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Criado junto com o FMI na Conferência de Bretton Woods, em 1944, o Banco Mundial (originalmente chamado de BIRD, ou Banco Internacional Para Reconstrução e Desenvolvimento), sempre foi chefiado por agentes dos banqueiros internacionais, por membros do Conselho das Relações Exteriores (CFR) e/ou da Comissão Trilateral. A corrupção e o favorecimento correm soltos à medida que bilhões de dólares de um fundo público internacional são alocados para financiar projetos nos países em desenvolvimento e caem em mãos privadas.
De acordo com próprio Banco Mundial, ele é: Introdução
"... uma fonte vital de assistência financeira e técnica para os países em desenvolvimento em todo o mundo. Não somos um banco no sentido comum. Somos formados por duas instituições singulares de desenvolvimento, que pertencem aos 184 países-membro o Banco Internacional Para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Associação Para o Desenvolvimento Internacional (IDA, do acrônimo em inglês). Cada instituição exerce um papel diferente, mas de apoio em nossa missão de redução global da pobreza e da melhoria nas condições de vida. O BIRD enfoca os países de renda média e que merecem receber crédito, enquanto que a IDA enfoca os países mais pobres do mundo. Juntos, fornecemos empréstimos com taxas de juros baixas, crédito sem juros e fundos para os países em desenvolvimento aplicarem em educação, saúde, infra-estrutura, comunicações e em muitos outros propósitos." [1].
Palavras nobres e elevadas, como "nossa missão de redução global da pobreza e a melhoria das condições de vida" levam o leitor a acreditar que o Banco Mundial seja uma organização benevolente e interessada no bem-estar global. Por que, então, o Banco Mundial se junta com o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial de Comércio como organizações que as pessoas em todo o mundo gostam de odiar?
Na realidade, o Banco Mundial usa a força do seu peso, junto com o Fundo Monetário Internacional e o Banco de Compensações Internacionais para levar os países pequenos e mais pobres do mundo a se integrarem em sua própria variedade de democracia capitalista.
Inícios do Banco Mundial
O Banco Mundial é um irmão do FMI e foi criado na Conferência Monetária e Financeira em Bretton Woods, no estado americano de New Hampshire, em julho de 1944. O nome original dado ao Banco Mundial era Banco Internacional Para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e reflete sua missão original: reconstruir a Europa após a devastação da Segunda Guerra Mundial. O nome "Banco Mundial" só foi adotado em 1975.
Tanto o BIRD quanto o FMI foram criados como agências especializadas das Nações Unidas, o que eles continuam sendo até hoje.
A palavras "Desenvolvimento" no nome BIRD eram bem insignificantes naquele tempo, pois a maior parte do Hemisfério Sul ainda estava sob o domínio colonial e cada país-metrópole era responsável pelas atividades comerciais em suas respectivas colônias.
Nota: Alguns estudiosos argumentam que havia um desejo original por parte das elites bancárias de dar fim ao colonialismo, reestruturando os padrões de investimento e comércio nos países colonizados. Este relatório não tratará dessa questão, mas deve-se observar que foi exatamente isso o que aconteceu, em muitos casos sendo ajudado pelas operações do Banco Mundial e do FMI.
Entretanto, como um banco da "reconstrução", o Banco Mundial foi impotente. Ele no fim emprestou somente US$ 497 milhões para projetos de reconstrução. O Plano Marshall, em contraste, tornou-se a verdadeira locomotiva para a reconstrução da Europa, emprestando mais de US$ 41 bilhões até 1953.
Os principais arquitetos do Banco Mundial foram Harry Dexter White e John Maynard Keynes, ambos os quais foram mencionados no artigo anterior (o Fundo Monetário Internacional) como segue:
"Tais eram a fibra moral e as credenciais intelectuais dos criadores do FMI: Um deles era um economista e ideólogo inglês com uma inclinação marcadamente globalista, e o outro era um funcionário de alto escalão do governo americano e que era também um espião soviético."
Plano Marshall: Um plano de recuperação econômica proposto pelo Secretário de Estado americano George Catlett Marshall, em 5 de junho de 1947, para reconstruir a Europa após o fim da Segunda Guerra Mundial. Algumas pessoas sugerem que precisamos hoje de outro Plano Marshall para ajudar a reconstruir outras economias devastadas, como a dos países em desenvolvimento.
Estrutura do Banco Mundial
Hoje, o Banco Mundial consiste de duas unidades principais: Os já mencionados BIRD e a Associação Para o Desenvolvimento Internacional (IDA), criada em 1960.
O BIRD empresta somente para governos que mereçam receber créditos; em outras palavras, há uma expectativa que eles devolverão os empréstimos. A IDA, por outro lado, somente empresta para os governos que não mereceriam crédito e são normalmente os países mais pobres do mundo. Juntos, eles criam modalidades de empréstimos para qualquer governo que eles convençam a contrair dívidas. Os EUA atualmente contribuem com aproximadamente US$ 1 bilhão por ano de dinheiro dos impostos pagos pelos contribuintes para a IDA.
Três outros afiliados combinam com o Banco Mundial, para serem coletivamente chamados de Grupo do Banco Mundial:
A International Finance Corporation (IFC) Fundada em 1956, empresta diretamente ao setor privado dos países em desenvolvimento.
A Agência Multilateral de Garantias de Investimentos (MIGA, de Multilateral Investment Guarantee Agency) Fundada em 1988, fornece garantias para os investidores que financiam projetos em países em desenvolvimento contra as perdas causadas por riscos não-comerciais.
O Centro Internacional Para Solução de Disputas em Investimento (ICSID, de International Center for Settlement of Investment Disputes) Fundado em 1966, fornece facilidades internacionais para a conciliação e arbitragem das disputas envolvendo investimentos.
A sede do Banco Mundial está situada em Washington. O banco tem aproximadamente 7.000 funcionários no complexo em sua sede e mais 3.000 em 109 escritórios espalhados pelos países-membro.
O BIRD financia suas operações de empréstimos vendendo títulos com classificação AAA e outros instrumentos de dívida aos outros bancos, fundos de pensão, seguradoras e grandes empresas em todo o mundo. Em contraste, a IDA é financiada pelas contribuições (dinheiro dos impostos dos contribuintes) dos países-membro. Os níveis atuais de empréstimo são aproximadamente iguais entre o BIRD e a IDA. Enquanto a IFC gere seu próprio capital nos mercados abertos, a MIGA e ICSID recebem a maioria de seu financiamento do Banco Mundial, muito do qual é financiado pelos contribuintes.
A propriedade do Banco Mundial consiste de ações com direito a voto mantidas pelos países-membro, de acordo com o tamanho e as contribuições. Atualmente, os EUA são o maior acionista, com 16,4% do total de votos. Os próximos maiores blocos são Japão (7,9%) e Alemanha (4,5%). Como as grandes decisões requerem uma supermaioria com 85% dos votos, os EUA podem efetivamente vetar qualquer alteração (100%-16,4%=83,6%)
Hegemonia Americana
Deve-se observar que a Organização das Nações Unidas está sediada nos Estados Unidos, em terreno doado originalmente por David Rockefeller. A Conferência de Bretton Woods foi realizada no estado americano de New Hampshire. Todo presidente do Banco Mundial vem dos Estados Unidos. Não é maravilha que o resto do mundo veja o Banco Mundial como uma operação americana.
Hegemonia: Na área comercial, este termo indica o domínio de um grupo sobre outro, de tal modo que o grupo dominante pode ditar os termos do comércio de uma forma que lhe seja mais vantajosa.
Existe uma regra não-oficial, porém tradicional, que o presidente do Banco Mundial sempre será um norte-americano, enquanto que o presidente do FMI é sempre um europeu. (Houve uma exceção recente, pois um ex-presidente do FMI foi um canadense.)
É instrutivo revisar os ex-presidentes do Banco Mundial, porque isso demonstra qual cabala da elite realmente está no controle das operações do Banco Mundial e também apontará fortemente para os verdadeiros beneficiários da hegemonia do Banco Mundial. As biografias completas e as realizações desses homens excedem em muito o espaço disponível neste relatório, de modo que somente alguns pontos salientes serão mencionados.
1. Eugene Meyer De junho a dezembro de 1946. Presidente da Junta de Governadores da Federal Reserve, de 1930 a 1933; dono do jornal The Washington Post; membro do Conselho das Relações Internacionais (o CFR); agente do Lazard Freres, Brown Brothers, Harriman; indicado para a chefia da War Finance Corporation durante a Primeira Guerra Mundial pelo presidente Woodrow Wilson.
2. John J. McCloy. De março de 1947 a abril de 1949. Membro do Conselho das Relações Internacionais; presidente da Fundação Ford; presidente do banco Chase Manhattan; sua firma de advocacia dava assessoria para o banco Chase Manhattan.
3. Eugene Black. De julho de 1949 a dezembro de 1962. Presidente da Junta de Governadores da Federal Reserve de 1933-34; vice-presidente sênior do banco Chase Manhattan; membro do Conselho das Relações Internacionais; membro do grupo Bilderberg; criou a International Finance Corporation e a International Development Association dentro do Banco Mundial.
4. George Wood. De janeiro de 1963 a março de 1968. Vice-presidente da Harris, Forbes & Co.; vice-presidente do banco Chase; vice-presidente e membro da diretoria do First Boston Corp., um dos maiores bancos de investimentos dos EUA.
5. Robert Strange McNamara. De abril de 1968 a junho de 1981. Presidente e diretor da Ford Motor Company; Secretário da Defesa nas administrações Kennedy e Johnson; membro da Comissão Trilateral; membro do Conselho das Relações Internacionais e do grupo Bilderberg; curador honorário do Aspen Institute. Negociou pessoalmente a entrada da China no Banco Mundial.
6. A. W. Clausen. De julho de 1981 a junho de 1986. Presidente, executivo-chefe e presidente do Conselho do Bank of America; membro da Comissão Trilateral; membro do Comitê de Bretton Woods.
7. Barber B. Conable. De julho de 1986 a agosto de 1991. Membro da Casa dos Representantes (Congresso) dos EUA de 1965 a 1985; membro da Comissão Trilateral e do Conselho das Relações Internacionais; membro sênior do American Enterprise Institute; membro da junta da Bolsa de Valores de Nova York; membro da Comissão Sobre Governança Global.
8. Lewis T. Preston. De setembro de 1991 a maio de 1995. Membro, executivo-chefe e presidente do Conselho do banco J. P. Morgan & Co.; presidente do comitê executivo; vice-presidente do Morgan Guaranty Trust Co.; membro e tesoureiro do Conselho das Relações Internacionais; diretor da General Electric.
9. James D. Wolfensohn. De junho de 1995 a 2000. Sócio executivo e chefe do departamento de investimento bancário da Salomon Brothers (Nova York); executivo vice-presidente e diretor administrativo da Schroders Ltd. (Londres); diretor da Fundação Rockefeller; membro da junta da Universidade Rockefeller; curador honorário da Brooking Institution; diretor do Population Council (Conselho Populacional), uma organização fundada por John D. Rockefeller; membro do Conselho das Relações Internacionais.
10. Paul Wolfowitz. De 2005 até meados de 2007. Subsecretário da Defesa (2001-2005; membro da Comissão Trilateral; membro do Conselho das Relações Internacionais; membro do grupo Bilderberg; diretor da organização que é o carro-chefe dos neoconservadores, o Project for the New American Century (PNAC); membro do grupo de elite "Vulcans", que assessorou George W. Bush em política externa durante as eleições presidenciais em 2000 (outros membros neoconservadores incluíam Condoleezza Rice, Collin Powell e Richard Perle); membro e orador freqüente no Social Democrats USA (sucessor do Partido Socialista da América).
[NT: Desde julho de 2007, o presidente é Robert B. Zoellick. Foi vice-presidente internacional do Goldman Sachs Group; foi subsecretário do Departamento de Estado (de 2005 a 2006); anteriormente serviu como Representante Comercial dos EUA (período de 2001-2005); de 1985 a 1993, exerceu diversas funções de alto escalão no Departamento do Tesouro. Membro do Conselho das Relações Internacionais.].
Um padrão importante emerge aqui. Esses homens estruturam um período de sessenta anos que vai de 1946 a 2006. Os primeiros presidentes há muito tempo já faleceram. Não há conexão social alguma entre os primeiros e os últimos presidentes. Todavia, sete dos dez são (ou foram) membros do Conselho das Relações Internacionais (o CFR); quatro são (ou foram) membros da Comissão Trilateral, sete têm importantes afiliações com bancos internacionais (Chase Manhattan, J. P. Morgan, Bank of America, First Boston, Brown Brothers, Harriman, Salomon Brothers, Federal Reserve) e quatro homens estavam diretamente conectados com os interesses dos Rockefellers.
Comissão Trilateral: Uma organização privada fundada em 1973 por David Rockefeller e Zbigniew Brzezinski. Existem cerca de 300 membros, que são vitalícios e provenientes da Europa, Japão e América do Norte. Esses membros elitistas consistem de diretores de grandes empresas, acadêmicos e políticos de alto escalão.
Uma análise detalhada não é necessária para ver um padrão emergir: Os banqueiros internacionais (a mesma velha turma) e seus procuradores globais relacionados, dominam totalmente o Banco Mundial desde sua criação. Coletiva e individualmente, eles sempre operaram de forma propositada e consistente para seu próprio favorecimento e ganho financeiro. Por que alguém deveria esperar que um deles agisse de forma diferente (por exemplo, realmente se preocupando com a pobreza no mundo) ao mesmo tempo em que controlam o volante do Banco Mundial?
Propósitos de Conveniência
Sejam lá quais tenham sido os verdadeiros propósitos do Banco Mundial e do FMI, os propósitos publicamente mostrados mudaram quando isso foi conveniente e necessário.
Em 1944, a reconstrução dos países devastados após a Segunda Guerra Mundial era a questão importante.
Quando o Banco demonstrou sua impotência ao emprestar somente uma ninharia inferior a US$ 500 milhões, ele mudou sua imagem pública posicionando-se como o peso e contrapeso para a expansão do comunismo. Sem o Banco Mundial para envolver todos os países pequenos e menos importantes do mundo que eram susceptíveis à influência comunista, o comunismo poderia se espalhar e, mais tarde, ameaçar encerrar a guerra fria com um horrendo holocausto nuclear.
Com o tempo, os sentimentos público e legislativo diminuíram e o Banco ficou novamente sob fortes críticas quando Robert Strange McNamara foi indicado para assumir a presidência.
Redução da Pobreza: O Cavalo de Tróia
Como observado anteriormente, McNamara foi presidente do Banco Mundial de 1968 a 1981. Ele também esteve entre os membros originais da Comissão Trilateral, fundada em 1973 por Rockefeller e Brzezinski, e era considerado uma figura central na elite global do seu tempo.
Foi McNamara quem fez o foco do Banco Mundial se voltar para a pobreza e a redução da pobreza. Essencialmente, essa ação continua até hoje. Essa foi uma manobra brilhante por que quem diria ser contra os pobres e a favor da pobreza? Qualquer ataque ao banco seria, portanto, visto como um ataque contra as políticas para a redução da pobreza. Desde 1968, o brado de guerra do Banco é: "Vamos eliminar a pobreza".
Isto pode ser visto claramente na página About Us (Sobre Nós) no sítio do banco na Internet, em que estas palavras são mostradas de forma proeminente:
"Cada instituição (o BIRD e a IDA) têm uma função diferente, porém de apoio, em nossa missão de reduzir a pobreza e melhorar os padrões de vida em todo o mundo." [ênfase adicionada].
Entretanto, o Artigo 1 dos Artigos do Acordo do BIRD, emendado em 16 de fevereiro de 1989, declara seus propósitos oficiais como segue:
(i) Cooperar na reconstrução e desenvolvimento dos territórios dos membros facilitando o investimento do capital para propósitos produtivos, incluindo a restauração das economias destruídas ou prejudicadas pela guerra, a reconversão das instalações fabris para as necessidades dos tempos de paz e o incentivo para o desenvolvimento das instalações produtivas e dos recursos nos países menos desenvolvidos.
(ii) Promover o investimento estrangeiro privado por meio de garantias ou participações em empréstimos e outros investimentos feitos por investidores privados; quando o capital privado não estiver disponível em termos razoáveis, suplementar o investimento privado fornecendo, em condições adequadas, o financiamento para propósitos produtivos com seu próprio capital, fundos arrecadados por ele e seus outros recursos.
(iii) Promover o crescimento equilibrado de longo prazo do comércio internacional e a manutenção do equilíbrio da balança de pagamentos encorajando o investimento internacional para o desenvolvimento dos recursos produtivos dos membros, desse modo ajudando a elevar a produtividade, o padrão de vida e as condições de trabalho em seus territórios.
(iv) Escalonar os empréstimos feitos ou garantidos por ele em relação aos empréstimos internacionais por meio de outros canais para que os projetos mais úteis e urgentes, tanto grandes quanto pequenos, recebam prioridade.
(v) Conduzir suas operações com a devida consideração pelos efeitos dos investimentos internacionais em condições comerciais nos territórios dos membros e, nos anos imediatos do pós-guerra, ajudar a fazer uma transição tranqüila de uma economia de tempo de guerra para uma economia de tempo de paz.
O banco será guiado em todas suas decisões pelos propósitos delineados acima. [3].
Observe que a palavra "pobreza" não aparece uma única vez. A razão é clara: Sempre que "negócios da forma usual" puderem ser feitos pelo Banco, ele não tem nada que ver com pobreza ou redução da pobreza. Ao contrário, o Banco atua no ramo de emprestar dinheiro, estimulando a demanda por empréstimos nos países em desenvolvimento, visando o aumento do comércio internacional. Os principais beneficiários do comércio internacional são as grandes transnacionais e os pobres ficam na verdade mais pobres como resultado.
Essa hipocrisia foi observada no fim de 2002 pelo ganhador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, ex-economista-chefe do Banco Mundial:
"No que se refere a esses 'países clientes', era uma charada na qual os políticos fingiam fazer alguma coisa para compensar os problemas [da pobreza] enquanto os interesses financeiros operavam para preservar o máximo do status quo que fosse possível." [4].
Liberalização e Ajustes Estruturais
Quando Adlen Clausen (também um membro original da Comissão Trilateral) assumiu o reinado de Robert McNamara em 1981, ocorreu uma grande modificação no banco. Como Stiglitz observou:
"No início dos anos 1980, ocorreu um expurgo dentro do Banco Mundial, em seu departamento de pesquisa, que guiava o pensamento e a direção do Banco." [5].
Clausen, um verdadeiro membro do núcleo da elite global, trouxe uma nova economista-chefe com novas idéias radicais:
"... Ann Krueger, uma especialista em comércio internacional, melhor conhecida pelo seu trabalho sobre 'procura por rendimentos' como os interesses especiais usam as tarifas e outras medidas protecionistas para aumentar seus rendimentos à custa dos outros... Krueger via o governo como o problema. Os livres mercados eram a solução para os problemas dos países em desenvolvimento." [6].
Foi precisamente nesta época que as políticas de liberalização e Ajustes Estruturais foram impostas e implementadas como meio de forçar os países a privatizarem suas indústrias. Se os governos eram o problema, então eles deveriam entregar as áreas críticas da infra-estrutura para as empresas multinacionais privadas que, de acordo com Krueger, poderiam operar melhor e com maior eficiência que os organismos burocráticos estatais.
Liberalização: Na área do comércio internacional, a redução das restrições governamentais, incluindo tarifas e cotas. Devido à liberalização dos fluxos de capitais, a mobilidade dos capitais e dos investimentos entre os países cresceu consideravelmente. Liberalização não é sinônimo de privatização.
Sem qualquer surpresa, a maior parte dos economistas de carreira deixaram o Banco no início dos anos 1980 em protesto pelas políticas de Clausen e Krueger.
Como Funciona a Lavanderia de Dinheiro
O mecanismo e operação dos Ajustes Estruturais, junto com a rígida cooperação entre o FMI e o Banco Mundial, foram adequadamente cobertos na Parte 1, "O Sistema Financeiro Global: O Fundo Monetário Internacional". O seguinte exemplo bem documentado será a "figura que vale mais do que mil palavras" em nosso esforço de traçar o perfil das políticas empresariais globais e do Banco. Isto também demonstra a abordagem coordenada entre o Banco Mundial e o FMI para espreitar e abrir os mercados fechados em países não-cooperativos. Esta é uma história um pouco confusa, mas a leitura atenta oferecerá uma compreensão de como o "sistema" funciona.
A Guerra da Água Em 1998, o FMI aprovou um empréstimo de US$ 138 milhões à Bolívia, que foi descrito como destinado a ajudar o país a controlar a inflação e estabilizar sua economia interna. O empréstimo estava condicionado à adoção, por parte da Bolívia, de uma série de "reformas estruturais", incluindo a privatização de "todas as empresas públicas restantes", incluindo os serviços de abastecimento de água. Uma vez que esses empréstimos foram aprovados, a Bolívia ficou sob intensa pressão do Banco Mundial para garantir que não existissem subsídios públicos para a água e que todos os projetos de água seriam administrados com base no "retorno do custo", o que significa que os cidadãos teriam de pagar por todo o custo com a construção, financiamento, operação e manutenção de um projeto de água e saneamento básico. Como a água é uma necessidade humana básica e é crucial para a agricultura, a recuperação dos custos via tarifas é incomum, até mesmo nos países desenvolvidos.
Neste contexto, Cochabamba, a terceira maior cidade boliviana, colocou seu sistema de águas à venda no fim de 1999. Somente uma entidade, um consórcio liderado pela Águas del Tunari, uma subsidiária da Bechtel, fez uma oferta e recebeu a concessão por 40 anos para o abastecimento de água. Os detalhes exatos da negociação foram mantidos em sigilo e a Bechtel afirmou que os números no contrato eram "propriedade intelectual". Posteriormente, porém, veio à luz que o preço incluía o financiamento pelos cidadãos de Cochabamba de uma parte de um enorme projeto de construção de uma barragem que estava sendo desenvolvido pela Bechtel, embora a água do Projeto da Barragem Misicuni seria 600% mais cara do que de fontes alternativas. Os cidadãos de Cochabamba também precisariam pagar à Bechtel um lucro de 15%, garantido em contrato, o que significava que a população de Cochabamba deveria pagar pelos investimentos enquanto o setor privado ficava com os lucros.
Imediatamente após receber a concessão, a empresa elevou a tarifa da água em até 400% em alguns casos. Esses aumentos ocorreram em uma área em que o salário mínimo é inferior a US$ 100 por mês. Após a súbita elevação da tarifa, foi estimado que aqueles que trabalhavam por conta própria teriam de gastar um quarto de sua renda mensal para pagar a conta de água.
Os residentes da cidade ficaram indignados. Em janeiro de 2000, uma ampla coordenação chamada Coordenação Pela Defesa da Água e da Vida, ou simplesmente La Coordinadora, liderada por um trabalhador local, Oscar Olivera, propôs protestos pacíficos. Cochabamba ficou paralisada durante quatro dias com uma greve geral e paralisação dos transportes, mas os protestos findaram assim que o governo prometeu intervir para reduzir a tarifa da água. Entretanto, quando não houve resultados em fevereiro, os protestos começaram novamente. Desta vez, porém, a multidão que participava dos protestos foi recebida com gás lacrimogênio e oposição da Polícia, deixando 175 pessoas feridas e dois jovens cegos.
A ameaça que a privatização dos serviços públicos sob o GATS (Acordo Geral de Comércio em Serviços) apresenta para a democracia foi demonstrada em março de 2000. La Coordinadora realizou um referendo não-oficial, contou aproximadamente 50.000 votos e anunciou que 96% dos respondentes apoiavam a rescisão do contrato com a Águas del Tunari. No entanto, a empresa de águas respondeu que não havia nada a negociar.
GATS Acordo Geral em Comércio em Serviços: Um conjunto de regras e compromissos multilaterais que tratam de medidas governamentais que afetam o comércio em serviços.
Em 4 de abril, os residentes da cidade retornaram às ruas, paralisando a cidade. Novamente, eles tiveram de enfrentar a resistência da Polícia e, em 8 de abril, o governo declarou a lei marcial. Os soldados bolivianos atiraram e um rapaz de 17 anos foi atingindo na face e morreu. Entretanto, os protestos continuaram e, em 10 de abril, o governo cedeu, assinando um acordo em que aceitava as exigências da população que queria reverter a concessão. O povo de Cochabamba recuperou sua água.
Infelizmente, essa história inspiradora simplesmente não terminou com a vitória da população de Cochabamba. Em 25 de fevereiro de 2002, a Bechtel ingressou com uma ação judicial usando as proteções aos investidores garantidas no Acordo Bilateral de Investimentos entre a Bolívia e a Holanda no Banco Mundial, exigindo uma indenização de 25 milhões de dólares pela perda de lucros futuros. [7].
Nota: A Bechtel Engineering é a maior firma de engenharia do mundo. Ela é uma empresa privada, que pertence à família Bechtel. Durante muitos anos, no Conselho geral (e na vice-presidência) da Bechtel esteve ninguém menos que Caspar Weinberger, um membro original da Comissão Trilateral.
Desde então, o Banco Mundial tem concedido empréstimos adicionais para a "redução da pobreza" à Bolívia. Leia atentamente a avaliação atual (2006) do Banco sobre a Bolívia, encontrada em seu sítio na Internet:
"A Bolívia está experimentando um tempo de dificuldades e incertezas. Em meses recentes, vários distúrbios políticos e sociais cresceram com sérias conseqüências, culminando com a renúncia do presidente Gonzalo Sanches de Lozada, em outubro de 2003 e a indicação do vice-presidente Carlos Meza como presidente. A administração atual herda um clima econômico, político e social difícil, que é formado por questões antigas, como profundas desigualdades, uma economia que foi adversamente afetada pelo recente declínio econômico da região e o desencanto generalizado da população por causa da corrupção. [8].
Distúrbios políticos e sociais? Clima social e político e econômico difícil? Profunda desigualdade? Desencanto generalizado por causa da corrupção? Isto deixa qualquer um sem ter o que dizer.
Portanto, no caso da Bolívia, vemos o seguinte em operação:
- Um empréstimo do FMI é feito à Bolívia, com condicionalidades.
O Banco Mundial entra em cena para impor as condicionalidades e os ajustes estruturais.
O Banco Mundial empresta fundos de "desenvolvimento" à Bolívia e, simultaneamente, traz consórcios bancários privados para financiar os vários projetos que a Bechtel tinha em mente.
- A Bechtel é a única a fazer uma oferta e é aceita
O projeto de fornecimento de água termina em um fracasso total e a Bechtel é colocada para fora após extrema pressão política por parte dos consumidores.
A Bechtel entra com uma ação judicial requerendo indenização por perda de "lucros futuros" de acordo com uma "garantia de seguro pré-negociada com uma agência do Banco Mundial (a Agência Multilateral de Garantias de Investimentos, ou MIGA veja a descrição anterior).
Se a Bechtel vencer a ação, ela será indenizada com o dinheiro dos contribuintes pagos pelos países-membro.
Sem dúvida, quaisquer empréstimos realizados pelos bancos privados que mais tarde azedam também serão socorridos pelos fundos formados pelo dinheiro dos impostos dos contribuintes.
Esse tipo de operação é um descarado roubo de fundos (embora talvez de forma legal) de todos em vista: da Bolívia, da cidade de Cochabamba, da população local e dos contribuintes de todos os países do mundo. Os únicos beneficiários são a Bechtel, os bancos comerciais e alguns políticos corruptos, que receberam seus costumeiros subornos e comissões.
A questão contundente ainda está para ser respondida: Quando foi que a Bechtel colocou seus olhos no acordo da Bolívia? A empresa teve algum papel na sugestão ou criação das condicionalidades e dos ajustes estruturais especificados pelo Banco Mundial? Em caso afirmativo, existem razões para uma investigação criminal.
É improvável que o Banco Mundial responda a essas perguntas, porque suas operações internas são muito sigilosas. Até mesmo Stiglitz já observou:
"O FMI e o Banco Mundial ainda têm padrões de revelação dos fatos e detalhes de suas operações muito inferiores aos dos governos em democracias como EUA, Canadá e Suécia. Eles tentam esconder os relatórios críticos; é somente a incapacidade deles de evitar vazamentos que freqüentemente força a eventual revelação." [9].
Corrupção
O Banco Mundial já recebeu acusações de corrupção há muitos anos. Como o Banco é uma agência independente e especializada da ONU, e considerando o velho adágio, "A fruta não cai muito longe da árvore", isto pode não ser uma surpresa para a maioria dos leitores. A Organização das Nações Unidas tem uma grande e bem documentada folha corrida de corrupção de todos os tipos imagináveis. Seria simplista demais deixar tudo isso de lado.
Em maio de 2004, o senador Richard Lugar (R-Indiana), como presidente do Comitê de Relações Exteriores, deu o pontapé inicial para o inquérito mais recente sobre corrupção relacionado com as atividades dos bancos de desenvolvimento multilateral, dos quais o Banco Mundial é principal.
Os líderes de vários bancos de desenvolvimento foram convidados a testificar (voluntariamente) diante do Comitê. De acordo com o senador Lugar, James Wolfensohn, "recusou o convite, citando a prática tradicional dos representantes do Banco de não testificarem diante das legislaturas de seus numerosos países-membro".
Testemunhas que se apresentaram ao Comitê declararam que até US$ 100 bilhões podem ter se perdido na corrupção nos projetos de empréstimos do Banco Mundial.
Nos comentários preliminares do senador Lugar, ele salienta que toda a história do Banco Mundial é suspeita, com 5 a 25% de todos os empréstimos perdidos para a corrupção.
"Mas a corrupção permanece um problema sério. O Dr. Jeffrey Winters, da Universidade Northwestern, que testificará diante de nós hoje, estima que o Banco Mundial 'tem participado em grande parte passivamente na corrupção de cerca de US$ 100 bilhões de seus fundos de empréstimo destinados ao desenvolvimento'. Outros especialistas estimam que entre 5 e 25% dos US$ 525 bilhões que o Banco Mundial emprestou desde 1946 têm sido mal-empregado. Isso é equivalente a US$ 26-130 bilhões. Mesmo se a corrupção, estiver no nível mínimo das estimativas, milhões de pessoas que estão vivendo na pobreza podem ter perdido oportunidades de melhorar sua saúde, sua educação e sua condição econômica." [10].
Qualquer pessoa deve perguntar a si mesma por que os altos funcionários do Banco Mundial têm sido tão descuidados com o dinheiro pago pelos contribuintes. Além do mais, é preciso perguntar se a corrupção era uma necessidade para alcançar os propósitos subjacentes do Banco, isto é, criar projetos falsos e indesejados de modo a "estimular" o comércio.
O senador Lugar continuou com seus comentários preliminares:
"A corrupção estorva os esforços para o desenvolvimento de muitas maneiras. O suborno pode influenciar importantes decisões do banco em projetos e na escolha dos empreiteiros. O mau uso dos fundos pode inflacionar os custos dos projetos, negar a assistência necessária para os pobres e fazer os projetos fracassarem. O dinheiro roubado pode apoiar ditaduras e financiar os abusos contra os direitos humanos. Além disso, quando países em desenvolvimento perdem os fundos do banco para o desenvolvimento por meio da corrupção, os contribuintes naqueles países pobres ainda são obrigados a pagar a devolução para os bancos de desenvolvimento. Portanto, não somente os pobres perdem os benefícios do desenvolvimento, mas precisam arcar com as dívidas resultantes para os bancos." [11].
Não foi determinado quais funcionários do Banco podem ter recebido suborno em troca de influência, mas uma coisa é certa: qualquer negócio que inicia com corrupção somente tem uma direção para seguir para baixo. No fim, são os indivíduos fracos, dependentes e que não têm como se ajudar que são deixados com a conta. As dívidas contraídas e os projetos fracassados simplesmente são acrescentados à conta das pessoas já empobrecidas.
Isto não quer dizer que as acusações de corrupção no Banco Mundial são apenas revelações modernas. Em 1994, marcando o qüinquagésimo aniversário de sua criação em Bretton Woods, a South End Press publicou o livro "50 Years is Enough: The Case Against the World Bank and the International Monetary Fund", editado por Kevin Danaher. O livro detalha relatórios oficiais do Banco e do FMI que revelam o mesmo tipo de corrupção naquela época. Além disso, ele revelou diferentes tipos de corrupção, como por exemplo:
"Além do dinheiro desperdiçado e da devastação ambiental, houve um lado ainda mais sinistro ao Banco durante os anos McNamara: a predileção do Banco Mundial por aumentar o apoio aos regimes militares que torturavam e matavam suas populações; algumas vezes imediatamente após a violenta derrubada de governos mais democráticos. Em 1979, o senador James Abourezk (D-South Dakota) denunciou o Banco no Senado, observando que ele estava aumentando 'os empréstimos para quatro governos que recentemente se tornaram repressivos [Chile, Uruguai, Argentina e Filipinas], duas vezes mais rápido do que todos os outros.' Ele observou que quinze dos governos mais repressivos do mundo receberam um terço de todas as alocações de empréstimos do Banco Mundial em 1979 e que o Congresso e o governo Carter tinham cortado a ajuda bilateral para quatro dos quinze Argentina, Chile, Uruguai e Etiópia por flagrantes violações aos direitos humanos. Ele atacou vigorosamente a 'excessiva sigilosidade' do Banco e lembrou seus pares que 'votamos o dinheiro, mas não sabemos para aonde ele vai.' " [12].
O texto fala por si mesmo e não precisa ser comentado. Os leitores deste relatório provavelmente terão uma melhor compreensão sobre para aonde o dinheiro vai!
Conclusões
Este relatório não pretende ser uma análise exaustiva do Banco Mundial. Existem muitas facetas, exemplos e estudos de casos que poderiam ser explorados. Na verdade, muitos livros críticos e analíticos foram escritos sobre o Banco Mundial. O objeto deste relatório foi mostrar como o Banco Mundial se encaixa na globalização como um membro central na tríade de potências monetárias globais: o FMI, o BIS (Banco de Compensações Internacionais) e o Banco Mundial.
Provavelmente o Banco Mundial continuará a operar a despeito de qualquer quantidade de oposição política ou protestos públicos. Este é o padrão das instituições dominadas pela elite. Esta é a história do Fundo Monetário Internacional e do Banco de Compensações Internacionais.
É suficiente concluir que...
Dos dois arquitetos do Banco Mundial, um era um agente comunista de alto escalão (Harry Dexter White) e o outro era um ideólogo britânico (John Maynard Keynes) totalmente dedicado ao globalismo. (Veja maiores detalhes sobre ambos no relatório da Parte 1: O Fundo Monetário Internacional.)
Desde o início, o Banco tem sido dominado por interesses bancários internacionais e membros do Conselho das Relações Internacionais e, mais tarde, pela Comissão Trilateral.
O brado de "Redução da pobreza" é uma farsa para ocultar a reciclagem de bilhões de dólares do dinheiro do contribuinte, se não trilhões, para as mãos privadas.
O brado de "Redução da pobreza" desarma os críticos do Banco e os faz parecer inimigos dos pobres e pró-pobreza.
A corrupção no Banco Mundial existe há décadas, se não desde o início.
"O rico domina sobre os pobres e o que toma emprestado é servo do que empresta." [Provérbios 22:7].
Notas de Rodapé
Nota: Carl Teichrib, membro sênior da World Research Library, contribuiu para este relatório.
- Sítio do Banco Mundial na Internet, http://www.worldbank.org, página "About Us".
- Relatório Sobre o Sistema Financeiro Global: O Fundo Monentário Internacional.
- Sítio do Banco Mundial, Artigos do Acordo, Artigo I.
- Stiglitz, Globalization and its Discontents (Norton, 2002), pág. 234.
- Ibidem, pág. 13.
- Ibidem.
- Wallach, Whose Trade Organization? (The New Press, 2004), pág. 125]; Veja também, Bechtel Vs. Bolivia: The Bolivian Water Revolt; The New Yorker, "Leasing the Rain"; PBS, Leasing the Rain
- Sítio do Banco Mundial na Internet, Bolivia Country Brief
- Stiglitz, op. cit., pág. 234
- Lugar, Sítio do Senado dos EUA, "$100 billion may have been lost to World Bank Corruption", 13 de maio de 2004
- Ibidem.
- Hanaher, 50 Years is Enough: The Case Against the World Bank and the International Monetary Fund, (South End Press, 1994), pág. 10
Autor: Patrick M. Wood (The August Review), em http://www.augustreview.com/
Revisão: http://www.TextoExato.com
Data da publicação: 4/12/2007
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