O Príncipe Que Há de Vir

(The Coming Prince)

Sir Robert Anderson

(1841-1918)

APÊNDICE 2

Miscelânea — Quem e Quando

Nota A

Artaxerxes Longimano e a Cronologia de seu Reinado

Tão completa é a unanimidade com que o Artaxerxes de Neemias é agora reconhecido como o Longimano, que não é mais necessário oferecer provas disso. Josefo realmente atribui esses eventos a Xerxes, mas sua história dos reinados de Xerxes e de Artaxerxes está tão repleta de erros que se torna inútil. Na verdade, ele transpõe os eventos desses respectivos reinados (veja Ant. 11, cap. 5 e 7). O mestre de Neemias reinou por não menos que trinta e dois anos. (Neemias 13:6) e seu reinado foi subseqüente ao de Dario Histaspes (compare Esdras 6:1 e 7:1), e antes do de Dario Nothus (Neemias 12:22). Ele precisa, portanto, ser ou Longimano ou Mnemon, porque nenhum outro rei após Dario Histaspes reinou por trinta e dois anos, e é certo que a missão de Neemias não foi depois do vigésimo ano de Artaxerxes Mnemon, isto é, 385 AC.

Isso aparece, primeiro, a partir do curso geral da história; segundo, porque essa data é posterior à de Malaquias, cuja profecia precisa ter sido consideravelmente depois do tempo de Neemias; e terceiro, porque Eliasibe, que era o sumo sacerdote quando Neemias veio a Jerusalém, era neto de Josué, que era o sumo sacerdote no primeiro ano de Ciro (Neemias 3:1; 12:10; Esdras 2:2; 3:2); e a partir do primeiro ano de Ciro (536 AC) até o vigésimo de Artaxerxes Longimano (445 AC), existiram noventa e cinco anos, deixando espaço para exatamente três gerações. [1]

Além disso, o capítulo 11 de Daniel, se lido corretamente, permite prova conclusiva que a era profética datou desde o tempo de Longimano. O segundo verso é geralmente interpretado como se fosse apenas um fragmento desconectado da história, deixando um intervalo de mais de 130 anos entre ele e o terceiro verso, enquanto que o capítulo é uma predição consecutiva de eventos dentro do período das setenta semanas. "Ainda três reis estarão na Pérsia" (isto é, após a emissão do decreto para reconstruir Jerusalém). Foram eles Dario Nothus (mencionado em Neemias 12:22), Artaxerxes Mnemon, e Ochus; os breves reinados de Xerxes II, Sogdiano, e Arogus sendo negligenciados por serem, o que de fato foram, totalmente sem importância e realmente dois deles são omitidos no cânon de Ptolomeu. O quarto (e último) rei foi Dario Codomano, cuja fabulosa riqueza — acumulada de dois séculos — atraiu a cupidez dos gregos. Desconhece-se que soma de dinheiro Alexandre encontrou em Susã, mas os lingotes de prata e a púrpura que ele tomou após a batalha de Arbela valiam mais de 20 milhões de libras esterlinas. [2] Portanto, o verso 2 alcança até o encerramento do Império Persa; o verso 3 prediz a ascensão de Alexandre, o Grande; e o verso 4 refere-se à divisão do seu reino entre seus quatro generais.

De acordo com Clinton (F. H., vol 2, pág. 380), a morte de Xerxes foi em julho de 465 e a ascensão de Artaxerxes foi em fevereiro de 464. Artaxerxes, é claro, ignorou o reinado do usurpador, que ficou no meio, e considerou seu próprio reinado a partir do dia da morte de seu pai. Novamente, é claro, Neemias, sendo um oficial da corte, seguiu a mesma forma de cálculo. Tivesse ele contado o reinado de seu senhor a partir de fevereiro de 464, quisleu e nisã não poderiam ter caído no mesmo ano do reinado (Neemias 1:1; 2:1). Não mais poderiam eles ter calculado de acordo com a prática judaica, a partir de nisã.

Aqui, o Dr. Pusey comenta o seguinte: [3]

"A ascensão de Artaxerxes ao trono após os sete meses do assassino Artabano, cairiam em meados de 464. É claro pela seqüência dos meses em Neemias 1:2 e Esdras 7:7-9, que quisleu caiu anteriormente no ano de seu reinado do que nisã, e nisã do que ab. Então o reinado de Artaxerxes precisa ter iniciado entre os meses de ab e quisleu de 464."

Isso é um total engano. Como já mencionado, quisleu e nisã caíram no mesmo ano do reinado; e assim também nisã e o primeiro dia de ab (Esdras 7:7-9). Mas o primeiro de ab de 459 (o sétimo ano de Artaxerxes) caiu em 16 de julho, ou perto disso e, portanto, as passagens citadas estão perfeitamente coerentes com a cronologia recebida e servem meramente para permitir que fixemos as datas com ainda maior precisão, e decidir que a morte de Xerxes e a data inicial do reinado de Artaxerxes possam ser atribuídas à parte final de julho de 465 AC.

Aqueles que não são versados naquilo que os autores de assuntos proféticos escreveram sobre este assunto ficarão surpresos ao saber que essa data é atacada como sendo nove anos mais tarde. Todos os cronologistas concordam que Xerxes começou a reinar em 485 AC, e que a morte de Artaxerxes foi em 423 AC; e tanto quanto eu saiba, nenhum autor de reputação, não enviesado pelo estudo das profecias, atribui como a data inicial do reinado do último rei qualquer outra data que não 465 AC [4] (ou 464; veja ante). Essa é a data de acordo com o Cânon de Ptolomeu, que tem sido seguida por todos os historiadores; e é confirmada pelo testemunho independente de Júlio Africano, que em sua Chronagraphy, [5] descreve o vigésimo ano de Artaxerxes como o centésimo quinto ano do Império Persa (considerado a partir de Ciro, em 559 AC) e o quarto ano da octogésima terceira Olimpíada. Isso fixa 464 como o primeiro ano desse rei, como se fosse na verdade o ano de sua verdadeira ascensão ao trono.

Foi o arcebispo Ussher quem primeiro levantou uma dúvida sobre a questão. Lecionando sobre as "Setenta de Daniel" [6] no Trinity College, em Dublin, no ano 1613, as dificuldades conectadas com o assunto sugeriram uma investigação que o levou no fim a colocar de volta o reinado de Longimano para 474 AC, que é a data fornecida em seu Annales Vet. Test. A mesma data foi mais tarde adotada por Vitringa, e um século mais tarde por Kruger. Mas Hengstenberg é considerado como o campeão dessa visão, e seu tratado sobre isso em Chronology [7] omite nada que possa ser citado em seu favor.

As objeções levantadas para a cronologia recebida dependem principalmente da afirmação de Tucídides, que Artaxerxes estava no trono quando Temístocles chegou à corte persa; pois é dito que a fuga de Temístocles não poderia ter sido já em 464. [8] Mas, como o Dr. Pusey comenta, "eles não impressionaram nossos autores ingleses que trataram da história grega". [9] Em comum com os autores alemães, o Dr. Pusey ignora Ussher totalmente na controvérsia, embora o Dr. Tregelles [10] corretamente afirme para ele o principal lugar de erudição entre aqueles que advogaram a data mais anterior. A dificuldade aparente de fazer a profecia e a cronologia concordarem levou o Dr. Pusey, seguindo Prideaux, em oposição às Escrituras, a fixar o sétimo ano de Artaxerxes como a época inicial das setenta semanas, enquanto ela induziu o Dr. Tregelles [11] escondendo-se atrás do nome de Ussher, a adotar a data de 455 AC para o vigésimo ano do reinado desse monarca. O bispo Lloyd, ao afixar as datas de Ussher à Bíblia inglesa reverteu para a cronologia recebida quando lidou com o livro de Neemias.

É desnecessário entrar aqui em uma discussão acerca dessa questão. Nada menos que uma reprodução de todo o argumento em favor da nova cronologia satisfaria seus defensores, e para meu propósito presente é uma resposta suficiente para esse argumento, que embora tudo tenha sido apresentado que a geniosidade e a erudição possam sugerir em suporte, ela tem sido rejeitada por todos os autores seculares. A profecia não cumprida é somente para os fiéis, mas a profecia já cumprida tem uma voz para todos. Portanto, é uma infelicidade que a prova do cumprimento dessa profecia das setenta semanas não dependa de uma argumentação elaborada, como a de Hengstenberg, para contestar as cronologias recebidas.

Vou observar somente um ponto. É dito em favor de limitar o reinado de Xerxes para onze anos, que nenhum evento é mencionado em conexão com seu reinado após o décimo primeiro ano. A resposta é óbvia: primeiro, que é para os historiadores gregos, que escreveram após o tempo dele, que estamos principalmente em débito para nosso conhecimento da história persa; em segundo lugar, as batalhas de Termópilas e Salamina podem bem ter induzido um rei de temperamento e caráter de Xerxes a dar a si mesmo a uma vida de tranqüilidade indolente e prazeres sensuais.

Mas além disso, o décimo segundo ano de Xerxes é expressamente mencionado no livro de Ester (3:7), e a narrativa prova que o reinado dele continuou até o décimo segundo mês (judaico) do seu décimo terceiro ano. [12] Hengstenberg responde a isso afirmando que era costumeiro entre os autores hebreus incluírem em uma era real os anos de uma co-regência, quando ela existia; e ele apela para o caso de Nabucodonosor como uma prova desse costume. [13] Se o reinado de Nabucodonosor fosse realmente considerado assim, esse exemplo solitário não estabeleceria o costume, pois ele não forneceria nada mais do que os judeus em Jerusalém, sem saber nada da política e dos costumes de Babilônia, consideraram o reinado de Nabucodonosor com um sistema deles próprios. Mas acredito que essa teoria sobre o reinado de Nabucodonosor é uma total besteira. Se na história sagrada ele é chamado de rei de Babilônia, em conexão com sua primeira invasão da Judéia, é por que os autores eram seus contemporâneos. "Lord Beaconsfield era Secretário da Receita nas administrações de Lord Derby" é uma afirmação que será corretamente condenada como um anacronismo se feita pelo historiador do futuro, mas é precisamente a linguagem que teria sido usada por um autor contemporâneo acostumado com o estadista vivo. Já mostrei no Apêndice 1 que os judeus consideravam o reinado de Nabucodonosor de acordo com seu próprio costume, datando a partir do nisã precedente à sua ascensão ao trono. Portanto, a não ser que algum caso inteiramente novo possa ser apresentado em suporte à teoria da co-regência de Xerxes, permanece que o livro de Ester é absolutamente conclusivo contra a data de Ussher, e em favor da cronologia recebida.

Nota B

A Data da Natividade

Ao tratar da data do nascimento do nosso Senhor, os argumentos em favor de uma data anterior do que a data que é aqui adotada, são também bem conhecidos para serem deixados sem observação. O Dr. Farrar expressa a questão assim em seu Life of Christ (Excursus 1):

"Nossa data mais certa é obtida a partir do fato que Cristo nasceu antes da morte de Herodes, o Grande. A data desse evento é conhecida com absoluta certeza, pois (2) Josefo nos diz que ele morreu trinta e sete anos após ter sido proclamado rei pelos romanos. Agora é conhecido que ele foi proclamado rei em 714 A. U. C; e, portanto, como Josefo sempre considera seus anos de nisã a nisã, e conta as frações iniciais e finais de nisã como anos completos, Herodes deve ter morrido entre nisã de 750 A. U. C. e nisã de 751 A. U. C., isto é, entre 4 AC e 3 AC da nossa era. (2) Josefo diz que na noite em que Herodes ordenou que Judas, Matias, e seus apoiadores fossem queimados, houve um eclipse da lua. Agora, esse eclipse ocorreu na noite de 12 de março de 4 AC, e Herodes estava morto pelo menos sete dias antes da Páscoa, que, se aceitarmos a forma de cálculo judaica, caiu naquele ano em 12 de abril. Mas de acordo com a clara indicação dos evangelhos, Jesus precisa ter nascido pelo menos quarenta dias antes da morte de Herodes. Portanto, é claro que sob nenhuma circunstância pode a natividade ter ocorrido depois de fevereiro do ano 4." [14]

Esta passagem é uma típica ilustração do valor relativo atribuído às afirmações dos historiadores sacros e profanos. Nas histórias de Josefo uma menção acidental de um eclipse ou da duração do reinado de um monarca é suficiente para dar "certeza absoluta", diante da qual as afirmações mais claras e mais definidas dos Escritos Sagrados precisam dar lugar, embora se relacionem às questões de interesse tão transcendente para os autores que até se os evangelistas fossem reduzidos à categoria de meros historiadores, nenhum engano seria possível.

O seguinte é uma afirmação mais moderada da questão, pelo arcebispo de York, em um artigo (Jesus Cristo) de contribuição para o Bible Dictionary, de Smith.

"Herodes, o Grande, morreu, de acordo com Josefo, no ano trinta e sete após ser escolhido como rei. Sua elevação coincide com o consulado de Cn Domicío Calvino e C. Asinius Pólio, e isso determina a data A. U. C. 714. Existe razão para pensar que nesses cálculos, Josefo considera os anos a partir do mês de nisã até o mesmo mês, e também que a morte de Herodes ocorreu no início do ano trinta e sete, ou imediatamente antes da Páscoa, se então trinta e seis anos completos forem adicionados, eles colocam o ano da morte de Herodes, em A. U. C. 750."

De acordo com isto, a visão comumente recebida, a morte de Herodes ocorreu dentro dos primeiros seis dias de um ano judaico, e esses dias são considerados como um ano completo em sua era real. Agora é admitido que ao calcular o tempo, os judeus geralmente incluíam ambas as unidades terminais de um dado período. Um notável e bem conhecido exemplo disso é oferecido pelas palavras do próprio Senhor, quando declarou que estaria morto por três dias e três noites. Que significado essas palavras tiveram para os judeus? Vinte e quatro horas após sua morte, eles vieram a Pilatos e disseram: "Senhor, lembramo-nos de que aquele enganador, vivendo ainda, disse: Depois de três dias ressuscitarei. Manda, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até ao terceiro dia." [15] Tivesse aquele domingo passado deixando intacto o selo sobre o sepulcro, os fariseus teriam firmemente proclamado seu triunfo, enquanto que, pelos nossos modos de considerar, a ressurreição deveria ter sido adiada até a noite da segunda-feira, ou na terça de manhã. [16]

Novamente, pode ser assumido que a ascensão de Herodes datou na verdade de 40 AC e, portanto, que 4 AC foi o ano trinta e sete e o último de seu reinado. Além disso, é provável que ele tenha morrido imediatamente antes de uma Páscoa. A questão permanece se sua morte ocorreu no início ou mais para o fim do ano judaico.

Josefo relata que quando o evento ocorreu, Arquelau permaneceu em reclusão durante sete dias, e depois se apresentou publicamente ao povo. Sua primeira recepção não foi desfavorável, embora ele tivesse de ceder a muitas reivindicações populares que foram levadas a ele; e após a cerimônia, ele "saiu e ofereceu sacrifícios a Deus, e depois festejou com seus amigos." Em breve, entretanto, o descontentamento e a insatisfação começaram a aparecer e a se espalhar, e novas exigências foram levadas ao rei. Para essas ele novamente cedeu, embora com menor disposição, instruindo seu general a repreender a população e persuadi-la a adiar suas petições até o retorno dele de Roma. Esses apelos somente aumentaram a crescente insatisfação, e ocorreu uma agitação popular. O rei ainda continuou a negociar com os sediciosos, mas, "com a aproximação da festa dos pães ázimos", quando a capital ficou lotada com a chegada dos judeus do interior do país, o estado das coisas tornou-se tão alarmante que Arquelau determinou que os agitadores fossem reprimidos pela força das armas. Isso foi "na aproximação da festa" e os judeus consideravam que a Páscoa "estava próxima" no oitavo dia de nisã, quando eles iam para Jerusalém para o festival. [17]

A Páscoa iniciava em 14 de nisã. Esse protesto final ocorreu durante a semana precedente. Os protestos anteriores ocorreram antes disso novamente, antes da data da incursão dos judeus para o festival, o dia 8 de nisã. Isso novamente foi precedido por algum intervalo, medido desde o dia seguinte ao período de pranto na corte por Herodes, que tinha durado sete dias. A história, portanto, estabelece conclusivamente que a morte de Herodes foi mais do que catorze dias antes da Páscoa e, portanto, no encerramento e não no início de um ano judaico.

Mas qual ano? A morte dele precisa ter sido após o eclipse de 13 de março de 4 AC. [18] Mas o eclipse foi somente um mês antes da Páscoa daquele ano, e sua morte foi quatorze dias pelo menos antes da Páscoa. Poderiam então os eventos registrados por Josefo como ocorridos no intervalo entre o eclipse e a morte do rei terem ocorrido em um período de duas semanas? Que o leitor volte-se para a obra Antiguidades e julgue por si mesmo se é possível. A inferência natural da história é que a morte não foi semanas, mas meses após o eclipse e, portanto, no encerramento do ano.

A exatidão dessa conclusão pode ser estabelecida aplicando-se o mais rígido de todos os testes, o de referenciar as afirmações cronológicas do historiador.

Em sua obra Guerras (2:7, 3), Josefo coloca o banimento de Arquelau no nono ano de seu governo; em sua obra final (Ant., 17, 13, 3), ele afirma que foi em seu décimo ano. E essas datas são dadas com uma definição e de uma maneira que tornam impossíveis a idéia de um engano. Elas estão conectadas com a narrativa de um sonho em que Arquelau viu diversas espigas de milho (nove em Guerras, dez em Antiguidades) devoradas por bois — pressagiando que os anos de seu governo estavam prestes a serem trazidos abruptamente ao fim. Agora, seja um governante cristão, judeu, ou turco, seu nono ano é o ano que inicia com o oitavo aniversário de seu governo, e seu décimo ano é o que inicia no nono aniversário; e é um mero casuísmo pretender que há ou mistério ou dificuldade na questão. É evidente que a diferença entre as duas afirmações do historiador é intencional, e que em suas duas histórias ele calculou o governo do tetrarca a partir de dois pontos iniciais diferentes. Mas se Herodes morreu na primeira semana no ano judaico, como esses autores afirmam, isso seria impossível, pois a verdadeira ascensão de Arquelau teria sincronizado com sua ascensão de acordo com a forma judaica de contagem. Enquanto que se seu governo datasse do encerramento de um ano judaico, 6 AC [19] seria na verdade seu nono ano, mas seu décimo ano de acordo com a regra do Mishna de calcular os reinados a partir do mês de nisã.

Em diversos tratados sobre esse assunto, encontra-se um argumento baseado em João 2:20, "Em quarenta e seis anos foi edificado este templo". De acordo com Josefo (é dito), "A reconstrução de Herodes do templo começou no décimo oitavo ano de seu reinado." [20] e quarenta e seis anos a partir dessa data fixaria 26 AD como o ano em que essas palavras foram proferidas e, portanto como o primeiro ano do ministério de nosso Senhor. Que autores de reputação tenham escrito assim pode ser descrito como um fenômeno literário. Não somente Josefo não diz aquilo que é assim atribuído a ele, mas sua narrativa desaprova isso. A base para a afirmação é que em seu décimo oitavo ou décimo nono ano [21] Herodes fez um pronunciamento propondo a reconstrução do templo. Mas o historiador acrescenta, que vendo suas promessas e intenções totalmente desacreditadas pelo povo, "o rei os encorajou, e lhes disse que não iria derribar o templo até que todas as coisas se tornassem prontas para reconstruí-lo completamente outra vez. E, como ele tinha prometido anteriormente, ele não quebrou sua palavra, mas preparou mil carroças que deveriam trazer as pedras para a construção, e escolheu dez mil dos mais habilidosos trabalhadores, e comprou mil vestes sacerdotais para os sacerdotes, e fez que alguns deles aprendessem a arte dos cortadores de pedra, e outros a dos carpinteiros, e então começou a construir; mas isso não foi até que tudo estivesse bem preparado para a obra." [22] Que duração de tempo esses preparativos levaram é evidentemente impossível de saber, mas se, como Lewin supõe, o trabalho foi iniciado na Páscoa de 18 AC, então quarenta e seis anos nos traria exatamente ao ano 29 — a primeira Páscoa no ministério do Senhor.

Nota C

O Sistema Histórico Contínuo da Interpretação Profética

Os intérpretes históricos das profecias compreendem um princípio cuja importância é abundantemente provada pelos notáveis paralelismos entre as visões do Apocalipse e os eventos na história da cristandade. Mas não contente com isso, eles têm por um lado trazido descrédito ao estudo profético pelas loucas e arrogantes predições sobre o fim do mundo e, por outro lado, reduziram o princípio de interpretação deles para um sistema, e então o degradaram a um hobby. O resultado é feliz nesse respeito, que o mal não pode deixar de curar a si mesmo, e o tempo não pode estar muito distante quando a "interpretação histórica contínua" na forma e maneira em que seus campeões tem proposto, será considerada como uma noção extravagante do passado. Os eventos na primeira metade do presente século produziram na mente dos cristãos tal impressão em seu favor, que parece provável ganhar uma aceitação geral. Mas a grande obra do falecido Elliott tem exposto completamente sua fraqueza. Uma leitura dos primeiros cinco capítulos de Horae Apocalypticae não pode deixar de impressionar o leitor com um senso da autenticidade e importância do esquema do autor, nem ele deixará de apreciar a erudição mostrada e a sobriedade com a qual ela é usada. Mas quando ele passa do comentário sobre os cinco primeiros selos para o relato do sexto selo, o leitor deve experimentar uma inversão de sentimentos que será forte em proporção com sua compreensão da verdade e a solenidade dos Escritos Sagrados. Que a pessoa leia os seis últimos versos do capítulo 6 do Apocalipse, uma passagem cuja terrível solenidade dificilmente tem outra similar nas Escrituras, e com que sentimentos ele se voltará para o livro de Elliott para descobrir que as palavras são nada mais que uma predição da queda do paganismo no quarto século!

As palavras da visão do Apocalipse em relação ao grande dia da ira divina (Apocalipse 6:17) são a linguagem de Isaías (13:9-10) com relação ao "dia do Senhor", e novamente da profecia de Joel (Joel 2:1,30-31), citada pelo apóstolo Pedro no dia de Pentecostes (Atos 2:16-20). Isso não é tudo. O capítulo 24 de Mateus é um comentário divino sobre as visões do capítulo 6 do Apocalipse, e cada um dos selos tem seu correspondente nas predições do Senhor sobre os eventos que precederão Sua segunda vinda, terminando com a menção dessas mesmas terríveis convulsões da natureza aqui descritas. Portanto, mesmo se a mente seja "educada" até ao ponto de aceitar essa interpretação da visão do sexto selo, essas outras escrituras ainda precisam ser explicadas.

Muitos outros pontos no esquema de Elliott poderiam ser citados como igualmente falhos. Considere, por exemplo, o elaborado ensaio sobre o assunto das duas testemunhas, culminando no admirável clímax da ascensão delas ao céu (Apocalipse 11:12) — para ele isso foi cumprido quando os protestantes obtiveram "um avanço em dignidade e poder político" (Horae Ap. 2, 410) Ainda mais absurda e temerária é sua exposição de Apocalipse 12:5. "Parece claro" (ele diz) "que qualquer que seja a esperança da mulher em seu trabalho de parto, a menor consumação foi aquela figurada no nascimento do filho varão e sua ascensão, isto é, a elevação dos cristãos, primeiro para o reconhecimento como um corpo político, depois muito rapidamente para a supremacia do trono no Império Romano" (vol. 3, 12) A referência a Wilberforce em conexão com Apocalipse 15 é quase grotesca (vol 3. 430). E finalmente, ele pisa na pedra que leva todo homem que segue esse falso sistema inevitavelmente a naufragar — a cronologia da profecia, provando por evidências cumulativas que o ano 1865 daria início ao milênio, ou se não 1865, então 1877 ou 1882 (vol. 3, 256-266).

"Um comentário apocalíptico que explica tudo está se auto-acusando de erro". Essa frase de Dan Alford (Gr. Test., Apoc. 11:2) aplica-se com força total ao livro de Elliott. Mantendo, como ele faz, que essas visões receberam seu cumprimento absoluto e final, ele fica forçado a explicar tudo e, como resultado dessas lucubrações, estraga uma obra que se remodelada por algum estudante inteligente das profecias seria do mais alto valor. Em dias como estes, quando temos de contender pelas próprias palavras das Escrituras, não podemos nos dar ao luxo de rejeitar essas lucubrações como puerilidades inofensivas. Elas têm dado ímpeto ao ceticismo desta época, e têm encorajado homens cristãos a tratarem as mais solenes advertências da ira vindoura como meros trovões de palco.

O manto de Elliott parece agora ter caído sobre o autor de Approaching End of the Age. O tratado de Grattan Guinness sobre os ciclos lunisolares e epactas será considerado por muitos a parte mais interessante e valiosa da obra. O estudo disso confirmou uma impressão que há tempos tem ocupado minha mente, que em alguma mística interpretação dos períodos proféticos de Daniel, a cronologia da supremacia dos gentios e a dispensação cristã está escondida. O professor Birks, entretanto, corretamente comenta que é muito duvidoso se muita da especialidade em que Guinness encontra nessa parte de sua teoria, não é devido a uma seleção parcial inconscientemente feita de alguns números de epactas a partir de muitos, e que as relações especiais das epactas para os números 6, 7, 8 13, provavelmente desapareceriam em um exame detalhado de todos os números de epactas." (Thoughts on Sacred Prophecy, pág. 64)

Também poderia ser comentado que com a latitude obtida contando-se algumas vezes em anos lunares, algumas vezes em anos lunisolares, e algumas vezes em anos julianos comuns, a lista de coincidências e paralelismos aparentemente cronológicos poderia ser aumentada ainda mais. O período do Concílio de Nicéia (325 DC) até a morte de Gregório XIII (1585) foi de 1.260 anos. O período desde o edito de Justiniano (533) até a Revolução Francesa foi de 1.260 anos; e novamente de 606, quando o imperador Phocas conferiu o título de papa a Bonifácio III, até a derrubada do poder temporal (1866-1870), o período foi também de 1.260 anos. Se esses fatos provam alguma coisa, provam, não que os períodos mencionados são o cumprimento das visões de Daniel, porque as visões de Daniel referem-se à história de Judá, com a qual esses eventos não têm nada que ver, mas que a cronologia desses eventos é marcada por ciclos compostos por múltiplos de setenta. Portanto, eles corroboram grandemente a presunção que essa é uma característica geral dos "tempos e épocas" conforme planejados por Deus, e que as visões serão literalmente cumpridas. Em uma palavra, essas provas são muito mais do que suficientes para a causa que têm o objetivo de suportar.

Já observei a falácia transparente de supor que a besta de dez chifres e a Babilônia do Apocalipse podem ambas serem típicos de Roma. Em Approaching End of the Age, essa falácia é aceita aparentemente sem suspeita ou dúvida, pois o autor nem adota nem aprimora com base no agradável romance pelo qual Elliott tenta esconder o absurdo dessa opinião.

Como a prostituta recebe sua condenação por intermédio da besta, é absolutamente certo que elas não são idênticas, e todas as provas que esses autores usam para estabelecer que a igreja de Roma é Babilônia, é igualmente conclusiva para provar que o papado não é a besta, o homem do pecado. O sistema inteiro deles é como um castelo de cartas que cai no momento em que é testado. Como esse tipo de livro é lido por muitos que não conhecem a história, pode ser conveniente repetir mais uma vez que a divisão do território romano em dez reinos ainda não ocorreu. Que ele foi particionado é uma questão simples da história e do fato que ele nunca foi dividido em dez é um mero conceito dos autores dessa escola. [23]

A respeito de Daniel 9:24-27, Guinness escreve, "Desde a chegada da ordem para restaurar e reedificar Jerusalém, até a vinda do Messias, o príncipe, seriam setenta semanas." (pág. 417). Esse é um típico exemplo da frouxidão da escola histórica em lidar com as Escrituras. As palavras da profecia são: "Desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas." [24] Como esse erro é subjacente em toda sua exposição da profecia que forma o assunto especial destas páginas, é desnecessário discuti-lo. Ele segue Prideaux em calcular as semanas a partir do sétimo ano de Artaxerxes.

Novamente, em comum com quase todos os comentaristas, ele confunde os setenta anos da servidão de Judá com os setenta anos das desolações de Jerusalém. A profecia que ele cita de Jeremias 25 (pág. 414) foi dada no quarto ano de Jeoiaquim, enquanto que a servidão começou em seu terceiro ano, e é predito um julgamento que caiu dezessete anos mais tarde. Pode parecer descortês observar pequenas imprecisões, como a de confundir Belsazar com Nabonido, o último rei de Babilônia.

Esse tipo de livro é útil somente por lidar positivamente com o cumprimento histórico como uma realização principal e parcial das profecias, e como um pleno e destemido indiciamento da Igreja de Roma é muito valioso. Mas na negação dogmática de um cumprimento literal, na cega e obstinada determinação de estabelecer, independente de qual custo para as Escrituras, que o Apocalipse foi "cumprido nos eventos da era cristã", tal obra não pode deixar de ser perigosa e enganosa. A questão real aqui é o caráter e valor da Bíblia. Se as visões desses autores são justas, a linguagem dos Escritos Sagrados de passagens como o fim do capítulo 6 do Apocalipse é profundamente grandiloqüente. E se os loucos exageros caracterizam uma porção das Escrituras, que confiança podemos ter em qualquer parte? Se o grande dia da ira divina, descrita em termos de solenidade sem paralelos, não são nada, mas apenas uma breve crise na história de uma campanha agora muito no passado, as palavras que falam da alegria do benditos e a condenação dos impenitentes pode afinal ser apenas uma hipérbole, e a fé do cristão pode ser apenas uma credulidade.

Nota D

Os Dez Reinos

"A profecia não é dada para nos habilitar a profetizar", e ninguém que tenha procurado dignamente o estudo deixará de ter dúvidas ao se aventurar no tentador campo de prever "as coisas por vir". Por paciente contemplação podemos discernir claramente os contornos principais do cenário futuro; mas "até que o dia amanheça", nossa compreensão das distâncias e dos detalhes será inadequada, se não inteiramente falsa. Os grandes fatos do futuro, tão claramente revelados nas Escrituras, foram mencionados rapidamente nas páginas anteriores. Para o que segue aqui nenhuma deferência é afirmada exceto a que pode ser conferida à "opinião pia" baseada em investigação séria e honesta.

Depois da restauração dos judeus, o aspecto político mais proeminente do futuro, de acordo com as Escrituras, é a divisão do Império Romano em dez reinos. A ênfase e definição com que os dez reinos são especificados, não somente em Daniel, mas também no Apocalipse, proíbe que interpretemos as palavras como se descrevessem meramente uma divisão de poder, como a que existe desde a dissolvição do Império Romano, embora isso seja indubitavelmente um aspecto da profecia. Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma, uma de cada vez, buscaram obter o domínio universal. Que possa haver uma comunidade de nações vivendo lado a lado em paz é um conceito que nada na história do mundo parece sugerir.

A principal pista que as Escrituras permitem sobre o assunto é a conexão entre esses reinos e o Império Romano. [25] Mas alguma latitude precisa provavelmente ser permitida com relação às fronteiras, caso contrário teríamos de escolher entre duas alternativas igualmente improváveis, isto é, ou que nosso próprio país se afundará na posição de uma província, sem que até mesmo a Irlanda permaneça sob seu domínio, [26] ou então que a Inglaterra estará entre os dez reinos e incluirá o vasto império do qual esta ilha é o coração e o centro. Podemos ter esperança que por mais que nosso país possa decair nos dias maus por vir do alto lugar que, com todas suas falhas, ele tem mantido como campeão da liberdade e da verdade, ele será salvo da degradação de participar na vil confederação dos últimos dias?

Essas considerações sobre as fronteiras aplicam-se também à Alemanha, embora em um grau menor; e a Rússia está claramente fora de consideração. O interesse e a importância especiais dessas conclusões dependem do fato que o anticristo será a princípio um patrono e apoiador da apostasia religiosa da cristandade, e que a Inglaterra, a Alemanha e a Rússia são precisamente as três potências de primeira classe que estão fora do aprisco de Roma.

Mas não há dúvida que o Egito, a Turquia e a Grécia estarão entre os dez reinos; [27] e não é improvável ao extremo que esses países aceitarão a liderança de um homem que aparecerá como o campeão e patrono da igreja latina? Uma notável solução para essa dificuldade provavelmente será encontrada na definitiva predição que enquanto os dez reinos irão no fim reconhecer sua suserania, três dos dez serão trazidos à submissão pela força das armas. (Daniel 7:24).

Voltando novamente para o ocidente, os nomes da França, Áustria, Itália e Espanha apresentam-se, e sete dos reinos são assim explicados. Pode a lista estar completa? A Bélgica, a Suíça e Portugal permanecem, e esses também reivindicariam um lugar se estivéssemos lidando com a Europa de hoje; mas como é do futuro que estamos tratando, qualquer tentativa de pressionar ainda mais a questão parece ser fútil. Alguns dizem confiantemente que como os dez reinos são simbolizados pelos dedos dos pés da imagem de Nabucodonosor — cinco em cada pé — cinco desses reinos precisarão ser criados no oriente, e cinco no ocidente. O argumento é plausível, e possivelmente justo, mas sua força principal reside em esquecer que na visão do profeta, o Levante e não o Adriático, Jerusalém e não Roma, é o centro do mundo.

Para o esquema aqui indicado uma objeção pode naturalmente ser levantada: É possível que os países mais poderosos do mundo, a Inglaterra, a Alemanha e a Rússia, não terão parte alguma no grande drama dos últimos dias? Mas precisa ser lembrado, primeiro, que a importância relativa das grandes potências poderá ser diferente no tempo em que esses eventos serão cumpridos, e em segundo lugar, que dificuldades desse tipo podem depender inteiramente do silêncio das Escrituras, ou, em outras palavras, na nossa própria ignorância. Entretanto, sinto-me obrigado a observar que as dúvidas criadas na minha mente com relação à solidez da interpretação recebida do capítulo 7 de Daniel apontam para uma resposta mais satisfatória para as dificuldades em questão.

Como a visão do capítulo 2 especifica os quatro impérios que deveriam sucessivamente governar o mundo, e como o capítulo 7 também enumera quatro "reinos" e identifica expressamente o quarto deles com o quarto reino da visão anterior, a inferência parece legítima que a abrangência de ambas as visões é a mesma. Essa conclusão é aparentemente confirmada por alguns dos detalhes fornecidos dos reinos tipificados pelo leão, pelo urso e pelo leopardo. Tão forte à primeira vista realmente é o caso em suporte a essa visão, que não senti liberdade de me afastar dele nas páginas precedentes. Ao mesmo tempo, sou forçado a reconhecer que esse caso é menos completo que parece ser, e que graves dificuldades surgem em conexão com ele; e as seguintes observações são apresentadas na tentativa de promover a investigação do assunto:

  1. Daniel 2 e 7 estão ambos na porção caldéia do livro, e estão, portanto, emparelhados e separados do restante. Portanto, isso fortalece a suposição que seria obtida em qualquer caso, que a visão posterior não é uma repetição da anterior. A repetição é muito rara nas Escrituras.

  2. A data da visão do capítulo 7 foi o primeiro ano de Belsazar e, portanto, somente dois ou três anos antes da queda do Império Babilônio. [28] Como então poderia a ascensão desse império ser o assunto da profecia? O verso 17 parece definitivo que a ascensão de todos esses reinos estaria no futuro.

  3. Na história de Babilônia não há nada para corresponder com o curso predito da primeira besta, pois é muito pouco legítimo supor que a visão foi uma profecia da carreira de Nabucodonosor, cuja morte tinha ocorrido mais de vinte anos antes da data da visão. Além disso, a transição do leão com asas de águia para a condição humana, embora possa representar declínio de poder, tipifica um notável crescimento moral e intelectual.

  4. Não há nada na história da Pérsia que responda à besta semelhante ao urso com a precisão e plenitude que a profecia exige. A linguagem da versão inglesa sugere uma referência à Pérsia e à Média, mas a verdadeira tradução parecer ser: "e fez para si mesmo um domínio." [29] em vez de "o qual se levantou de um lado."

  5. Embora o simbolismo do verso 6 pareça à primeira vista apontar definitivamente para o Império Grego, parece em um exame mais atento que no seu aparecimento o leopardo tinha quatro asas e quatro cabeças. Essa era sua condição inicial e normal, e foi nessa condição que "foi-lhe dado domínio". Isso certamente é muito diferente daquilo que Daniel 8:8 descreve, e o que a história do Império de Alexandre obteve, isto é, a ascensão de um único poder, que em sua decadência continuou a existir em um estado dividido.

  6. Cada um dos três primeiros impérios do capítulo 2 (Babilônia, Pérsia e Grécia) foi por sua vez destruído e absorvido pelo sucessor, mas os reinos do capítulo 7 todos continuaram juntos no cenário, embora "o domínio" estava com o quarto (Daniel 7:12). O verso 3 parece implicar que as quatro bestas apareceram juntas e em todos os eventos não há nada para sugerir uma série de impérios, cada um destruindo seu predecessor, embora o simbolismo da visão estava (em contraste com o do capítulo 2) admiravelmente adaptado para representar isso. Compare a linguagem da próxima visão. (Daniel 8:3-6).

  7. Embora a quarta besta seja inquestionavelmente Roma, a linguagem dos versos 7 e 23 não deixa dúvidas que é o Império Romano em sua fase restaurada e futura. Sem endossar as visões de Maitland, Browne, etc., precisa ser admitido que não há nada na história da antiga Roma para corresponder com a principal característica dessa besta, a não ser o simbolismo usado seja interpretado de forma muito livre. "Devorar, fazer em pedaços e pisar aos pés o que sobrava", é bem descritivo de outros impérios, mas a antiga Roma foi precisamente o poder que adicionou governo à conquista, e em vez de pisar e despedaçar as nações subjugadas, buscava em vez disso, moldá-las para sua própria civilização e políticas.

Tudo isso — e mais poderia ser acrescentado. [30] — sugere que toda a visão do capítulo 7 possa ter uma referência futura. Já vimos que o poder soberano estará com uma confederação de dez nações que no fim levará a um grande Kaiser, e que várias das atuais potências de primeira classe estarão fora da confederação. Portanto, é improvável no mais alto grau, que essa supremacia seja obtida a não ser após uma tremenda luta. Neste momento a política internacional do velho mundo está centrada na Questão Oriental, que é afinal uma mera questão do equilíbrio de poder no Mediterrâneo. Agora, Daniel 7:2 cita expressamente o Mediterrâneo (o "Grande Mar") como a cena do conflito entre as quatro bestas. Não pode a porção de abertura da visão então se referir à luta titânica que precisará ocorrer algum dia pela supremacia no Mediterrâneo, que sem dúvida carregará com ela a soberania do mundo? O leão pode possivelmente tipificar a Inglaterra, cujo vasto poder naval pode ser simbolizado pelas asas de águia. O fato de essas asas serem arrancadas pode representar a perda de sua posição como senhora dos mares. E se isso for o resultado da luta que acontecerá, estaríamos dispostos a acreditar que ela após um tempo será caracterizada por preeminência moral e mental. O animal, lemos, foi "levantado da terra, e posto de pé como um homem, e foi-lhe dado um coração de homem."

Se o leão britânico tem um lugar nesta visão, o urso moscovita dificilmente pode ser omitido; e pode ser confiantemente afirmado que o urso da profecia pode representar a Rússia atual tão bem quanto a Pérsia de Ciro e de Dario. A definição do simbolismo usado com relação ao leopardo (ou pantera) da visão torna mais difícil referenciar essa porção da profecia à Alemanha, ou a qualquer outro país-locomotiva em particular. Seria fácil provar um caso em suporte a essa visão, mas pode ser suficiente comentar que se a profecia ainda não está cumprida, seu significado será incontestável quando o tempo chegar.

Diagrama Cronológico da História de Judá — (784x1068 pixels — abre uma nova janela)

O "Diagrama Cronológico da História de Judá", de Anderson, é uma visão panorâmica da história e da profecia com relação ao povo (Judá) e à cidade de Daniel (Jerusalém), isto é, "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo." (Daniel 9:24) Anderson integra cronologicamente a história secular, a história judaica, a história de Jerusalém e do templo, a visão de Daniel da "grande estátua" (2:31) e o ministério dos profetas, com uma visão em direção à consumação do programa de Deus do julgamento durante a septuagésima semana (9:27). Simplesmente estudar o diagrama para captar a compreensão de Anderson é suficiente para provocar maior compreensão de um assunto para o qual até os "anjos desejam atentar". (1 Pedro 1:12).

Notas de Rodapé do Apêndice 2

[1] Encyc. Brit., nona edição, título "Artaxerxes".

[2] W. K. Loftus, Chaldea and Susiana, pág. 341.

[3] Daniel, pág. 160

[4] Neste ponto consultei o autor de The Five Great Monarchies, um livro para o qual são feitas referências freqüentes nestas páginas, e estou devedor à cortesia e gentileza do cônego Rawlinson para a seguinte resposta: "Acho que você pode dizer seguramente que os cronólogos agora concordam que Xerxes morreu no ano 465 AC. O Cânon de Ptolomeu, Tucídides, Diodono, e Maneto estão em concordância; a única autoridade contrária foi Ctesias, que é pouco confiável."

[5] Ante-Nicene Christian Library, vol 9, segunda parte, pág. 184.

[6] Works, vol. 15, pág. 108.

[7] Tradução de Arnold, págs. 443-454.

[7-2] Os argumentos de Kruger são revisados por Clinton em F. H., 2, pág. 217.

[8] Daniel, pág. 171, nota.

[9] Veja por exemplo, Mitford, 2, 226; Thirlwall, 2, 428; Grote, 5, 379; e dos alemães veja Niebuhr, Lect. Anc. Hist., (Schmitz ed.) 2, 180-181.

[10] Daniel, pág. 266.

[11] Ibidem, pág. 99, nota.

[12] A Festa do Purim deriva seu nome do fato que quando Haman planejou a destruição do povo de Mordecai, ele lançou sortes dia a dia para encontrar "um dia de sorte" para a execução do esquema. Um ano inteiro — o décimo segundo de Xerxes — foi assim consumido (Ester 3:7); e o decreto para a matança dos judeus foi feito no dia 13 de nisã do ano seguinte (Ester 3:12). O decreto em favor deles foi concedido dois meses mais tarde (Ester 8:9), e o rei é mencionado em conexão com a execução desse decreto do décimo segundo mês daquele ano (Ester 9:1,13-17). Portanto, o reinado de Xerxes certamente continuou até o último mês de seu décimo terceiro ano. O último capítulo de Ester, além disso, mostra claramente que seu reinado não terminou com os eventos registrados no livro, mas que essa promoção de Mordecai foi o início de uma nova era em sua carreira.

[13] Christology (tradução de Arnold), Cap 737;

[14] O livro do Dr. Farrar fez muito para popularizar uma controvérsia que até aqui interessou somente a alguns. Portanto, pode ser bom observar que sua indiscriminada afirmação sobre a data da morte de Herodes é duvidosa (veja Clinton, Fast. Rom., 29 DC) e que Josefo nem sempre considera os reinados da forma indicada.

[15] Mateus 27:63,64; compare 2 Crônicas 10:5-12, "Veio, pois, Jeroboão, e todo o povo, ao terceiro dia, a Roboão, como o rei havia ordenado, dizendo: Voltai a mim ao terceiro dia."

[16] Se esse sistema de cálculo parece estranho ou natural depende da maneira de pensar de cada pessoa. Um professor de teologia pode ter problemas em defendê-lo na classe, mas o capelão de uma prisão não teria dificuldade para explicá-lo para sua congregação! Nosso próprio dia civil começa à meia-noite, e a lei não leva em conta uma parte de um dia. Portanto em uma sentença de prisão de três dias, o termo prescrito é igual a setenta e duas horas, mas embora um prisioneiro raramente chegue à cadeia antes do fim da tarde, a lei considera que ele completou um dia de encarceramento no momento em que bate a meia-noite, e o carcereiro pode licitamente libertá-lo no momento em que a prisão é aberta na segunda manhã seguinte. Na verdade, um prisioneiro condenado a três dias raramente fica mais que quarenta horas na prisão. Esse modo de cálculo e de falar era tão familiar para os judeus quanto é para aqueles que estão familiarizados com as políticas do sistema prisional.

[17] "Quando as pessoas vinham em grandes números para a festa dos pães ázimos no oitavo dia do mês Xânthicus" (isto é, nisã) (Josefo, Guerras, 6, 5,3 compare com João 11:55, 12:1) "E estava próxima a páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da páscoa para se purificarem. Foi, pois Jesus seis dias antes da páscoa a Betânia."

[18] Não houve um eclipse lunar visível em Jerusalém entre aquele do dia 13 de março de 4 AC e o de 9 de janeiro de 1 AC. Muitos autores tomam a última para ser o eclipse de Herodes, e atribuem sua morte a esse ano. Que de 1 AC foi um eclipse total, totalmente acontecendo aos quinze minutos depois da meia-noite, enquanto que 4 AC foi apenas um eclipse parcial, e a maior magnitude não foi até 2:34h da madrugada. (Johnson, Eclipses Past and Future). Mas embora toda consideração desse caráter aponte para 1 AC como a (data da morte de Herodes, o peso da evidência geralmente está em favor de 4 AC. De autores recentes, o ano anterior é adotado pelo Dr. Geikie (Life of Christ, sexta edição, pág. 150) e notavelmente pelo falecido Bosanquet, que argumenta a questão em seu Messiah the Prince, e mais concisamente em um trabalho lido diante da Sociedade de Arqueologia Bíblica, em 6 de junho de 1871,

[19] Este é o ano especificado por Dion Cassius para o banimento do tetrarca. Clinton, F. H., 6 DC.

[20] Farrar, Life of Christ, App. Exc. 1.

[21] Depende do significado da palavra gegonotos na passagem, se o décimo oitavo ou décimo nono ano está em vista. A narrativa, como um todo, aponta para o décimo nono ano. Confira Fast Sacri, de Lewin, pág. 56 e 92.

[22] Josefo, Ant., 15.11,27.

[23] A lista de Elliott dos dez reinos é a seguinte: Os anglo-saxões, os francos, os alanos, os burgundianos, os visigodos, os suevos, os vândalos, os ostrogodos, os bávaros e os lombardos. Se alguém pode ler o capítulo 7 de Daniel e o 13 do Apocalipse e aceitar essa interpretação, realmente não há terreno comum sobre o qual discutir a questão.

[24] Deploro a idéia que meu objetivo seja revisar este ou qualquer outro livro. Fosse essa minha intenção, eu poderia apontar para outros erros similares. Exodus gr. em Pt. III, cap. 1, o autor enumera cinco pontos de identidade entre a prostituta e a Igreja de Roma, e desses cinco os dois últimos são pura besteira, isto é, "O ministro da prostituta faz fogo descer do céu", e "A prostituta requer que todos recebam a marca." (Compare Apocalipse 13:13, 16).

[25] "E quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis." (Daniel 7:24).

[26] Toda a Irlanda e parte da Escócia estiveram fora dos limites territoriais do Império Romano.

[27] Em Daniel 11:40, o Egito e a Turquia (ou a potência que possuirá a Ásia Menor) são expressamente mencionados pelos títulos proféticos como reinos separados neste mesmo tempo.

[28] Veja a Tabela Cronológica no Apêndice 1.

[29] Tregelles, Daniel, pág. 34.

[30] As bestas de Daniel 7 são aquelas citadas em Apocalipse 13:2, para representar o Anticristo. Embora isso admita a explicação dada, ela também pode ser usada como um forte argumento em favor da visão apresentada acima.


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Data da publicação: 24/7/2005
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