. O fogo, com suas partes sacrificiais, era dividido em duas metades, com um caminho estreito entre elas. A aliança era selada quando ambas as partes contratantes caminhavam pelo meio do sacrifício queimado. Uma aliança feita desse modo era irrevogável.

O Senhor dá confirmação dessa prática quando diz, no livro do profeta Jeremias:

"E entregarei os homens que transgrediram a minha aliança, que não cumpriram as palavras da aliança que fizeram diante de mim, com o bezerro, que dividiram em duas partes, e passaram pelo meio das suas porções; a saber, os príncipes de Judá, e os príncipes de Jerusalém, os eunucos, e os sacerdotes, e todo o povo da terra que passou por meio das porções do bezerro." [Jeremias 34:18-19].

O procedimento em Gênesis se distanciou da fórmula original em um aspecto muito significativo — somente uma das partes caminhou pelo meio do fogo. O Senhor fez Abraão cair em um sono profundo, impedindo desse modo a participação dele, e depois selou a aliança Ele mesmo.

O forno de fumaça e a tocha de fogo no verso final referem-se, respectivamente, às futuras tribulações de Seu povo escolhido, e Sua presença divina com eles o tempo todo.

Para que a igreja compreendesse a natureza imutável e irrevogável da aliança que o Senhor fez com Abraão e com sua descendência para sempre, Ele nos deu a seguinte clarificação em Hebreus 6:13-20:

"Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por si mesmo, dizendo: Certamente, abençoando te abençoarei, e multiplicando te multiplicarei. E assim, esperando com paciência, alcançou a promessa. Porque os homens certamente juram por alguém superior a eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda a contenda. Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento; para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta; a qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu, onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque."

Pode alguma coisa ser mais clara? Deus jurou por si mesmo. A aliança é irrevogável e perpétua. Ela não depende de coisa alguma, somente da vontade soberana de Deus. Não há coisa alguma que o homem possa fazer para anular ou revogar esse compromisso solene. Além disso, ela precisa se cumprir, pois como o apóstolo Paulo nos faz lembrar, "é impossível que Deus minta".

Em seguida, vamos examinar as promessas específicas que Deus fez por aliança a Abraão.

A Aliança Abraâmica

Vamos começar com o pronunciamento inicial:

"Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra." [Gênesis 12:1-3].

O ponto fundamental que precisa ser considerado aqui é que a aliança foi feita sem quaisquer condições associadas — nem uma sequer. É essencial reconhecer isto, pois toda a Teologia da Substituição baseia-se na crença que uma condição está de algum modo implícita. Deve ser observado que o Senhor não especificou quando a aliança seria totalmente cumprida. Entretanto, como ela não foi cumprida na Primeira Vinda de Cristo, os proponentes da Teologia da Substituição assumiram que a aliança com o povo judeu tinha caducado. Eles inseriram uma data de término na aliança, embora uma data não estivesse especificada.

Sabemos também que a promessa da aliança, uma vez que ela tiver sido realizada, durará para sempre:

"E disse o SENHOR a Abrão, depois que Ló se apartou dele: Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o lado do norte, e do sul, e do oriente, e do ocidente; porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre. E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua descendência será contada. Levanta-te, percorre essa terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a ti a darei." [Gênesis 13:14-17].

Observe a expressão "para sempre". Alguns acreditam que isso não poderia significar "por um tempo sem fim", pois o povo judeu foi subsequentemente expulso de sua terra por rejeitar o Messias. Eles raciocinam que precisa ter havido uma condição conectada com a aliança, isto é, que os descendentes de Abraão teriam de aceitar o Messias quando Ele viesse. Mas, este é um erro sério. Aos olhos do Senhor, Seu povo escolhido nunca deixou de ser o herdeiro verdadeiro da terra e das promessas feitas a Abraão. A expulsão deles da Terra Prometida pelos assírios, babilônios e depois pelos romanos, que o Senhor impôs como castigo por causa da desobediência deles como nação, foi certamente um julgamento muito severo, mas não infringe nem compromete a aliança de forma alguma.

De fato, Deuteronômio nos diz que esse tipo de julgamento cairia sobre os israelitas se eles se afastassem da santa lei de Deus, mas que eles não ficariam banidos para sempre:

"E será que, sobrevindo-te todas estas coisas, a bênção ou a maldição, que tenho posto diante de ti, e te recordares delas entre todas as nações, para onde te lançar o SENHOR teu Deus, e te converteres ao SENHOR teu Deus, e deres ouvidos à sua voz, conforme a tudo o que eu te ordeno hoje, tu e teus filhos, com todo o teu coração, e com toda a tua alma, então o SENHOR teu Deus te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todas as nações entre as quais te espalhou o SENHOR teu Deus. Ainda que os teus desterrados estejam na extremidade do céu, desde ali te ajuntará o SENHOR teu Deus, e te tomará dali; e o SENHOR teu Deus te trará à terra que teus pais possuíram, e a possuirás; e te fará bem, e te multiplicará mais do que a teus pais." [Deuteronômio 30:1-5].

Muitos dos profetas predisseram um tempo quando os filhos de Israel seriam dispersos para as partes mais remotas da Terra, mas que o Senhor eventualmente os traria de volta à Terra Prometida. Ele faria isso, não por causa do mérito intrínseco ou por justiça da parte deles, mas por amor ao Seu próprio nome:

"Mas eu os poupei por amor do meu santo nome, que a casa de Israel profanou entre os gentios para onde foi. Dize portanto à casa de Israel: Assim diz o Senhor DEUS: Não é por respeito a vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes. E eu santificarei o meu grande nome, que foi profanado entre os gentios, o qual profanastes no meio deles; e os gentios saberão que eu sou o SENHOR, diz o Senhor DEUS, quando eu for santificado aos seus olhos. E vos tomarei dentre os gentios, e vos congregarei de todas as terras, e vos trarei para a vossa terra. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis. E habitareis na terra que eu dei a vossos pais e vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus." [Ezequiel 36:21-28].

É inacreditável que os defensores da Teologia da Substituição possam tentar alegorizar uma passagem bíblica como esta e aplicá-la à igreja. A igreja nunca foi banida da terra que possuía, pois o Senhor nunca outorgou um território à igreja. Mas, o Senhor outorgou um espaço territorial aos filhos de Israel, e os espalhou até as partes mais remotas, entre todas as nações e os trouxe de volta à sua própria terra. Além disso, em alguma data futura, Ele os purificará, exatamente como declarou, e habitará fisicamente entre eles, exatamente como declarou.

O livro do profeta Zacarias é um retrato surpreendente desse evento futuro, a Segunda Vinda de Cristo.

Muitos que alegorizam a Palavra de Deus têm uma tendência perturbadora de ignorar as passagens que desafiam seu método artificial de interpretações. Por exemplo, considere o seguinte:

"Dize-lhes pois: Assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu tomarei os filhos de Israel dentre os gentios, para onde eles foram, e os congregarei de todas as partes, e os levarei à sua terra. E deles farei uma nação na terra, nos montes de Israel, e um rei será rei de todos eles, e nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos. E nunca mais se contaminarão com os seus ídolos, nem com as suas abominações, nem com as suas transgressões, e os livrarei de todas as suas habitações, em que pecaram, e os purificarei. Assim eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. E meu servo Davi será rei sobre eles, e todos eles terão um só pastor; e andarão nos meus juízos e guardarão os meus estatutos, e os observarão." [Ezequiel 37:21-24].

A igreja nunca existiu como duas nações. De fato, não faz sentido imaginar a igreja como uma nação, e o Novo Testamento nunca sugere algo desse tipo. Assim, a quais nações está essa passagem acima se referindo? Isto deve ser óbvio, pois as vicissitudes deles ocupam um papel proeminente em vários livros do Velho Testamento. Essas duas nações são, é claro, o reino do norte de Israel, que tinha como capital a cidade de Samaria, que foi conquistado pelos assírios em 722 AC, e o reino do sul, Judá, que foi conquistado pelos babilônios em 606 AC. Os dois reinos formavam uma única nação no tempo de Salomão, mas se dividiram após a morte dele, por disputas internas.

Agora, considere os versos restantes no capítulo 37 de Ezequiel:

"E habitarão na terra que dei a meu servo Jacó, em que habitaram vossos pais; e habitarão nela, eles e seus filhos, e os filhos de seus filhos, para sempre, e Davi, meu servo, será seu príncipe eternamente. E farei com eles uma aliança de paz; e será uma aliança perpétua. E os estabelecerei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles para sempre. E o meu tabernáculo estará com eles, e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E os gentios saberão que eu sou o SENHOR que santifico a Israel, quando estiver o meu santuário no meio deles para sempre." [Ezequiel 37:25-28].

Poderia nosso Pai Celestial tornar Suas intenções mais explícitas do que isto? Que possível construção poderíamos colocar em palavras e expressões como "para sempre", "eternamente" e "perpétua", exceto aquilo que elas significam de forma bem clara? É necessário uma atitude realmente rebelde para querer transformar uma passagem com esta de um modo alegórico de forma a atender às restrições impostas pela espúria proposição de que a igreja substituiu Israel.

Quando as pessoas brincam com a palavra de Deus, estão brincando com fogo.

A Aliança com Davi

À medida que o advento do Messias se aproximou, o Senhor acrescentou uma aliança adicional àquelas que já tinha feito com Israel. Isto foi transmitido a Davi por meio do profeta Natã e é conhecida como Aliança Davídica. Ela amplia as promessas feitas no Gênesis:

"E prepararei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei, para que habite no seu lugar, e não mais seja removido, e nunca mais os filhos da perversidade o aflijam, como dantes, e desde o dia em que mandei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel; a ti, porém, te dei descanso de todos os teus inimigos; também o SENHOR te faz saber que te fará casa. Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens. Mas a minha benignidade não se apartará dele; como a tirei de Saul, a quem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre. Conforme a todas estas palavras, e conforme a toda esta visão, assim falou Natã a Davi." [2 Samuel 7:10-17].

Aqui, o Senhor diz a Davi que estabelecerá sua dinastia — sua "casa" — perpetuamente. Se alguns dos reis dessa linhagem se afastarem de Sua santa lei, eles serão punidos "com vara de homens", mas a linhagem propriamente continuará — "Mas minha benignidade não se apartará dele." Observe o verso 16 em particular: "Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre."

Seguindo o princípio da repetição na interpretação bíblica, notamos em particular as palavras do Salmos 89:

"Achei a Davi, meu servo; com santo óleo o ungi, com o qual a minha mão ficará firme, e o meu braço o fortalecerá. O inimigo não o importunará, nem o filho da perversidade o afligirá. E eu derrubarei os seus inimigos perante a sua face, e ferirei aos que o odeiam. E a minha fidelidade e a minha benignidade estarão com ele; e em meu nome será exaltado o seu poder. Porei também a sua mão no mar, e a sua direita nos rios. Ele me chamará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus, e a rocha da minha salvação. Também o farei meu primogênito mais elevado do que os reis da terra. A minha benignidade lhe conservarei eu para sempre, e a minha aliança lhe será firme, e conservarei para sempre a sua semente, e o seu trono como os dias do céu. Se os seus filhos deixarem a minha lei, e não andarem nos meus juízos, se profanarem os meus preceitos, e não guardarem os meus mandamentos, então visitarei a sua transgressão com a vara, e a sua iniquidade com açoites. Mas não retirarei totalmente dele a minha benignidade, nem faltarei à minha fidelidade. Não quebrarei a minha aliança, não alterarei o que saiu dos meus lábios. Uma vez jurei pela minha santidade que não mentirei a Davi. A sua semente durará para sempre, e o seu trono, como o sol diante de mim. Será estabelecido para sempre como a lua e como uma testemunha fiel no céu." [Salmos 89:20-37].

Que afirmação verdadeiramente maravilhosa da Sua aliança! A permanência dela é enfatizada no nível mais alto possível. O Senhor reconhece que os filhos de Israel provavelmente se afastarão de Sua lei e dos Seus juízos e que transgredirão Seus preceitos e mandamentos — e que serão punidos da forma apropriada. Mas, então vem aquela promessa magnífica — "Mas não retirarei totalmente dele a minha benignidade, nem faltarei à minha fidelidade"!

É por isto que considero a Teologia da Substituição, em sua essência, não apenas um método aberrante de interpretação bíblica, mas uma perturbadora expressão da rebelião e perversidade da natureza caída do homem. Como pode alguém, de qualquer persuasão ou qualquer denominação, achar apropriado emendar, diluir ou perverter a promessa extraordinária que o Senhor fez a Davi na passagem acima, quando disse:

"Mas não retirarei totalmente dele a minha benignidade, nem faltarei à minha fidelidade. Não quebrarei a minha aliança, não alterarei o que saiu dos meus lábios. Uma vez jurei pela minha santidade que não mentirei a Davi. A sua semente durará para sempre, e o seu trono, como o sol diante de mim. Será estabelecido para sempre como a lua e como uma testemunha fiel no céu."

A Nova Aliança

Além das Alianças com Abraão e com Davi, o Senhor fez uma aliança adicional com Israel. Ela é descrita como "Nova Aliança" (brit chadashah) pelo profeta Jeremias e mencionada também por Isaías e Ezequiel. A Nova Aliança não se sobrepõe ou substitui as alianças feitas com Abraão e Davi, mas faz acréscimos às promessas que o Senhor já fez.

Observe que essa aliança também é incondicional. O Senhor enfatiza isso comparando a teórica dissolução dela com o afastamento do sol, da lua e das estrelas do curso em que Ele os colocou — em outras palavras, um absurdo:

"Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao SENHOR; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados. Assim diz o SENHOR, que dá o sol para luz do dia, e as ordenanças da lua e das estrelas para luz da noite, que agita o mar, bramando as suas ondas; o SENHOR dos Exércitos é o seu nome. Se falharem estas ordenanças de diante de mim, diz o SENHOR, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre. Assim disse o SENHOR: Se puderem ser medidos os céus lá em cima, e sondados os fundamentos da terra cá em baixo, também eu rejeitarei toda a descendência de Israel, por tudo quanto fizeram, diz o SENHOR." [Jeremias 31:31-37].

A Nova Aliança é descrita nos seguintes termos por Ezequiel e Isaías, respectivamente:

"Dize portanto à casa de Israel: Assim diz o Senhor DEUS: Não é por respeito a vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes. E eu santificarei o meu grande nome, que foi profanado entre os gentios, o qual profanastes no meio deles; e os gentios saberão que eu sou o SENHOR, diz o Senhor DEUS, quando eu for santificado aos seus olhos. E vos tomarei dentre os gentios, e vos congregarei de todas as terras, e vos trarei para a vossa terra. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis. E habitareis na terra que eu dei a vossos pais e vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus." [Ezequiel 36:22-28].

"E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se converterem da transgressão, diz o SENHOR. Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor: o meu espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o SENHOR, desde agora e para todo o sempre." [Isaías 59:20-21].

A Palavra de Deus também se refere à Nova Aliança em Jeremias 50:4-5, Ezequiel 34:25-30 e Ezequiel 37:21-28.

A epístola aos Hebreus confirma que a Nova Aliança substituirá a Velha, isto é, a Aliança Mosaica, pois ela somente é especificada. Mas, ela não substituirá as alianças com Abraão e com Davi:

"Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma nova aliança, não segundo a aliança que fiz com seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; como não permaneceram naquela minha aliança, eu para eles não atentei, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior. Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais. Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar." [Hebreus 8:8-13].

Estas passagens das Escrituras são verdadeiramente impressionantes. Em termos enfáticos, o Senhor está dizendo que é Sua intenção incondicional retornar os filhos de Israel à Terra Prometida, perdoá-los por suas iniquidades, purificá-los de suas impurezas e colocar Seu Espírito sobre eles. Eles não aceitaram o Messias em Sua Primeira Vinda, mas O aceitarão em Sua Segunda Vinda.

Observe também a declaração de abertura em Ezequiel: "Não é por respeito a vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes." Isto enfatiza a incondicionalidade do concerto e explica por que razão o Senhor está fazendo aquilo — por amor ao Seu próprio nome. Exatamente como o Senhor demonstrou Seu poder soberano aos pagãos quando tirou os filhos de Israel do Egito, a despeito da desobediência e do comportamento rebelde deles, assim também Ele irá vindicar Seu santo nome no fim dos tempos, cumprindo TODAS as Suas promessas ao remanescente fiel de Israel.

Este será o Reino — o reino terreal — ao qual o Velho Testamento se referiu inúmeras vezes, que João Batista esperava e sobre o qual os apóstolos inquiriram tão frequentemente, e que Cristo confirmou que voltaria e estabeleceria quando os filhos de Israel finalmente proclamassem as palavras: "Bendito o que vem em nome do Senhor." [Mateus 23:39].

Isaías estava se referindo a esse dia glorioso na seguinte passagem, quando Cristo reinará em pessoa como governante mundial, a partir de Sua capital em Jerusalém:

"E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do SENHOR no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do SENHOR, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do SENHOR." [Isaías 2:2-3].

Para facilidade de referência, um resumo das alianças que o Senhor fez com Israel é apresentado no Apêndice A.

Compreendendo a Igreja

Alguns defensores da Teologia da Substituição afirmam que a igreja existia no Velho Testamento, porém de uma forma menos completa do que após o dia de Pentecostes. Deste modo, eles argumentam que a igreja sempre foi uma recebedora imediata das alianças que Deus fez com Israel, mas que o próprio Israel tinha caído e perdido aqueles elementos que eram específicos para ele, como a posse perpétua da Terra Prometida.

Esta é uma formulação esperta da Teologia da Substituição porque evita a necessidade de provar que a igreja herdou as promessas que a nação de Israel tinha alegadamente perdido quando rejeitou o Messias. Em vez disso, ela sutilmente se apropria daquelas mesmas promessas desde os tempos mais antigos, fingindo estar "envolvida" em certo sentido no conceito de Israel. (A Teologia dos Concertos — veja abaixo — tenta dar a isto uma base teológica.).

Entretanto, este argumento está seriamente furado. A igreja veio a existir em Pentecostes e não estava presente no Velho Testamento. É por isto que o apóstolo Paulo se referiu a ela como um "mistério", algo que anteriormente não tinha sido revelado. A igreja é o corpo do Cristo resssurreto e cada cristão nascido de novo, por meio da habitação do Espírito Santo, é membro desse corpo. Isto significa que a igreja nunca poderia ter existido no Velho Testamento de forma alguma. Se tivesse, então Paulo não poderia chamá-la de um "mistério". Cristo confirmou isto quando disse: "... sobre esta pedra edificarei a minha igreja..." [Mateus 16:18]. O tempo verbal no futuro indica que a igreja não estava estabelecida naquele momento."

Paulo referenciou o "grande mistério" como o relacionamento marital que agora existe entre Cristo e a igreja:

"Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja." [Efésios 5:30-32].

O apóstolo usou uma grande parte da carta aos Romanos — capítulos 9, 10 e11 — para explicar como a igreja, o mistério recém-formado, diferia de Israel. Ele mostra que uma clara distinção precisa ser traçada entre a totalidade daqueles que descendem de Abraão por meio de Jacó — que nós hoje consideramos como a comunidade global dos judeus étnicos — e o subconjunto eleito entre eles que foram e são os verdadeiros crentes no Senhor Deus de Israel.

Ele inicia fazendo a pergunta fundamental, a questão que está no cerne da Teologia da Substituição: "Porventura rejeitou Deus o seu povo?" Os defensores da Teologia da Substituição respondem com um sonoro "Sim"! Mas, Paulo diz exatamente o oposto:

"Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal. Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra." [Romanos 11:1-6].

Não há coisa alguma que os homens possam fazer, nem mesmo os judeus, para estorvarem a vontade de Deus. As Escrituras declaram que o Senhor tem, por meio de Sua graça incomensurável, reservado para Si um remanescente de fiéis entre os descendentes étnicos de Abraão e Jacó; que Ele vê esse remanescente como Israel; e que cumprirá por meio deles cada uma das promessas que fez a Abraão e a Davi.

Deve ser óbvio que esse remanescente não é parte da igreja, pois caso contrário pouco daquilo que Paulo diz nos capítulos 9, 10 e 11 de Romanos faria sentido. Além disso, precisa ser lembrado que essa confirmação da continuidade da aliança e relacionamento especial de Deus com a nação de Israel foi feita muitos anos após ela ter rejeitado o Messias. Assim, o apóstolo dos gentios está reafirmando aos seus leitores que as alianças incondicionais que o Senhor fez com a nação de Israel não caducaram na Crucificação.

(Isto também significa que os judeus que aceitam a Cristo ainda estão cobertos pela Aliança da Terra, enquanto que os cristãos gentios não estão e nunca estarão. Isto ajuda a destacar o modo distintivo em que o Senhor está lidando com esses dois grupos de crentes.)

No capítulo 11 o apóstolo descreve toda a congregação dos verdadeiros crentes, desde os dias mais antigos até o fim dos tempos, como uma oliveira. Israel constitui a raiz e o tronco da árvore, bem como os ramos naturais, enquanto que a igreja constitui um conjunto de ramos bravios (ou não cultivados) que foram exertados na árvore. A raiz e o caule da árvore podem acomodar todo o Israel étnico, mas a maioria dos judeus rejeitou a oportunidade de continuar como um ramo natural. Portanto, o Senhor os tinha removido temporariamente e os substituído pelos crentes gentios, conhecidos coletivamente como igreja.

Eis como Paulo explicou:

"E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são. E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. Então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar. Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado." [Romanos 11:16-25].

Tanto os ramos naturais e os exertados estão em igualdade de condições aos olhos de Deus, porém os planos Dele para cada um deles não são idênticos.

Quando o apóstolo faz referência à "plenitude dos gentios", ele está se referindo ao número total de gentios que será enxertado na oliveira. No momento em que esse número for alcançado, imediatamente antes da Segunda Vinda de Cristo, a igreja será removida fisicamente ("tomada de forma súbita") da Terra em um evento conhecido como Arrebatamento (Harpazo no original grego) e o "endurecimento", que atualmente aflige o remanescente fiel de Israel, será removido. O mundo testemunhará então os eventos surpreendentes descritos no livro do profeta Zacarias e no Apocalipse.

Israel Nunca É Usado como um Sinônimo para a Igreja

Não há uma única ocorrência em toda a Bíblia em que o nome Israel, como um termo coletivo, refira-se a qualquer outra coisa que não o povo judeu como um grupo étnico, seja a todos os descendentes de Abraão e Jacó, até as tribos do Reino do Norte somente, ou ao remanescente fiel somente. Os defensores da Teologia da Substituição afirmam que a igreja substituiu Israel após o Pentecostes. Entretanto, embora a palavra "Israel" apareça não menos que 42 vezes no Novo Testamento em relação aos eventos que ocorreram após o Pentecostes, nem uma vez é a igreja que está sendo referenciada, seja em conjunto com Israel, ou em lugar de Israel.

O Novo Testamento refere-se consistentemente à nação de Israel como "Israel" ou "Jacó", mesmo após o estabelecimento da igreja. Em sua análise de Israel e seu relacionamento com o Senhor, após a criação da igreja, o apóstolo Paulo faz a seguinte afirmação definitiva:

"Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados." [Romanos 11:25-27].

A "plenitude dos gentios" marcará o fim da época, ponto em que Cristo retornará e removerá todas as "impiedades" de Jacó (Israel), de acordo com a aliança feita com eles. O que poderia ser mais claro? O mistério ao qual Paulo está se referindo é a igreja, não Israel. Este último continua a existir e reter seu relacionamento dentro de uma aliança com o Senhor.

O Remanescente de Israel

De modo a compreender plenamente o que o Senhor quer dizer quando fala a respeito de Israel, é importante reconhecer que Israel é formado não apenas por descendentes diretos da linhagem sanguínea de Jacó, mas também por qualquer um que tenha sido adotado em uma das doze tribos, ou investido de direitos por meio do casamento. Por exemplo, Raabe, a prostituta cananita, tornou-se uma filha de Israel por meio da assimilação. Como se isso servisse para enfatizar a natureza pecaminosa dela ainda mais, descobrimos que o nome Raabe significa "Egito". Todavia, ela aparece na genealogia de José, o marido da mãe terrena de Jesus. Outra mulher gentia, a moabita Rute, também aparece na mesma linhagem.

Hebreus 11:31 nos diz que a fé de Raabe a salvou (junto com seus pais e irmãos). Também sabemos que Rute se casou com um homem judeu e se converteu ao Judaísmo. Assim, em ambos os casos, mulheres gentias se tornaram israelitas por meio da fé. Além disso, a condição delas de "israelita" não era inferior à das outras mulheres aos olhos do Senhor. Na adoção judaica-bíblica, a pessoa que tinha sido adotada era considerada como nascida na família e não havia requisitos, em tabelas genealógicas, para distinguir entre nascimento natural e incorporação via adoção.

Deus também deixou aberta a possibilidade de admissão de escravos gentios "comprados por dinheiro" na congregação de Israel" quando permitiu que eles também participassem da celebração da Páscoa, desde que fossem circuncidados primeiro, pois a circuncisão era um sinal exterior de eleição para todos os homens hebreus:

"Disse mais o SENHOR a Moisés e a Arão: Esta é a ordenança da páscoa: nenhum filho do estrangeiro comerá dela. Porém todo o servo comprado por dinheiro, depois que o houveres circuncidado, então comerá dela. O estrangeiro e o assalariado não comerão dela. Numa casa se comerá; não levarás daquela carne fora da casa, nem dela quebrareis osso. Toda a congregação de Israel o fará." [Êxodo 12:43-47].

Paulo se referiu a esse método de adoção quando disse que todos os membros da igreja tinham sido comprados por um preço — "Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens." [1 Coríntios 7:23]. Pela fé nos tornamos servos de Cristo, que pagou o preço por nossos pecados. Deste modo, fomos enxertados na oliveira dos eleitos de Deus. Além disso, não é necessário que passemos por uma circuncisão exterior, pois a aliança do Novo Testamento requer somente a circuncisão do coração (isto é, a regeneração).

Portanto, podemos ver que até mesmo no Velho Testamento havia uma possibilidade clara, embora limitada, para inclusão de gentios crentes entre os eleitos de Deus.

Em sua epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo equipara a salvação de uma proporção somente dos gentios por meio da fé com a salvação de uma proporção somente de judeus por meio da fé:

"Como também diz em Oséias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada à que não era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo; aí serão chamados filhos do Deus vivo. Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo." [Romanos 9:25-27].

Ao rejeitarmos a Teologia da Substituição, não devemos cometer o erro de atribuirmos um modo separado de salvação para o remanescente de Israel. Tanto judeus quanto gentios são salvos exatamente da mesma forma, pela fé no sangue de Cristo. (Os santos no tempo do Velho Testamento eram salvos pela fé na Palavra de Deus e em Suas promessas, que previam a futura expiação sacrifical de Cristo.)

O Senhor proveu somente um meio de salvação para o homem caído — a expiação substitutiva de Seu Filho Unigênito. Os judeus contemporâneos que ainda não vieram a Jesus como Messias estão tão carentes de evangelismo quanto os gentios incrédulos de qualquer persuasão.

O Retorno e Proteção do Remanescente de Israel

O Senhor diz muitas vezes em Sua Santa Palavra que ajuntará os filhos dispersos de Israel desde os quatro confins da terra e os trará mais uma vez à Terra Prometida. Ele diz que esse será um evento espetacular, uma demonstração tão grande de Seu poder e soberania, que aos olhos do mundo superará os eventos descritos em Êxodo:

"E há de ser que naquele dia o SENHOR tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado, da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã, e de Sinar, e de Hamate, e das ilhas do mar. E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra." [Isaías 11:11-12].

"Não temas, pois, porque estou contigo; trarei a tua descendência desde o oriente, e te ajuntarei desde o ocidente. Direi ao norte: Dá; e ao sul: Não retenhas; trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra. A todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para a minha glória, os formei, e também os fiz." [Isaías 43:5-7].

"Portanto, eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que nunca mais se dirá: Vive o SENHOR, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito. Mas: Vive o SENHOR, que fez subir os filhos de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha lançado; porque eu os farei voltar à sua terra, a qual dei a seus pais." [Jeremias 16:14-15].

"Porque assim diz o SENHOR: Cantai sobre Jacó com alegria, e exultai por causa do chefe das nações; proclamai, cantai louvores, e dizei: Salva, SENHOR, ao teu povo, o restante de Israel. Eis que os trarei da terra do norte, e os congregarei das extremidades da terra; entre os quais haverá cegos e aleijados, grávidas e as de parto juntamente; em grande congregação voltarão para aqui." [Jeremias 31:7-8].

"E trarei do cativeiro meu povo Israel, e eles reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão, e plantarão vinhas, e beberão o seu vinho, e farão pomares, e lhes comerão o fruto. E plantá-los-ei na sua terra, e não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o SENHOR teu Deus." [Amós 9:14-15].

Sabemos que essas passagens relacionadas não estão se referindo ao retorno do cativeiro babilônio, porque (1) esse retorno foi apenas parcial e a maioria dos judeus permaneceu em Babilônia e somente três tribos — Judá, Benjamim e Levi — foram afetadas; (2) o retorno não foi marcado por eventos milagrosos, como aqueles que estiveram associados com o Êxodo do Egito; (3) foi referente ao retorno de um remanescente judaico de somente um local geográfico.

As cinco passagens citadas acima estão se referindo ao fim dos tempos, pois (1) Isaías usa a frase de marcação "naquele dia" (que discutiremos em maior detalhe em seguida); (2) o ajuntamento é a partir dos quatro confins da terra ("ilhas do mar", "extremidades da terra", "todas as terras"); (3) o retorno compreenderá todas as tribos de Israel e (4) os filhos de Israel nunca mais serão removidos da Terra Prometida.

Também devemos observar que Isaías 43 inclui uma referência admirável ao relacionamento singular, terno e paternal, que existia entre o Deus Vivo e Seu povo escolhido, desde o tempo de Abraão:

"Trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra. A todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para a minha glória, os formei, e também os fiz." [Isaías 43:6-7].

A fundação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, foi um marco monumental na profecia bíblica. Os filhos de Israel, que estavam retornando em números cada vez maiores para a Terra Prometida desde os anos 1880s, obtiveram novamente o controle de parte do território que o Senhor lhes tinha dado cerca de 4.000 anos atrás, em possessão perpétua.

O retorno descrito nas cinco passagens citadas acima é a grande migração global dos judeus para a Terra Prometida, que ocorrerá após Jesus Cristo retornar a este mundo para reinar. As ondas migratórias que levaram à fundação de Israel em 1948, bem como o retorno de muitos judeus dali para frente, não é o cumprimento dessas passagens específicas, mas sim o cumprimento de profecias relacionadas com o restabelecimento de Israel como um Estado secular, notavelmente a profecia dos "ossos secos" de Ezequiel 37.

Em Deuteronômio 28, Moisés predisse esse grande retorno no fim dos tempos e a severidade do julgamento de Deus sobre Seu povo rebelde. Sabemos, a partir do livro do Apocalipse, que o segmento final e mais severo desse julgamento ocorrerá no período de sete anos da Tribulação. Entretanto, Moisés também lembrou aos filhos de Israel que eles um dia constituirão uma das maiores nações na Terra:

"O SENHOR vosso Deus já vos tem multiplicado; e eis que em multidão sois hoje como as estrelas do céu. O SENHOR Deus de vossos pais vos aumente, ainda mil vezes mais do que sois; e vos abençoe, como vos tem falado." [Deuteronômio 1:10-11].

Quando se considera que o número dos filhos de Israel naquele tempo era de 600 mil homens, mais suas mulheres e filhos pequenos, a nação como um todo deveria ter uma população de 2-3 milhões. Moisés disse que o Senhor tinha prometido tornar a nação muitas vezes maior do que isto, por um fator de mil. Isto significa que o número de judeus convertidos no mundo, algum tempo no futuro, será de pelo menos dois bilhões de indivíduos, possivelmente até mais.

A tendência dos cristãos modernos de enfocarem quase que exclusivamente o Novo Testamento, como se ele tivesse substituído ou suplantado o Velho Testamento, é uma tragédia na exegese bíblica. A Bíblia é um livro de um único autor. A maior parte do Novo Testamento não pode ser compreendida sem uma compreensão correta do Velho Testamento. É enganoso dizer, como muitos fazem, que o Velho é o Novo escondido, e o Novo é o Velho revelado, pois isso também sugere que o Novo Testamento está de algum modo definindo o que o Velho "realmente" queria dizer. Este é um erro sério. Todas as partes da Bíblia precisam ser consideradas ao interpretarmos o significado de uma passagem em particular e decidirmos a contribuição dela para a totalidade da Palavra de Deus. Por exemplo, Apocalipse, o último livro da Bíblia, somente pode ser compreendido com um cuidadoso exame de vários livros do Velho Testamento, incluindo Daniel, Zacarias, Ezequiel, Isaías, Jeremias, Êxodo e Gênesis.

Um dos mais sérios exemplos desse tipo de erro pode ser encontrado no Evangelho de Lucas:

"Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim." [Lucas 1:30-33].

A maioria dos cristãos está satisfeita em interpretar essa passagem como uma confirmação clara que a criança que a mulher iria concecer é o longamente aguardado Messias. Mas, a maioria deixa de observar que a passagem é uma confirmação de quatro promessas incondicionais na Aliança de Deus com Davi. Essas quatro promessas são as seguintes:

Promessa
Passagem em Lucas 1
1. Uma dinastia perpétua será estabelecida na Terra Prometida, na linhagem de Davi "o trono de Davi, seu pai"
2. Um reino eterno será estabelecido na Terra Prometida, governado pela dinastia eterna. "e seu reino não terá fim"
3. Um trono eterno será estabelecido em Jerusalém, o assento dinástico do governo no reino eterno. "O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai."
4. Uma pessoa eterna, plenamente homem e plenamente Deus, governará o mundo a partir do trono eterno em Jerusalém. "Filho do Altíssimo... e reinará eternamente na casa de Jacó"

Não somente essas profecias ficaram sem serem cumpridas no nascimento do menino Jesus, mas permanecem sem cumprimento até o dia de hoje! Portanto, é essencial que os cristãos continuem a estudar diligentemente a verdade literal da Palavra de Deus e não se deixem tentar pela opção de alegorizar as passagens que não compreendem totalmente.

Não somente o Senhor cumprirá cada uma de Suas promessas a Abraão e Davi, bem como a promessa de uma Nova Aliança, dada por Jeremias, mas Ele fará isso exatamente nos termos em que os judeus do Velho Testamento compreenderam, isto é, que o Messias retornará para governar aqui na Terra em forma humana, como rei da nação de Israel, que Seu trono, o trono de Davi, estará em Jerusalém, que todo joelho se dobrará diante Dele e que Seu reino não terá fim. Alegorizar qualquer uma dessas promessas é afirmar que o Senhor não falou ao Seu povo sobre questões da mais alta importância em termos que eles pudessem compreender.

A maioria dos cristãos professos hoje alegoriza tantas partes da Bíblia e adota interpretações do Novo Testamento que distorcem ou modificam o significado claro do Velho Testamento, que a Segunda Vinda — se é que eles acreditam nela — é vista como um evento quase místico que traz toda a história a uma conclusão. Eles rejeitam a ressurreição dos santos da Época da Igreja que morreram em Cristo, o arrebatamento dos santos que estiverem vivos, a catástrofe global conhecida como Tribulação, o ataque maciço contra a nação de Israel pelas forças do Anticristo, a preservação sobrenatural do remanescente fiel de Israel durante três anos e meio, o retorno físico real de Cristo para derrotar Satanás, o Falso Profeta e o Anticristo, e o Reinado Milenar de Cristo a partir da santa cidade de Jerusalém.

Os cristãos devem ser suficientemente humildes e tementes a Deus para reconhecerem que Deus manterá Sua palavra, que honrará cada uma de Suas promessas aos filhos de Israel e que fará exatamente aquilo que disse — nos mínimos detalhes. "Eu, o SENHOR, o disse: viva isso, e o farei, não me tornarei atrás, e não pouparei, nem me arrependerei; conforme os teus caminhos, e conforme os teus feitos, te julgarão, diz o SENHOR Deus." [Ezequiel 24:14].

Jerusalém, a Cidade Santa

Jerusalém e sua eventual elevação à cidade principal na Terra é um desses "detalhes". Essa cidade especial é importante para o Senhor porque Ele escolheu Sião como Sua santa habitação. Isto deveria ser uma verdade de profundo significado para os cristãos, mas infelizmente não é o caso. Devido à influência subversiva da Teologia da Substituição, os cristãos negligenciaram e deixaram de considerar as muitas ocasiões nas Escrituras em que o Senhor atribui um status especial extraordinário a essa antiga cidade. Repetidamente a santa Palavra de Deus torna bem claro que Deus pretende elevar Jerusalém a um status exaltado na Época do Milênio, o reinado de mil anos de Cristo.

O próprio Deus escolheu a localização para a cidade:

"Assim diz o SENHOR Deus: Esta é Jerusalém; coloquei-a no meio das nações e das terras que estão ao redor dela." [Ezequiel 5:5].

Jerusalém é a cidade onde Deus escolheu colocar Seu nome:

"E Roboão, filho de Salomão, reinava em Judá; de quarenta e um anos de idade era Roboão quando começou a reinar, e dezessete anos reinou em Jerusalém, na cidade que o SENHOR escolhera de todas as tribos de Israel para pôr ali o seu nome; e era o nome de sua mãe Naamá, amonita." [1 Reis 14:21].

Ela é a cidade em que Deus declarou que habitará para sempre:

"Porque o SENHOR escolheu a Sião; desejou-a para a sua habitação, dizendo: Este é o meu repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei." [Salmos 132:13-14].

É por isto que Satanás cobiça Jerusalém e fará tudo o que puder para ocupá-la e controlá-la. O atual conflito no Oriente Médio somente pode ser compreendido quando reconhecemos que Satanás está fazendo tudo em seu poder para tomar Jerusalém dos judeus. Jerusalém é a única cidade no mundo em que o Senhor alguma vez colocou Sua glória, a manifestação visível de Sua Santa presença:

"E acabando Salomão de orar, desceu o fogo do céu, e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do SENHOR encheu a casa. E os sacerdotes não podiam entrar na casa do SENHOR, porque a glória do SENHOR tinha enchido a casa do SENHOR. E todos os filhos de Israel vendo descer o fogo, e a glória do SENHOR sobre a casa, encurvaram-se com o rosto em terra sobre o pavimento, e adoraram e louvaram ao SENHOR, dizendo: Porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre." [2 Crônicas 7:1-3].

A glória do Senhor habitou em Jerusalém desde o tempo que Salomão dedicou o templo, por volta de 950 AC, até alguns anos antes da destruição do templo, em 586 AC, quando ela deixou a cidade (Veja Ezequiel 9-11.) Isaías nos diz que a glória do Senhor brilhará novamente com o retorno o Cristo encarnado a Jerusalém:

"Levanta-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do SENHOR vai nascendo sobre ti; porque eis que as trevas cobriram a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o SENHOR virá surgindo, e a sua glória se verá sobre ti. E os gentios caminharão à tua luz, e os reis ao resplendor que te nasceu." [Isaías 60:1-3].

Gentios viajarão de pontos distantes do mundo para visitarem Jerusalém e testemunharem a glória por si mesmos. Embora ela estivesse acessível somente ao sumo sacerdote nos tempos antigos, e depois somente no Dia da Expiação, ela será agora visível para todos que vierem à Cidade Santa, exatamente como era durante os quarenta anos no Êxodo. Isaías e Zacarias confirmaram isto, quando escreveram:

"Quando o SENHOR lavar a imundícia das filhas de Sião, e limpar o sangue de Jerusalém, do meio dela, com o espírito de justiça, e com o espírito de ardor. E criará o SENHOR sobre todo o lugar do monte de Sião, e sobre as suas assembléias, uma nuvem de dia e uma fumaça, e um resplendor de fogo flamejante de noite; porque sobre toda a glória haverá proteção." [Isaías 4:4-5].

"E eis que saiu o anjo que falava comigo, e outro anjo lhe saiu ao encontro. E disse-lhe: Corre, fala a este jovem, dizendo: Jerusalém será habitada como as aldeias sem muros, por causa da multidão dos homens e dos animais que haverá nela. Pois eu, diz o SENHOR, serei para ela um muro de fogo em redor, e para glória estarei no meio dela." [Zacarias 2:3-5].

Jerusalém é a cidade onde o Filho de Deus realizou uma porção vital de Seu ministério terreal e onde sofreu uma morte cruel para salvar a humanidade da perdição. O Senhor até chama Jerusalém de "minha cidade", "a santa cidade" e, por meio do salmista, "cidade do nosso Deus" e "alegria de toda a terra".

"Eu o despertei em justiça, e todos os seus caminhos endireitarei; ele edificará a minha cidade, e soltará os meus cativos, não por preço nem por presente, diz o SENHOR dos Exércitos." [Isaías 45:13].

"Desperta, desperta, veste-te da tua fortaleza, ó Sião; veste-te das tuas roupas formosas, ó Jerusalém, cidade santa, porque nunca mais entrará em ti nem incircunciso nem imundo." [Isaías 52:1].

"Grande é o SENHOR e mui digno de louvor, na cidade do nosso Deus, no seu monte santo. Formoso de sítio, e alegria de toda a terra é o monte Sião sobre os lados do norte, a cidade do grande Rei." [Salmos 48:1-2].

Reflita por um momento sobre o poder destrutivo da Teologia da Substituição e o modo como ela oblitera o verdadeiro significado destas passagens acima. Um pequena pitada de fermento levedou todo o corpo de profecias que ainda não foram cumpridas e transformou verdades profundas em metáforas poéticas.

Uma leitura literal da Palavra de Deus confirma que, durante a Época do Milênio, após os horrores da Tribulação terem passado, a bela cidade de Jerusalém verdadeiramente se transformará em "alegria de toda a terra".

O Messias até mesmo se dirigiu à cidade como aquela que O tinha rejeitado e para a qual Ele somente retornará quando ela o invocar e pedir livramento:

"Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta; porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor." [Mateus 23:37-39].

Satanás está fazendo tudo o que pode para impedir que o povo judeu, como uma nação, faça essa súplica contrita ao Senhor. A Teologia da Substituição e a alegorização da Santa Palavra de Deus são apenas dois dos muitos estratagemas que o Maligno está usando para alcançar esse objetivo.

A Teologia dos Concertos é outro desses estratagemas.

Teologia dos Concertos — Outro Esquema Artificial

Em uma tentativa de contornar as Alianças Abraâmica e Davídica, alguns expoentes da Teologia da Substituição propuseram que Deus precisa estar trabalhando em um conjunto de alianças de mais alto nível que não estavam sujeitas de qualquer modo aos caprichos humanos. Embora essas supostas alianças não sejam mencionadas nas Escrituras, elas podem ser inferidas a partir do modo real de Deus lidar com o homem. Esses teólogos argumentam que Deus fez uma aliança maior e mais abrangente consigo mesmo, a Aliança da Redenção, antes da fundação do mundo. Essa aliança seria cumprida na história por meio de duas alianças subsidiárias, uma aliança de obras, por meio da qual Adão e Eva usufruiriam de certas bênçãos desde que continuassem em obediência, e uma aliança da graça, por meio da qual Cristo expiaria o estado caído do homem tomando sobre si mesmo toda a dívida do pecado.

O problema com a Teologia dos Concertos, como ela é chamada, é que ela funciona somente como uma estrutura interpretativa. Em vez de iniciar com aquilo que a Bíblia realmente diz, ela infere que Deus teve um plano abrangente desde o início e passou a implementá-lo totalmente de acordo com Sua vontade soberana. Isto pode parecer uma suposição razoável, mas dá prioridade a algo que realmente não é afirmado nas Escrituras e depois permite determinar como todas as formas subsequentes de Deus lidar com o homem, conforme mostradas nas Escrituras, devem ser interpretadas.

Esta é uma teologia deficiente. Transformando as Alianças Abraâmicas e Davídicas em componentes de um plano maior, ela solapa a integridade delas nas Escrituras e as deixa vulneráveis a quaisquer distrações que a mente humana possa querer inventar.

A beleza da Teologia dos Concertos — a partir de um ponto de vista da Teologia da Substituição — é que ela faz a mentira das quatro palavras parecer respeitável. Afinal, se as alianças de Deus com Abraão e com Davi estão sujeitas a uma aliança mais elevada, então independente de quão irrevogáveis elas possam parecer a partir de uma perspectiva humana, o cumprimento final delas — incluindo o modo como serão cumpridas — é determinado por fatores que estão além de nossa compreensão. A única aliança à qual Deus está amarrado é aquela que Ele alegadamente fez consigo mesmo antes da criação do mundo. Dali para frente, tudo é meramente a expressão pré-determinada da vontade soberana de Deus.

Como a Teologia dos Concertos vai além das Escrituras, o leigo precisa consultar um teólogo para saber o que Deus realmente quis dizer. Entretanto, a Bíblia não foi escrita para teólogos profissionais. Ela foi dada em linguagem clara e simples, para ser lida e estudada pelo homem e mulher comuns, de uma maneira gramatical, literal e histórica direta. Nos lugares em que o senso comum é necessário, usamos nosso bom senso. Mas, nunca fazemos acréscimos, subtraímos ou distorcemos aquilo que o Senhor proferiu de forma bem clara.

Deve ser óbvio neste ponto que a Teologia da Substituição, a Teologia dos Concertos e a alegorização das Escrituras caminham de mãos dadas. Elas trabalham em conjunto em direção a um objetivo comum: substituir o significado claro da Palavra de Deus por algo que tenha um apelo maior à nossa natureza caída. Não é acidente que todas as três estejam em grande parte direcionadas no mesmo alvo — Israel e o povo judeu. A Teologia da Substituição substitui Israel em sua totalidade pela igreja; a Teologia dos Concertos solapa a integridade e permanência das alianças que Deus fez com Israel; e a alegorização da profecia permite que todas as promessas de Deus referentes a Israel sejam expurgadas da Palavra de Deus.

O Grande Dia do Senhor

Poucos cristãos gentios são ensinados que parte da Aliança Abraâmica aplica-se diretamente a eles. Os cristãos deveriam prestar atenção a Gênesis 12:3, pois é tão atual hoje quanto foi quando o Senhor proferiu as solenes palavras a Abraão:

"E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra."

Amaldiçoamos Israel quando distorcemos aquilo que o Senhor revelou com relação ao passado, presente e futuro dessa nação, seu relacionamento com Deus, e seu livramento final de seus inimigos no fim dos tempos.

Se os cristãos estão preparados para interpretarem a Palavra de Deus de uma maneira literal quando isto é benéfico para eles, mas ao mesmo tempo rejeitam uma interpretação literal quando fazer isso beneficiaria os filhos de Israel, então eles estão sendo desonestos.

Satanás deve estar imensamente satisfeito. Com apenas quatro palavras ele removeu grandes porções da Bíblia, destruiu o significado de inúmeras profecias que ainda precisam ser cumpridas, enganou a igreja com relação à sua verdadeira posição no esquema bíblico para a humanidade e induziu milhões de cristãos professos a rejeitarem o propósito declarado do Senhor para Israel.

Somente um pouco mais de enganação é suficiente para transformar a rejeição em desprezo, e depois transformar o desprezo em ódio. O livro do Apocalipse confirma que é precisamente para este ponto que o mundo está agora se encaminhando — um ataque militar e político combinado de todas as nações contra Israel. Os profetas do Velho Testamento chamaram esse cenário atemorizador de "o grande dia do Senhor".

Uma porção considerável da Bíblia descreve profeticamente o grande dia do Senhor. Isso se refere aos eventos que levarão ao Segundo Advento do Messias, a destruição do Anticristo e de suas forças militares pelo Rei dos Reis, a restauração permanente de Israel e a inauguração do Reino Milenar. O Messias reinará fisicamente em Jerusalém, assentado sobre o trono de Davi e governará o mundo inteiro estritamente de acordo com Sua santa vontade.

Número de vezes que os profetas referenciam o Dia do Senhor (na Bíblia KJV):

"dia do Senhor"
"naquele dia"
"últimos dias"
"tempo do fim"
Isaías
4
43
1
Zacarias
1
20
Ezequiel
2
7
1
Jeremias
1
5
4
Sofonias
6
3
Amós
2
5
Miquéias
5
1
Joel
4
1
Oséias
2
1
Obadias
1
1
Daniel
2
Ageu
1
Totais
21
93
2
8

Os termos "dia do Senhor" e "naquele dia" referem-se à mesma série de eventos. Esses eventos não são de modo algum simbólicos, figurativos ou alegóricos. Cada um deles se cumprirá exatamente como os profetas previram.

O número de vezes que esse "dia" é mencionado por nome — pelo menos 124 vezes por 12 profetas diferentes — deve enfatizar o quão importante isto é nos olhos de Deus. E Ele quer que saibamos disso!

Um Desafio aos Defensores da Teologia da Substituição

Se você for um endurecido "substitucionista" e tem dificuldades em aceitar que a igreja não substituiu Israel, então eu o convido a realizar o teste simples apresentado no Apêndice B. Palavras que se relacionam especificamente com Israel nas profecias relacionadas com o fim dos tempos aparecem 22 vezes no capítulo 12 do livro de Zacarias. Sua tarefa é substituir cada uma delas por uma referência apropriada à igreja, de uma forma que seja totalmente consistente. Naturalmente, sua exposição deve apresentar uma interpretação consistente do capítulo, tanto em relação a Zacarias como ao restante das Escrituras.

Compreenda que este estudo não é direcionado contra os cristãos sinceros que acreditam que a igreja substituiu Israel. Esses cristãos foram enganados por uma mentira. Mas, ele é claramente direcionado contra aqueles que pregam e ensinam essa mentira, mesmo quando estão familiarizados com as inúmeras passagens nas Escrituras que estão em conflito com suas opiniões. Tendo em vista que uma porção da Terra Prometida foi devolvida aos judeus em 1948 e que os israelenses assumiram o controle de toda a cidade de Jerusalém em 1967 — de acordo com antigas profecias bíblicas — não há desculpas para os cristãos permanecerem sob a influência da Teologia da Substituição e de sua interpretação errônea das Escrituras.

Apêndice A

As Alianças de Deus com o Homem

Aliança
Tipo
Referência Bíblica
Promessas de Deus ao Homem (Principais Aspectos)
Status
Éden Condicional Gênesis 1 e 2

O homem teria domínio sobre a terra e não veria a morte, desde que não comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal.

Anulada
Adâmica Incondicional Gênesis 3

Deus enviaria um Messias, nascido de mulher, para derrotar Satanás.

Aspecto do "Cordeiro" concluído.

Aspecto do "Leão" ainda no futuro.

Noé Incondicional Gênesis 9

O mundo nunca mais será destruído por uma inundação.

Em vigor.

O arco-íris foi dado como um sinal desta aliança.

Abraâmica Incondicional Gênesis 17 Cinco promessas a Abraão:

1. Multiplicar seus descendentes e transformá-los em uma grande nação;

2. Conceder prosperidade material e espiritual a essa nação na terra de Canaã, que permaneceria em sua possessão para sempre;

3. Exaltar o nome de Abraão entre as nações;

4. Ser uma fonte de grande bênção para o mundo (como a nação de nascimento do Messias);

5. Abençoar todos os gentios que abençarem essa nação e amaldiçoar todos os que a amaldiçoarem.

Em vigor.

Observe que o ponto 5 aplica-se diretamente aos gentios.

Terra Incondicional Deuteronômio 29-30

Uma reafirmação detalhada da promessa da terra feita a Abraão.

A ser cumprida em cada detalhe na Época do Reino Milenar.

Mosaica Condicional Êxodo 23-24 e 34

Se obedecesse as leis, mandamentos, estatutos e ordenanças, a nação de Israel usufruiria do cuidado e da proteção constantes de Deus, receberia uma infinidade de bênçãos e seria estabelecida acima de todas as nações. Mas, se a nação deixasse de obedecer, sofreria severa punição — incluindo a expulsão da Terra Prometida por um período prolongado de tempo — conforme especificado em Deuteronômio 28.

Finalizada

(A destruição do templo, no ano 70, tornou impossível para o povo judeu continuar a observar a Lei Mosaica da forma prescrita.)

A circuncisão foi dada como um selo desta aliança.

Davídica Incondicional 2Samuel 7 e 22; Salmos 89.

A Aliança Davídica adicionou mais detalhes às Alianças Adâmica e Abraâmica. A Casa de Davi seria a linhagem real por meio da qual o Messias viria ao mundo. A dinastia reinaria para sempre sobre o trono de Israel.

Em vigor.

Nova

Requer fé pessoal em Jesus Cristo, o Messias, o Filho Unigênito de Deus.

Jeremias 31 e Ezequiel 36.

Virá o dia em que o Senhor colocará Sua lei no coração da Casa de Israel; Ele será o Deus deles e eles O conhecerão; Ele perdoará as iniquidades e não se lembrará mais dos pecados deles.

A Nova Aliança substitui a Aliança Mosaica, mas abrange e completa as Alianças Abraâmica e Davídica naquilo em que elas se referem ao remanescente fiel de Israel. A Nova Aliança cria um Novo Homem, em que judeus e gentios, da mesma forma, são considerados justificados (sem pecado) aos olhos de Deus [Efésios 2:15].

Em vigor.

Esta é a Aliança da qual a igreja já participa, não como uma nação, mas como um conjunto de membros individuais do corpo de Cristo.

Os gentios são adotados na Nova Aliança e enxertados na oliveira por meio da fé salvadora em Cristo.

Apêndice B

Zacarias 12

"Peso da palavra do SENHOR sobre Israel: Fala o SENHOR, o que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele. [2] Eis que eu farei de Jerusalém um copo de tremor para todos os povos em redor, e também para Judá, durante o cerco contra Jerusalém. [3] E acontecerá naquele dia que farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos; todos os que a carregarem certamente serão despedaçados; e ajuntar-se-ão contra ela todo o povo da terra. [4] Naquele dia, diz o SENHOR, ferirei de espanto a todos os cavalos, e de loucura os que montam neles; mas sobre a casa de Judá abrirei os meus olhos, e ferirei de cegueira a todos os cavalos dos povos. [5] Então os governadores de Judá dirão no seu coração: Os habitantes de Jerusalém são a minha força no SENHOR dos Exércitos, seu Deus. [6] Naquele dia porei os governadores de Judá como um braseiro ardente no meio da lenha, e como um facho de fogo entre gavelas; e à direita e à esquerda consumirão a todos os povos em redor, e Jerusalém será habitada outra vez no seu lugar, em Jerusalém; [7] e o SENHOR salvará primeiramente as tendas de Judá, para que a glória da casa de Davi e a glória dos habitantes de Jerusalém não seja exaltada sobre Judá. [8] Naquele dia o SENHOR protegerá os habitantes de Jerusalém; e o mais fraco dentre eles naquele dia será como Davi, e a casa de Davi será como Deus, como o anjo do SENHOR diante deles. [9] E acontecerá naquele dia, que procurarei destruir todas as nações que vierem contra Jerusalém; [10] mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e pranteá-lo-ão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito. [11] Naquele dia será grande o pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadade-Rimom no vale de Megido. [12] E a terra pranteará, cada família à parte: a família da casa de Davi à parte, e suas mulheres à parte; e a família da casa de Natã à parte, e suas mulheres à parte; [13] a família da casa de Levi à parte, e suas mulheres à parte; a família de Simei à parte, e suas mulheres à parte. [14] Todas as mais famílias remanescentes, cada família à parte, e suas mulheres à parte."

Uma breve interpretação deste capítulo é apresentada aqui, baseada em seu significado direto:

(1) Profecia do Senhor para os filhos de Israel. (2) Quando as nações do mundo cercarem a cidade de Jerusalém, elas encontrarão um grande terror. (3) Todos os povos e nações que se opuserem a Israel naquele tempo serão destruídos ou incorrerão em severa retribuição. (4) Todos os que participarem nesse ataque militar contra Jerusalém serão totalmente desarraigados, suas mentes enlouquecerão e suas armas serão destruídas. (5) Os líderes judeus confiarão no Senhor e esperarão que os moradores da cidade façam o mesmo. (6) Os líderes judeus destruirão os vastos exércitos agrupados contra eles. (7) Todos os judeus compartilharão da vitória, não apenas os líderes. (8) O Messias ("o anjo do Senhor") defenderá e protegerá Seu povo, capacitando-o de forma milagrosa para que até mesmo o mais fraco dentre eles se torne formidável. (9) O Senhor destruirá os exércitos e as nações que os enviaram. (10) O Senhor derramará Seu poder sobrenatural sobre o povo judeu e o salvará da destruição. Eles reconhecerão a pessoa do Senhor como o Messias, Jesus Cristo, a quem eles rejeitaram. O choque do reconhecimento fará cada indivíduo prantear amargamente. (11-14) O pranto coletivo tomará conta de Jerusalém e de toda a região.

Bibliografia


Autor: Jeremy James, http://www.zephaniah.eu
Data da publicação: 11/5/2013
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/substituicao.asp