O Príncipe Que Há de Vir

(The Coming Prince)

Sir Robert Anderson

(1841-1918)

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

Para aqueles que estão vivos, nenhum tempo pode ser tão solene quanto o "presente vivo", sejam quais forem suas características; e essa solenidade é imensamente aumentada em uma época de progressos sem paralelos na história mundial. Mas a questão que surge é se esses nossos dias são muito mais decisivos em razão de serem realmente os últimos tempos. A história do mundo está prestes a terminar? Estão as areias do destino do mundo quase esgotadas e está a destruição de todas as coisas perto de acontecer?

Aqueles que são prudentes não permitirão que as selvagens afirmações dos alarmistas, ou as extravagâncias de alguns que estudam as profecias, os afastem de uma consulta imediata tão solene e tão sensata. É somente o infiel que duvida que haja um limite destinado para o curso deste "presente mundo mau". Que Deus um dia aplicará Seu poder para garantir o triunfo do bem, é em algum sentido, uma questão de lógica. O mistério da revelação não é que Ele fará isso, mas que Ele demora em fazer isso. Fazendo um julgamento pelos fatos públicos à nossa volta, Ele é um espectador indiferente da luta desigual entre o bem e o mal que acontece na Terra.

"Depois voltei-me, e atentei para todas as opressões que se fazem debaixo do sol; e eis que vi as lágrimas dos que foram oprimidos e dos que não têm consolador, e a força estava do lado dos seus opressores; mas eles não tinham consolador." [Eclesiastes 4:1].

E como pode ser assim, se de fato o Deus que governa acima é Todo-Poderoso e bondoso? O vício e a impiedade, a violência e o mal estão desmedidos por todos os lados, e mesmo assim os céus acima se mantêm calados. O infiel apela para esse fato para provar que o Deus cristão é apenas um mito. [1]

O cristão encontra nisto uma prova adicional que o Deus que ele adora é paciente e longânimo — "paciente por que é eterno", longânimo por que é o Todo-Poderoso, porque a ira é o último recurso com poder. Mas aproxima-se o dia em que:

"Virá o nosso Deus, e não se calará; um fogo se irá consumindo diante dele, e haverá grande tormenta ao redor dele." [Salmos 50:3].

Essa não é uma questão de opinião, mas de fé. Quem questiona isso não pode reivindicar o nome de cristão, pois é uma verdade tão essencial do cristianismo quanto o registro da vida e da morte do Filho de Deus. As antigas Escrituras estão repletas disso, e de todos os autores do Novo Testamento não há nem um sequer que não fale expressamente sobre isso. Esse foi o encargo da primeira palavra profética registrada nas Escrituras; [Judas 14] e o livro de encerramento do cânon sagrado, do primeiro até ao último capítulo, confirma e amplifica o testemunho.

Portanto, a única investigação que nos preocupa relaciona-se com a natureza da crise e o tempo de seu cumprimento. A chave para essa busca é a visão do profeta Daniel das setenta semanas. Não que uma compreensão correta da profecia nos permitirá profetizar. Não foi para esse propósito que ela foi dada. [2]

Mas isso provará ser uma segurança suficiente contra o erro no estudo. Notavelmente, isso nos poupará das tolices em que falsos sistemas de cronologia profética inevitavelmente levam aqueles que os seguem. Não é somente no nosso tempo que o fim do mundo foi predito. Isso foi buscado muito mais confiantemente no início do sexto século. Toda a Europa vibrava com essa preocupação nos dias do papa Gregório, o Grande. E, ao fim do décimo século, o medo cresceu mais entre o público em geral. "Pregava-se freqüentemente sobre isso, e a multidão ouvia sem sequer respirar; o assunto que estava na cabeça e na boca de todos" "Com essa impressão, multidões inumeráveis", diz Mosheim, "tendo entregado suas propriedades aos monastérios ou igrejas, viajavam até a Palestina, onde esperavam que Cristo descesse para o julgamento. Outros prendiam-se por juramentos solenes a serem servos nas igrejas ou aos sacerdotes, esperando receber uma sentença mais branda por serem servos dos servos de Cristo. Em muitos lugares, os edifícios foram deixados sem manutenção ou reformas, como se ele não fossem mais necessários no futuro. E, nas ocasiões em que ocorreram eclipses do sol ou da lua, as pessoas fugiam em busca de refúgio nas cavernas e nas rochas." [3]

Assim, em anos recentes, uma data após a outra foi confiantemente nomeada para a crise suprema; mas o mundo ainda continua aqui. O ano 581 foi um dos primeiros anos fixados para o evento, [4] 1881 está entre os últimos. Estas páginas não são destinadas a perpetuar a tolice dessas predições, mas tentar de um modo humilde elucidar o significado de uma profecia que deve nos livrar de todos esses erros para resgatar o estudo do descrédito que caiu sobre ele.

Nenhuma palavra deve ser necessária para reforçar a importância do assunto, apesar da negligência proverbial do estudo das Escrituras proféticas, por parte até mesmo daqueles que afirmam crer que toda a Escritura é inspirada. Pondo a questão no nível mais baixo, pode-se dizer que se um conhecimento do passado é importante, o conhecimento do futuro precisa ser de valor muito maior ainda, em ampliar a mente e elevá-la acima da pequenez produzida por uma contemplação estreita e pouco esclarecida do presente. Se Deus graciosamente concedeu Sua revelação aos homens, o estudo dela é certamente adequado para despertar o interesse entusiasmado e orientar o exercício de cada talento que possa ser utilizado para fazê-la produzir frutos.

E isso sugere outro terreno em que, em nossos dias especialmente, o estudo profético reivindica uma peculiar proeminência; isto é, o testemunho que dá ao caráter e à origem divina das Escrituras. Embora a infidelidade tenha sido uma boca aberta nos tempos antigos, ela teve seu próprio estandarte e seu próprio campo, e chocou as massas humanas que, embora ignorantes do poder espiritual da religião, agarravam-se mesmo assim com estúpida tenacidade aos seus dogmas. Mas o aspecto especial da época presente — bem adequada para causar ansiedade e alarme a todos os homens pensantes — é o crescimento do que pode ser chamado ceticismo religioso, um cristianismo que nega a revelação — uma forma de piedade que nega aquilo que é o poder da piedade. [2 Timóteo 3:5].

A fé não é a atitude normal das mentes humanas em relação às coisas divinas, de modo que o indivíduo diligente que tem dúvidas, merece respeito e simpatia. Mas que julgamento será dado àqueles que se comprazem em proclamar a si mesmos como duvidosos, ao mesmo tempo em que afirmam serem ministros de uma religião em que a FÉ é a característica essencial?

Não existem poucos em nosso tempo cujas crenças na Bíblia é tudo o mais profundo e sem hesitação só porque eles têm compartilhado na revolta geral contra o sacerdócio e a superstição; e tais homens dificilmente estão preparados para tomar partido na luta entre o livre pensar e a servidão aos credos e aos clérigos. Mas no conflito entre a fé e o ceticismo, as simpatias deles estão menos divididas. Em um lado pode haver estreiteza, mas pelo menos há honestidade; e nesse caso certamente o elemento moral deve ser considerado antes que uma afirmação de vigor mental e independência possa ser ouvida. Além disso, qualquer reivindicação do tipo precisa ser examinada. O homem que afirma sua liberdade de receber e ensinar aquilo que considera ser a verdade, por qualquer modo alcançada, e onde quer que encontrada, não deve ser acusado levianamente de vaidade ou desejo próprio. Os motivos dele podem ser rudes, corretos e dignos de louvor. Mas se ele subscreve a um credo, deve ser cuidadoso ao assumir qualquer uma dessas posições. Não é no lado da vagueza que os credos das igrejas britânicas estão em falta, e os homens que se vangloriam de serem pensadores livres mereceriam maior respeito se mostrassem sua independência recusando-se a subscrever, em vez de solapar as doutrinas que prometeram e são pagos para defender e ensinar.

Mas o que nos preocupa aqui é o indisputável fato que o racionalismo nesta sutilíssima fase está fermentando a sociedade. As universidades são os seminários-chefes; o púlpito é a plataforma. Alguns dos líderes religiosos mais famosos estão entre seus apóstolos. Nenhuma classe está a salvo de sua influência. E, se até o presente pudesse ser estereotipado, estaríamos bem; mas entramos em um caminho descendente e eles precisam realmente ser cegos para não conseguirem ver aonde isso está nos levando. Se a autoridade das Escrituras forem abaladas, verdades vitais serão perdidas dentro de uma geração, e recuperadas na próxima; mas se isso for tocado, o fundamento de toda a verdade é solapado e todo o poder de recuperação estará perdido. O cético cristianizado de hoje logo dará lugar ao incrédulo cristianizado, cujos discípulos e sucessores, por sua vez, serão incrédulos sem qualquer aparência externa de cristianismo à sua volta. Alguns, sem dúvida, escaparão, mas para muitos, Roma será o único refúgio para aqueles que temem o pavoroso objetivo para o qual a sociedade está caminhando. Assim, as forças estão se formando para a grande luta predita no futuro entre a apostasia de uma falsa religião e a apostasia da infidelidade aberta. [5]

É a Bíblia a revelação de Deus? Esta agora se tornou a maior e mais premente de todas as questões. Podemos imediatamente desprezar o sofisma que as Escrituras admitidamente contêm uma revelação. É o volume sagrado em nada melhor que um globo de sorteio do qual números premiados ou não são tirados aleatoriamente, sem nenhum poder de distingüir entre eles até o dia em que a descoberta será tarde demais? E, na presente fase da questão, não é sofisma dizer que passagens, e até livros, podem ter sido adicionados erradamente ao cânon! Nós nos recusamos a entregar as Escrituras Sagradas aos cuidados daqueles que a abordam com a ignorância dos pagãos e o ânimo dos apóstatas. No entanto, para o propósito da presente controvérsia, poderíamos consentir em iniciar um curso de ação em tudo sobre o que o criticismo iluminado lançou uma sombra de dúvida. Isso, entretanto, somente limparia o caminho para a questão real em discussão, que não é quanto à autenticidade de uma porção ou outra, mas quanto ao caráter e valor do que é admitidamente autêntico. Estamos agora muito além de discutir teorias rivais de inspiração; o que nos preocupa é considerar se os escritos sagrados são o que afirmam ser, "os oráculos de Deus". [6]

No meio do erro, da confusão e da incerteza, aumentando em todos os lados, podem as almas prudentes e devotas voltarem-se para uma Bíblia aberta e encontrar ali "palavras de vida eterna"? "A atitude racional de uma mente pensante em relação ao sobrenatural é o ceticismo." [7]

A razão pode se ajoelhar diante dos chiboletes e truques do sacerdócio — "a voz da Igreja", como é chamada; mas isso é pura credulidade. Mas se DEUS fala, então o ceticismo dá lugar à . Nem é isso uma mera evasão da questão. A prova que a voz é realmente divina precisa ser absoluta e conclusiva. Em tais circunstâncias, o ceticismo indica a degradação mental ou moral, e a fé não é a abnegação da razão, mas o ato mais elevado da razão. Dizer que essa prova é impossível é equivalente a afirmar que o Deus que nos fez não pode falar assim para nós que a voz carregará consigo a convicção que ela é Dele; e isso não é ceticismo de modo algum, mas descrença e ateísmo. "Aprouve a Deus revelar Seu Filho em mim", foi o relato do apóstolo Paulo de sua conversão. A base da sua fé era subjetiva e não podia ser mostrada. Nas provas aos outros da realidade deles, ele podia apenas apelar para os fatos de sua vida; embora esses fossem totalmente o resultado e em nenhum sentido ou grau a base de sua convicção. O caso dele também não era excepcional. Pedro foi um dos três favoritos que testemunhou todos os milagres, incluindo a transfiguração e, apesar disso, sua fé não foi o resultado disso tudo, mas veio de uma revelação que foi dada a ele. Em resposta à sua confissão:

"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo."

O Senhor declarou:

"Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus." [Mateus 16:17].

Nem, novamente, foi esta uma graça especial concedida somente aos apóstolos.

"... aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo." [2 Pedro 1:1].

Foi a palavra de Pedro aos fiéis em geral. Ele os descreve como "nascidos de novo pela Palavra de Deus". Assim também João diz,

"Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." [João 1:13].

"Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas."

É a afirmação similar de Tiago [Tiago 1:18]

Seja qual for o significado dessas palavras, elas precisam significar alguma coisa mais do que chegar a uma sólida conclusão a partir de premissas suficientes, ou aceitar os fatos com base em evidências suficientes. Também não adiantará frisar que esse nascimento foi meramente a transformação mental ou moral causada naturalmente pela verdade assim obtida por meios naturais. A linguagem das Escrituras é inequívoca que o poder do testemunho para produzir essa transformação depende da presença e operação de Deus. Páginas poderiam ser preenchidas com citações para provar isso, mas duas devem ser suficientes. O apóstolo Pedro declara que eles pregaram o evangelho

"...pelo Espírito Santo enviado do céu..." [1 Pedro 1:12].

E as palavras de Paulo são ainda mais definidas: "Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo." [8]

Se o novo nascimento e a fé do cristianismo foram assim produzidos no caso de pessoas que receberam o evangelho imediatamente dos apóstolos, nada menor servirá para nós, que estamos separados por dezoito séculos das testemunhas e de seus testemunhos. Deus ainda está com Seu povo e fala ao coração dos homens agora, de forma tão real quanto fazia nos tempos antigos; realmente não por intermédio de apóstolos inspirados, e ainda menos por sonhos e visões, mas por meio das Escrituras Sagradas que Ele mesmo inspirou; [9] como resultado, os crentes são "nascidos de Deus", e obtêm o conhecimento do perdão dos pecados e a vida eterna. O fenômeno não é de ordem natural, resultando do estudo das evidências; é totalmente sobrenatural. As "mentes pensantes", considerando de forma objetiva, podem, se quiserem, manter em relação a ele aquilo que é considerado "uma atitude racional", mas que pelo menos reconheçam o fato que existem milhares de pessoas confiáveis que podem testificar acerca da realidade da experiência falada aqui, e além disso que eles reconheçam que ela está totalmente de acordo com o ensino do Novo Testamento.

Essas pessoas têm prova transcendental da verdade do cristianismo. A fé delas descansa, não no fenômeno de sua própria experiência, mas nas grandes verdades objetivas da revelação. Todavia, a principal convicção delas que essas são verdades divinas não depende das "evidências" que o ceticismo se delicia em criticar, mas em algo que o ceticismo não leva em conta. [10]

"Nenhum livro pode ser escrito em defesa da Bíblia como a própria Bíblia. As defesas do homem são as palavras do homem; elas podem ajudar a repelir os ataques, mas podem tirar alguma porção de seu significado. A Bíblia é a palavra de Deus e, por meio dela, o Espírito Santo, que a proferiu, fala à alma que não se fecha contra ela." [11]

Mas, mais do que isso, o crente bem-instruído encontrará dentro dela um depósito infindável de provas que ela é de Deus. A Bíblia é muito mais que um livro texto de teologia e de moralidade, ou até mesmo mais do que um guia para o céu. Ela é o registro da revelação progressiva que Deus graciosamente concedeu ao homem e a história divina da nossa raça em conexão com essa revelação. A ignorância pode deixar de ver nela algo mais do que a literatura religiosa dos hebreus e a igreja nos tempos apostólicos; mas o estudante inteligente que pode ler entre as linhas encontrará mapeado ali, algumas vezes em negrito, algumas vezes em tons mais opacos, mas sempre discerníveis pelo buscador paciente e dedicado, o grande esquema dos conselhos e das operações de Deus neste e por este nosso mundo de eternidade a eternidade.

O estudo da profecia, compreendido corretamente, tem uma abrangência não mais estreita do que esta. Seu valor principal não é nos trazer um conhecimento "das coisas por vir", consideradas como eventos isolados, importantes como possam ser; mas habilitar-nos a vincular o futuro com o passado como parte do grande propósito de Deus revelado nas Sagradas Escrituras. Os fatos da vida e morte de Cristo foram uma prova massacrante da inspiração do Antigo Testamento. Quando, após Sua ressurreição, Ele procurou confirmar a fé de seus discípulos,

"E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras." [Lucas 24:27].

Mas muitas promessas foram feitas e muitas profecias registradas, que parecem estar perdidas nas trevas da extinção nacional de Israel e na apostasia de Judá. O cumprimento delas dependerá do Messias; mas agora o Messias foi rejeitado, e Seu povo estava prestes a ser lançado para fora, o que os gentios podem ter tomado por bênção. Devemos concluir então que o passado foi apagado para sempre, e que os grandes propósitos de Deus para a Terra desabaram por causa do pecado humano? Com os homens agora como juízes da revelação, o cristianismo se reduz a ser nada mais que "um plano de salvação" para os indivíduos, e se o evangelho de João e algumas das epístolas forem deixadas eles estarão contentes. Quão diferente era a atitude da mente e do coração exibida por Paulo! Na visão do apóstolo, a crise que parece a catástrofe de tudo que os antigos profetas tinham predito dos propósitos de Deus para a Terra, abriu um propósito mais amplo e mais glorioso, que deve incluir o cumprimento de todas elas e, arrebatado pela contemplação, ele exclamou:

"Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!" [Romanos 11:33]

O verdadeiro estudo profético é uma investigação nesses conselhos insondáveis, essas riquezas profundas da sabedoria e do conhecimento divinos. Debaixo da luz que dá, as Escrituras não são mais uma compilação heterogênea de livros religiosos, mas um todo harmonioso, a partir do qual nenhuma parte poderia ser omitida sem destruir a integridade da revelação. Apesar disso, o estudo é menosprezado nas igrejas como se não fosse de relevância prática. Se as igrejas estão fermentadas com o ceticismo neste momento, a negligência do estudo profético nelas é o verdadeiro e mais amplo aspecto que tem feito mais do que todo o racionalismo alemão para promover o mal. Os céticos podem se orgulhar dos sábios Professores e Doutores em Divindade entre suas fileiras, mas podemos desafiá-los a citar um único que tenha dado provas que conhece qualquer coisa de qualquer um desses profundos mistérios da revelação. Tentar reverter a onda crescente de ceticismo é impossível. Realmente, o movimento é senão uma das muitas fases da intensa atividade mental que caracteriza esta época. O reinado dos credos é coisa do passado. Passou o tempo em que os homens acreditavam naquilo que seus pais acreditaram, sem questionar. Roma, em alguma fase de seu desenvolvimento, tem um charme estranho para as mentes de certa casta e o racionalismo é fascinante para muitos; mas a ortodoxia no senso antigo está morta e para alguém ser liberto, precisa ser por um conhecimento mais profundo e completo das Escrituras.

Estas páginas são apenas um humilde esforço para esse fim; mas se elas ajudarem de qualquer modo a promover o estudo das Escrituras Sagradas, o propósito principal terá sido atingido. O leitor, portanto, pode esperar encontrar a exatidão da Bíblia vindicada em pontos que podem parecer de pouco valor. Quando Davi ascendeu ao trono de Israel e veio a escolher seus generais, ele chamou para os postos de comando homens que tinham demonstrado coragem e valor. Entre os três primeiros estava um de quem os registros diziam que defendera um campo plantado com lentilhas, e repeliu uma tropa dos filisteus. [2 Samuel 23:11,12] Para os outros isso pode parecer pouco, pelo que não vale a pena lutar, mas aquela terra era preciosa para os israelitas como uma porção da herança dada por Deus e, além disso, o inimigo poderia ter usado aquele terreno como um acampamento a partir do qual iria capturar as fortalezas. Assim também é com a Bíblia. Ela é toda de valor intrínseco se realmente é de Deus; além disso, a frase que é atacada e que pode parecer sem importância alguma, pode provar ser um vínculo na cadeia de verdade em que estamos dependendo para a vida eterna.

Notas de Rodapé do Capítulo 1

[1] De acordo com Mill, o curso do mundo dá provas que tanto o poder e a bondade de Deus são limitados. Seus Essays on Religion mostram claramente que o ceticismo é uma atitude da mente que é praticamente impossível de manter. Mesmo com um pensador tão claro e capaz quanto Mill, isso inevitavelmente degenera para uma forma degradante de . "A atitude racional de uma mente pensante em relação ao sobrenatural", ele declara, "é a do ceticismo, tão distinto da crença em um lado, e do ateísmo do outro"; e apesar disso ele imediatamente avança para formular um credo. Não é que há um Deus, por que isso é somente provável, mas que se existe um Deus, Ele não é Todo-poderoso, e Sua bondade em relação ao homem é limitada. (Essays, etc., págs. 242, 243). Ele não prova seu credo, é claro. Sua verdade é óbvia para uma "mente pensante". É igualmente óbvio que o sol se move em torno da Terra. Um homem somente precisa ser tão ignorante de astronomia quanto o infiel é do cristianismo, e encontrará a mais indisputável prova do fato toda vez que investigar os céus!

[2] A profecia não é dada para nos habilitar a profetizar, mas como um testemunho para Deus quando o tempo chegar. — Pusey, Daniel, pág. 80.

[3] Elliot, Horae Apoc. (terceira edição), 1, 446: e veja também Cap. 3, pág. 362-376.

[4] Elliot, 1, 373. Hipólito predisse no ano 500.

[5] Não posso deixar de mostrar o seguinte excerto de um artigo escrito pelo professor Goldwin Smith, na Macmillan's Magazine, em fevereiro de 1878:

"A negação da existência de Deus e do futuro estado, em uma palavra, é o destronamento da consciência; e a sociedade acabará, para dizer o mínimo, por meio de um intervalo perigoso antes que a ciência social possa preencher o trono vago... Mas, enquanto isso, a humanidade, ou algumas porções dela, poderão estar em perigo de uma anarquia de auto-interesse, comprimida, para o propósito da ordem política, por um despotismo da força."

"Essa ciência e criticismo, atuando — graças à liberdade de opinião conquistada pelos esforços políticos — com uma liberdade nunca conhecida antes, nos livraram de uma massa de superstições tenebrosas e degradantes, e na firme convicção que a remoção de falsas crenças, e das autoridades ou instituições fundadas sobre elas, não pode provar no fim qualquer coisa senão uma bênção para a humanidade. Mas, ao mesmo tempo, os fundamentos da moralidade geral foram inevitavelmente abalados e uma crise deflagrada, a gravidade da qual ninguém pode deixar de ver e ninguém, exceto um fanático do materialismo, pode ver sem o mais sério temor.

"Nunca houve nada na história da humanidade como a presente situação. A decadência das antigas mitologias está muito longe de oferecer um paralelo... A Reforma foi um tremendo terremoto: ela abalou a fibra da religião medieval e, como conseqüência dos tumultos na esfera religiosa, preencheu o mundo com revoluções e guerras. Mas ela deixou a autoridade da Bíblia inabalada e os homens puderam sentir que o processo destrutivo tinha seu limite e que ainda havia firmeza debaixo de seus pés. Mas um mundo que é intelectual e profundamente interessado no significado dessas questões, que lê com avidez tudo o que está escrito sobre elas, encontra-se diante de uma crise, cujo caráter qualquer um pode perceber apresentando-se distintamente para si mesmo a idéia da existência sem um Deus."

[6] ta logia tou thou [Romanos 3:2]. As antigas Escrituras hebraicas foram assim consideradas por aqueles que tinham sido divinamente indicados para terem a custódia delas. (ib) Não somente pelos devotos entre os judeus, mas como Josefo testifica, por todos, elas "eram justamente acreditadas como de origem divina", pelas quais os homens estavam dispostos a suportar torturas de todos os tipos em vez de falar contra elas, e até "dispostos a morrer por elas" (Josefo, Apiom, 1, 8). Esse fato é de imensa importância em relação ao próprio ensino do Senhor sobre o assunto. Lidando com um povo que cria na santidade e valor de cada palavra das Escrituras, Ele nunca perdeu uma oportunidade para confirmá-los nessa crença. O Novo Testamento oferece abundantes provas de como Ele a impôs sobre Seus discípulos. (Como relação aos limites e data de fechamento do cânon das Escrituras, veja Pusey, Daniel, pág. 294, etc.).

[7] Mill, Essays on Religion.

[8] alla kai en dunamei kai en pneumati agio [1 Tessalonicenses 1:5] "mas também em poder, e no Espírito Santo". Não há contraste algum objetivado entre Deus em um lado, e poder do outro, nem ainda entre diferentes tipos de poder. Objetar que isso referenciava os milagres que seguiram à pregação é trair a ignorância das Escrituras. Atos 17 representa a pregação à qual o apóstolo estava aludindo. Que poder milagroso existia nas igrejas gentílicas é claro em 1 Coríntios 12, mas a questão é, o evangelho que produziu essas igrejas apela aos milagres para confirmá-lo? Pode alguém ler os primeiros quatro capítulos de 1 Coríntios e reter dúvidas com relação à resposta?

[9] Deus é onipresente; mas há um senso real em que o Pai e o Filho não estão na Terra, mas nos céus, e que no mesmo sentido o Espírito Santo não está nos céus, mas na Terra.

[10] Tal fé está inseparavelmente conectada com a salvação, e a salvação é o dom de Deus [Efésios 2:8]. Dai as solenes palavras de Cristo, "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos." [Mateus 11:25].

[11] Pusey, Daniel, pref., pág. 25.

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Data da publicação: 23/2/2005
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