"Uma economia global requer uma moeda global." Paul Volcker, ex-presidente da Reserva Federal dos EUA. [1].
" Apóio totalmente a criação de uma moeda global." Admirado, aguardei uma explicação." Deste modo, os agricultores na África receberão o mesmo pagamento que os agricultores na América do Norte, e os trabalhadores na Ásia receberão o mesmo que os trabalhadores na Europa e em todo o resto do mundo."
A perspectiva é interessante. Perguntei ao cavalheiro que estava comigo à mesa: " Você já estudou seriamente o sistema bancário ou o papel histórico do dinheiro?"
A resposta negativa dele não me surpreendeu; afinal, igualdade salarial e custos de produção não são exatamente questões monetárias, embora afetem de algum modo a moeda. Portanto, passamos uma grande parte de nosso horário de almoço analisando o relacionamento entre dinheiro, bancos e poder.
Esta discussão provocativa que tivemos enquanto apreciávamos uma sopa bem quente, ocorreu durante o encontro anual de uma organização cristã de assistência social que tem um orçamento de muitos milhões de dólares. A pessoa que estava comigo à mesa era um membro da diretoria que representava um braço regional importante da organização. Claro, ele era apenas um homem em uma grande estrutura administrativa, mas suas decisões combinadas com as dos outros membros impactavam os projetos em todo o mundo. Assim, achei sua declaração de apoio a uma moeda global muito mais preocupante, pois ali estava um indivíduo envolvido na tomada de decisões econômicas importantes, mas que não compreendia aquilo que apoiava.
Durante nosso almoço, ficou claro que ele não tinha compreensão alguma sobre a incrível mudança de poder que ocorreria sob esse esquema, uma mudança que efetivamente criaria um mestre global de proporções intocáveis. Tudo o que ele podia ver era uma solução que seria um curativo em escala internacional, "uma moeda global única" para tratar o problema da pobreza.
Refleti sobre essa conversa após retornar para casa, perplexo com a facilidade com que uma pessoa com os motivos corretos estava disposta a aderir a uma aventura arriscada em escala global. Pesquisando na seção sobre bancos e economia em minha biblioteca, folheei alguns livros e documentos para me aprofundar nesse assunto espinhoso. Encontrei diversas citações interessantes nas páginas:
"A grande luta da história tem sido a luta pelo controle do dinheiro. É quase tautológico afirmar que controlar a produção e distribuição do dinheiro é controlar a riqueza, os recursos e os povos do mundo" Jack Weatherford, antropólogo e autor. [2].
"O controle do dinheiro e do crédito toca no coração da soberania nacional" A. W. Clausen, presidente do Bank of America, em uma resposta à sugestão de criar um banco central global. [Clausen mais tarde assumiu a presidência do Banco Mundial]. [3].
"Depois que um país abre mão do controle de sua moeda e do crédito, não faz diferença quem são os deputados e senadores desse país." W. L. Mackenzie King, ex-primeiro-ministro do Canadá. [4].
Tudo isto faz surgir uma pergunta interessante: O mundo precisa de um banco central global? Se você quiser criar uma moeda global única, então é necessário uma estrutura bancária internacional armada com uma política monetária em uma escala planetária. Essencialmente, o requisito para uma moeda global única é um banco que tenha poder sobre todos os países, nações e línguas. Paul Hellyer, um ex-membro do Parlamento canadense, criticou esse projeto em 1994, dizendo que sob esse sistema monetário e financeiro global, "os interesses dos cidadãos e dos países individuais precisariam estar subordinados... aos interesses das finanças internacionais." [5].
"... os países não poderiam mais seguir qualquer tipo de política independente. A soberania sobre o mais poderoso de todos os instrumentos econômicos seria entregue a um monstro internacional... Um banco mundial administrado por uma elite de indivíduos selecionados e indicados para o cargo e que coletivamente não presta contas a ninguém? Misericórdia!" [6].
O Bancor e Outras Moedas Globais
Sem que aquela pessoa com quem almocei soubesse, a ideia de uma moeda global única tem sido debatida caladamente nos círculos bancários e econômicos desde os tempos da Segunda Guerra Mundial. [7].
Em 1943, o economista americano Alvin Hansen sugeriu uma abordagem econômica internacional para o problema da paz mundial. Embora o interesse principal dele estivesse na promoção do pleno emprego e no desenvolvimento dos países "atrasados" nos anos do pós-guerra, sua sugestão baseava-se na criação de um Fundo Cambial Internacional junto com um Banco Internacional. Esse Fundo "facilitaria o fornecimento de um câmbio adequado e, especialmente, promoveria ajustes que levariam ao equilíbrio internacional..." [8].
"Equilíbrio internacional” nas taxas de câmbio efetivamente significa a criação de um sistema de uma moeda mundial única. Hansen também reconheceu a importância política desse movimento e vinculou o federalismo mundial com sua estrutura monetária global "para a preservação da paz e a promoção de saudáveis relações políticas internacionais." [9].
Naquele mesmo ano, o economista britânico John Maynard Keynes elaborou um plano para a instituição de uma moeda global.
A proposta de Keynes foi apresentada durante a Conferência de Bretton Woods, em 1944, um encontro de alto nível que resultou na criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Referenciando o conceito monumental de Keynes, o ex-presidente da Reserva Federal, Paul Volcker, escreveu:
"A proposta contemplava a criação de uma nova moeda internacional sintética, separada do ouro que os países já possuíam em suas reservas; o nome que Keynes propôs para a moeda, bancor, combinava a palavra para banco com a palavra francesa para ouro" [10].
Por trás dos bastidores, os EUA também tinham uma proposta de moeda mundial para o encontro de Bretton Woods, apresentada por Henry Morgenthau Jr. e criada basicamente pelo funcionário do Departamento do Tesouro, Harry Dexter White [que mais tarde seria acusado de ser um agente soviético]. Como a ideia de Keynes, o plano americano previa uma unidade monetária global experimental, chamada de unitas. [12]
Robert Mundell, um economista respeitado que mais tarde ficaria conhecido como o "pai do euro", comentou as interações políticas que cercaram esse evento de 1944:
"O presidente Franklin D. Roosevelt instruiu seu Secretário do Tesouro, Henry Morgenthau Jr., a fazer planos para a instituição de uma moeda global. Tanto os planos americanos e britânicos em Bretton Woods incluíam a previsão de uma moeda global. O plano americano chamava a moeda de unitas; o plano britânico a chamava de bancor. Ela nunca foi implementada por razões políticas que tinham de ver com a política interna dos EUA. Meses após a conferência, os americanos retiraram sua proposta de uma moeda global e quando os britânicos, como Lord Robbins nos diz, trouxeram a questão de volta, 'os americanos mudaram de assunto'. Em 1944 haveria eleições presidenciais e forças isolacionistas e o próximo Congresso poderiam resistir a uma ideia que poderia ser interpretada como um sacrifício de certo grau da soberania." [13].
Embora as iniciativas de White e de Keynes tenham ruído em 1944, elas plantaram as sementes da ideia bem fundo nos solos da economia e do sistema financeiro internacionais.
Por volta do fim dos anos 1960s, a ideia de uma unidade monetária mundial começou a germinar. Em 1968, Robert Mundell foi levado a um Comitê Conjunto do Congresso dos EUA. Fazendo uma apresentação intitulada "Plano para uma Moeda Mundial", Mundell foi bem direto: "É clara a direção em que precisamos ir. Precisamos construir, a partir de todos os ativos atualmente usados pelas autoridades monetárias, uma nova moeda mundial." [14].
No Fundo Monetário Internacional (FMI), uma nova iniciativa que teve início de 1966 foi ratificada em 1969: os Direitos Especiais de Saque (chamados de SDRs, de Special Drawing Rights) [15]. Baseada em uma cesta de moedas (hoje, os SDRs são constituídos com base no dólar americano, no euro, na libra britânica e o iene), acreditava-se que essa unidade contábil eventualmente se tornaria um tipo de moeda de reserva internacional.
David Rockefeller, quando era presidente do banco Chase Manhattan, compreendeu o potencial dos SDRs em um sistema monetário reorganizado globalmente. Ao falar diante do Clube Imperial do Canadá, em 1971, ele recomendou a criação de uma Comissão Internacional para regular "o relacionamento monetário, comercial e de investimentos em todo o mundo".
"Essa Comissão poderia se dedicar a uma redefinição das paridades monetárias oficiais em termos de uma nova unidade monetária internacional, talvez os SDRs. Ela também poderia considerar a reforma do papel dos ativos de reserva internacionais dos bancos centrais." [16].
Rockefeller esperava que o conceito avançasse rapidamente, antes que o "vírus do protecionismo que faz os países se virarem para dentro" e o "nacionalismo autodestrutivo" reduzissem o "espírito da cooperação e da solidariedade internacionais". [17].
Embora os SDRs não tenham alcançado o status que David Rockefeller previu, o uso deles cresceu nos anos recentes. Hoje, o Banco de Compensações Internacionais que faz o papel de banco central para os bancos centrais detalha seus lucros anuais e dividendos em SDRs. Em 2005, a Argentina anunciou que os pagamentos de sua dívida externa seriam feitos nessa unidade de cesta de moedas do FMI. [18]. Comentando sobre os SDRs, o presidente da Associação da Moeda Única Global escreve: "Algum dia, as quatro moedas na cesta serão transformadas em uma, a Moeda Global Única, e os SDRs desaparecerão." [19].
De fato, a criação dos SDRs no fim dos anos 1960s parecia abrir a porta para mais discussões sobre uma moeda global. Isto foi evidente durante uma conferência em 1969 promovida pelo Banco da Reserva Federal de Boston, em que os participantes deliberaram a ideia de um mundo unificado dentro dos confins do Sistema da Reserva Federal dos EUA. Duas citações desse evento nos ajudam a entender um pouco o teor do debate:
"Permitam-me deixar a oposição de lado e tratar algo mais positivo, começando com o melhor e o pior do sistema monetário internacional. O primeiro melhor, em meu julgamento, é uma moeda mundial com uma autoridade monetária mundial" [20; Charles P. Kindleberger.].
"Sou um utopista. Gostaria de ver um mundo com uma única moeda. Ao contrário do Sr. Kindleberger, gostaria de ver o mundo sem uma autoridade monetária central... Uma autoridade monetária mundial é uma autoridade politicamente irresponsável que não tem uma relação representativa com os povos do mundo. Na melhor das hipóteses, seria uma ditadura benevolente de 'especialistas' escolhidos de uma forma arbitrária e sujeitos somente de forma muito indireta a qualquer processo político efetivo. Uma moeda mundial com uma autoridade mundial é, acredito, o pior-melhor e não o primeiro melhor, tanto em termos políticos quanto econômicos. Por outro lado, uma moeda única para o mundo unificado sem uma autoridade monetária seria um sistema bastante bom..." [21; Milton Friedman].
O Dinheiro Mundial e a Necessidade de Crises
Durante meados dos anos 1970s, a discussão sobre a criação de uma moeda mundial foi obscurecida pela nova agenda global de estabelecer uma "ordem econômica internacional". O objetivo: colocar em jogo um efetivo regime socialista internacional, completo com a transferência de riqueza do primeiro mundo para os cofres das nações em desenvolvimento e o fortalecimento de um sistema de governança global de orientação socialista. [22].
Embora uma moeda global única não estivesse tipicamente associada com essa agenda, a emissão e distribuição do crédito internacional era frontal e central. E esse sistema de crédito requer um mecanismo de controle algo como um Banco Central Global.
Em um discurso intitulado "Ganhos para Todos em um Novo Mundo", feito diante do Comitê Conjunto de Economia do Congresso dos EUA, o secretário-geral da Comunidade Britânica de Nações, Shridath Ramphal declarou:
"O crédito é o lubrificante central em um sistema econômico... É por isto que um dos principais objetivos na nova ordem econômica internacional que os países em desenvolvimento estão agora buscando é um sistema internacional de crédito..." [23].
Embora o conceito de uma moeda única tenha reaparecido durante meados dos anos 1970s, foi Richard Cooper, professor da Universidade de Harvard e membro do Conselho das Relações Internacionais (o CFR, de Council on Foreign Relations) que reacendeu o debate nos anos 1980s. Durante outra conferência do Banco da Reserva Federal de Boston, desta vez em 1984. Cooper virou as mesas ao delinear um esquema revolucionário para uma nova organização do sistema monetário internacional.
"Apresentei um esquema alternativo radical para o próximo século: a criação de uma moeda comum para todas as democracias industriais com uma política monetária comum e um Banco de Emissão conjunto para determinar essa política monetária... Esta proposta é radical demais para o futuro imediato, mas pode fornecer uma 'visão', ou um objetivo, que possa guiar os passos intermediários..." [24].
O plano de Cooper era radical, propondo uma moeda mundial por volta do ano de 2010. Outros participantes da conferência, como Lord Eric Roll (então presidente da casa bancária Warburg & Co.) e Ariel Buira (então vice-diretor do Banco do México) comentaram favoravelmente o plano de Cooper, e Buira observou que "as objeções a esse esquema parecem ser em grande parte de natureza política." [25].
No verão de 1984, o CFR publicou a proposta de Cooper em sua revista Foreign Affairs. Desde então, outros economistas expressaram apoio à criação de uma moeda global única. Considere algumas citações:
1998: "… a transição para uma moeda única para todo o mundo poderá acontecer com uma rapidez que surpreenderá a muitos. O mundo pode facilmente fazer a transição das quase 200 moedas que existem hoje para somente uma única moeda em uma década e daqui a vinte e cinco anos, os historiadores se perguntarão por que levou tanto tempo para eliminar a Babel de moedas que existiam no século 20." Bryan Taylor, economista-chefe do Global Financial Data. [26].
2001: "Quando o VISA foi criado vinte e cinco anos atrás, os fundadores viram que o mundo necessitava de uma moeda global única para as operações cambiais. Tudo o que fizemos a partir de uma perspectiva global foi tentar colocar uma peça após a outra para cumprir essa visão global. [27] Sarah Perry, diretora do Programa Estratégico de Investimentos do VISA.
2004: "… para a economia do mercado global prosperar nas próximas décadas, uma moeda global parece ser a concomitante lógica." Martin Wolf, comentarista de assuntos econômicos do jornal Financial Times, e ex-economista sênior do Banco Mundial. [28].
Em 2007, o Conselho das Relações Internacionais apresentou novamente a ideia de um sistema monetário global ao publicar em sua edição de maio/junho da revista Foreign Affairs um artigo intitulado "O Fim das Moedas Nacionais". Nota: na capa, o artigo foi chamado de "Um Mundo, Moedas Demais".
Benn Steil, diretor de Economia Internacional no CFR, escreveu que os sistemas monetários nacionais deviam ser abandonados, "pois o desenvolvimento econômico fora do processo de globalização não é mais possível..." [29]. Falando de forma ainda mais sucinta, "O nacionalismo monetário é simplesmente incompatível com a globalização." [30]. E, "de modo a se globalizarem com segurança, os países devem abandonar o nacionalismo monetário e abolir as moedas indesejadas..." [31].
A conclusão é esta. Steil identifica exatamente a fissura potencial na economia mundial que pode nos levar a uma nova estrutura financeira: o enfraquecimento do dólar americano em nível global. Nas últimas décadas, o dólar americano se tornou a moeda global inquestionável e os países de todo o mundo precisam possuir dólares para poderem comprar e vender em vários mercados internacionais, especialmente no mercado do petróleo. Steil escreve:
"... o status privilegiado atual do dólar como moeda global não é uma concessão dada pelos céus. Essencialmente, o dólar é apenas outra moeda suportada pela fé que os outros a aceitarão de boa vontade no futuro em troca das mesmas coisas valiosas que ela comprou no passado. Isto coloca uma grande responsabilidade sobre as instituições do governo dos EUA para validar essa fé. Infelizmente, essas instituições estão falhando em assumir essa responsabilidade. A política fiscal imprudente dos EUA está solapando a posição do dólar ao mesmo tempo que seu papel de dinheiro global está se expandindo." [32].
Reconhecendo o possível cenário de perda de valor do dólar, Steil aponta para a crescente preocupação com os bancos centrais da China e de outros países que possuem uma grande reserva em dólares. Tenha em mente que a China sozinha detém mais de um trilhão de dólares em suas reservas e rumores vindos do Oriente sobre a substituição dessas reservas começaram a causar agitação nos mercados.
Embora Steil não faça a pergunta, ela se torna dolorosamente óbvia: O que acontecerá se a China e outros países "temerem a insustentável leveza de suas reservas"? O que acontecerá com a economia mundial se os bancos centrais começarem rapidamente a se desfazer de suas reservas em dólares?
Tudo isto enfatiza uma realidade estratégica que pode ser resumida em três palavras: Crise representa oportunidade. Como o mandachuva das finanças A. W. Clausen disse certa vez: "Novos sistemas político-econômicos abrangentes entre os povos quase sempre aparecem após uma conquista ou uma crise comum..." [33].
Robert Mundell também vê a crise como um ponto de partida para a mudança. Em uma palestra em maio de 2007, ele relatou: "A reforma monetária internacional se torna possível em resposta a uma necessidade sentida ou devido à ameaça de uma crise global."
Esse ganhador do Prêmio Nobel também apontou seu dedo para o possível evento de gatilho, dizendo que "a crise global teria de envolver o dólar" e que uma moeda internacional seria vista como "uma contingência" para um desastre global do dólar. [34].
Com uma crise similar em mente, Benn Steil oferece aquilo que parece ser uma solução altruísta. De modo a evitar a crise, todos os países precisam abrir mão de sua soberania antes que o problema se torne insuperável.
Portanto, como a soberania sobre a moeda deve ser obliterada?"Os governos precisam rejeitar a noção fatal que a nacionalidade requer que eles criem e controlem o dinheiro usado em seu território. Moedas nacionais e mercados globais simplesmente não combinam; juntos, eles formam uma mistura mortal de crise monetária e tensão geopolítica e criam pretextos para o nocivo protecionismo." [35].
Steil afirma candidamente que o mundo precisa se reagrupar em torno de três unidades monetárias regionais: o dólar, o euro e uma nova moeda asiática. [36]. Essa proposta espelha o trabalho de Robert Mundell, que tem viajado por todo o mundo e participado como palestrante em conferências sobre uma nova unidade monetária internacional baseada no dólar americano, no euro e no iene. Segundo o plano de Mundell, essas três moedas formariam a base de uma "unidade monetária mundial", chamada de DEY e o Fundo Monetário Internacional seria seu gerente essencialmente substituindo o programa dos SDRs. [37].
A Importância das Regiões Monetárias
A implementação do plano de Mundell pode não estar tão distante, pois grandes blocos monetários, liderados pelo sucesso da Europa com o euro, estão se formando em diversas partes do globo. As nações da América do Sul, do Sudeste Asiático e da África estão todas procurando criar zonas monetárias regionais. O Oriente Médio também está seguindo o mesmo caminho. Na verdade, em 2010, se tudo ocorrer de acordo com o plano, o Conselho de Cooperação do Golfo que é constituído por diversos países do Oriente Médio, incluindo o Kuwait e a Arábia Saudita terá seu próprio sistema monetário regional. Dubai, a cidade que cresce mais depressa em todo o mundo, também é membro desse Conselho. [38].
A América do Norte também está buscando a integração das moedas. Há vários anos que o conceito de um sistema monetário norte-americano surgiu nos círculos dos bancos centrais, sendo amero o nome sugerido para a nova moeda continental. [39]. E, se não for o amero, então alguns acreditam que o dólar deva se tornar uma moeda trinacional. Em maio de 1999, a economista Judy Shelton sugeriu para o Comitê da Câmara Sobre Bancos e Serviços Financeiros a dolarização da América do Norte. [40]. Da mesma forma, outros estão examinando as opções monetárias para o continente e o ímpeto para um novo sistema econômico regional que vincule o Canadá, os EUA e o México está crescendo em intensidade.
Mas, como os blocos monetários regionais contribuem para a criação uma moeda global única? Morrison Bonpasse, presidente da Associação da Moeda Global Única (SGCA, de Single Global Currency Association), um grupo de economistas que trabalha para a criação de uma moeda internacional, responde à pergunta: "As uniões monetárias do século 21 e aquelas que vieram do século 20, são os marcos no caminho para o futuro e para a União Monetária Global." [41].
Bonpasse desenvolve melhor o ponto:"Graças ao sucesso da União Europeia e outras uniões monetárias, sabemos agora como criar e manter os 3-Gs: uma União Monetária Global, com um Banco Central Global e uma Moeda Global Única." [42].
"O mundo está pronto para começar a se preparar para uma Moeda Global Única, exatamente como a Europa se preparou para o euro e os países do Golfo Árabe estão se preparando para uma moeda comum. Após o objetivo de uma Moeda Global Única estiver estabelecido por países que representam uma proporção significativa do PIB mundial, então o projeto pode ser buscado como seus predecessores regionais." [43].
Essencialmente, o modelo regional se torna uma etapa intermediária para a criação de uma moeda mundial. Entretanto, o problema do nacionalismo persiste. Discutindo esse "problema", Bonpasse escreve:
"A tarefa pode ser definida de forma bem simples: como fazer a transição das atuais 147 moedas para uma só? Desenvolver a vontade política para superar a força residual do nacionalismo é o maior desafio para o movimento para um mundo dos 3-Gs."
"Como ocorreu com a implementação do euro, a economia e política da união monetária estão inextricavelmente ligadas uma com a outra e a lógica de ambas aponta para o mundo dos 3-Gs."
"A questão agora não é se o mundo adotará uma Moeda Global Única, mas quando? E quão tranquila, barata e planejada OU quão difícil, cara e caótica será a jornada?" [44].
Para os internacionalistas, a soberania nacional é o obstáculo predominante. Para um Banco Central Global e uma moeda mundial existirem, algumas outras estruturas políticas precisarão ser formadas. Robert Mundell compreendeu esse problema político ao fazer uma apresentação em 2003 intitulada "O Sistema Monetário Internacional e a Questão de uma Moeda Mundial". A resposta dele foi franca: "Uma moeda global única não poderá ser instituída sem um governo global. Impor uma moeda única envolveria grandes problemas de organização." [45].
Entretanto, essa realidade não impede a SGCA e outros de mente similar de fazerem seus planejamentos progressivos. Com Bonpasse afirma: "É hora de buscar seriamente o objetivo de uma Moeda Global Única, gerenciada por um Banco Central Global e dentro de uma União Monetária Global." [46].
Como seria um Banco Central Global? A comparação mais provável que podemos fazer hoje seria com o Banco de Compensações Internacionais (chamado de BIS, de Bank for International Settlements), uma instituição virtualmente impérvia. Aqui estão alguns pontos a considerar com relação à natureza intocável do BIS:
A agência do BIS na China tem uma cláusula especialmente poderosa:
O BIS é "imune a toda tributação", incluindo "todos tributos sobre o capital do Banco, reservas ou lucros..." [47].
A sede do BIS, os escritórios de suas filiais e qualquer edifício que esteja sendo usado pelo BIS são invioláveis pelos agentes dos governos nacionais, incluindo a polícia nacional. [48] (Tente argumentar que seu lar e sua empresa são "invioláveis" para qualquer autoridade pública e veja o que acontece!).
Os funcionários do BIS têm imunidade diplomática internacional, incluindo imunidade contra prisão, "exceto em casos flagrantes de infrações criminais". A diretoria de funcionários do BIS têm diversos outros privilégios, incluindo benefícios tributários e de imigração com os quais a pessoa mediana somente pode sonhar. [49].
"O Banco não estará sujeito a qualquer forma de supervisão financeira ou bancária e não estará obrigado a implementar qualquer forma de norma contábil, ou seguir qualquer forma de requisito de licenciamento ou de registro." [30].
Outro exemplo possível é o Banco Central Europeu, que também está equipado com imunidades e privilégios especiais incluindo a independência da influência e instrução políticas. [51]. Vendo a escrita na parede, o estrategista em geopolítica Edward Luttwak escreveu em 1998:
"As autoridades não eleitas do Banco Central Europeu assumirão total e exclusivo controle sobre a política monetária de todos os países-membros a partir da formação formal da União em 1 de janeiro de 1999. Imune a qualquer interferência democrática, o Banco estará livre para interferir quando quiser em tudo o que se refira a dinheiro em todos os países-membros..." [52].
É disto que o mundo precisa? É isto o que o mundo quer? Um Banco Central Global que atue como o rei do mundo? Infelizmente, pouquíssimas pessoas compreendem o poder e influência exercidas pelos bancos centrais. Steven Solomon, em seu livro sobre os bancos centrais, detalha essa realidade em seu cenário mais amplo:
"As impressões digitais dos banqueiros centrais estão em toda a parte por trás das manchetes financeiras diárias: a elevação e queda das taxas de juros, as subidas e descidas do dólar, e o resgate emergencial do mercado acionário em colapso de um país em crise. Entretanto, eles próprios são raramente vistos ou compreendidos, exceto por uma elite minoritária." [53].
Em seguida, Solomon descreve os banqueiros centrais globais, e o BIS em particular, como uma "Maçonaria internacional" um clube de amigos que tem suas negociações escondidas atrás do véu de transações especializadas, jargões técnicos e uma incrível influência.
Por incrível que pareça, a Associação da Moeda Global Única (SGCA) sugere que o Banco Central Global operará "com governança aberta", em que "cada decisão será exposta na Internet para os olhos de bilhões de pessoas". [54]. O argumento contra essa visão de transparência é massacrante demais: utilizando os bancos centrais atuais e históricos como um modelo, é evidente que um Banco Central Global estará fora do alcance das pessoas.
Com relação à sede para o Banco Central Global, Bonpasse sugere Basileia, Zurique ou Genebra. "A Suíça tem uma reputação de solidez monetária e situar o BCG na Suíça poderá ser o incentivo necessário para que esse país ingresse como membro da União Monetária Global." [55].
"A estrutura governante do BCG deve ser relativamente fácil de criar, dados os modelos disponíveis e bem-sucedidos da Reserva Federal dos EUA, do Banco Central Europeu, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, das Nações Unidas e de organizações associadas, como a Organização Mundial da Saúde. Nem todos estão satisfeitos com as estruturas de todas essas organizações, mas esta é uma questão política negociável..." [56].
Ele está correto: é uma questão política. Isto foi evidente para Richard Cooper quando ele apresentou a ideia de um Banco Central Global e uma moeda global na conferência do Banco da Reserva Federal de Boston, em 1984:
"A ideia está longe de ser politicamente viável no presente. Devido à necessidade de uma real cessão da soberania monetária, serão necessários muitos anos de consideração até que as pessoas se acostumem com a ideia."
Entretanto, naquela época Cooper propôs um cronograma específico para começar a encarar essa ideia seriamente:
"Este regime de moeda única é radical demais para ser imaginado dentro de um futuro próximo. Todavia, ele não é tão radical para 25 anos no futuro..." [57]. Da mesma forma, a SGCA tem uma data em mente: 2024.
Em retrospecto, o cronograma de Cooper parece bastante preciso: Vinte e cinco anos após 1984 nos traz a 2009 e hoje a ideia de uma moeda global única está ganhando força por meio de organizações como a SGCA e por meio de importantes proponentes, como Robert Mundell. Além disso, o Banco de Compensações Internacionais tem publicamente considerado o potencial para uma moeda única para o mundo construída em torno dos agrupamentos regionais. [59].
Mas, tudo isto irá ajudar o agricultor na África, ou trazer igualdade salarial para os trabalhadores de todo o mundo?
Provavelmente não. Entretanto, isto dará poderes sem precedentes a um cartel bancário internacional, de um tipo que nunca foi visto ou experimentado antes. Como um crítico do sistema bancário global escreveu certa vez: "Dinheiro é dinheiro e bancos são bancos; e nenhum dos dois reconhece qualquer lealdade que não produza juros compostos." [59].
"E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis." [Apocalipse 13:16-18].
Notas Finais
1. Como citado por Morrison Bonpasse, The Single Global Currency (Single Global Currency Association, 2006), pág. 264.
2. Jack Weatherford, The History of Money (Crown Publishers, 1997), pág. 246.
3. A. W. Clausen, em uma entrevista em 1979 com o Freeman Digest, "International Banking", pág. 21.
4. William Lyon Mackenzie King, em um programa de rádio, 2 de agosto de 1935. Citação impressa no livro de Walter Stewart, Bank Heist (Harper Collins, 1997), pág. 71.
5. Paul Hellyer, Funny Money (Chimo Media, 1994), pág. 57.
6. Idem, pág. 57-58.
7. Paul Volcker levanta este ponto em seu livro (ele é coautor), Changing Fortunes: The World’s Money and the Threat to American Leadership (Times Books, 1992), pág. 9. O coautor de Volcker foi Toyoo Gyohten. Veja também, Morrison Bonpasse, The Single Global Currency (Single Global Currency Association, 2006). 8. Alvin Hansen, Economic Organization for Peace, impresso em Beyond Victory, editado por Ruth Nanda Anshen (Harcourt, Brace and Co., 1943), pág. 104. 9. Idem. pág. 106. 10. Paul Volcker and Toyoo Gyohten, Changing Fortunes: The World’s Money and the Threat to American Leadership (Times Books, 1992), pág. 9. 11. Veja Sacred Secrets: How Soviet Intelligence Operations Changed American History, Jerrold and Leona Schecter (Brassey’s Inc., 2002). 12. Morrison Bonpasse, The Single Global Currency (Single Global Currency Association, 2006), pág. 153. 13. Robert Mundell, "The Case for a World Currency", Journal of Policy Modelling, #27, pág. 458. 14. Citado em The Single Global Currency (Single Global Currency Association, 2006), pág. 155. 15. Brian Tew, The Evolution of the International Monetary System, 1945-81 (Hutchinson, 1977/82), pág. 131. 16. David Rockefeller, "The World Monetary System: A Pattern for the Future", The Empire Club Addresses, 1971-1972 (The Empire Club Foundation, 1972), pág. 135. Este discurso foi feito em 16 de dezembro de 1971. 17. Idem, pág. 135-136. 18. Morrison Bonpasse, The Single Global Currency (Single Global Currency Association, 2006), pág. 154. 19. Idem, pág.154. 20. Charles P. Kindleberger, falando em uma conferência da Reserva Federal. "The International Adjustment Mechanism", Federal Reserve Bank of Boston, 1969, Conference Series 2, pág. 105. 21. Milton Friedman, "The International Adjustment Mechanism", págs. 18, 117. 22. Para mais sobre isto, veja o livro de Philip C. Bom, The Coming Century of Commonism: The Beauty and the Beast of Global Governance (Policy Books, 1992). 23. Shridath Ramphal, "Gains for all in a new order", discurso feito diante do Comitê Econômico Conjunto do Congresso dos EUA. "One World to Share: Selected Speeches of the Commonwealth Secretary-General", 1975-9 (Hutchinson Benham, 1979), pág. 88. 24. Richard N. Cooper, "Is There a Need for Reform?" Discurso feito em uma conferência do Banco da Reserva Federal de Boston, em maio de 1984. Veja The International Monetary System: Forty Years After Bretton Woods (Federal Reserve Bank of Boston, 1984), pág. 37. 25. Ariel Buira, Discussion, idem. pág. 45. 26. Citado em The Single Global Currency, pág. 230. 27. Sarah Perry, diretora do Programa de Investimentos Estratégicos do VISA, conforme reimpresso em The Single Global Currency (Single Global Currency Association, 2006), pág. 7. 28. Martin Wolf, escrevendo para o Financial Times, 3 de agosto de 2004. Também citado em The Single Global Currency, pág. 216. Wolf também declarou: "Este é um mundo que é improvável que eu verei. Mas, talvez meus filhos ou meus netos verão."29. Benn Steil, "The End of National Currency", Foreign Affairs, maio/junho de 2007, pág. 95. 30. Idem, pág. 89. 31. Idem, pág. 84. 32. Idem, pág. 93. 33. A. W. Clausen, em uma entrevista de 1979 com o Freeman Digest, "International Banking", pág. 23. 34. Robert Mundell, "A Decade Later: Asia New Responsibilities in the International Monetary System", apresentação feita em Seul, Coreia do Sul, em 2-3 de maio de 2007. 35. Benn Steil, "The End of National Currency", Foreign Affairs, maio/junho de 2007, pág. 84. 36. Idem, pág. 95. 37. Robert Mundell, "A Decade Later: Asia New Responsibilities in the International Monetary System", apresentação feita em Seul, Coreia do Sul, em 2-3 de maio de 2007. 38. Para mais informações sobre a formação dos blocos regionais, veja o relatório do Banco de Compensações Internacionais, "Regional Currency Areas and the Use of Foreign Currencies", setembro de 2003. 39. Veja meu artigo na edição do Outono de 2007 de Hope for the World Update a respeito da formação da união monetária da América do Norte. Para mais informações sobre este tópico, confira a edição de julho de 2007 de Forcing Change (http://www.forcingchange.org). 40. Veja o testemunho de Judy Shelton diante do Comitê Sobre Bancos e Serviços Financeiros da Câmara, Oitiva Sobre a Estabilidade das Taxas de Câmbio nas Finanças Internacionais, 21 de maio de 1999. 41. Morrison Bonpasse, The Single Global Currency (Single Global Currency Association, 2006), pág. 134. 42. Idem, pág. 229. 43. Idem, pág. 281. 44. Idem, pág. 229. 45. Robert A. Mundell, "The International Monetary System and the Case for a World Currency", Leon Kozminski Academy of Entrepreneurship and Management and TIGER, Distinguished Lectures Series Number 12, Varsóvia, Polônia, 23 de outubro de 2003. 46. The Single Global Currency, pág. 282. 47. Carta de Constituição do Banco de Compensações Internacionais, ponto 6. BIS, Textos Básicos, págs. 4-5. 48. Veja o Acordo Entre o Conselho Federal Suíço e o Banco de Compensações Internacionais, Artigo 3. Textos Básicos, págs. 36-37. Veja "Host Country Agreement with China", Artigo 4, Textos Básicos, pág. 55-56; e o "Host Country Agreement with Mexico", Artigo 5, Textos Básicos, pág. 74-75. 49. Veja o Acordo Entre o Conselho Federal Suíço e o Banco de Compensações Internacionais, Seção II, Textos Básicos, págs. 42-48. 50. Veja "Host Country Agreement with China", Artigo 3, Textos Básicos, pág. 55. 51. Veja "Privileges and Immunities of the European Central Bank", ECB Legal Working Paper Series, No.4, junho de 2007. Veja também "The Monetary Policy of the ECB", Banco Central Europeu, 2004, pág. 12. 52. Edward Luttwak, Turbo Capitalism: Winners and Losers in the Global Economy (HarperCollins, 1998/99), pág. 200-201. 53. Steven Solomon, The Confidence Game: How Unelected Central Bankers are Governing the Changed World Economy (Simon & Schuster, 1995), pág. 13. 54. The Single Global Currency, pág. 213. 55. Idem, pág. 294. 56. Ibid. pág. 295. 57. Richard N. Cooper, "Is There a Need for Reform?" Discurso feito em uma conferência promovida pelo Banco da Reserva Federal de Boston, em maio de 1984. Veja "The International Monetary System: Forty Years After Bretton Woods" (Federal Reserve Bank of Boston, 1984), pág. 34. 58. Veja "BIS 75th Annual Report", pág. 151. 59. Cliff Ford, Blood, Money, and Greed (Western Front, 1998), pág. 50.
Autor: Carl Teichrib, artigo original em http://www.forcingchange.org, Edição 12, Volume 1.
Data da publicação: 27/6/2011
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