Doze Truques Para Conseguir a Aprovação de uma Concordata

Fonte: Concordat Watch

Sinopse: Para o caso de você vir a ocupar o posto de Secretário de Estado do Vaticano, aqui estão doze truques para ajudá-lo a conseguir que as concordatas sejam assinadas e ratificadas. Também estão incluídos muitos exemplos dos seus predecessores. Acima de tudo, não se esqueça da "cláusula da ratoeira", que livra a concordata do controle democrático para sempre e permite que você avance para a próxima. Fortuna!

Você acaba de ser indicado Secretário de Estado do Vaticano, o segundo em comando depois do papa. Você sucederá o formidável cardeal Bertone e assumirá responsabilidade pelos negócios da Igreja, tanto na Cidade do Vaticano quanto no mundo inteiro. Para ajudá-lo a conduzir a diplomacia do Vaticano, você terá um ministro das Relações Exteriores (chamado de Secretário das Relações com os Estados). Entretanto, o trabalho de conseguir a ratificação das concordatas estará sob sua responsabilidade. Para ajudá-lo nas negociações, aqui estão algumas dicas, com exemplos úteis de como seus predecessores agiram para concluir muitas centenas de concordatas:

1. Nunca se esqueça da cláusula da ratoeira no fim do documento. Ela faz com que a concordata vigore para sempre. Logicamente, você precisará redigir a frase de um modo bastante suave, usando o termo "mútuo consentimento", mas o verdadeiro significado é que qualquer alteração (inclusive o cancelamento) precisará ter o consentimento do Vaticano. Isso efetivamente retira a concordata do controle do Parlamento e dá ao Vaticano o poder de veto sobre quaisquer modificações — para sempre.

2. Se possível, faça a concordata com um ditador. Assim, você não terá de se preocupar que uma legislatura democrática possa bloquear o acordo: a assinatura do ditador é tudo o que você precisa conseguir. Como disse um superior-geral da Ordem dos Jesuítas: "A Sé Apostólica, para evitar o risco de zombarias, normalmente entra em solenes envolvimentos somente onde um governo civil não esteja debaixo da obrigação de buscar o consentimento de um corpo representativo..." [1].

3. Se não houver um ditador disponível, busque o apoio de políticos obedientes e submissos para garantir que a concordata seja ratificada. O superior-geral dos jesuítas continua: "... ou onde não possa haver dúvida razoável que esse consentimento possa ser obtido." Esses políticos ajudarão na aprovação da concordata, ou porque são católicos conservadores que estão dispostos a sacrificar as vontades de seu eleitorado às vontades do papa, ou porque precisam do apoio político do Vaticano. E não se esqueça de receber as dívidas de gratidão. Um acordo financeiro e jurídico altamente favorável ao Vaticano teria envolvido "ligações telefônicas entre pessoas influentes na alta cúpula do sistema político, que a Igreja estava pedindo a retribuição de favores de velhos amigos nos altos escalões." [2].

4. Não faça concordatas durante uma guerra. Aguarde, e depois negocie com o vitorioso. Há um perigo com as alterações frequentes demais, pois quanto mais uma concordata recebe aditamentos, mais poder simbólico é perdido. Deve permanecer politicamente impensável que as concordatas possam ser alteradas ou revogadas sempre que desejado. (A vontade dos eleitores não conta.).

5. Dicas de assinatura. Para evitar muitas perguntas, pode ser útil fazer a concordata ser assinada quando o Parlamento do país não estiver em sessão, como na Polônia, em 1933. Melhor ainda, é claro, é manter o texto da concordata em segredo até que ela seja assinada. Isso apresenta aos legisladores um fait accompli (fato consumado): um documento já assinado pelo chefe de Estado e que não pode mais receber emendas. Neste ponto, a concordata somente pode ser aceita ou rejeitada em sua totalidade. [5].

6. Dicas para a ratificação. Uma vez que a concordata seja assinada, tente conseguir agendar para que ela seja ratificada depois de poucos dias. Isso evita um debate apropriado no Parlamento, elimina a discussão pelo público e não permite tempo hábil para que juristas independentes possam examinar um documento complicado e escrito em uma linguagem opaca.

Tente conseguir a ratificação da concordata por todos os meios possíveis, constitucionais, ou não.

7. Se você não conseguir que ela seja ratificada imediatamente, sente-se rígido e aplique pressão constante. Uma futura eleição pode fazer o governo vir buscar o apoio da Igreja, ou talvez um governo mais pró-Vaticano chegue ao poder. O tempo está ao nosso favor. As concordatas funcionam como rodas dentadas: os progressos serão preservados e quaisquer derrotas não.

8. "O primeiro a chegar é o primeiro a moer". Sendo um clérigo da Igreja, você conhece este provérbio latino: Primus veniens primus molet, que se refere à longa fila de produtores rurais que aguardavam para moer seus grãos nos moinhos romanos, como este em Córdoba. Isso significa que você deve tentar fazer sua concordata ser aprovada antes que o país obtenha uma legislação democrática competidora, como uma Constituição ou uma Lei da Liberdade Religiosa. (Mesmo que você somente tiver tempo para conseguir a assinatura da concordata, mas não a ratificação, isto pode fazer o truque funcionar.) Então você tem o fait accompli jurídico, em que a Constituição ou outras leis básicas precisam se acomodar à concordata, e não o contrário. Destarte, o Vaticano chega até a determinar as regras básicas do país. Entretanto, se você não obtiver isso, então pode ser necessário conseguir a modificação da Constituição do país.

9. Use a abordagem suave da "Concordata de Estrutura". Esse tratado é como uma boneca russa: ele promete tratados adicionais, com os detalhes a serem negociados posteriormente. Essa abordagem gradual o ajudará a superar a oposição política.

10. Prepare o terreno para futuras concordatas, mesmo antes da divisão de um país. É especialmente recomendável incentivar tacitamente as ambições separatistas de um enclave católico.

11. Compartilhe o bolo. Muitos que afirmam comprometimento com a separação Igreja-Estado podem ser subornados. (Você pode depois chamar os opositores de "secularistas fundamentalistas"). Dê-lhes uma pequena fatia para que você possa guardar o resto do bolo para si. Citando o ecumenismo do Concílio Vaticano II, encoraje seus acordos Igreja-Estado". Esses acordos não têm a força de um tratado internacional, mas servem para fazer as outras religiões "reconhecidas" se sentirem importantes e darem seu apoio para a concordata.

12. Naturalmente, não mencionaremos os "entendimentos" com membros da Opus Dei e outros políticos católicos conservadores. Entretanto, mesmo em público, se você usar as palavras corretas, pode eficazmente usar ameaças e promessas para fazer avançar as negociações.

As visitas do papa são úteis: como as mensagens delas são altamente políticas, mostram aos políticos a força do eleitorado católico conservador e, como um benefício adicional, elas são pagas pelo seu anfitrião. (Veja: The hallelujah weekend of Ireland e Papal photo-up for the next concordat).

Notas Finais

1. Francis Xavier Wernz, SJ, Jus Decretalium I, 166, (Roma, 1905). Ele foi um famoso canonista na Universidade Gregoriana, em Roma, que mais tarde se tornou superior-geral da Sociedade dos Jesuítas e um assessor de confiança do papa Pio X. http://www.americamagazine.org/articles/orsy.htm

2. Sam Smyth, "State lost high-stakes game with two nuns", Independent.ie, 22 de maio de 2009. http://www.independent.ie/opinion/analysis/state-lost-highstakes-game-with-two-nuns-1747597.html

3. "Konkordat in Brandenburg", IBKA Rundbrief, dezembro de 2003. http://www.ibka.org/artikel/rundbriefe03/brandenburg.html

4. Gerd Wartenberg, “Offener Brief an die Mitglieder des Landtags und der Landesregierung Brandenburgs”, 30 de outubro de 2003. http://www.ibka.org/artikel/ag03/hvbbkon.html

5. Jaime Rossell, “State-Religion relations in Spain and Portugal: a brief outline”, 1999, pág. 5. http://www.olir.it/areetematiche/56/documents/Rossell_Istanbul1999.pdf. O autor é um professor de Direito na Universidade de Extremadura.

6. Frans Hoppenbrouwers, “Nationalistic Tendencies In The Slovak Roman Catholic Church”. Religion in Eastern Europe, Volume XVIII, Number 6, dezembro de 1998, pág. 7-8. O autor é um historiador da Igreja Católica Romana e Secretário de Estudos da organização de auxílio da Igreja Católica Romana Holandesa, Communicantes.



Fonte: "Concordat Watch", em http://www.concordatwatch.org/showtopic.php?org_id=872&kb_header_id=31731
Data da publicação: 6/8/2009
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A Espada do Espírito: http://www.espada.eti.br/cw-02.asp