Criando uma Nova Sociedade: Os Agentes de Transformação e Traficantes de Influência

Autor: Carl Teichrib, Forcing Change, Edição 1, Volume 6.

"... desde seus primeiros dias, as fundações manifestaram uma crença na importância do planejamento dirigido pela elite para o desenvolvimento mais ordeiro da sociedade. Há muito tempo que as fundações aceitaram a ideia que é melhor que as sociedades sejam lideradas por alguns poucos indivíduos talentosos e cuidadosamente selecionados... Os líderes da sociedade decidirão a agenda a ser seguida pela maioria..." — Edward Berman. [1].

"Todos controlamos e todos somos controlados." — B. F. Skinner. [2].

A engenharia social, a atividade de mudar a mente e o coração dos indivíduos de modo a transformar o comportamento pessoal e do grupo, é uma ação gradual e progressiva. Mas, não entenda errado. Não se trata de "revolução". Ao contrário, é um processo de ação incremental que cumulativamente se move rumo ao objetivo de um "mundo melhor" ou de uma "sociedade boa". Para a pessoa mediana que vive no momento da transformação cultural, essas areias móveis acionam sensações de um vago desconforto. Algo parece não estar correto. Todavia, progredimos: aceitando valores e visões culturais com os quais nossos pais lutaram em seu tempo, nossos avós se recusaram a aceitar, e nossos bisavós... bem, essas ideias de transformação nunca devem ter passado por suas cabeças. Ou, por outro lado, eles tinham visto os resultados do "mundo melhor" em lugares como a Itália fascista de Mussolini, a utopia soviética de Stalin, ou na Alemanha nacional-socialista de Adolf Hitler.

Os agentes de transformação de ontem e no presente compreendem que, para a cultura mudar fundamentalmente de modo permanente, os valores sociais precisam se mover de forma gradual até que um ponto de virada seja alcançado. Para isto ocorrer, núcleos institucionais de irradiação de prestígio e poder precisam primeiro ser alterados a partir de dentro: o governo, o sistema educacional, a mídia e a cultura popular, as organizações religiosas e outros centros de influência social precisam adotar a nova cosmovisão. Depois que os guardiões nesses setores aceitarem a nova ordem, o grupo maior de indivíduos que constitue a civilização experimentará um pressão em direção à transformação — a criação de uma nova mente para uma nova sociedade.

Neste ponto uma porcentagem da população geral, com poder de voz, adota a retórica da "transformação". O ímpeto dos grupos de raiz popular cresce à medida que eles afirmam que essa transformação é deles mesmos, vendo-a como "orgânica" — uma abordagem de baixo para cima. As exigências são feitas em alta voz; o 1% da camada superior da sociedade precisa se reformar e aceitar a "vontade do povo". Precisamos nos livrar das correntes dos antigos mestres, é o que nos dizem. Não importa que outros mestres "de cima para baixo", aqueles que propuseram a mudança muito antes que o público pegasse o vento da ideia, estejam esperando nas laterais, com sua própria versão de transformação.

A Base Bíblica

"Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida." [Provérbios 4:23].

Provérbios 4:23 apresenta uma grande responsabilidade: guardar nossos corações com toda a diligência, pois dele procedem as fontes da vida — aquilo que é fundamental para viver. Nesse verso, o conceito de "coração" reflete a totalidade do ser humano: nossas mentes, nossas vontades, nossas almas. Isto, somos instruídos, deve ser guardado, ou protegido. E a sabedoria, conforme explicado no verso 7 do mesmo capítulo, é o que há de mais importante de obter nesse aspecto:

"A sabedoria é a coisa principal; adquire pois a sabedoria, emprega tudo o que possuis na aquisição de entendimento.".

Existe subjacente nesses versos um senso de comprometimento: "Obter" sabedoria e "guardar" seu coração refletem ações, não passividade.

Todos os dias encontramos alguma coisa que aperta nosso coração; batalhamos com desejos, emoções poderosas, a lascívia e uma miríade de tensões, questões e sentimentos. É uma batalha pessoal contra a tentação e a luta — o desafio de viver em um mundo pecaminoso. Provérbios 4:24-27, que fala sobre a busca intencional da justiça, é mais fácil de dizer do que praticar:

"Desvia de ti a falsidade da boca, e afasta de ti a perversidade dos lábios. Os teus olhos olhem para a frente, e as tuas pálpebras olhem direto diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam bem ordenados! Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal."

Além da batalha diária de guardar nossos corações e mentes contra as fraquezas e tentações pessoais, somos constantemente pressionados por movimentos e filosofias que procuram mudar nossos corações e mentes. Isto é evidente em nossas instituições educacionais, na mídia e na indústria da propaganda, nos programas do governo e até dentro das comunidades religiosas.

Portanto, em todas as facetas da vida, guarde seu coração e sua mente, pois deles procedem as "questões da vida". [FC].

As Fundações e a Transformação

Os agentes de mudança "de cima para baixo" que estão "reformando" nossas instituições políticas e sociais não são difíceis de descobrir. De fato, nos últimos cem anos no mundo ocidental, e nos EUA em particular, um exército de engenheiros sociais e políticos foi aceito como parte da paisagem estrutural. Entram em cena os "especialistas" traficantes de pressão: o complexo entrelaçamento entre as fundações filantrópicas, centros de estudos e debates, organizações executivas e a alta academia.

Hoje, se você for uma pessoa de significativa influência política, é muito provável que tenha passado tempo atravessando essas portas rotatórias (e provavelmente também pelo mundo empresarial e financeiro). Isto é exatamente o que está acontecendo desde os dias de Andrew Carnegie, Nicholas Murray Butler, Teddy Roosevelt e Woodrow Wilson. [3].

Entretanto, é preciso também dizer que nem todas as fundações e centros de estudos e debates operam como agentes da transformação internacional. Mas, há um grupo seleto de fundações "progressistas" que carrega esse estandarte e é esse grupo que vamos examinar aqui.

Exemplos de fundações globalistas incluem o Fundo Carnegie para a Paz Internacional (e outros órgãos Carnegie), o Fundo Irmãos Rockefeller e a Fundação Rockefeller, a Fundação Ford, a Fundação MacArthur e a Fundação Paz Mundial. Centros de estudos e debates e organizações executivas "intermediários" de mentalidade similar incluem o Instituto Brookings, o Conselho das Relações Internacionais (CFR), o Instituto Aspen, e o Conselho de Pesquisas em Ciências Sociais. Em termos de influência globalista por meio da alta academia, podemos citar a Escola de Economia de Londres, o Conselho Americano para a Educação (mais uma "organização executiva"), a Escola de Direito de Colúmbia, o Centro de Estudos Internacionais de Oxford e seu programa Governança Econômica Global, e o papel histórico que os mais importantes professores universitários desempenham como assessores dos governantes, diretores das fundações e membros dos principais centros de estudos e debates.

O início da família de fundações Carnegie é um excelente e bem importante exemplo dessa interconexão, pois Andrew Carnegie (NT: magnata da indústria siderúrgica nos EUA) é considerado o pai das fundações filantrópicas. Considere a seguinte história, conforme apresentada pelo Instituto Carnegie para a Ciência:

"Em 1901, Andrew Carnegie se aposentou da vida empresarial para iniciar sua carreira na filantropia. Em seus novos empreendimentos, ele considerou a criação de uma universidade nacional em Washington DC, similar aos grandes centros de instrução que existiam na Europa. Mas, como ficou preocupado que uma nova universidade poderia enfraquecer as instituições existentes, ele optou por um empreendimento mais interessante, porém também mais arriscado — uma organização de pesquisa independente que aumentasse o conhecimento científico."

"Carnegie contactou o presidente Theodore Roosevelt e declarou sua prontidão de doar 10 milhões de dólares (valores da época) para o novo instituto. Ele acrescentou mais 2 milhões de dólares ao fundo em 1907, e mais 10 milhões em 1911."

"Para constituir a primeira junta de curadores, Carnegie convidou o presidente dos EUA, o presidente do Senado e o presidente da Câmara dos Representantes, o secretário do Instituto Smithsonian e o presidente da Academia Nacional de Ciências. No total, ele selecionou 27 homens para a junta original da instituição. O primeiro encontro deles foi realizado no gabinete do Secretário de Estado, em 29 de janeiro de 1902, e Daniel C. Gilman, que tinha sido reitor da Universidade John Hopkins, foi eleito presidente." [4].

Além disso, quando o Fundo Carnegie para a Paz Internacional foi criado em 1910 — após incentivo de Nicholas Murray Butler, o reitor da Universidade de Colúmbia — o primeiro presidente do Fundo foi o senador e ex-Secretário de Estado Elihu Root. O ex-embaixador Robert S. Brookings foi acrescentado à lista de curadores; anos mais tarde ele fundou o Instituto Brookings, que atualmente é um dos mais influentes centros de estudos e debates nos EUA. Histórias similares de "interconexão" poderiam ser dadas para os outros grupos importantes. Entretanto, conforme mencionado anteriormente, muitas dessas fundações e organizações viam a administração social como uma prioridade desde o início de suas atuações.

Citações Sobre uma Nova Civilização:

"A partir do fermento da ciência moderna, da educação, organização e da tecnologia, emergirão novas formas e espíritos de cooperação e controle, com novas instituições e valores, diante de uma nova civilização." — Charles E. Merriam, The Role of Politics in Social Change (Nova York, University Press, 1936), págs. 121-122.

"O termo 'civilização' pode soar portentoso... mas nenhum outro é abrangente o suficiente para incluir questões tão diversas como tecnologia, vida familiar, religião, cultura, política, negócios, hierarquia, liderança, valores, moralidade sexual e epistemologia."

"Mudanças rápidas e radicais estão ocorrendo em cada uma dessas dimensões da sociedade. Mude tantos elementos sociais, tecnológicos e culturais ao mesmo tempo e você cria não apenas uma transição, mas uma transformação, não apenas uma nova sociedade, mas o início, no mínimo, de uma civilização totalmente nova." — Alvin & Heidi Toffler, Creating a New Civilization: The Politics of the Third Wave (Turner Publishing, 1995), págs. 28-29; tradução nossa.

"Nosso foco está na estrutura organizacional da existência humana coletiva."

"Acreditamos que isto necessariamente modificará a estrutura atual da ordem mundial, mas que somente será possível após um esforço considerável de persuação, planejamento e mobilização nas partes principais do planeta." — Richard A. Falk, Toward a New World Order, On the Creation of a Just World Order (The Free Press, 1975), pág. 223.

A família de fundações Carnegie fornece alguns exemplos fascinantes.

• O Instituto Carnegie de Washington (agora chamado de Instituto Carnegie para a Ciência) criou o Departamento de Evolução Experimental, em Cold Springs Harbor, estado de Nova York, assim financiando e capacitando o movimento da eugenia, tanto nos EUA quanto na Alemanha. Veja o estudo "Eugenia e as Fundações", na Parte 2 desta edição da Forcing Change.

• Dinheiro da fundação Carnegie foi canalizado para a Fundação Paz Mundial, que em 1912 promoveu um programa de cinco pontos para o governo mundial: 1) Um sistema judicial internacional; 2) Um Parlamento, ou Congresso Mundial; 3) Um sistema de leis internacionais; 4) Um Exército e uma Marinha internacionais; 5) Um Protetorado Internacional com uma Polícia Internacional. Além disso, existia uma sobreposição substancial entre os membros da junta e pessoal do Fundo Carnegie para a Paz Internacional e a Fundação Paz Mundial. Para analisar o programa dos cinco pontos completo, leia o estudo "Em Suas Próprias Palavras: A Boa Vontade Internacional", na Parte 3 desta edição da Forcing Change.

• O Fundo Carnegie para a Paz Internacional trabalhou para fazer avançar o internacionalismo por meio da "bem-organizada e sistemática educação da opinião pública" [5]. Para este fim, o Fundo criou as "Alcovas da Mente", onde coleções de livros especiais, de uma perspectiva globalista e esquerdista, ficassem disponíveis para o público em geral. [6]. Graças a Andrew Carnegie, a infraestrutura para essas Alcovas da Mente já existiam. De 1886 até 1920, Carnegie financiou a construção de 1.681 bibliotecas públicas nos EUA (e mais de 800 em outros países). [7]. Em uma época em que o rádio estava em sua infância e a televisão ainda não existia, o programa de construção de bibliotecas do Fundo foi um instrumento magistral para moldar a educação e a opinião pública.

Sem qualquer surpresa, essa "educação da opinião pública" convergia com a afirmação do Fundo de "pesquisa científica", pois se relacionava com a economia e direito internacionais. [8]. O relatório do Congresso dos EUA sobre as Fundações Isentas de Impostos, de 1954/1955, observou que "um dos principais propósitos do Fundo era 'educar' o público para que ele ficasse condicionado para os pontos de vista que o Fundo favorecia." [9].

• Ao revisar o primeiros relatórios anuais do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, é óbvio que eles estavam profundamente envolvidos em moldar a opinião e a política do governo — parcialmente por meio do apoio às "Agências de Propaganda" e das "Verbas de Propaganda" do Fundo" — e por meio de suas muitas comissões e departamentos que interagiam diretamente com os criadores de políticas e escritórios do governo. Para este fim, o Fundo enfocou os assuntos internos, como educação e imigração, e estabeleceu comissões e agências para analisar as questões de política externa, incluindo opiniões sobre esforços de guerra e defesa do direito internacional. O Fundo também estava profundamente envolvido com o apoio aos organismos internacionais que estavam interligados com o governo americano e estrangeiros, incluindo a União Interparlamentar, o Movimento Pan-Americano, e a Corte Permanente de Arbitragem, em Haia, na Holanda. Por sua própria admissão, o Fundo Carnegie era "um instrumento não oficial de política internacional." [10].

Este papel nas questões internacionais foi reconhecido por um comitê do Congresso presidido por Carroll Reece, de 1953 a 1955. Comentando sobre o Fundo, o relatório dizia o seguinte:

"... o Fundo tem realizado projetos vitais de pesquisa para o Departamento de Estado; criando virtualmente departamentos menores, ou grupos, dentro do Departamento para isto; tem fornecido assessores e executivos de suas próprias fileiras; alimentado um constante encaminhamento de pessoal para o Departamento de Estado, todos treinados por ele mesmo, ou dentro dos programas que ele financia; e têm tido muito que ver com a formulação da política externa, tanto em princípios quanto em detalhes." [11].

Mas, o relatório do Comitê Reece, intitulado "As Fundações Isentas de Impostos", tinha muito mais a dizer. Enfatizando os três titãs, o Fundo Carnegie para a Paz Internacional, a Fundação Rockefeller e a Fundação Ford, o comitê observou:

"No campo internacional, as fundações e o entrelaçamento entre algumas delas e certas organizações intermediárias, exercem um forte efeito sobre nossa política externa e sobre a educação pública nas questões internacionais. Isto tem sido realizado por meio de vasta propaganda, fornecendo executivos e assessores para o governo e controlando muita pesquisa nesta área por meio do poder das bolsas acadêmicas. O resultado líquido desses esforços combinados tem sido promover o 'internacionalismo' em um sentido particular — uma forma direcionada para o 'governo mundial' e um enfraquecimento do 'nacionalismo' americano. As fundações têm apoiado uma deliberada distorção da história, propagandeado cegamente as Nações Unidas como esperança para o mundo, têm apoiado as agências dessa organização em um nível superior ao da aceitação pública geral e se inclinado em direção a uma abordagem geralmente 'esquerdista' para os problemas internacionais" [12].

Isto, o Comitê observou, era subversivo — não em um sentido revolucionário — mas por meio de "um gradual solapamento, uma persistente corrosão dos fundamentos em que as crenças se apoiam." [13].

Sonhos do Milênio

Muitos exemplos históricos de como as fundações atuaram como uma locomotiva para a transformação social poderiam ser explorados. E deveriam ser explorados. Entretanto, é importante observar que projetos mais recentes demonstram a continuidade desta agenda.

Tive experiência própria neste campo ao participar de eventos internacionais. Por exemplo, em 2002, participei da Conferência Global FIM, em Montreal, província de Quebec, Canadá. Ali, as principais personalidades do Movimento Federalista Mundial, a Organização Mundial do Comércio e da Organização das Nações Unidas debateram com os representantes dos governos e de organizações não governamentais.

Os itens de interesse incluíram os esquemas de tributação mundial, a criação de um Parlamento Mundial "Popular", o fortalecimento da ONU e a questão de como as administrações locais (municípios e condados) poderiam ser envolvidas na crescente esfera da governança internacional. Bill Graham, naquele tempo o ministro canadense das Relações Internacionais, disse em uma sessão de Perguntas e Respostas que apoiava a ideia de um Parlamento Global vinculado com a Organização Mundial do Comércio. O patrocínio financeiro para esse evento foi dado pelas Fundações Ford e Rockefeller, além de suporte do governo de Quebec.

Governança Global 2002 se encaixava com alguns dos projetos pré-milênio produzidos por muitas importantes fundações e centros de estudos e debates. Durante os anos 1990s, essas entidades pressionaram para que a comunidade internacional discutisse e adotasse certa medida de segurança cooperativa: a ideia de uma estrutura de segurança global. Alguns desses projetos estavam baseados em uma única conferência; outros em uma série de projetos de pesquisa, consultas, assembleias e análises publicadas. Na maioria dos casos, um profundo entrelaçamento estava claramente evidente. Embora algumas das ideias fossem novas, o conceito básico da "ordem internacional" que era desenvolvido por esses projetos era bem antiga, pois como mencionado anteriormente, a Fundação Paz Mundial — apoiada por pessoal da Fundação Carnegie — apresentou uma versão de segurança coletiva em 1912 (veja a Parte 3 adiante).

Alguns exemplos pré-milênio são dados a seguir, com três projetos explicados em algum detalhe.

"O desenvolvimento da governança global é parte da evolução dos esforços humanos para organizar a vida no planeta e esse processo sempre estará em andamento. Nosso trabalho é nada mais do que uma parada de trânsito nessa jornada." [19].

E isso nos traz de volta à minha experiência na conferência Governança Global em 2002, em Montreal, pois foi o relatório Nossa Vizinhança Global que definiu o tom para aquele evento.

Atualmente, o Fundo Carnegie para a Paz Internacional, que opera como uma fundação de concessão de bolsas e um grupo de pesquisa de políticas, está trabalhando arduamente para se tornar "o primeiro centro de estudos e debates internacional e talvez global". [20]. Além de sua sede em Washington DC, o Fundo tem um escritório europeu em Bruxelas (Bélgica), um instituto em Moscou (Rússia), um "Centro Carnegie do Oriente Médio" em Beirute (Líbano), e o "Centro Carnegie-Tsinghua", em Pequim, na China. Acredita-se que o Fundo abrirá instituições similares na Índia, na América Latina e na África.

Salões do Poder

É preciso observar que os centros de estudos e debates e as fundações não são grupos lobistas no sentido popular do termo. Escrevendo sobre a complexidade da comunidade dos centros de estudos/fundações, James McGann, do Instituto de Pesquisa em Política Externa, diz:

"As leis tributárias que regem as organizações não-lucrativas nos EUA proíbem que elas tentem influenciar uma determinada legislação, de modo que os centros de estudos e debates tendem a minimizar, em vez de exagerar, suas influências sobre as grandes questões políticas." [21].

Apesar disto, as fundações e centros de estudos progressistas são centros de poder — fornecendo um padrão a ser seguido e uma plataforma de lançamento para as elites ocidentais, uma casa para elas retornarem, e orientações. No último trimestre de 2008, a Corporação Carnegie de Nova York (a principal das fundações Carnegie) lançou seu portal "Conselhos ao Presidente", uma página na Internet onde mais de 140 fundações, centros de estudos e debates e grupos de mídia podem publicar documentos e trabalhos de pesquisa sobre política interna e externa. (http://advicetothepresident.org). A Corporação Carnegie esperava que o website "ajudasse a orientar o presidente Obama e sua administração", mas também observou que aquele era um local para apresentar diferentes visões para os cidadãos interessados." [22]. Em outras palavras, o propósito era ajudar a moldar o debate na arena pública.

Isto faz sentido a partir de um ponto de vista de formar opiniões, pois as principais fundações e centros de estudos e debates já têm um relacionamento de portas abertas com os líderes do governo, gabinetes no Congresso e as agências federais. Observando essa estrada de duas vias existente, a publicação Carnegie Reporter comentou como a administração Obama impactaria o Instituto Brookings — presidido pelo ex-Sub-Secretário de Estado Strobe Talbott, [23] um defensor do governo mundial:

"Um papel crítico exercido pelos centros de estudos e debates é oferecer um refúgio para o desenvolvimento de ideias para os indivíduos que deixam os compromissos em tempo integral ao servirem na administração de um presidente... Exatamente ao mesmo tempo em que estava se preparando para perder a embaixadora na ONU Susan Rice e outros pesquisadores e acadêmicos do Instituto Brookings para a administração Barack Obama, Talbott estava simultaneamente cortejando membros da administração Bush, que estavam deixando seus cargos, para virem para o Instituto." [24].

Na edição da primavera de 2009 do Carnegie Reporter, o jornalista convidado Lee Kats escreveu sobre o aparecimento das fundações e centros de estudos e debates: "Eles podem ser vistos quase que como um quarto poder do governo, influenciando o Congresso, as agências do governo federal e as administrações presidenciais." [25]. Além disso, P. J. Crowley, que agora serve como secretário-assistente no Departamento de Estado, chamou essas instituições de "a coisa mais próxima que temos de um governo secreto". [26].

Um bom exemplo disto foi dado em 15 de julho de 2009, quando a Secretária de Estado Hillary Clinton fez um discurso sobre política externa na filial recém-inaugurada em Washington do Conselho das Relações Internacionais (CFR) — um centro de estudos e debates que historicamente tem defendido o internacionalismo e que está interconectado com fundações similares.

"Muito obrigada... estou muito contente por estar aqui nesta nova sede. Já estive diversas vezes na sede principal em Nova York, mas é bom ter um posto avançado do Conselho aqui perto do Departamento de Estado. Recebemos muitas recomendações do Conselho, de modo que isto significa que não tenho mais de ir muito longe para receber instruções sobre o que devemos fazer e o que devemos pensar sobre o futuro."

Tornando-as Funcionais

As fundações, os centros de estudos e debates e as organizações da academia e executivas internacionalistas e de mentalidade esquerdista podem ser vistos como atacadistas transformacionais. Quando desempacotamos o padrão de influência deles, podemos discernir uma linhagem. Aqui está uma divisão incompleta, porém reveladora; tenha em mente que existem outras complexidades, incluindo pontos não abordados neste estudo, tais como os canais financeiros e empresariais, as organizações de pesquisa do governo e privadas, associações de saúde mental e grupos religiosos. Entretanto, inclui os Programas Culturais — frequentemente financiados pelas fundações — e Mídia/Publicações, pois os membros dos centros de estudos e debates regularmente escrevem artigos que são publicados nos jornais e são frequentemente convidados para participarem de programas de televisão que discutem problemas diversos.

O Público Geral

As grandes fundações e centros de estudos e debates influenciam o governo por meio dos assessores especiais, representação em comissões e comitês, apresentação de relatórios e trabalhos de pesquisa, envolvimento em audiências, aplicando pressão via grupos de lóbi afiliados e envolvimento direto por meio da troca de pessoal e, conforme aludido pela secretária Hillary Clinton, sendo a base de recursos bem estabelecida para a qual o governo se volta em busca de orientações.

À medida que a política e os programas do governo se alinham com a cosmovisão dessas grandes fundações e seus círculos entrelaçados, outras instituições cívicas e sociais — educação, mídia e órgãos religiosos — começam a papaguear o novo paradigma. Segmentos do público geral, facilmente influenciáveis depois de constantes pressões (durante décadas) para a mudança, aceitam a retórica da transformação. Além disso, um ponto é alcançado em que uma porcentagem do público realmente pensa que essa transformação progressiva é sua ideia (conforme indicado anteriormente). Isto inicia o estágio da posse "comum" e logo todos sentem que uma transição está ocorrendo, pois de fato está.

Dois circuitos de realimentação neste ponto público exercem um papel crucial. O primeiro deles é estrutural. A comunidade da fundação ou do centro de estudos e debates realiza e divulga relatórios sobre suas análises, realiza pesquisas de opinião e monitora de diversas outras formas as respostas do público. Esses instrumentos de pesquisa não são novos, mas suas conclusões agora exercem mais influência à medida que corroboram a mudança de paradigmas. Armados com esses dados de apoio obtidos da população em geral, as elites das fundações e dos centros de estudos e debates apresentam suas conclusões para os comitês do Congresso, comissões especiais e outros canais do governo. Por sua vez, aqueles que criam as políticas do governo ajustam os programas existentes, criam novos programas e implementam mudanças administrativas para refletir a nova realidade. Eventualmente, isto é filtrado e chega ao âmbito do público e o ciclo de realimentação se repete outra vez.

O segundo circuito de realimentação é simplesmente o inverso do diagrama mostrado anteriormente, mas com o tempo ele se torna menos trabalhado, mais emocional e mais populista. Alcançando um estágio crítico, as massas aceitam a nova cosmovisão e a agenda da transformação como as únicas opções viáveis para corrigir os problemas da sociedade. Por sua vez, o público exige que as escolas, governos e outras instituições "mudem para se adaptarem aos novos tempos" e façam alguma coisa. A massa despertada pode, neste ponto, emergir como um movimento. Quando isto acontece, a experiência é chamada de "orgânica" — uma convergência no nível de raiz popular das emoções e atividades dedicadas a uma nova cosmovisão e a uma nova "comunidade" — o sentimento de "pertencer" e ter a mudança controlada pelas massas.

Assim, a pressão é exercida de baixo para cima, para as camadas sociais e políticas superiores e, à medida que o ânimo do público ganha energia, os criadores de políticas respondem. As fundações e os centros de estudos e debates, por sua vez, discutem a natureza dessa evolução social e retornam suas compreensões para o sistema. Este é o jogo que tem sido jogado desde o aparecimento das fundações durante a Época das Transformações Progressistas na América, mais de cem anos atrás. Além disso, ele é um atestado de burrice para os assim chamados 99%, que deixam de ver que um elemento do 1% alimentou a raiva que eles sentem.

Notas Finais

1. Edward H. Berman, The Influence of the Carnegie, Ford, and Rockefeller Foundations on American Foreign Policy: The Ideology of Philanthropy (State University of New York Press, 1983), págs. 27, 33. O professor Berman adere à perspectiva marxista, porém sua análise merece consideração em diversos aspectos, especialmente naquilo que se relaciona como a alavancagem de influência. Berman defende a tese que as fundações estão interessadas em preservar o status social, pois fornecem um ambiente estável para o poder da classe empresarial e, assim, a classe empresarial que mantém as fundações, pode gerenciar adequadamente a transformação cultural de acordo com seus próprios planos.

2. B. F. Skinner, Science and Human Behavior (The Free Press, 1953/1965), pág. 438.

3. Nicholas Murray Butler é um excelente exemplo inicial. Veja Across the Busy Years, Volume 1-2, de N. M. Butler (Charles Scribner’s Sons, 1935, 1940). Veja também Michael Rosenthal, Nicholas Miraculous: The Amazing Career of the Redoubtable Dr. Nicholas Murray Butler (Farrar, Staus and Giroux, 2006).

4. Veja http://carnegiescience.edu/about/history.

5. Nicholas M. Butler, Across The Busy Years: Recolections and Reflections, Volume II (Charles Scribner’s Sons, 1940), pág. 90.

6. US House of Representatives, Special Committee to Investigate Tax-Exempt Foundation and Comparable Organizations, Tax-Exempt Foundations (Government Printing Office, 1954/1955), págs. 173-174.

7. Karen Theroux, A Century of Philanthropy: Carnegie Corporation of New York, American Libraries, 13/9/2011, edição on-line (http://americanlibrariesmagazine.org).

8. John Whiteclay Chambers II, Carnegie Endowment for International Peace, The Oxford Companion to American Military History (Oxford University Press, 2000), Highbeam.com, 19 de fevereiro de 2010.

9. Tax-Exempt Foundations, pág. 172.

10. Tax-Exempt Foundations, pág. 177.

11. Tax-Exempt Foundations, pág. 181.

12. Tax-Exempt Foundation, págs. 18-19.

13. Tax-Exempt Foundations, pág. 205.

14. Jane Wales, Rockefeller Brothers Fund Project on World Security, 2000, pág. 11.

15. Idem, veja Part II: Investing in the Future, especialmente as págs. 29-34.

16. Mikhail Gorbachev, On Nonviolent Leadership, Essays on Leadership, (Carnegie Commission on Preventing Deadly Conflict, Carnegie Corporation de Nova York, 1998), págs. 58-59.

17. Commission on Global Governance, Our Global Neighborhood (Oxford University Press, 1995), pág. 221.

18. A Comissão Sobre Governança Global sugeriu que essa "força de paz" operaria via Nações Unidas (pág. 112). O envolvimento de Carnegie em promover uma força internacional vai desde a criação da Fundação da Paz Mundial, que apoiava a ideia de uma Polícia global antes da Primeira Guerra Mundial. Outro exemplo é o relatório de 1957, A United Nations Peace Force (Uma Força da Paz das Nações Unidas), preparado sob a orientação do Fundo Carnegie para a Paz Internacional.

19. Comissão Sobre Governança Global, Our Global Neighborhood (Oxford University Press, 1995), pág. xvi.

20. Lee Michael Katz, American Think Tanks: Their Influence is on the Rise, Carnegie Reporter, Spring 2009, pág. 22.

21. James G. McGann, Think Tanks and Policy Advice in the US (Foreign Policy Research Institute, 2005), pág. 17.

22. Advice to the President: Ideas to Shape the Agenda of the Obama Administration, Carnegie Reporter, Spring 2009, veja a quarta capa.

23. Veja o artigo de Talbott, The Birth of a Global Nation, Time Magazine, 20 de julho de 1992. Talbott recebeu o Prêmio Governança Global da Associação Federalista Mundial por este artigo que promovia o governo mundial.

24. Lee Michael Katz, American Think Tanks: Their Influence is on the Rise, Carnegie Reporter, Spring 2009, pág. 19.

25. Lee Michael Katz, American Think Tanks: Their Influence is on the Rise, Carnegie Reporter, Spring 2009, pág. 12.

26. Idem, citado por Katz, pág. 14.


Parte 2

Eugenia e as Fundações

"Evidentemente, temos muito mais em comum com os bois do que com os gatos, pois somos conduzidos como um rebanho com uma facilidade impressionante." – John Glad [1].

Eugenia, a "ciência aplicada" de dirigir a evolução biológica humana, tem um histórico que pode ser rastreado até o tempo de Darwin e seu meio-primo, Francis Galton, o "Pai da Eugenia". Entretanto, para muitos estudantes de história, o foco da atividade eugenista está na Alemanha nazista. Aqui, a eugenia foi aplicada "positivamente', como o Projeto Lebensborn e outros programas destinados a desenvolver a vitalidade da etnia alemã; e "negativamente", como a eliminação de populações consideradas sub-humanas, como os judeus e os eslavos.

O que muitos no mundo ocidental não entendem é que o movimento eugenista foi inicialmente dominado pelas comunidades intelectuais e científicas dos EUA e da Grã-Bretanha, com a Índia liderando o caminho ao legislar medidas de eugenia em 1907.

Entretanto, por trás de muito do incentivo para dirigir a evolução humana durante a primeira metade do último século, podemos descobrir que as fundações progressistas exerceram um papel de liderança.

Isto foi evidente na Publicação No.1 do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, intitulada Some Road Towards Peace, e publicada em 1914. Aqui, sob a direção especial de Nicholas Murray Butler, estava o relatório final de Charles W. Eliot, que tinha viajado para o Oriente para compreender melhor a causa da paz, representando o Fundo. As observações dele a respeito de "pureza racial" permitiram que ele fizesse alguns comentários sobre as políticas de imigração:

"A experiência do Oriente ensina que o casamento interracial envolvendo etnias que são distintamente diferentes é indesejável, pois a descendência desse tipo de mistura é, como regra, inferior a cada uma das etnias dos país, tanto física quanto moralmente, um fato que já foi demonstrado em larga escala..."

"Reduzir as insatisfações causadas pela questão da imigração, ou evitar o aparecimento dessas insatisfações, seria um bom modo de garantir a manutenção de relações amigáveis entre duas nações quaisquer... Se o valor da pureza racial for firmemente estabelecido entre os princípios da eugenia, isto terá forte influência para o bem com relação às crescentes migrações raciais. O Oriente oferece diversas ilustrações da segurança da pureza racial, e das más consequências do cruzamento racial entre variedades dissimilares da espécie humana." [2].

Os grupos Carnegie e a Fundação Rockefeller procuraram influenciar mais o desenvolvimento humano financiando diretamente a pesquisa da eugenia nos EUA. Para este fim, o Instituto Carnegie de Washington criou o Departamento de Evolução Experimental, em Cold Springs Harbor, estado de Nova York, em 1906. Na verdade, o plano para esse Departamento nasceu no mesmo ano em que o Instituto Carnegie foi oficialmente estabelecido: 1902. [3].

Embora alguns de nós possam estar surpresos em ver o quão cedo esse departamento foi criado, deve-se lembrar que naquele tempo, esse tipo de Departamento de Evolução Experimental não era abertamente controverso.

Desde 1880s até os anos 1930s, o movimento eugenista era frequentemente visto como exercendo uma parte valiosa no progresso da humanidade e da civilização, propondo leis de esterilização, políticas de imigração orientadas etnicamente e a internação forçada de indivíduos de "mente fraca".

O historiador Edwin Black chama isto de "guerra com luvas brancas" — uma guerra que não é lutada por soldados, mas por "estimados professores, universidades de elite, ricos industriais e autoridades dos governos." [4]. O propósito: "criar uma raça nórdica superior". [5].

Nos EUA, cerca de 60 mil indivíduos foram clinicamente esterilizados e estados como o Dakota do Norte proibiram o casamento inter-racial.

Entre aqueles que foram negativamente impactados por esta ciência do "progresso humano" estavam:

"... moradores empobrecidos das cidades e o 'lixo branco e rural'... imigrantes da Europa, negros, judeus, mexicanos, índios americanos, epiléticos, alcóolatras, criminosos condenados por delitos leves, doentes mentais e qualquer outro que não tivesse o aspecto do ideal loiro e de olhos azuis que o movimento eugenista glorificava." [6].

Edwin Black coloca isto em um contexto orientado para classe social e estilizado biologicamente:

"A eugenia não era nada mais que uma aliança entre o racismo biológico e a poderosa energia americana, posição e riqueza contra os mais vulneráveis, os mais marginalizados e os menos capacitados da nação. Os cruzados da eugenia tinham sido bem-sucedidos em conseguir mobilizar os mais fortes contra os mais fracos." [7].

Entretanto, a pesquisa com a eugenia foi muito além dos EUA. Antes e após a Primeira Guerra Mundial, essas mesmas fundações foram as principais financiadoras dos programas de higiene racial da Alemanha. O chefe do Departamento de Evolução Experimental, da Fundação Carnegie, mantinha correspondência regular com os eugenistas alemães. Edwin Black explica: "A Instituição Carnegie se tornou o centro mundial da eugenia para os pesquisadores alemães." [8].

Além do mais, o Eugenics Record Office (ERO), afiliado ao Instituto Carnegie e conectado com o projeto em Cold Spring Harbor, foi usado to direcionar a propaganda eugenista nazista nos EUA. Harry Laughlin, diretor-assistente do ERO, "ficou impressionado com os métodos modernos de propaganda racial nazista, especialmente o uso de filmes como meio de persuasão." [9].

Laughlin importou a edição inglesa de Erbkrank, "Hereditary Defective" (Defeituoso Hereditário), um filme sobre a esterilização dos indesejáveis. Ele exibiu o filme para os membros do Instituto Carnegie de Washington e eles ficaram impressionados com sua mensagem. Isto iniciou uma pressão para exibir o filme no país, e foram enviados materiais de propaganda para as escolas de nível médio; o filme acabou sendo exibido de 15 de março de 1937 até 10 de dezembro de 1938. [10].

E a Fundação Rockefeller? O sociólogo e historiador alemão Stefan Kuhl nos diz:

"A Fundação Rockefeller exerceu o papel central em estabelecer e patrocinar os principais institutos de eugenia na Alemanha, incluindo o Instituto Kaiser Guilherme para Psiquiatria, e o Instituto Kaiser Guilherme para Antropologia, Eugenia e Hereditariedade Humana..."

"... A Fundação continuou a apoiar os eugenistas alemães, mesmo após os nacionais-socialistas ter assumido o controle da ciência alemã." [11].

O Instituto Kaiser Guilherme para Antropologia, Eugenia e Hereditariedade Humana teve um papel importante no desenvolvimento da justificativa científica dos nazistas para suas políticas raciais. Black nos diz:

"Durante os dez primeiros anos do Reich, eugenistas em todos os EUA deram as boas-vindas aos planos de Hitler como o cumprimento lógico de suas próprias décadas de pesquisas e esforços. De fato, eles invejavam o fato de Hitler ter rapidamente começado a esterilizar centenas de milhares e sistematicamente eliminar os elementos não-arianos da sociedade alemã. Isto incluía os judeus..."

Os raciologistas estadunidenses ficaram muito orgulhosos por terem inspirado o Estado puramente eugenista que os nazistas estavam construindo. Naqueles anos iniciais do Terceiro Reich, Hitler e seus higienistas raciais prepararam cuidadosamente uma legislação eugenista modelada com base em leis que já tinham sido propostas em todos os EUA." [12].

Este foi o período da Grande Depressão e do aparecimento da Tecnocracia como um movimento. Black nos lembra:

"Fundações americanas, como a Instituição Carnegie e a Fundação Rockefeller financiaram generosamente a biologia racial alemã com centenas de milhares de dólares (valores da época), ao mesmo tempo que a população americana entrava em filas para tomar sopa." [13].

Notas Finais:

1. John Glad, Future Human Evolution: Eugenics in the Twenty-First Century (Hermitage Publishers, 2006), pág. 52.

2. Charles W. Eliot, Some Roads Towards Peace: A Report to the Trustees of the Endowment on Observations Made in China and Japan in 1912 (Carnegie Endowment for International Peace, 1914), págs. 8-9.

3. The Carnegie Institution of Washington: Scope and Organization (Carnegie Institution of Washington, 13 de dezembro de 1909), pág. 10.

4. Edwin Black, War Against the Weak: Eugenics and America’s Campaign to Create a Master Race (Four Walls Eight Windows Publishing, 2003), pág. xv.

5. Edwin Black, War Against the Weak, pág. xv.

6. Edwin Black, War Against the Weak, pág. xvi.

7. Edwin Black, War Against the Weak, pág. 57.

8. Edwin Black, War Against the Weak, pág. 263.

9. Stefan Kuhl, The Nazi Connection: Eugenics, American Racism, and German National Socialism (Oxford University Press, 1994), pág. 48.

10. Stefan Kuhl, The Nazi Connection, págs. 48-50.

11. Stefan Kuhl, The Nazi Connection, págs. 20-21.

12. Edwin Black, War Against the Weak, pág. 277.

13. Edwin Black, War Against the Weak, pág. 258.


Parte 3

Em Suas Próprias Palavras: A Boa Vontade Internacional

O texto seguinte foi extraído do panfleto de 1912 da Fundação Paz Mundial, intitulado A Boa Vontade Internacional como uma Substituição para os Exércitos e Marinhas, escrito por William C. Gannett. Essa fundação, que ainda existe hoje, era naquele tempo beneficiária do financiamento e tinha um relacionamento especial com Andrew Carnegie, vendo o barão da siderurgia como um herói na causa da ordem internacional — especialmente por ter criado o Palácio da Paz, em Haia, que se tornou a sede da Corte Permanente de Arbitragem.

Ao ler este texto curto, você poderá ficar um pouco surpreso, pois este documento antigo propõe uma ordem internacional baseada nos cinco componentes reconhecidos na busca moderna pela governança global. Hoje, essas cinco áreas são vistas como essenciais para uma ordem internacional capacitada e com poderes: 1) Um sistema judicial mundial; 2) Um Parlamento ou Congresso internacional; 3) Leis internacionais; 4) Uma força militar global; 5) Uma arquitetura unificadora para garantir a obediência e a segurança globais sob um protetorado internacional.

Nota: Os itálicos estão no original.

A organização do mundo em relações de paz e boa boa vontade! Isto não é mais um sonho, é um início. Mais do que em qualquer outra direção específica, estamos olhando para Haia para discernir esse início. Mas, olhando desde a Conferência de Haia para frente, pensamos que podemos ver claramente cinco passos na vindoura organização:

Primeiro. A Corte Internacional de Justiça Arbitral, já existe de forma embrionária e, nessa condição, já decidiu seis disputas internacionais; mas não esta corte que existe agora, convocada com dificuldade e somente de acordo com a vontade dos litigantes — não esta, mas uma corte em sessão permanente, com juízes regulares, e de fácil acesso. As nações, enquanto isto, estão assinando tratados, comprometendo-se umas com as outras a aceitarem a decisão final da Corte Internacional nas questões em disputa — mesmo aquelas que envolvam 'honra e interesses vitais', se o presidente Taft [dos EUA] tiver da forma como deseja. Que todas as bênçãos venham sobre ele! Entre as duas Conferências já realizadas, trinta e três tratados separados de arbitragem 'obrigatória' para certas classes de disputas foram registrados, e dois desses feitos pela Dinamarca, um com a Holanda, outro com a Itália, estipularam a arbitragem para todas as disputas sem exceções. A pequena Dinamarca estava seis anos à frente do nosso grande presidente. Por volta do fim de 1909, o número de acordos arbitrais tinha crescido para duzentos e oitenta e oito. (Cito o embaixador Hill, que foi parte dos eventos que descreve em seu novo livro intitulado World Organization and the Modern State [Organização Mundial e o Estado Moderno]).

Segundo. Um Congresso Internacional, como a atual União Interparlamentar, porém oficial, com sessões regulares e com membros delegados pelas nações para representá-las; seu trabalho será a discussão, formatação e recomendações de medidas para o bem-comum mundial.

Terceiro. Um Código de Direito Internacional, que cresça gradualmente com as decisões da Corte Internacional e as recomendações do Congresso Internacional. O Sr. Hill nos lembra que 'o preço de um único navio de guerra nunca foi gasto por todas as nações do mundo unidas para a organização judicial da paz'. Tolice nossa? Sim, e nesta questão, o que foi tolice ontem, é insanidade hoje e será crime amanhã. Se dez potências — Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Áustria, Itália, EUA, as Repúblicas Sul-Americanas como um grupo, China e Japão — contribuíssem cada com um décimo do custo equivalente a um navio de guerra para financiar a Corte de Arbitragem das Nações, em Haia, e uma Comissão para a Codificação da Lei Internacional, essa contribuição de um décimo de cada um pouparia esquadras inteiras de navios nos mares e promoveria mais felicidade na Terra do que provavelmente outros milhões que qualquer uma dessas nações já gastou ou possa gastar hoje.

Quarto. A Criação de uma Polícia Internacional — um Exército e uma Marinha internacionais, com seus integrantes fornecidos pelas nações unidas no propósito; inicialmente, somente por algumas, e depois por mais; a princípio tendo uma função muito limitada e depois sendo ampliada, tudo de acordo com tratados assinados. Um sistema policial é necessário para o mundo e, até que algo internacional desse tipo seja criado, é difícil ver como, dadas as atuais condições de desconfiança entre as nações, um desarmamento em qualquer escala ampla possa ser efetivado. Pode não estar tão distante como pensamos o dia para essa polícia internacional tomar o lugar dos Exércitos e Marinhas separados e com seus custos ruinosos. Até Sir Edward Gray, respondendo à proposta do presidente Taft, se aventurou a predizer isto. Cem ou duzentos policiais, com três ou quatro tribunais e uma cadeia, são suficientes para representar todo o elemento de força necessário para manter a justiça nas grandes cidades com centenas de milhares de habitantes. A paz reina entre eles, a ordem é mantida, os delinquentes são intimidados, os criminosos são mantidos afastados e medidas para o bem comum são implementadas, porque a opinião pública de toda a comunidade apoia o pequeno contingente de policiais uniformizados e armados com o cassetete da autoridade. Um pequeno Exército e uma pequena Marinha, com a força unida das grandes potências por trás deles, garantiria a proteção nacional e a paz mundial de forma mais eficaz e com um custo incomparavelmente menor para a humanidade do que Exércitos e Marinhas rivais que agora se exibem, rosnam e se provocam uns aos outros para que se atrevam a cruzar as fronteiras.

Quinto. Um Protetorado Internacional; isto é, o emprego da opinião pública conjunta das nações assim organizadas e, quando necessário, o emprego da Polícia Internacional, como um Protetorado contra os crimes nacionais. Sob esse Protetorado poderemos procurar uma maior extensão dos três métodos internacionais de manter a paz no mundo: Mediação, Intervenção e Neutralização das nações e territórios.

Chame isto de sonho, se quiser. Os soldados chamarão. Metade dos diplomatas chamará. Os políticos chamarão, a não ser que sejam estadistas. Muitos, mas não todos, os homens de negócios chamarão. A maioria de nós chamará. Mas, alguns também acrescentarão: "Um sonho que neste exato momento está começando a se tornar realidade e que o século 20 levará adiante, rumo à sua concretização". Os anos decidirão.


Autor: Carl Teichrib, Forcing Change, Edição 1, Volume 6.
Data da publicação: 26/2/2012
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/fundacoes.asp