As referências ao Homem do Pecado no livro dos Salmos são, em sua grande maioria, mais ou menos incidentais. Com raras exceções, ele entra em vista somente quando se relaciona com Israel, ou como afeta o bem-estar de Israel. Somente se pode apreciar a força do que é dito a respeito dele quando aquilo é examinado à luz do cenário profético. O tempo em que o Anticristo estará operando com força total será durante o período da Tribulação e, somente quando descobrimos, por pesquisa cuidadosa, quando os Salmos descrevem o tempo de angústias de Jacó, é que sabemos onde encontrar aquele que causará essas angústias.
Política e eclesiasticamente o Anticristo pode ser visto com uma conexão tripla. Primeiro, ele está relacionado com os gentios; segundo, está relacionado com a nação judaica apóstata; terceiro, está relacionado com o remanescente judaico piedoso, que se separará de seus irmãos incrédulos. Mais detalhes são fornecidos para nós nos Salmos sobre esse terceiro relacionamento do que sobre os outros dois, embora tenhamos alusões ocasionais às conexões do Anticristo com os gentios e com a nação judaica com um todo.
O Salmo 2 nos apresenta um rápido, porém vívido retrato de como terminará o período da Tribulação e, embora o Anticristo não seja citado diretamente, a luz que outras escrituras lançam somente isso revela a pavorosa personalidade que encabeçará a rebelião ali descrita. O Salmo 2 é profético em seu caráter e tem, como a maioria (se não todas) das profecias, um duplo cumprimento.
"Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o SENHOR e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas." (Sl. 2:1-3). Uma parte dessa passagem é citada em Atos 4, mas é interessante observar onde a citação termina. Pedro e João tinham sido levados diante das autoridades religiosas de Israel, porque tinham curado um homem paralítico em nome de Jesus Cristo. Os apóstolos fielmente se justificaram e, após serem advertidos e ameaçados, receberam a permissão de se retirar. É então que eles "levantaram a voz a Deus, e disseram: Senhor, tu és o Deus que fizeste o céu, e a terra, e o mar e tudo o que neles há; que disseste pela boca de Davi, teu servo: Por que bramaram os gentios, e os povos pensaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e os príncipes se ajuntaram à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido." (Atos 4:24-26). Observe que eles citaram somente os dois primeiros versos do Salmo 2, e que não disseram "agora isto está cumprido". O que eles disseram foi: "Porque verdadeiramente contra o teu Santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer." (vs. 27-28). Na prisão de Cristo e em seus julgamentos diante das autoridades judaicas e gentias, essa profecia de Davi tinha recebido um cumprimento parcial, mas o final (ou total) ainda é futuro. O tempo em que o Salmo 2 receberá seu cumprimento total é indicado na seção mediana é pouco antes do tempo em que Cristo retornará a este mundo como "rei" e receber os gentios por herança e os confins da terra por sua possessão; em outras palavras, imediatamente antes do estabelecimento do Milênio, ou o fim do Período da Tribulação.
Quando lemos o Salmo 2 à luz de Ap. 16:14 e 19:19, descobrimos que ele retrata o ato final na carreira atrevida e desafiadora do último grande César. Em um ato de insano desespero, o Filho da Perdição reunirá suas forças e fará um esforço concentrado para impedir que o Cristo de Deus entre em sua Sua herança terreal. Acreditamos que isto seja evidente a partir das próprias palavras no salmo.
O salmo inicia com uma pergunta: "Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs?" A pergunta é feita para chamar mais rapidamente a atenção do leitor e para enfatizar a malignidade impensável daquilo que se segue: "Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o SENHOR e contra o seu ungido." Observe que essa rebelião é feita não somente contra o Senhor, mas também contra Seu Ungido, isto é, contra Cristo. A loucura desse esforço (encabeçado pelo Anticristo) é indicado no verso 4: "Aquele que habita nos céus se rirá; o SENHOR zombará deles." A futilidade dessa ação é vista no verso 6: "Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião." O "porém" aqui tem a força de "apesar disto" e mostra o propósito, o objetivo que a insurreição tem em vista é uma tentativa de impedir Cristo de retornar a este mundo e estabelecer Seu reino milenar. A resposta dos céus é observada no verso 5: "Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os turbará." Isto é ampliado em Ap. 19:20-21. O Salmo 2, então, nos leva para o fim da história do Anticristo e trata somente dos eventos finais de sua terrível carreira. Em outros salmos em ele que está em vista, incidentes anteriores são observados e seu tratamento ao povo judeu é descrito.
O próximo salmo em que o Anticristo aparece é o 5. Esse salmo apresenta as petições que o remanescente fiel de Israel fará a Deus durante o período da Tribulação. Tentar alguma coisa como uma exposição completa deste salmo à luz de sua aplicação profética nos levaria além do nosso limite presente. Faremos pouco mais do que generalizar.
O período da Tribulação é o tempo em que Satanás receberá total liberdade para reinar, um período em que a iniquidade crescerá muito e quando parecerá para o coração dos incrédulos que Deus deixou Seu trono vago. Mas, os olhos da fé reconhecem o fato que Jeová ainda reina no meio dos exércitos celestiais e entre os habitantes da Terra. Daí da força do título divino no verso 2 o remanescente se dirige a Jeová como "Meu rei e meu Deus". A mais terrível impiedade e rebeliões estarão ao redor, porém eles terão a certeza absoluta que Deus ainda é bem capaz de lidar com a situação: "Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade. Destruirás aqueles que falam a mentira; o SENHOR aborrecerá o homem sanguinário e fraudulento." (verso 5-6).
O "homem sanguinário e fraudulento" é claramente o Homem do Pecado. Ele é denominado "sanguinário" por causa de sua ferocidade militar; ele é chamado de "fraudulento" por causa de sua duplicidade política. Um após o outro, seus oponentes cairão diante dele; em meio a um mar de sangue, ele avançará até seu trono imperial. Totalmente inconfiável será sua palavra e sem qualquer valor suas promessas. Ele será a manifestação encarnada daquele que é o pai da mentira. Ele enganará da maneira mais completa os judeus. A princípio, sendo seu amigo; depois, colocando-se como seu arqui-inimigo. Toda a dúvida sobre a identidade desse homem sanguinário e fraudulento é removida por aquilo que sai de sua boca.
Do Salmo 5, vamos para o Salmo 7, onde encontramos o remanescente judaico piedoso clamando ao Senhor contra seus perseguidores. A mudança do plural para o singular é muito significativa aqui: "SENHOR meu Deus, em ti confio; salva-me de todos os que me perseguem, e livra-me; para que ele não arrebate a minha alma, como leão, despedaçando-a, sem que haja quem a livre." O remanescente apresentará sua inocência diante de Deus e pedirá que caia sobre si mesmo a maldição do Inimigo se agiu injustamente "Se paguei com o mal àquele que tinha paz comigo (antes, livrei ao que me oprimia sem causa), persiga o inimigo a minha alma e alcance-a; calque aos pés a minha vida sobre a terra, e reduza a pó a minha glória. Levanta-te, SENHOR, na tua ira; exalta-te por causa do furor dos meus opressores; e desperta por mim para o juízo que ordenaste." (versos 4-6). Isto serve imediatamente para identificar o indivíduo do verso 2, que quer despedaçar as almas como um "leão" (não como um urso) mostrando seu parentesco com aquele ser terrível que "anda ao derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar". Observe também as palavras "àquele que tinha paz comigo", mas agora "me oprimia sem causa". Claramente, é o Anticristo quem está em vista aqui e como ele se manifestará na segunda metade da septuagésima semana de Daniel, quando retirar sua máscara e revelar todo seu aspecto pavoroso. O verso 12 diz: "Se o homem não se converter, Deus afiará a sua espada; já tem armado o seu arco, e está aparelhado." É isto que faz o remanescente clamar: "SENHOR meu Deus, em ti confio; salva-me de todos os que me perseguem, e livra-me." (v. 1). O verso 14 inegavelmente identifica esse inimigo de Israel no fim dos tempos e, novamente, o identifica como o filho legítimo do pai da Mentira "Eis que ele está com dores de perversidade; concebeu trabalhos, e produziu mentiras." No verso 16, o remanescente expressa sua certeza quanto ao destino certo desse Inimigo: "A sua obra cairá sobre a sua cabeça; e a sua violência descerá sobre a sua própria cabeça."
O Salmo 8 está intimamente conectado com o 7. No último verso deste último, ouvimos o remanescente dizer: "Eu louvarei ao SENHOR segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao nome do SENHOR altíssimo." Isso antecipa o tempo quando eles serão libertos de seu terrível inimigo e quando o glorioso Milênio terá início "SENHOR altíssimo" é Seu título distintivo no Milênio. O Salmo 8 segue isso com um belo retrato do milênio, quando Jeová será adorado porque Seu nome será então "admirável em toda a terra". Então o remanescente dirá: "Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos teus inimigos, para fazer calar ao inimigo e ao vingador." (v. 2). "Inimigo e Vingador" são dois dos muitos títulos do Anticristo.
Muito do Salmo 9 também prenuncia as condições do Milênio e celebra a derrota do Homem do Pecado. O remanescente canta: "Pois tu tens sustentado o meu direito e a minha causa; tu te assentaste no tribunal, julgando justamente; repreendeste as nações, destruíste os ímpios; apagaste o seu nome para sempre e eternamente." (versos 4-5). Que o Ímpio é o Anticristo, é claro a partir do próximo verso: "Oh! inimigo! acabaram-se para sempre as assolações; e tu arrasaste as cidades, e a sua memória pereceu com elas." Esperamos mostrar em um capítulo posterior que "as cidades" que Deus destruirá serão as cidades do Anticristo e do Falso Profeta, isto é, Babilônia e Roma. Novamente, nos versos 15-16 desse salmo, lemos: "Os gentios enterraram-se na cova que fizeram; na rede que ocultaram ficou preso o seu pé. O SENHOR é conhecido pelo juízo que fez; enlaçado foi o ímpio nas obras de suas mãos." Isto se refere à destruição do Anticristo e de suas forças no Armagedom.
No Salmo 10, temos a mais completa descrição do Anticristo encontrada nos Salmos. Esse salmo está dividido em quatro seções. Primeiro, o clamor do remanescente (v. 1); segundo, o caráter do Anticristo (vs. 2-11); terceiro, o clamor do remanescente é renovado (vs. 12-15); quarto, a confiança do remanescente (vs. 16-18). No verso de abertura, descobrimos sua chave dispensacional o " tempo de angústias" (confira Jr. 30:7) será a Grande Tribulação. Observe agora aquilo que é dito a respeito do Ímpio. No v. 2, lemos: "Os ímpios na sua arrogância perseguem furiosamente o pobre; sejam apanhados nas ciladas que maquinaram." O "pobre" (referido sete vezes neste salmo, nos versos 2, 8, 9, 10, 14) e "mansos" no v. 17 deve ser "pobre" enfatizando a totalidade de sua pobreza) são o remanescente fiel que se recusou a receber o sinal da besta e, como resultado, sofre por não poder comprar nem vender (veja Ap. 13:17). Nos versos 3-4, lemos: "Porque o ímpio gloria-se do desejo da sua alma; bendiz ao avarento, e renuncia ao SENHOR. Pela altivez do seu rosto o ímpio não busca a Deus; todas as suas cogitações são que não há Deus." Isso nos fala da pavorosa impiedade do Anticristo e revela sua origem satânica. No v. 6 sua egolatria é mostrada: "Diz em seu coração: Não serei abalado, porque nunca me verei na adversidade." Em seguida, vem uma descrição de sua terrível impiedade: "A sua boca está cheia de imprecações, de enganos e de astúcia; debaixo da sua língua há malícia e maldade. Põe-se de emboscada nas aldeias; nos lugares ocultos mata o inocente; os seus olhos estão ocultamente fixos sobre o pobre." Observe neste último verso a menção aos "lugares ocultos". Foi a isto que nosso Senhor se referiu em seu Discurso no Monte das Oliveiras, quando disse: "Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais. Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis." Vale a pena o leitor fazer um estudo minucioso de todo esse salmo.
No verso de abertura do Salmo 14, temos aquilo que não duvidamos ser outra referência ao Anticristo, aqui chamado de "néscio". Ele é o maior de todos os néscios, aquele que atrevidamente diz em seu coração: "Não há Deus". A marca de identificação se encontra em suas imaginações de que "Deus não existe". Este título aponta para outro contraste entre Cristo e o Anticristo. Um é o "Maravilhoso Conselheiro", o outro é o "Néscio"!
No Salmo 17, que contém a confissão do remanescente (apresentando sua inocência diante de Deus), uma referência é feita novamente ao Anticristo. "Pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor." Este é outro de seus títulos que aponta para um contraste: Cristo é o Salvador; o Anticristo é o Destruidor. Que o Anticristo é quem está em vista aqui é claro a partir do que segue nos versos 12 e 13, onde lemos: "Parecem-se com o leão que deseja arrebatar a sua presa, e com o leãozinho que se põe em esconderijos. Levanta-te, SENHOR, detém-no, derriba-o, livra a minha alma do ímpio, com a tua espada." O "Ímpio" está aqui no singular. Observe novamente a referência aos "esconderijos", sobre o que teremos algo a dizer em nossa exposição de Mt. 24, quando discutiremos o Anticristo nos Evangelhos.
Pularemos vários salmos que contêm alusões incidentais ao Ímpio e chegamos agora ao Salmo 36. As palavras no primeiro verso são um pouco ambíguas: "A transgressão do ímpio diz no íntimo do meu coração: Não há temor de Deus perante os seus olhos." Ele desafia Jeová e não teme a Deus: "Porque em seus olhos se lisonjeia, até que a sua iniquidade se descubra ser detestável." (v. 2) Ele está cheio de soberba, mas no fim colherá aquilo que semeou. "As palavras da sua boca são malícia e engano; deixou de entender e de fazer o bem." (v. 3). Isso se refere ao modo dissimulado como ele lidará com os judeus e aos dois grandes estágios em sua carreira. Primeiro, ele se apresentará como amigo de Israel, depois se mostrará em seu verdadeiro caráter como inimigo deles. O verso 4 descreve seu caráter moral: "Projeta a malícia na sua cama; põe-se no caminho que não é bom; não aborrece o mal."
O Salmo 37, que em sua aplicação final tem a ver com o remanescente fiel durante o período da Tribulação, contém diversas referências ao Anticristo. No verso 7, o remanescente é exortado: "Descansa no SENHOR, e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos." Esta é uma alusão explícita ao Homem do Pecado. No verso 10, o remanescente recebe a seguinte promessa: "Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar, e não aparecerá." Nos versos 12 e 13, lemos: "O ímpio maquina contra o justo, e contra ele range os dentes. O SENHOR se rirá dele, pois vê que vem chegando o seu dia." Isso revela a malícia satânica do Anticristo contra o povo de Deus, e também mostra o desprezo que o Senhor terá por ele, ao ver a rápida aproximação do dia da condenação desse que tão atrevidamente O desafiou. O fim do Iníquo é observado no v. 35: "Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal. Mas passou e já não aparece; procurei-o, mas não se pôde encontrar." Todo este salmo maravilhoso precisa ser estudado atentamente, pois ele lança muita luz sobre as experiências do remanescente durante as terríveis provações no fim dos dias.
"Eu disse: Guardarei os meus caminhos para não pecar com a minha língua; guardarei a boca com um freio, enquanto o ímpio estiver diante de mim." (Sl. 39:1) Isto apresenta a decisão do remanescente diante da presença perturbadora do Ímpio. No verso 8, o remanescente ora para que não se torne o opróbrio do Louco: "Livra-me de todas as minhas transgressões; não me faças o opróbrio dos loucos."
O Salmo 43 se inicia com a queixa do remanescente por causa do desprezo e da oposição da nação judaica como um todo, que estará sob a liderança do falso Messias: "Faze-me justiça, ó Deus, e pleiteia a minha causa contra a nação ímpia. Livra-me do homem fraudulento e injusto. Pois tu és o Deus da minha fortaleza; por que me rejeitas? Por que ando lamentando por causa da opressão do inimigo?" A alusão ao engano e às injustiças do Homem do Pecado se refere, é claro, ao fato de ele ter rompido o tratado.
No Salmo 44 ouvimos mais as amargas lamentações do remanescente, traído por aquele que se apresentava como seu benfeitor e sendo alvo da zombaria de seus irmãos judeus: "Tu nos pões por opróbrio aos nossos vizinhos, por escárnio e zombaria daqueles que estão à roda de nós. Tu nos pões por provérbio entre os gentios, por movimento de cabeça entre os povos. A minha confusão está constantemente diante de mim, e a vergonha do meu rosto me cobre, à voz daquele que afronta e blasfema, por causa do inimigo e do vingador."
O Salmo 50 é de profundo interesse nesta conexão. Ele anuncia a resposta de Jeová aos clamores do Seu povo fiel. Ele declara: "Virá o nosso Deus, e não se calará; um fogo se irá consumindo diante dele, e haverá grande tormenta ao redor dele." (v. 3). O salmo promete que Deus ajuntará os Seus santos para Si (v. 5). Ele contém uma repreensão a Israel como um todo (veja os versos 7-14). Em seguida, após convidar Seu povo a invocá-lo no "dia da angústia" e prometer que o livrará, Deus se dirige ao inimigo deles da seguinte forma: "Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitar os meus estatutos, e em tomar a minha aliança na tua boca? Visto que odeias a correção, e lanças as minhas palavras para detrás de ti. Quando vês o ladrão, consentes com ele, e tens a tua parte com adúlteros. Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua compõe o engano. Assentas-te a falar contra teu irmão; falas mal contra o filho de tua mãe. Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te arguirei, e as porei por ordem diante dos teus olhos: Ouvi pois isto, vós que vos esqueceis de Deus; para que eu vos não faça em pedaços, sem haver quem vos livre." (versos 16-22). Primeiro, Deus repreende o Anticristo por sua hipocrisia, referenciando o tempo em que, no início de sua carreira, ele veio (como Satanás fez ao tentar o Salvador) declarando os estatutos de Deus e citando a Aliança Divina (v. 16). Segundo, Deus o acusa de traição, pois, na metade da septuagésima semana, ele lançou as palavras de Deus para detrás de si (v. 17). Terceiro, Deus expõe a depravação do Anticristo e mostra que ele é totalmente destituído de qualquer sensibilidade moral (versos 18-20). Quarto, Deus o lembra de como ele tinha se congratulado pensando que continuaria em seus caminhos vis com impunidade e escaparia do castigo que sua iniquidade merece. (v. 21). Finalmente, Deus anuncia a certeza da retribuição e a terrível condenação que aguarda o Iníquo. (v. 22).
O Salmo 52 continua a amplifica aquilo que já foi colocado diante de nós nos versos finais do Salmo 50. Aqui, novamente o Anticristo é indiciado por Deus sem dúvida por meio do remanescente: "Por que te glorias na malícia, ó homem poderoso? Pois a bondade de Deus permanece continuamente. A tua língua intenta o mal, como uma navalha amolada, traçando enganos. Tu amas mais o mal do que o bem, e a mentira mais do que o falar a retidão. Amas todas as palavras devoradoras, ó língua fraudulenta. Também Deus te destruirá para sempre; arrebatar-te-á e arrancar-te-á da tua habitação, e desarraigar-te-á da terra dos viventes. E os justos o verão, e temerão: e se rirão dele, dizendo: Eis aqui o homem que não pôs em Deus a sua fortaleza, antes confiou na abundância das suas riquezas, e se fortaleceu na sua maldade." (versos 1-7). A soberba, inimizade, dissimulação e corrupção moral do Filho da Perdição são citados e ele é acusado de todos eles. A certeza de sua condenação e de sua degradação diante daqueles que ele perseguiu é também retratada de modo bem claro.
A aplicação profética do Salmo 55 encontrou primeiro sua realização trágica na traição de Judas contra o Senhor Jesus, mas seu cumprimento final ainda aguarda um dia vindouro. Nesse salmo, vemos uma descrição patética do coração dolorido do remanescente, que se queixa da duplicidade do falso Messias. Expulsos de Jerusalém, eles expressam sua tristeza pela terrível impiedade que agora predomina na cidade santa: "Maldade há dentro dela; astúcia e engano não se apartam das suas ruas. Pois não era um inimigo que me afrontava; então eu o teria suportado; nem era o que me odiava que se engrandecia contra mim, porque dele me teria escondido. Mas eras tu, homem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo." (versos 11-13). Assim, os judeus em um dia futuro terão de suportar a amarga experiência da traição e deserção por alguém que eles consideravam ser seu amigo. Com relação ao seu inimigo, o remanescente exclama: "Tal homem pôs as suas mãos naqueles que têm paz com ele; quebrou a sua aliança. As palavras da sua boca eram mais macias do que a manteiga, mas havia guerra no seu coração: as suas palavras eram mais brandas do que o azeite; contudo, eram espadas desembainhadas." (versos 20-21). A referência é ao tratado de sete anos que o César final fará com Israel e que, após três anos e meio, ele tratará como um simples papel a ser rasgado. Entretanto, essa traição não ficará impune. No fim, o Anticristo e seus comparsas serão tratados sumariamente pelo Juiz de toda a terra. "Mas tu, ó Deus, os farás descer ao poço da perdição; homens de sangue e de fraude não viverão metade dos seus dias; mas eu em ti confiarei." (v. 23).
O Salmo 71 contém outra das orações do remanescente durante o fim dos tempos. "Livra-me, meu Deus, das mãos do ímpio, das mãos do homem injusto e cruel." (v. 4). Novamente, a referência é ao Homem do Pecado, que age injustamente e cujo prazer diabólico é perseguir o povo de Deus.
No Salmo 72 encontramos expressa a confiança do remanescente, que antevê o tempo feliz em que o rei de Deus reinará em justiça. Com alegre certeza, eles exclamam: "Ele julgará ao teu povo com justiça, e aos teus pobres com juízo. Os montes trarão paz ao povo, e os outeiros, justiça. Julgará os aflitos do povo, salvará os filhos do necessitado, e quebrantará o opressor." (versos 2-4). Embora o Inimigo tenha sido considerado poderoso aos olhos dos homens, e invencível à sua própria vista, quando chegar o tempo indicado por Deus, ele será despedaçado tão facilmente quanto a moinha que o vento espalha.
O Salmo 74 faz referência à violência do Anticristo contra o remanescente fiel: "Disseram nos seus corações: Despojemo-los duma vez. Queimaram todos os lugares santos de Deus na terra. Já não vemos os nossos sinais, já não há profeta, nem há entre nós alguém que saiba até quando isto durará. Até quando, ó Deus, nos afrontará o adversário? Blasfemará o inimigo o teu nome para sempre?" (versos 8-10) Isto se refere ao tempo em que o Anticristo e seus asseclas farão um esforço desesperado de eliminar Israel da terra e abolir tudo o que leve o nome de Deus. Os "lugares santos de Deus na terra" se refere aos locais onde o Deus vivo e verdadeiro é reconhecido e adorado.
O Salmo 83 nos leva até um pouco um pouco mais próximo do fim. Não somente as sinagogas terão sido destruídas, mas uma tentativa será feita de exterminar aqueles que ainda adoram a Deus em segredo. Veja o pedido trágico desse grupo caçado por Satanás: "Ó Deus, não estejas em silêncio; não te cales, nem te aquietes, ó Deus, porque eis que teus inimigos fazem tumulto, e os que te odeiam levantaram a cabeça. Tomaram astuto conselho contra o teu povo, e consultaram contra os teus escondidos. Disseram: Vinde, e desarraiguemo-los para que não sejam nação, nem haja mais memória do nome de Israel." (versos 1-4). Os versos seguintes mostram quem é responsável por isto. No v. 5, lemos: "Porque consultaram juntos e unânimes; eles se unem contra ti." Naquele tempo será concretizado o sonho humano de uma Liga das Nações. É digno de nota que somente dez nações são mencionadas aqui veja os versos 6-8. "Assur" (KJV) no v. 8 é o "assírio" o Anticristo em seu caráter de rei de Babilônia. Esse verso é uma das poucas passagens nos Salmos que mostra o Anticristo em conexão com os gentios. O Salmo 110:6 também mostra essa conexão: "Julgará entre os gentios; tudo encherá de corpos mortos; ferirá os cabeças de muitos países."
O Salmo 140 parece ser o último que menciona o Anticristo. Ali, ouvimos mais uma vez o clamor do remanescente de Deus: "Livra-me, ó SENHOR, do homem mau; guarda-me do homem violento, Guarda-me, ó SENHOR, das mãos do ímpio; guarda-me do homem violento; os quais se propuseram transtornar os meus passos. Não concedas, ó SENHOR, ao ímpio os seus desejos; não promovas o seu mau propósito, para que não se exalte." (versos 1, 4, 8).
Assim, vimos não menos que vinte salmos em que existem alusões ao Anticristo. Obviamente, esta não é uma lista definitiva, mas o suficiente foi observado para mostrar que um lugar proeminente é dado a esse monstro pavoroso. Entretanto, o leitor não deve supor que estejamos negando o valor atual e a aplicação desses salmos para nós hoje. Não somente cremos firmemente que toda a Escritura foi dada por inspiração de Deus e que é proveitosa para instruir, mas pronta e alegremente nos unimos com os santos de todas as épocas em nos voltar para esta preciosa porção da Palavra de Deus para obter uma linguagem apropriada para expressar a Deus as emoções variadas de nossos corações. Todavia, ao mesmo tempo em que reconhecemos o valor doutrinário e experimental dos salmos para nós hoje, é preciso salientar que muitos deles têm um significado profético e que serão usados por outro grupo de fiéis após a igreja, o Corpo de Cristo, ser removida desta cena de pecados e sofrimentos. Incentivamos os leitores que estão interessados na verdade dispensacional a estudar novamente os salmos de Davi, procurando descobrir o quanto eles revelam sobre os eventos futuros.
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Data da publicação: 7/9/2010
Revisão: http://www.TextoExato.com
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/anticristo-cp08.asp