Autor: Jeremy James, Irlanda, 30/10/2022.
Como fiéis cristãos, lemos e estudamos a Palavra de Deus como a verdade viva proferida pela própria boca de Deus: "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça." [2 Timóteo 3:16].
À medida que estudamos a Palavra de Deus, aprendemos a ver mais profundamente as circunstâncias em que os profetas e apóstolos escreveram. Frequentemente, precisamos fazer isso de modo a compreender o que o texto está dizendo para nós. Por exemplo, no livro do profeta Jeremias, precisamos observar e acompanhar os movimentos dele, bem como os acontecimentos políticos dentro e em torno de Jerusalém, para conseguirmos compreender o significado das palavras dele.
Jeremias é um tanto incomum, pois ele nos revela muito sobre seu próprio estado emocional quando se esforça para transmitir aos seus cínicos ouvintes a mensagem poderosa que Deus lhe deu. A vida dele foi ameaçada pelos homens de sua cidade natal e ele foi submetido repetidas vezes à violência verbal e física. Na fase mais crítica de sua vida atribulada, ele foi lançado em uma cisterna enlameada, um tipo de calabouço, e foi deixado ali para morrer. Na confusão daquele momento, é difícil ver como alguém poderia vir para resgatá-lo. Certamente, entre seus próprios parentes e conterrâneos, haveria alguém que tomaria a iniciativa de vir a apelar pela sua vida? A Palavra de Deus nos diz que a salvação veio, mas não de seus próprios parentes, mas por meio da corajosa mediação de um eunuco etíope, que trabalhava no palácio real.
"E, ouvindo Ebede-Meleque, o etíope, um eunuco que então estava na casa do rei, que tinham posto a Jeremias na cisterna (estava, porém, o rei assentado à porta de Benjamim). Logo Ebede-Meleque saiu da casa do rei, e falou ao rei, dizendo: Ó rei, senhor meu, estes homens agiram mal em tudo quanto fizeram a Jeremias, o profeta, lançando-o na cisterna; de certo morrerá de fome no lugar onde se acha, pois não há mais pão na cidade." [Jeremias 38:7-9].
Os príncipes mais poderosos politicamente, que exerciam grande influência sobre o rei Zedequias, há muito tempo procuravam se livrar de Jeremias e de suas mensagens irritantes de derrota e destruição. Ele até disse ao povo que, para sobreviver, eles precisariam se render aos babilônios e sair de Jerusalém. Se eles fizessem isso, então Deus iria poupar suas vidas. Os príncipes desprezaram Jeremias por causa disso e convenceram o rei a se livrar dele. Mas agora, no meio de tudo isso, um eunuco etíope chamado Ebede-Meleque teve a coragem de ir até o rei, à plena vista de seus assessores e conselheiros e pedir que ele poupasse Jeremias.
Ao fazer isso, ele literalmente colocou sua vida nas mãos do rei. Ele não tinha ideia de como o rei reagiria, especialmente diante de uma audiência vigilante e emocionada. Havia toda a possibilidade que ele ordenasse que o eunuco fosse lançado no calabouço e deixado ali para morrer junto com Jeremias. Mas, Deus, em sua grande misericórdia mudou o coração do rei. Zedequias autorizou Ebede-Meleque a reunir um grupo de ajudantes e retirar Jeremias daquela situação. A Palavra registra amorosamente o fato que o eunuco até se deu ao trabalho de procurar alguns trapos para que Jeremias colocasse em suas axilas para que não se machucasse com as cordas ao ser puxado para fora do poço.
Este homem, que era um estrangeiro emasculado, teve mais coragem e compaixão do que os homens que eram viris. Podemos nos lembrar da referência que Jesus fez a todas as viúvas que existiam em Israel no tempo do profeta Elias, quando Deus o enviou a uma mulher gentia, e também a referência aos muitos leprosos que existiam na terra de Israel durante o tempo de Eliseu, quando Deus enviou um estrangeiro, um gentio, ao profeta para ser purificado de sua lepra.
Mesmo em nossa fraqueza e abandono, um Deus amoroso observa e guarda cada um de nós e, para aqueles cujos corações são perfeitos em relação a Ele, Ele concede Sua força e proteção:
"Porque, quanto ao SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com ele; nisto, pois, procedeste loucamente porque desde agora haverá guerras contra ti." [2 Crônicas 16:9].
Aproximando-se do Livro do Apocalipse
Para muitos fiéis cristãos, eu mesmo incluído, o Apocalipse veio como uma explosão da ira do Velho Testamento após a mensagem do Evangelho repleta de graça. Mas, essa ira sempre esteve pairando sobre a humanidade. Ela nunca saiu de vista sua chocante inevitabilidade sempre esteve implicada, independente de qual profeta de Deus estava falando. De fato, vimos isso nas palavras do grande arauto, João o Batista, que, quando viu os fariseus virem até o deserto para ouvi-lo, perguntou:
"Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?" [Mateus 3:7].
A "ira futura" é uma referência à Tribulação no fim dos tempos. Por meio de sua obra admirável no Calvário, o Cordeiro de Deus, um sacrifício vicário aceitável a Deus, deu Sua vida para que todos que creem em Seu nome possam ser poupador da ira do fim dos tempos:
"E esperar dos céus o seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura." [1 Tessalonicenses 1:10].
Neste ensaio desejamos examinar as epístolas que precedem imediatamente o livro do Apocalipse e, se possível, encontrar ali palavras de consolação fornecidas expressamente pelo Espírito Santo que possam suavizar o impacto, por assim dizer, do poderoso testemunho no livro final.
As seis epístolas em questão são aquelas escritas por Pedro, João e Judas, respectivamente. Vamos considerá-las nessa ordem.
Múltiplas Ocorrências
Múltiplas ocorrências da mesma palavra na mesma passagem da Escritura são bem raras. Quando elas ocorrem, têm a intenção de enfatizar, ou intensificar, a mensagem que está sendo transmitida. Um dos exemplos mais admiráveis disso pode ser encontrado no livro do profeta Jeremias:
"Ouvimos da soberba de Moabe, que é soberbíssimo, como também da sua arrogância, e da sua vaidade, e da sua altivez e do seu orgulhoso coração." [Jeremias 48:29].
Esta declaração enfática tem uma passagem paralela em Isaías:
"Ouvimos da soberba de Moabe, que é soberbíssimo; da sua altivez, da sua soberba, e do seu furor; porém, as suas mentiras não serão firmes." [Isaías 16:6].
Poderíamos citar muitos outros exemplos, mas o propósito está claro. É como se a palavra ou frase em questão fale muito mais alto quando ela vem a nós repetidamente deste modo.
Em sua primeira carta, o apóstolo Pedro utiliza esse dispositivo retórico por meio do uso repetido da palavra "preciosa" (em grego timios ou entimos):
"Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo." [1 Pedro 1:7].
"Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado." [1 Pedro 1:19].
"E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa." [1 Pedro 2:4].
"Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido." [1 Pedro 2:6].
"E assim para vòs, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes,a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina." [1 Pedro 2:7].
A palavra "preciosa" ecoa como um coro na carta de Pedro. Dados os versos em que ela é utilizada e o sentido geral em que o Espírito Santo a usa, Ele está dizendo: Um preço imenso foi pago para a sua salvação, um preço tão grande que você dificilmente consegue compreender. Isso implica que nenhuma tribulação ou aflição que possamos ter de enfrentar pode diminuir de alguma forma a majestade e a magnitude daquilo que Jesus Cristo alcançou a nosso favor no Calvário. Se pudermos manter isso em mente, nunca iremos desfalecer ou desanimar.
Pedro continua na mesma veia em sua segunda carta:
"Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo." [2 Pedro 1:1].
"Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo." [2 Pedro 1:4].
Essas "grandes e preciosas promessas" são incompreensíveis. Por mais que tentemos, nunca encontraremos algo em nossa experiência terreal que possa se comparar por um momento com a glória e esplendor que nos aguardam em Cristo.
Ao chegarmos mais perto do livro do Apocalipse, o Espírito Santo pega aquilo que Pedro disse e leva até um clímax. Para apreciar como Ele faz isso, precisamos olhar para o modo como certas palavras escolhidas por João, tão inócuas em si mesmas, pulsam com significado na Escritura. A frase em questão é "face a face":
"Tendo muito que escrever-vos, não quis fazê-lo com papel e tinta; mas espero ir ter convosco e falar face a face, para que o nosso gozo seja cumprido." [2 João 1:12].
"Espero, porém, ver-te brevemente, e falaremos face a face." [3 João 1:14].
Sem dúvida, milhões de fiéis cristãos já leram esses versos e assumiram que eles se referiam somente a algo que João queria fazer, Mas, devemos manter o exemplo dos Salmos em mente, onde aqui e ali, versos específicos e separados falam de Jesus, não simplesmente de Davi. Bem, esses versos, acredito, podem ser tomados na mesma veia. Se abordarmos desse modo a segunda e terceira cartas de João, que parecem pequenas e de pouca importância, elas podem ser vistas como uma certeza amorosa do próprio Jesus que Ele também está aguardando ansiosamente o dia aquele dia precioso quando Ele virá e falará conosco face a face.
Face a Face
Vamos examinar o modo como a expressão "face a face" é usada em outros lugares na Escritura. Não temos de olhar muito longe para descobrir que isto quase invariavelmente denota um encontro dramático entre o homem e Deus!
Considere os seguintes versos, que constituem todas as ocorrências (além das cartas de João) em que esta expressão é usada:
"E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva." [Gênesis 32:30].
"E falava o SENHOR a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo; depois tornava-se ao arraial; mas o seu servidor, o jovem Josué, filho de Num, nunca se apartava do meio da tenda." [Êxodo 33:11].
"E dirão aos moradores desta terra, os quais ouviram que tu, ó SENHOR, estás no meio deste povo, que face a face, ó SENHOR, lhes apareces, que tua nuvem está sobre ele e que vais adiante dele numa coluna de nuvem de dia, e numa coluna de fogo de noite." [Números 14:14].
"Face a face o SENHOR falou conosco no monte, do meio do fogo." [Deuteronômio 5:4].
"E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o SENHOR conhecera face a face." [Deuteronômio 34:10].
"Então viu Gideão que era o anjo do SENHOR e disse: Ah, Senhor DEUS, pois vi o anjo do SENHOR face a face." [Juízes 6:22; Gideão tinha acabado de se encontrar com o Cristo pré-encarnado].
"E vos levarei ao deserto dos povos; e ali face a face entrarei em juízo convosco." [Ezequiel 20:35; isto se refere ao encontro espetacular no fim dos tempos entre Jesus e a nação de Israel.].
"Aos quais respondi não ser costume dos romanos entregar algum homem à morte, sem que o acusado tenha presentes os seus acusadores, e possa defender-se da acusação." [Atos 25:16; isto prefigura outro encontro face a face entre o homem e Deus, em que os "ímpios" (que discutiremos em breve) serão julgados diante de Jesus Cristo, que estará assentado no Grande Trono Branco].
"Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido." [1 Coríntios 13:12].
Que epifania gloriosa está inserida nestas simples palavras, face a face!
Elas são como o chamado de um arauto, o toque de trombeta soando a partir das páginas da Escritura. É o destino de todos os fiéis cristãos ficarem diante de nosso Salvador e vê-lo face a face. Como o Senhor disse a Abrão: "Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão." [Gênesis 15:1].
Nas nove ocasiões em que é isso é usado antes das cartas de João, a referência é a algo de significado infinito. Isso está em agudo contraste com o humilde papel que ela parece exercer nas cartas de João. Entretanto, se tomarmos essa "definição" bíblica dessas novas ocasiões anteriores como deveríamos podemos ver como isso indica algo verdadeiramente profundo nas cartas de João, isto é o vindouro encontro do fiel cristão com Jesus. Como tal, isso aponta para o fim dos tempos e para a destruição final do sistema terreal satânico, quando todos que amam a Deus se encontrarão com o Filho de Deus face a face.
Isto também inclui outro tipo de encontro face a face, quando aqueles que rejeitam o Filho de Deus a quem a Palavra de Deus chama de "os ímpios" terão eventualmente de se ajoelhar diante de Jesus, o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Pedro já tinha nos preparado para isso em suas duas cartas:
"E, se o justo apenas se salva, onde aparecerá o ímpio e o pecador?" [1 Pedro 4:18].
"E não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, a oitava pessoa, o pregoeiro da justiça, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios." [2 Pedro 2:5].
"E condenou à destruição as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinza, e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente." [2 Pedro 2:6].
"Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios." [2 Pedro 3:7].
O Espírito Santo expressou uma doutrina para nossa edificação nas cartas de Pedro, à qual Ele retorna posteriormente em Judas:
"Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios." [Judas 1:4].
"Para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele." [Judas 1:15].
"Os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências." [Judas 1:18].
Judas está usando a palavra "ímpios" como um martelo, especialmente no verso 1:15! Os homens precisam compreender esta mensagem, ele insiste! Não há salvação fora de Jesus Cristo e todos que rejeitam essa salvação enfrentarão a ruína espiritual. Dificilmente o contraste poderia ser mais chocante, ou Sua declaração mais enfática.
Grande é a misericórdia de Deus, pois o contramartelo, por assim dizer, está também trabalhando com fervor incessante na primeira carta de João, onde a palavra amor, em várias formas gramaticais, ocorre não menos do que 51 vezes! A epístola virtualmente explode com uma ênfase no amor imensurável de Deus. O Espírito Santo está dizendo que precisamos nos submeter a esse amor e expressá-lo em nossas vidas, se quisermos saber quem Ele realmente é. Se fizermos isso, veremos por que Jesus é tanto o Leão e o Cordeiro, e por que Ele precisará julgar os ímpios e "fazer a sua obra, a sua estranha obra, e para executar o seu ato, o seu estranho ato." [Isaías 28:21].
ConclusãoO orgulho do homem é a sua ruína. O que era verdadeiro a respeito de Moabe no tempo de Jeremias é verdadeiro hoje a respeito da humanidade:
"Ouvimos da soberba de Moabe, que é soberbíssimo, como também da sua arrogância, e da sua vaidade, e da sua altivez e do seu orgulhoso coração." [Jeremias 48:29].
O julgamento, quando vier, será severo. Os ímpios não darão ouvidos, mas em algum lugar, entre aqueles que ainda não vieram a Cristo em fé, existem almas receptivas que reconhecerão algo especial quando ouvirem a Palavra de Deus desde que tenhamos a coragem e a compaixão para proclamá-la e compartilhá-la. Podemos pegar o exemplo de Ebede-Meleque como um exemplo reluzente daquilo que devemos fazer.
Como fiéis cristãos, somos recebedores de uma bênção que é grande demais para nossa mente limitada compreender. Apesar disso, por meio da obra do Espírito Santo que habita em nós, podemos ver de forma rápida e imperfeita, a glória indizível que ainda está para ser revelada.
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Autor: Jeremy James, artigo em http://www.zephaniah.eu
Data da publicação: 15/11/2022
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