"As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei." (Deuteronômio 29:29) Entre as coisas reveladas", as profecias cumpridas têm um lugar da mais alta importância. Na presença de eventos em que elas foram cumpridas, o significado delas está na superfície. Que os fatos da Paixão sejam admitidos e a relação deles com o Salmo 22 é indisputável. Existem profundidades de significado espiritual nas palavras do salmista, por causa da natureza dos fatos que as cumpriram, mas o testemunho que a profecia oferece é endereçada a todos e aquele que corre pode lê-la. É possível então, pode-se perguntar, que a verdadeira interpretação da profecia das Setenta Semanas envolva tanta investigação e discussão?
Tal objeção é perfeitamente legítima, mas a resposta a ela será encontrada em distingüir entre as dificuldades que aparecem na própria profecia e aquelas que dependem inteiramente da controvérsia para a qual ela deu origem. Os escritos de Daniel têm sido o objeto de mais crítica hostil do que qualquer outra porção das Escrituras e os versos de encerramento do capítulo 9 sempre foram um ponto principal de ataque. E isto é necessariamente assim, por que se essa única passagem puder ser provada como sendo uma profecia, ela estabelece o caráter do livro como uma revelação divina. As visões de Daniel admitidamente descrevem eventos históricos entre os dias de Nabucodonosor e os de Antíoco Epifânio, de modo que o ceticismo assume que o autor viveu no tempo dos Macabeus. Mas essa suposição, apresentada sem qualquer pretensa prova decente, é profundamente refutada apontando-se para uma porção da profecia cumprida em uma data posterior; conseqüentemente, é de vital importância para o cético desacreditar a predição das Setenta Semanas.
A profecia não tem sofrido nada com os ataques de seus críticos, mas muito nas mãos de seus amigos. Nenhum argumento elaborado seria necessário para elucidar seu significado, se não fosse pelas dificuldades levantadas pelos expositores cristãos. Se tudo o que os autores cristãos escreveram sobre o assunto pudesse ser apagado e esquecido, o cumprimento da visão, o tanto quanto ela já foi na verdade cumprida, seria claro nas páginas abertas da história. Por deferência a esses autores e também na esperança de remover os preconceitos que são fatais para a compreensão correta do assunto, essas dificuldades foram aqui discutidas. Resta agora apenas recapitular as conclusões que foram registradas nas páginas anteriores.
O cetro do poder terreal que foi confiado à casa de Davi, foi transferido aos gentios na pessoa de Nabucodonosor, para permanecer nas mãos dos gentios "até que o tempo dos gentios se complete".
As bênçãos prometidas para Judá e Jerusalém foram adiadas até após um período descrito como "setenta semanas"; e no encerramento da sexagésima nona semana desse período, o Messias seria "cortado".
Essas setenta semanas representam setenta vezes sete anos proféticos de 360 dias, a serem considerados desde a emissão do edito para a reconstrução da cidade "as ruas e o muro" de Jerusalém.
O edito em questão foi o decreto emitido por Artaxerxes Longimano, no vigésimo ano de seu reinado, que autorizou Neemias a reconstruir as fortificações de Jerusalém.
A data do reinado de Artaxerxes pode ser definitivamente determinada não a partir das análises elaboradas por comentaristas bíblicos e escritores de assuntos proféticos, mas pela voz unida dos historiadores e cronologistas seculares.
A afirmação de Lucas é explícita e inequívoca, que o ministério público de nosso Senhor começou no ano quinze de Tibério César. É igualmente claro que ele começou logo antes da Páscoa. A data pode ser fixada entre agosto do ano 28 e abril do ano 29. A Páscoa da crucificação foi, portanto, no ano 32, quando Cristo foi traído na noite da Ceia Pascal e executado no dia da Festa da Páscoa.
Se, então, as conclusões anteriores estão bem fundamentadas, devemos esperar encontrar que o período intermediário entre o edito de Artaxerxes e a Paixão foi de 483 anos proféticos. E exatidão tão absoluta quanto a natureza do caso permite não é mais do que os homens têm aqui o direito de exigir. Não pode haver uma consideração frouxa em uma cronologia divina; e se Deus se dignou a marcar no calendário humano o cumprimento de Seus propósitos conforme preditos na profecias, a investigação mais rígida não deve poder detectar erros de cálculos ou enganos.
O edito persa que restaurou a autonomia de Judá foi emitido no mês judaico de nisã. Ele pode na verdade ter sido emitido no primeiro de nisã, mas como nenhum outro dia é citado, o período profético precisa ser considerado de acordo com uma prática comum entre os judeus, a partir do dia do Ano Novo judaico. [1] As setenta semanas devem, portanto, serem calculadas a partir de primeiro de nisã de 445 AC. [2]
Agora, a grande característica do ano sacro judaico permanece inalterada desde a noite memorável em que a lua equinocial brilhou sobre as moradias dos israelitas no Egito, manchada de sangue pelo sacrifício da Páscoa, e também não há dúvida nem dificuldade em fixar dentro de limites estreitos a data juliana do primeiro dia de nisã em qualquer ano que seja. Em 445 AC, a lua nova pela qual a Páscoa era regulada foi no dia 13 de março, às 7:09h da manhã. [3] Conseqüentemente, o primeiro de nisã pode ser atribuído ao dia 14 de março.
Mas a linguagem da profecia é clara: "Desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas." Portanto, um período de sessenta e nove "semanas", ou 483 anos proféticos, considerados desde 14 de março de 445 AC, deve terminar com algum evento que satisfaça as palavras "até ao Messias, o príncipe."
A data da natividade não poderia ter sido o término do período, pois então as sessenta e nove semanas precisariam ter terminado trinta e três anos antes da morte do Messias.
Se o início do ministério público de Cristo fosse fixado, dificuldades de outro tipo se apresentariam. Quando o Senhor começou a pregar, o reino não estava presente como um fato cumprido em Seu advento, mas como uma esperança, a realização da qual, embora às portas, ainda estava para ser cumprida. Ele deu continuidade ao testemunho de João Batista, "O reino dos céus está próximo." Seu ministério foi uma preparação para o reino, levando ao tempo em que, em cumprimento às Escrituras proféticas, Ele deveria declarar-se publicamente como o Filho de Davi, o Rei de Israel, e reivindicar a homenagem da nação. Foi culpa da nação que a cruz, e não o trono, foi o clímax de Sua vida na Terra.
Nenhum estudante das narrativas dos evangelhos pode deixar de ver que a última visita do Senhor a Jerusalém foi não somente de fato, mas de propósito, a crise de Seu ministério, o objetivo em direção ao qual ele tinha sido orientado. Após os primeiros sinais terem sido dados que a nação rejeitaria suas reivindicações messiânicas, eles lhe negaram todo o reconhecimento público. Mas agora o testemunho duplo de Suas palavras e de Suas obras tinham sido totalmente entregues, e Sua entrada na Cidade Santa seria para proclamar que Ele era o Messias e para receber Sua condenação. Seus apóstolos foram repetidamente advertidos que não deveriam torná-lo conhecido. Mas agora Ele aceitava as aclamações de "toda a multidão dos discípulos" e silenciou a objeção dos fariseus com a indignada repreensão, "Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamarão." (Lucas 19:39,40).
O significado total das palavras que seguem no evangelho de Lucas é escondido por uma ligeira interpolação no texto. Enquanto os discípulos clamavam, "Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor." Ele olhou para a cidade santa e exclamou, "Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos." [4] O tempo da visitação de Jerusalém tinha chegado, e ela não tomou conhecimento. Muito antes a nação O tinha rejeitado, mas este era o dia predestinado quando a escolha deles precisaria ser irrevogável o dia tão distintamente sinalizado nas Escrituras como o cumprimento da profecia de Zacarias: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e salvo, pobre, e montado sobre um jumento, e sobre um jumentinho, filho de jumenta." (Zacarias 9:9) De todos os dias do ministério de Cristo na Terra, nenhum outro satisfez tão bem as palavras do anjo, "até ao Messias, o príncipe."
E a data desse dia pode ser determinada. De acordo com o costume judaico, o Senhor subiu a Jerusalém no dia 8 de nisã, "seis dias antes da Páscoa." [5] Mas como o dia 14, em que a Ceia Pascal seria servida, caiu naquele ano em uma quinta-feira, o dia 8 foi a sexta-feira precedente. Portanto, Ele precisa ter passado o sábado em Betânia, e na noite do dia 9, após o sábado terminar, uma ceia foi servida na casa de Marta. No dia seguinte, o 10 de nisã, Ele entrou em Jerusalém, conforme registrado nos evangelhos. [6]
A data juliana do 10 de nisã foi domingo, 6 de abril do ano 32. Qual, então foi a extensão do período intermediário entre a emissão do decreto para reconstruir Jerusalém e o advento público de "Messias, o príncipe" entre 14 de março de 445 AC e 6 de abril de 32? O INTERVALO CONTINHA EXATAMENTE E ATÉ AQUELE MESMO DIA 173.880 DIAS, OU SETE VEZES SESSENTA E NOVE ANOS PROFÉTICOS DE 360 DIAS, as primeiras sessenta e nove semanas na profecia de Gabriel. [7]
Muito há nos Escritos Sagrados que a descrença pode valorizar e reverenciar, ao mesmo tempo em que recusa-se profundamente a aceitá-los como divinos, mas a profecia não admite meia-fé. A predição das "setenta semanas" foi ou uma grossa e ímpia impostura, ou então foi no mais pleno e estrito sentido dada pela boca de Deus. [8] Pode ser que em dias por vir, quando o grande retorno ao lar em Judá restaurará em Jerusalém os legítimos proprietários de seu solo, os próprios judeus ainda poderão descobrir debaixo de suas ruínas os registros do decreto do grande rei e da rejeição do Nazareno, e eles, para quem a profecia foi dada, serão assim confrontados com as provas de seu cumprimento. Enquanto isso, porém, que julgamento será dado por homens justos e que usam a cabeça para pensar? Acreditar que os fatos e os números aqui detalhados correspondem a nada mais do que felizes coincidências envolve um exercício de fé maior do que a do cristão que aceita o livro de Daniel como divino. Há um ponto além do qual a descrença é impossível, e a mente, ao recusar a verdade, precisa tomar refúgio em uma descrença que é pura credulidade.
Notas de Rodapé do Capítulo 10
[1] "No dia primeiro de nisã é um novo ano para o cálculo do reinado dos reis, e para os festivais." Mishna, tratado "Rosh Hash".
[2] "Acabou-se, pois, o muro aos vinte e cinco do mês de Elul; em cinqüenta e dois dias." (Neemias 6:15) Agora, cinqüenta e dois dias, contados para trás a partir de 25 de elul, leva-nos ao dia 3 de ab. Portanto, Neemias precisa ter chegado não depois de 1 de ab, e aparentemente alguns dias antes. (Neemias 2:11). Compare isto com a jornada de Esdras, treze anos antes. "Pois no primeiro dia do primeiro mês foi o princípio da partida de Babilônia; e no primeiro dia do quinto mês (Ab) chegou a Jerusalém, segundo a boa mão do seu Deus sobre ele." (Esdras 7:9) Portanto, infiro que Neemias também partiu antes no primeiro mês.
Os paralelismos cronológicos entre as jornadas respectivas de Esdras e Neemias sugerem a engenhosa teoria que ambos foram a Jerusalém juntos. Esdras 7 e Neemias 2 relatam o mesmo evento. Isto está baseado na suposição que os anos do reinado de Artaxerxes, de acordo com o cálculo persa, foram considerados a partir de seu nascimento, uma suposição, entretanto, que é imaginosa e arbitrária, embora descrita por seu autor como "de modo algum improvável" (Trans. Soc. Bib. Arch. 2, 110, Rev. D. H. Haig, 4 de fev. 1873).
[3] Para este cálculo, estou em débito com a cortesia do Astrônomo Real, cuja resposta à minha consulta sobre o assunto incluo aqui:
"Observatório Real, Greenwich"
26 de junto de 1877"Caro Senhor A posição da lua a partir das Tabelas de Largeteau em Adição ao Connaisance des Tems 1846, foi calculada por um de meus assistentes e não tenho dúvidas quanto à sua exatidão. A posição que foi calculada 12 de março de 444, às 20 horas, parece que o dito horário ficou próximo da Lua Nova por aproximadamente 8h 47 min, e, portanto, a Lua Nova apareceu às 4:47h da manhã, em 13 de março, horário de Paris."
Sou, etc.
"(Assinado) G. B. Airy"A lua nova, portanto, apareceu em Jerusalém em 13 de março de 445 AC (ano astronômico 444) às 7:09h da manhã.
[4] ei egnos kai su ge en ta hamera tauta ta pors eipanan sou k. t. l. (Lucas 19:42). O texto recebido insere sou após hamara, mas os melhores MSS (Alex. Vat. Sin. etc.) concordam em omiti-lo. kai sou, "thou também, bem como estes meus discípulos." kai ge et quidem "até" (Alford, Gr. Test. in loco). A Versão Revisada diz: "Se tivesses conhecido neste teu dia", etc.
[5] "Quando o povo vinha em grande multidão para a festa dos pães ázimos no oitavo dia do mês Xanticus, isto é, nisã (Josefo, Guerras, 6, 5,3). "E estava próxima a páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da páscoa para se purificarem... Foi, pois, Jesus seis dias antes da páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a quem ressuscitara dentre os mortos." (João 11:55; 12:1).
[6] Lewin, Fasti Sacri., pág. 230.
[7] O primeiro dia de nisã no ano vigésimo de Artaxerxes (data do edito para reconstruir Jerusalém) foi 14 de março de 445 AC. O 10 de nisã na Semana da Paixão (a entrada de Cristo em Jerusalém) foi em 6 de abril de 32. O período intermediário foi de 476 anos e 24 dias (os dias sendo considerados inclusivamente, conforme requerido pela linguagem da profecia, e de acordo com a prática judaica).
Mas 476 x 365 = 173.740 dias
Adicione (14 de março a 6 de abri, ambos inclusive) = 24 dias
Adicione 116 dias de anos bissextos
É igual a um total de 173.880 diasE 69 semanas de anos proféticos de 360 dias (ou 69 x 7 x 360) = 173.880 dias.
Pode ser adequado oferecer aqui dois comentários explicativos. Primeiro, ao considerar os anos de AC a DC, um ano precisa sempre ser omitido. Por que é óbvio, que de 1 AC até 1 DC não existem dois anos, mas somente um. 1 AC deveria ser descrito como 0 AC, e é assim considerado pelos astrônomos, que descrevem a data histórica 445 AC como 444 AC. Segundo, o ano juliano é 11m 10 46s, ou aproximadamente a centésima vigésima nona parte de um dia mais longo que o ano solar médio. Portanto, o calendário juliano contém três anos bissextos a mais em quatro séculos, um erro que teria se acumulado para onze dias em 1752 quando o calendário inglês foi corrigido declarando-se o 3 de setembro como sendo o 14 de setembro, e introduzindo-se a reforma gregoriana que considera três anos seculares de cada quatro como anos comuns, por exemplo, 1700, 1800 e 1900 são anos comuns e o ano 2000 é um ano bissexto. "O antigo dia de Natal" ainda é marcado nos nossos calendários, e é observado em algumas localidades no dia 6 de janeiro; e até este dia o calendário permanece incorreto na Rússia. (Veja o Apêndice 4, pág. 306, nota 8.).
[8] theopneustos (2 Timóteo 3:16).
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Data da publicação: 14/3/2005
Revisão: http://www.TextoExato.com
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