O Parlamento das Religiões do Mundo — Um Relato Sobre o Encontro de 2015

Forcing Change, Volume 9, Edição 10.

Nota: Todas as citações, exceto quando indicado de forma contrária, foram extraídas das notas pessoais do autor, do livro de agenda do Parlamento e de outros materiais coletados durante o evento.

Milhares de vozes se uniram na canção e as vibrações melodiosas fluíram pelo espaço cavernoso do salão do plenário principal. "Lembrem-se de quem vocês são: Deusa, Mãe, a Shakti desta Terra", cantou a estimada autora hindu Vandana Shiva. A audiência respondeu cantando: "Deusa, Mãe, a Shakti desta Terra."

Aquela manhã haveria de ser bem interessante.

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"E se o mundo fosse um lugar onde fosse fácil reconhecer nossa humanidade comum, nossas virtudes e preocupações compartilhadas e nossa devoção coletiva à Terra?", perguntou a rabina Amy Eilberg. "E se o mundo inteiro, todos os sete bilhões de habitantes, fossem assim?"

Ojibwe 'Avó' Mary Lyons disse à multidão: "Quando vocês respiram, aspiram um fôlego da Mãe Terra. Quando expiram, aquilo são os seus ancestrais."

A autora sucesso de vendas na lista do jornal The New York Times sobre espiritualidade, Marianne Williamson, entusiasmou a multidão com seu carisma: "Toda mulher aqui que é uma saradora é também uma sacerdotisa. Toda mulher aqui que é professora, ou educadora, é uma sacerdotisa." O chamado dela para uma feminilidade sagrada energizou a grande multidão, que se levantou diversas vezes durante sua palestra de oito minutos de duração.

"Uma Deusa Divina não é apenas bela", Marianne exortou, "ela também é feroz. E quando alguém mexe com os bebês dela... e bagunça com a Terra dela, ela já teve o bastante de toda essa m#&*a. Estamos aqui em nome dela... vocês sabem o que fazer; portanto, vão e façam."

A resposta da audiência não foi apenas ovacionar Marianne em pé. Foi mais do que isto. As mulheres choravam, dançavam, levantavam as mãos, gritavam e assoviavam. Alguém até gritou: "Marianne para presidente!". Os tambores soaram em concordância. Não tenho dúvidas que alguns dos homens participantes também fizeram sua adoração, pois a sessão Plenária estava aberta para todos, mas onde eu estava sentado, o gênero masculino estava em grande parte ausente.

Após Marianne, a Dra. Serene Jones, presidente do Seminário Teológico União, nos convidou para sermos "atores políticos" e repensarmos o mundo. A enorme audiência respondeu com mais aplausos.

"Somos fortes", acrescentou a moderadora, aproveitando-se da emoção daquela manhã. "Somos mulheres. Não se engane a este respeito — somos fortes."

A Plenária das Mulheres, intitulada "Fé na Mulher", foi realizada na manhã de 16 de outubro, e foi uma vigorosa invocação do poder da deusa interior. Entretanto, como uma plenária, ela não foi um evento avulso. O dia anterior foi a inaugural Assembleia da Mulher, e também estive presente. Durante essa Assembleia, ouvi quando os palestrantes falaram sobre "A Mãe Divina dentro de nós", como estamos nos movendo para além da era do individualismo e entrando na era do coletivo, e como estamos entrando em um 'novo capítulo da evolução" à medida que nos movemos para o Todo.

"Somos um com toda a vida", explicou uma oradora da Assembleia. "Somos um com todos os povos. Somos um com o um." A multidão carregada de emoções respondeu: "Somos um com toda a vida... Somos um com o um."

Os espíritos das deusas antigas foram invocados para abençoar o encontro.

O Parlamento das Religiões do Mundo

Durante cinco dias — de 15 a 19 de outubro — cerca de 10.000 líderes religiosos e ativistas, representando aproximadamente 50 fés e movimentos espirituais, convergiram sob o título oficial de "Recuperando o Coração da Nossa Humanidade: Trabalhando Juntos para um Mundo de Compaixão, Paz, Justiça e Sustentabilidade."

Local: Centro de Convenções Salt Palace, em Salt Lake City, Utah, EUA. Evento: Parlamento de 2015 das Religiões do Mundo.

Na exploração do tema principal do Parlamento, diversos subtemas principais e fios de discussões comuns formaram a tapeçaria maior. A trilha da mulher era a mais óbvia, pois o evento de cinco dias recebeu o pontapé inicial com a citada Assembleia da Mulher, seguida pela primeira plenária temática sobre o tópico das mulheres — que foi encerrada por Phyllis Curott, presidente da Força-Tarefa das Mulheres e uma das "primeiras sacerdotisas wiccanas públicas do mundo", que leu a Declaração do Parlamento Sobre a Mulher.

Visualmente, o tema da Deusa foi poderosamente exibido em ambos os lados do corredor lateral do grande salão. Caminhando por ali, contei 89 faixas que retratavam imagens da deusas de diferentes religiões e culturas. No segundo andar do Salt Palace, um "Espaço Sagrado da Mulher" — o "Templo da Tenda Vermelha" — foi armado para a realização de rituais e encontros sagrados. Foi explicado que aquele era o "útero do Parlamento".

As preocupações com os povos indígenas e a espiritualidade aborígene constituíam outro tema do Parlamento. Diariamente, um Diálogo com os Povos Indígenas foi realizado, discutindo tópicos como "Proteção à Mãe-Terra" e "Profecias Indígenas". Uma procissão de líderes espirituais indígenas e batedores de tambores lideraram a Cerimônia de Abertura do Parlamento na noite da quinta-feira e a Plenária Indígena — realizada no dia 19 — reforçou a mensagem de unicidade e veneração à Mãe Terra. Para reter a "energia espiritual" indígena, uma Fogueira Sagrada foi mantida acesa durante os cinco dias. Como explica o livro de agenda do Parlamento:

"O Fogo Sagrado é aceso na cerimônia do nascer do sol no primeiro dia. Ele então queima continuamente, sob os cuidados dos Guardiões do Fogo e dos auxiliadores cerimoniais, até o fim do encontro e depois é deixado para queimar até se extinguir. A crença é que um Fogo Sagrado mantém aberta uma conexão direta com o Criador, a Mãe Terra, o Mundo dos Espíritos e com nossos ancestrais enquanto nos reunimos."

A mudança climática também foi outro tema principal e a Plenária do Clima iniciou com um coro de crianças de múltiplas fés, seguido por palavras de abertura de Marc Barasch, fundador da Campanha do Mundo Verde:

"Estamos aqui hoje para explorar a conexão entre a vida do espírito e o destino da Terra... Nós nos colocamos como um povo sob a mesma Árvore da Vida... e estamos buscando, cada um de seu próprio modo, harmonizar um profundo senso de unicidade e admiração com a urgência do nosso tempo, para que a Árvore continue a florescer."

Karenna Gore, diretora do Centro para a Ética da Terra, no Seminário Teológico União, filha de Al Gore, foi a moderadora da Plenária do Clima. O pai dela, o ex-vice-presidente dos EUA, enviou uma mensagem especial em vídeo para os participantes, lembrando-nos que o papa Francisco tinha anteriormente proposto uma ação global para "solucionar a crise climática".

O arcebispo Bernardito Auza, ocupando o posto de Observador Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, representou a Igreja Católica na plenária do Parlamento sobre a mudança climática. Para este fim, Auza observou a conexão do papa Francisco entre o "verdadeiro direito do meio ambiente" e "justiça social" e que o papa vê isto dentro do contexto da "ecologia integral". Em seguida, Auza leu uma seleção da encíclica papal "Sobre o Cuidado da Casa Comum".

"Quando falamos do 'meio ambiente', o que realmente queremos dizer é um relacionamento que existe entre a natureza e a sociedade que vive nela. A natureza não pode ser considerada como algo separado de nós mesmos ou como um mero ambiente em que vivemos. Somos parte da natureza, estamos incluídos nela e, portanto, estamos em constante interação com ela."

Como o arcebispo explicou, "a Terra, nossa Irmã, maltratada e abusada, está lamentando". O que precisamos, ele disse em referência à visão verde do papa, é de uma "conversão ecológica".

O chefe indígena Arvol Looking Horse, outro palestrante na plenária, disse à multidão que estamos em uma encruzilhada — enfrentar as consequências da destruição ecológica ou "nos unirmos espiritualmente nesta comunidade global". Looking Horse desafiou a audiência: "A Mãe Terra está enferma e com febre. Portanto, vamos parer de usar a fratura hidráulica, vamos interromper o KXL, vamos parar de abusar da Mãe Terra." [Nota: Fratura hidráulica é uma técnica de perfuração e extração de petróleo e KXL refere-se ao gasoduto Keystone XL.).

Posteriormente na plenária, o chefe François Paulette, dos Territórios do Noroeste Canadense — após dizer que ele era "servo da Mãe Terra" — acusou os projetos de exploração do xisto betuminoso de destruírem seu modo de vida.

"O que é pecado?" perguntou o chefe Paulette ao contar uma história. "O maior e pior pecado que um homem pode cometer é abusar da Mãe Terra". Assim, ele nos incentivou a pressionarmos aqueles que criam as políticas a darem fim à era do combustível fóssil, apontando para a indústria do petróleo de Fort McMurray em sua palestra.

Um palestrante na Plenária do Clima precisa receber menção especial, pois recebeu proeminência na agenda do Parlamento: o líder cristão emergente Brian McLaren (fotografia abaixo). Ele disse em sua abertura:

"Não sei o que vem primeiro. Amo a criação por que amo o Criador, ou amo a Deus por que não posso deixar de amar os peixes, as árvores, os pássaros, as montanhas e o ar fresco? Não sei o que vem primeiro, mas sei que os dois estão inextricavelmente unidos."

McLaren disse que muitas de nossas histórias de fé são "destrutivas e prejudiciais".

"Nossas antigas histórias, frequentemente diziam que Deus deu a Terra ao seres humanos, para que eles pudessem usá-la da forma que quisessem para seu próprio benefício e lucro", pregou McLaren. "Essas histórias diziam que Deus iria em breve destruir a Terra, o que dava às pessoas poderosas uma licença para saqueá-la, como se a Terra fosse uma loja que estivesse fechando as portas."

Embrulhando as "antigas histórias" em linguagem da desigualdade — um Deus que favorece os homens em detrimento das mulheres, os heterossexuais em detrimento dos homossexuais, uma fé sobre a outra — ou que nossas antigas histórias destacavam o destino e a iluminação pessoal "enquanto o restante do mundo queima na fumaça" — McLaren implorou que a multidão encontrasse um novo modo de avançar:

"Irmãos e irmãs, a Terra está cantando para nós, a Terra está chorando para nós, a Terra está gemendo para nós. O que a Terra está a dizer? Que as pessoas de fé precisam contar uma nova história saradora, uma história maior, melhor e mais cheia de graça, enraizada nas riquezas diversas de nossas várias tradições". Essa nova história nos levará a uma ação comum e conjunta. As religiões precisam se organizar para o bem comum — criando um movimento apaixonado, dinâmico e global de ativistas contemplativos para sarar o mundo e proteger todos os seres vivos."

Outras sessões plenárias lidaram com os Líderes Emergentes, Violência e Discurso de Ódio, e desigualdade de renda. As personalidades que falaram durante a plenária sobre renda incluíram Jim Wallis, da organização cristã Sojourners, e o ministro do Novo Pensamento Michael Beckwith, com mensagens em vídeo vindo do Dalai Lama e do presidente do Banco Mundial.

Com cada discurso e com cada ovação dada em pé, a audiência afirmava uma "nova história" para o planeta.

Simplesmente Demais

Cheguei ao centro de convenções na noite anterior à abertura do Parlamento para recolher os materiais. O lugar estava fervilhando com atividades: centenas de pessoas estavam se inscrevendo, outras armavam cabines e exibições e um templo jainista estava sendo construído dentro do corredor principal.

Ler a agenda era de tirar o fôlego: Centenas de palestras, oficinas, painéis, rituais, filmes, concertos e eventos paralelos estavam previstos, além, é claro, das cerimônias principais e das sessões plenárias. Diversas exposições artísticas, um labirinto e estações multimídia, onde você podia ouvir a encíclica do papa Francisco sobre a ecologia, estavam disponíveis para os participantes do Parlamento. Parecia que as atividades de motivação espiritual não teriam fim. Na verdade, das 371 páginas do livro da agenda, a programação para os cinco dias ocupava 180 páginas e cada uma delas descrevia cinco ou seis eventos. O restante do livro delineava as principais assembleias, continha cartas de dignatários, trazia informações variadas e listava as exibições. Cento e uma páginas estavam reservadas para as biografias dos palestrantes.

Era simplesmente demais para uma única pessoa cobrir tudo aquilo de forma adequada. Felizmente, outros autores e apologetas cristãos estavam participando, fazendo suas pesquisas e envolvendo-se na entrega da mensagem bíblica do Evangelho. Assim, pudemos comparar nossas anotações, coordenar a cobertura do evento, oferecer encorajamento e ajuda uns aos outros de diferentes formas. Isto foi uma grande bênção!

Entretanto, a variedade de opções disponíveis por hora era extraordinária.

Quanto a mim, participei de 20 oficinas e assembleias plenárias. Também passei um tempo interagindo na imensa galeria de exibições, coletando informações e conversando com pessoas de diferentes religiões. Durante os cinco dias, fui a diversos eventos musicais paralelos, passei um tempo em torno de locais-chaves, como o templo jainista e a exibição da mandala budista, e observei rituais e cerimônias. Por todo o lado que você olhasse, em todos os salões e salas, algo estava acontecendo.

Aqui está uma visão geral de algumas oficinas e palestras das quais participei.

O Papel da Mãe Divina na Religião e na Inter-Espiritualidade

Isto foi parte da Assembleia Inaugural das Mulheres e cada palestrante explorou como a deusa se manifesta nos modos antigos e modernos. Eles disseram que estávamos entrando em um período de tempo entre o "humano e o transumano" e seria por meio do poder da deusa que poderíamos "tocar a unicidade que conecta o todo".

Diversidade e Teologia Aplicada no Paganismo Contemporâneo

Gwendolyn Reece, uma sacerdotisa da deusa grega Atena e fundadora da Fundação do Espaço Sagrado, falou sobre o conceito pagão de cidadania, comunidade e cosmópolis. A ideia da comunidade mundial, ou cidade do mundo — cosmópolis — "aceita a interconexão de toda a realidade". Depois de ouvir a diversos apresentadores, ficou evidente que a expansão da cosmovisão pagã na cultura mais ampla tem um propósito sócio-espiritual específico: recriar um senso do sagrado com a Terra, uns com os outros, e com "seres não-humanos" na evolução da divindade. Como disse um palestrante: "Somos os facilitadores do estabelecimento de uma Nova Era”.

A Carta da Terra e a Nova Agenda de Desenvolvimento das Nações Unidas

Para aqueles que não ouviram falar da Carta da Terra, ela é uma breve, porém importante declaração que delineia um novo sistema de valores centrado na Terra. Após o Encontro de Cúpula da Terra da ONU, de 1992, no Rio de Janeiro, Maurice Strong, Mikhail Gorbachev e Steven Rockefeller iniciaram o processo de rascunho da Carta da Terra. Por volta do ano 2000, o documento foi finalizado e publicado. Desde então, ele tem sido adotado por inúmeras organizações, instituições e atores globais. Durante esta sessão, Mary Evelyn Tucker – co-diretora do Foro Sobre Religião e Ecologia na Universidade de Yale (EUA) — falou sobre a história da Carta da Terra, como ela é uma "grande realização do bem coletivo" e explicou que a Carta é uma luz de direção para nossa época de transição. Ela disse: "Estamos migrando para um novo período, para nosso lar de geração da comunidade da Terra".

Kusumita Pedersen, uma curadora do Parlamento e co-presidente do Centro Interfé de Nova York, descreveu a Carta da Terra em seu "contexto cósmico" — uma "confiança sagrada" — que fala à unicidade de todos.

Em termos de seu relacionamento com a Agenda de Desenvolvimento da ONU, foi observado que a Carta da Terra é um tipo de luz orientadora. Essencialmente, a Carta promove a cosmovisão que tudo está conectado e, assim, atua como um sistema de valores que está por trás da Agenda de Desenvolvimento. Também foi explicado que uma transição virá em termos de indicadores econômicos nacionais, mudando do Produto Interno Bruto para algo holístico — possivelmente um Indicador de Progresso Genuíno — como já implementado pelo estado americano de Maryland.

Somos a Terra: Os Pagãos Respondem ao Papa Francisco a Respeito do Meio Ambiente

Este foi um painel fascinante, pois representantes da comunidade pagã discutiram a encíclica do papa Francisco a respeito do meio ambiente. Sentimentos mistos estavam evidentes. Embora eles em geral concordassem com a natureza centrada na Terra da encíclica, foi reconhecido que ela estava direcionada primariamente para os católicos romanos, embora seus princípios pudessem ser aplicados de forma mais ampla.

Andras Corban-Arthen, curadora do Parlamento, disse que seu lado pagão diz que o papa "é um de nós", mas seu lado cínico e pós-católico ainda o questiona. John Halstead, fundador da Declaração da Comunidade Pagã Sobre o Meio Ambiente, apontou que a encíclica se refere à Terra como "Irmã" e "Mãe" e, em oito lugares, reconhece que tudo está interconectado.

Halstead traçou paralelos entre a declaração pagã e a mensagem do papa, lendo da encíclica e de um texto pagão, e depois perguntou se alguém poderia identificar quem escrevera aquilo. Após ler uma linha da encíclica papal — "Nossos próprios corpos são formados dos elementos dela, respiramos o ar dela e recebemos vida e refrigério de suas águas" – Halstead comentou:

"É interessante que a encíclica se refere à Terra como "ela" — no feminino, ela personifica a Terra. Quando li essa declaração na encíclica, pensei que aquelas palavras poderiam ter sido — e talvez tenham sido — usadas em rituais pagãos neste verão. Elas poderiam ter sido usadas em um festival pagão, ou em um ritual que celebra a mudança das estações."

Mas, embora Halstead tenha observado que "os cristãos e pagãos podem chegar ao mesmo lugar por caminhos diferentes" e tenha destacado o chamado do papa para uma "conversão ecológica", ele enfatizou que a linguagem da encíclica ainda favorecia uma visão antropocêntrica. Fomos lembrados que a ecologia profunda desafia a abordagem de que a humanidade está acima da natureza.

Durante a seção de perguntas e respostas, um pagão falou sobre a necessidade de afirmarmos nossa unicidade por meio do "Nós", ao contrário daqueles que exemplificam a separação por meio da pujança da economia. Em outras palavras, é tempo de restabelecermos uma comunidade empoderada pela sacralidade da Terra e que esteja acima dos divisivos interesses individuais e monetários. O separatismo precisa ser desmantelado por meio de esforços coletivos.

Isto criou ocasião para uma interessante resposta de outro pagão que participava do painel:

"A primeira coisa que veio à minha mente — e vocês podem me chamar de maluco — é uma revolução violenta e sangrenta, pois é a forma como isto é feito [risos da audiência]... o que, entretanto, não é o que eu defendo, mas é um modo realista como isto foi tratado no passado."

Mas, a revolução, a mesma pessoa explicou, nem sempre funciona para o bem e pode produzir algo pior. Em vez disso, uma abordagem de mudança interna foi incentivada.

"Eu pessoalmente acredito em trabalhar a partir do interior para transformar o exterior. Acredito que existem modos como você trabalha... como um jornalista que leva a voz... conversando sobre isto, coletivamente (por meio) de esforços de raiz popular, ensinando às crianças — novamente, este é um dos projetos do meu coração. Vocês vão para as escolas e ensinam a próxima geração para que quando ela chegar à vida adulta, vá para dentro dos sistemas com uma mentalidade diferente."

Petição para o Estabelecimento de um Braço Religioso nas Nações Unidas

Apresentada pela Federação das Associações Zoroastristas da América do Norte, esta oficina apresentou uma petição para criar um "Braço Religioso das Nações Unidas".

O resumo: Como o mundo enfrenta tensões que têm causas-raízes na religião, um organismo interfé da ONU é necessário como um guia moral e espiritual. Foi explicado que esse grupo operaria além dos interesses políticos e dos governos e poderia direcionar a ONU a intervir nos conflitos de origem religiosa. Como um órgão coeso sob a autoridade da ONU, essa agência falaria como uma voz única, exemplificando a harmonia e a unidade mundiais.

Pode uma agência desse tipo frutificar? Talvez, mas neste ponto, a semente da ideia está apenas sendo plantada. Embora o Parlamento tenha fornecido o solo para nutrir o conceito, como outros programas interfé de elevadas intenções, este também poderá se desviar de seu objetivo intencionado, ou simplesmente se dissolver. Interessantemente, os apresentadores reconheceram os fracassos de projetos similares no passado. Eles disseram que aprender com os erros será uma prioridade.

Sobre o Mormonismo

Com o Parlamento sendo realizado em Salt Lake City e a uma pequena distância do Templo Mórmon, eu estava curioso para ver como a Igreja dos Santos dos Últimos Dias (também conhecida como Igreja Mórmon) atuaria nesse carnaval das religiões. Os mórmons entrariam nessa arena?

Sim, porém o relacionamento parecia estar um pouco distante, com exceção de uma celebração de Música Sacra.

A representação mórmon esteve visível durante a Cerimônia de Abertura, mas isto era previsível, afinal, estávamos em Salt Lake City, a capital do estado de Utah. O elder L. Whitney Clayton, o recém-indicado presidente-sênior dos Setenta — um cargo importante dentro da hierarquia da Igreja Mórmon — deu as boas-vindas a todos no Parlamento e reconheceu seu contexto interfé. O discurso dele foi cordial e relativamente não-comprometedor, apresentando votos de boa vontade e de harmonia.

Oficinas que enfocaram tópicos mórmons eram parte da programação, mas em comparação com as sessões hindu, sikh, budistas, muçulmanas e pagãs, os rastros mórmons eram pouco perceptíveis. As sessões orientadas para o mormonismo incluíram:

Indivíduos mórmons estavam envolvidos no Parlamento como voluntários e participantes. Mas, foi na noite do domingo que a Igreja Mórmon publicamente se vinculou com a visão interfé. Em 18 de outubro, o Tabernáculo de Salt Lake apresentou uma Noite de Música Sacra, uma extravagância multifé de adoração dentro da Praça do Templo — que é considerado um terreno sagrado para os Santos dos Últimos Dias. Durante duas horas, o Tabernáculo ressoou com os tambores de Burundi, o rodopio cósmico dos dervixes sufistas, um Chamado Islâmico à Oração, o Coro Bahá'í e expressões das tradições hindu, indígena, sikh, jainista, cristã e judaica. Foi uma mensagem implícita, se não explícita, guiada pelas ações realizadas no Tabernáculo, que uma espiritualidade mais ampla podia ser celebrada.

Sobre o Islã

A representação islâmica no encontro de 2015 foi substancial, começando com o presidente do Parlamento: o imã Abdul Malik Mujahid, um respeitável erudito islâmico de Chicago, que já rejeitou enfaticamente o terrorismo.

Outro ponto de contato foi o principal patrocinador do Parlamento — o Centro Internacional Rei Abdullah bin Abdulaziz para o Diálogo Intercultural e Interreligioso (KAICIID do acrônimo em inglês), uma organização intergovernamental e interfé sediada na Arábia Saudita. Antes de sua inauguração em novembro de 2012, o esforço de criar o KAICIID ganhou ímpeto quando o rei Abdullah e o papa Bento 16 se encontraram em 2007. Depois desse encontro histórico, o projeto do KACIID passou por sérios diálogos de alto nível, recebendo eventualmente o apoio do secretário-geral das Nações Unidas, que concedeu um lar para o KAICIID em Viena, Áustria. Aproximadamente um ano mais tarde, a organização abriu oficialmente suas portas, com a Santa Sé como fundadora e observadora.

O envolvimento do KAICIID no Parlamento foi extensivo. Além de atuar como o patrocinador principal, o órgão organizou uma oficina interfé de construção da paz, sessões de treinamento em mídias sociais, um Foro da Juventude, e foi patrono do Plenário dos Líderes Emergentes.

O envolvimento islâmico ocorreu também de outras formas. Inúmeras oficinas e sessões compartilhadas sobre tópicos islâmicos, liderados por personalidades e eruditos islâmicos, faziam parte da programação diária. Aqui estão alguns exemplos:

A representação islâmica também estava visível nas oficinas com tópicos mais gerais. Por exemplo, participei de uma sessão compartilhada intitulada "Recuperando o Coração da Nossa Família Global" em que budistas e muçulmanos conversaram sobre interdependência, programas interfé conjuntos e pontos comuns nas práticas contemplativas.

Personalidades islâmicas reconhecidas no Parlamento incluíram:

Mas, um líder islâmico se destacou devido à sua elevada posição dentro do Islã global. O xeque Saleh Abdullah bin Humaid (retratado aqui com seu tradutor, que está falando), o ex-presidente da Suprema Corte de Justiça da Arábia Saudita e imã na Grande Mesquita de Meca — também conhecida como Mesquita Sagrada — foi um importante palestrante durante a Plenária Sobre o Clima. O simples fato de um dos onze imãs da Grande Mesquita estar presente no Parlamento chamou minha atenção, pois ele representava a mesquita que tem a custódia do sítio mais sagrado do Islã, a Caaba. Na verdade, a Mesquita Sagrada foi construída em torno da Caaba.

Abdullah bin Humaid falou das lutas comuns que nos incentivam a uma maior cooperação. Ele explicou que a humanidade tem causado os problemas globais — desde o estresse ambiental até a pobreza — e que esses problemas, e outros mais, estão enraizados na mudança climática. Ele explicou que existe a necessidade de "equilíbrio em todas as coisas", observando ainda que o Islã proíbe a extravagância e o desperdício. A pobreza, o resultado de uma "má distribuição da riqueza", foi descrita como um problema internacional que pode ser tratado pelas estruturas islâmicas. O materialismo precisa ser superado.

Ele também falou sobre o extremismo religioso, dizendo que uma estrutura é necessária para sanar esta crise atual. Ele disse que o Islã tem sido erroneamente vilificado por certos setores da mídia, pois as vítimas do terrorismo são predominantemente muçulmanas. Ele declarou: "É verdade que existem muitos grupos terroristas que reivindicam um monopólio mal-orientado sobre o Islã. Eles perpetram ataques à bomba tanto contra muçulmanos como contra não-muçulmanos..."

Ele disse que o Alcorão e a legislação islâmica "estão em total oposição a essas crenças". A audiência aplaudiu.

Acho esta última posição especialmente preocupante, pois em 1995, Abdullah bin Humaid redigiu um documento que apoiava a Jihad, demonstrando a partir do Alcorão e da Suna que Alá recompensa aqueles que são mortos ou martirizados na causa da Jihad: "Que aqueles (crentes) que abrem mão da vida neste mundo pela vida futura, lutem na Causa de Alá; e quem assim luta na Causa de Alá e morre, ou alcança a vitória, concederemos uma granda recompensa. (4:74)."

"A Jihad é realmente uma grande obra e não existe obra cuja recompensa ou bênção seja igual a dela", escreveu o imã em seu tratado, Jihada in the Qur'ann and Sunnah (A Jihad no Alcorão e na Suna). "Por esta razão, ela é a melhor coisa para a qual alguém pode se apresentar como voluntário." (pág. 11).

Embora isto tenha sido escrito vinte anos atrás, o artigo do imã tem sido celebrado como uma defesa da Jihad violenta e, tanto quanto eu saiba, Abdullah bin Humaid nunca renunciou às palavras que escreveu em seu tratado.

Ao longo dos anos, participei de diversos eventos interfé; em todos eles, havia a presença islâmica. Posso aqui fazer três observações:

  1. Alguns muçulmanos acreditam genuinamente na possibilidade da coexistência multifé e na paz coletiva. Em outras palavras, os não-muçulmanos podem manter suas religiões e os muçulmanos manterão sua própria fé, e todos trabalharão juntos para construirem a unidade global.

  2. Alguns muçulmanos proclamam a paz e a união no contexto do movimento interfé, porém na verdade não acreditam na posição multifé de igualdade entre todas as religiões. Na realidade, o envolvimento deles tem o propósito de promover o Islã para fins de aceitação política e social.

  3. A condenação do extremismo islâmico pelos muçulmanos nos eventos interfé cria pressão para outras religiões fazerem o mesmo dentro de suas próprias comunidades, especialmente com a representação cristã. A lógica é mais ou menos a seguinte: "Como nossos irmãos muçulmanos interfé estão rejeitando o fundamentalismo islâmico, nós também precisamos restringir os extremistas cristãos."

A pressão social causa-e-efeito no ponto 3 é uma falsa narrativa; os extremistas islâmicos utilizam-se da violência para afirmar o Islã e, de forma não diferente de Abdullah bin Humaid, eles referenciam o capítulo 4, verso 74 do Alcorão como justificativa para suas sanguinárias ações. Falando em termos gerais, se você se opõe aos ensinos do Islã e é, portanto, um inimigo do Alcorão, então a Jihad "com a mão" pode ser lançada contra você. Como explicado no trabalho de pesquisa de Humaid de 1995, Jihad "com a mão" é utilizar a violência física na causa de Alá.

Por outro lado, o "fundamentalismo" cristão não espelha as ações do extremismo islâmico. Aqueles que creem em Jesus Cristo como o modo exclusivo de salvação — pois esta é a base do "fundamentalismo cristão" — não explodem carros-bombas nas proximidades dos mercados públicos, não assassinam donos de restaurantes e de cinemas, não sequestram meninas e adolescentes na saída das escolas para submetê-las a estupros e à escravidão, e também não decapitam aqueles que discordam deles.

Os extremistas ou fundamentalistas cristãos seguem as Escrituras bíblicas: "E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas." [Mateus 22:37-40]. Viver como o Bom Samaritano, ser o "sal da terra e luz do mundo", socorrer os órfãos e as viúvas, falar a verdade em amor e considerar os outros mais do que a si mesmo. Os "fundamentalistas cristãos" devem fazer discípulos (Mateus 28:19) e, como os apóstolos em Atos 1, devem ser testemunhas de Jesus Cristo, tanto para os que estão perto quanto para os que estão distantes. Isto é feito tendo uma resposta pronta para aqueles que perguntam sobre nossa esperança (1 Pedro 3:15) e sendo como Paulo em Atenas (veja Atos 17), falando a verdade com convicção e graça ao interagir com uma cultura pagã.

A mensagem da exclusividade de Jesus Cristo certamente divide, pois ela desmantela a justificação humana e os esforços de salvar a si mesmo, expondo assim nossas religiões — sejam elas seculares ou não — como insuficientes e ilusórias. Os "fundamentalistas" cristãos aderem a este paradigma bíblico, apresentando as boas novas de Jesus Cristo em palavras acompanhadas de obras realizadas com amor.

Associar os extremistas islâmicos com cristãos que aderem aos fundamentos de sua fé é falacioso. Mas, não são tipicamente os muçulmanos que fazem isso dentro do contexto interfé, embora isto também aconteça. Ao revés, normalmente são os representantes cristãos que engolem a isca e regurgitam a insinuação em algo mais enfático: os muçulmanos estão fazendo algo para calar seus extremistas, de modo que é hora de fazermos o mesmo com os nossos fundamentalistas.

O resultado é previsível: À medida que o mundo faz pressão contra os cristãos que defendem o ensino bíblico de salvação exclusivamente por meio da fé em Jesus Cristo, espere ouvir vozes a partir de dentro do "arraial cristão" que façam o mesmo.

Um por Todos

Embora a divisa oficial do Parlamento fosse "Recuperando o Coração da Nossa Humanidade", a mensagem geral era Unicidade: a Humanidade, a Natureza e a Divindade compartilham todas a mesma essência. Somos Um, era o lembrete repetitivo. Na verdade, se transformarmos a divisa em uma pergunta, "Como recuperamos o coração da humanidade?", a resposta é a seguinte: "Agindo como um só". Se procurarmos saber o que significa ser "plenamente humano" com nossos corações coletivos unidos e agindo como Um, a conclusão parece ser exatamente esta: Ser como Deus.

Somos os únicos que podem salvar a Mãe Terra, aqueles que podem trazer direção e sabedoria ao caos. Somos o messias da humanidade e da natureza. Recuperar o Coração da Nossa Humanidade significa reafirmar a reivindicação de nossa Divindade. Somos Um.

Este dogma central foi observável desde o início até o fim. Ele estava na canção da Assembleia Inaugural das Mulheres: "Somos um com toda a vida... Somos um com o um."

O dogma estava incorporado no hino do Parlamento que foi entoado durante a Cerimônia de Abertura: "Somos o vento. Somos o mar. Somos os rios. Somos as árvores. Somos as montanhas. Somos as abelhas. Tenhamos a Terra como nossa amada, recuperemos a humanidade."

O dogma estava visível nos trabalhos artísticos exibidos no Salão Cultural, como o mural comunitário Projeto de Aspiração, uma parede de 1,80 X 9 metros em que os participantes podiam deixar mensagens de unidade mundial e de Unicidade — e sim, eu também adicionei uma mensagem ali: O Deus verdadeiro é distinto e separado da natureza e da humanidade.

O dogma estava incorporado em todo o Salão de Exibição: desde a simpática senhora com quem conversei na exibição sobre o Aumismo — o Aumismo é uma nova religião de base hinduísta que sintetiza todas as fés "para salvar a Mãe Terra" (ela não conseguia compreender que uma alternativa à Unicidade poderia sequer existir) — até o balcão que apresentava o livro de Urântia com sua mensagem "tudo é um", até a literatura da Universidade Nithyanandam: “O yôga é a religião mais praticada no mundo hoje... Yôga é a 'união' contínua do corpo-mente-ser no espaço de advaita, a unicidade.”

O dogma foi celebrado durante as sessões plenárias em canções, orações e palestras.

O dogma foi experimentado nos muitos rituais, como a Missa Cósmica, a Comunhão Cristã Mística para Todos, a Meditação da Transmissão, a Adoração do Planeta Unido, para citar apenas alguns.

Além disso, na infinidade de aulas e oficinas, o conceito de Unicidade foi explorado e ensinado, dia após dia.

Como pode a Unicidade existir quando tantas religiões se contradizem e se chocam em pontos importantes? O que fazemos com o número imenso de diferentes doutrinas e de ensinos divergentes?

Este foi o tópico de uma sessão realizada em 17 de outubro, intitulada "Buscando Unidade com a Diversidade: Somos Realmente Todos Um?" Com um tópico assim tão intrigante, não demorou muito para que a sala ficasse lotada.

O ministro interfé Philip Golberg, autor de American Veda: From Emerson and the Beatles to Yoga and Meditation, How Indian Spirituality Changed the West (Veda Americano: De Emerson e os Beatles Até Yôga e Meditação: Como a Espiritualide Indiana Transformou o Ocidente) — um livro que esteve entre os dez mais vendidos na categoria de Religião e Não-ficção em 2011 — abriu a sessão e explicou que podemos encontrar unidade em muitas áreas: propósito comum, ação no mundo, princípios éticos, biologia e nas questões ambientais e ecológicas. Mas, a verdadeira Unicidade transcende essas dimensões exteriores, e foi nisso que a sessão enfocou.

"Cada um de nós é o outro", Goldberg disse à assembleia.

"Eu sou você, você é eu... É este nível de unificação e unicidade que queremos tratar aqui nesta manhã, pois achamos que este é o nível mais fundamental de unidade: o nível mais fundamental de unicidade. Além disso, ele não é para ser encontrado apenas no exercício mental ou no diálogo; ele deve ser encontrado na experiência direta dessa realidade dentro de nós mesmos."

"Ver a divindade em outras pessoas", Goldberg disse, "é uma coisa maravilhosa". Entretanto, esse reconhecimento precisa ser derivado de algo contextual, como Goldberg explicou.

"É... no nível da experiência direta que você vê e percebe a divindade em nós mesmos e nas outras pessoas e não apenas pensa sobre isto, que a verdadeira unicidade deve ser encontrada. E isto não é apenas uma construção intelectual — mas há uma realidade prática, porque é em transcender essa força usual de identidade e de identificação que despertamos para a divindade que existe dentro de nós mesmos — que a transformação espiritual ocorre, que a consciência transformacional ocorre e que a abertura do coração humano ocorre. Portanto, agir com compaixão, com cuidado e preocupação pelos outros e pelo planeta, não é algo que requer esforço, pois vemos a divindade em todas as coisas."

Mas, como isto ocorre? Experiência direta via misticismo contemplativo — e qualquer pessoa pode fazer isto, não apenas os sábios e os luminares espirituais.

Demonstrando esta unicidade baseada na experiência, Goldberg pediu que todos aquietassem suas mentes e pensassem novamente em uma experiência espiritual pessoal e sublime — "onde algo aconteceu profundamente dentro de você e que foi, pelo menos em certa extensão, transformador, quando você sentiu uma experiência, uma conexão com a divindade conforme você a compreende... apenas reflita nisto por um ou dois minutos."

Em seguida, ele pediu que a audiência explicasse a memória dessa experiência com uma palavra ou frase-chave da linguagem do dia a dia, sem usar palavras específicas da sua tradição religiosa.

Diversas pessoas falaram em voz bem alta: "Reunião", "transcendental", "seu lugar é aqui", "interconectados", "expansão", "unicidade", "encontro", "luminoso", "uma experiência tremenda", "alegria", "conforto", "amor".

Em seguida, ele perguntou: "Quantos de vocês se relacionam com esses termos? Um número muito grande de pessoas levantou a mão em afirmação.

E este era o ponto: muçulmanos, judeus, cristãos, hindus, budistas, pagãos, sikhs, taoístas, aderentes da Nova Era, xamãs — todos podiam de forma experiencial se relacionar com a sensação derivada espiritualmente da divindade e da unicidade.

Os fatos não importam, a doutrina não era importante, a teologia não fazia sentido algum e as afirmações de verdade divergentes foram colocadas de lado. As fronteiras que nos separavam foram dissolvidas, pois a sensação exuberante da unicidade era a mesma para todos; ela simplesmente fora derivada por caminhos diferentes.

Sai dali com três pensamentos:

  1. A sensação de unicidade é exatamente isto — uma sensação — e esse senso de conexão e expansão pode ser encontrado por meio de um leque de atividades e de práticas. Na meditação contemplativa, no rodopio dos dervixes sufistas, por meio do Yôga, na energia coletiva de uma multidão, na pista de dança de uma rave, na grandiosidade ou no silêncio da natureza, por meio de substâncias psicodélicas, em rituais realizados solitariamente ou em grupo. A sensação pode acontecer em ambientes religiosos ou seculares e pode ser uma manifestação interior ou exterior; a jornada interior mística, ou a impressão dominante de um evento ou de um movimento fora da própria pessoa. E isto me faz considerar que, talvez, a sensação de unicidade é acionada psicologicamente (e quimicamente), ou é um estado emotivo ou catártico. Poderia haver um aspecto espiritual? Certamente que sim, e até mais, se colocamos significado religioso sobre a sensação — e até usando-a para justificar posições espirituais.

  2. Os cristãos precisam ser especialmente cuidadosos ao considerarem os encontros emotivos poderosos e experienciais, pois a sensação subsequente pode ser erradamente confundida com a presença de Deus. "Deus estava realmente se movendo", ou "Eu podia sentir o espírito de Deus", são declarações que já ouvi após serviços de adoração cristã e por meio das dinâmicas de outros ambientes cristãos. Posso me lembrar de um rapaz que me falou sobre um serviço de adoração específico: "Eu podia sentir Deus em minha pele; eu podia senti-Lo desde a raiz dos meus cabelos. Com cada respiração, eu inalava e expirava Deus." Goldberg descreveria isto como uma "experiência direta" de unicidade.

  3. Uma experiência "espiritual" de abrangência mundial, literalmente um encontro emotivo e coletivo que produza uma profunda transformação mental poderia, teoricamente, ser um catalisador para reconhecer que somos aquilo que Robert Muller, um ex-alto funcionário da ONU certa vez escreveu: o "planeta de Deus". A educação para a cidadania global e a pressão da nossa cultura "planetariamente correta" já condicionaram essa resposta nos corações de muitas pessoas. O Parlamento das Religiões do Mundo é ele próprio um testamento para essa possibilidade coletiva.

Conclusão

A história do Parlamento das Religiões do Mundo é um reflexo da transformação espiritual e cultural dos tempos.

Em 1893, o primeiro Parlamento se reuniu em Chicago, IL, EUA. As décadas finais do século 19 testemunharam o aparecimento de novas religiões e de movimentos esotéricos, de modo que o Parlamento foi um terreno fértil para a abertura da mente ocidental para as perspectivas do Oriente. Ele também preparou o terreno para o moderno movimento interfé (veja o livro Pilmigrage of of Hope: One Hundred Years of Global Interfaith Dialogue (A Peregrinação da Esperança: Cem Anos de Diálogo Interfé Global), de Marcus Braybrooke, SCM Press, 1992).

O Parlamento seguinte foi realizado em 1993 — novamente em Chicago — e renovou o entusiasmo pelo esforço interfé e pela busca da unidade global. Cerca de 3.000 líderes religiosos participaram; foi a partir deste encontro que uma "ética global" foi lançada.

Em 1999, o Parlamento foi realizado na Cidade do Cabo, na África do Sul e teve como participantes dignatários como Desmond Tutu e Nelson Mandela. Cerca de 7.000 pessoas participaram e todos na comunidade interfé aguardavam ansiosamente o início do novo século.

Dois outros Parlamentos foram convocados após o encontro em Cidade do Cabo: Barcelona em 2004 e Melbourne em 2009. O evento na Espanha contou com 9.000 participantes e o Parlamento foi vinculado diretamente com o Foro Universal das Culturas, que é patrocinado pela UNESCO. Em 2009, o evento na Austrália reuniu 6.500 pessoas e teve como participante o ex-presidente americano Jimmy Carter.

Com o histórico acima em mente, o Parlamento das Religiões do Mundo, que se reuniu em Salt Lake City em outubro de 2015, terminou em um ponto alto. O presiente Mujahid anunciou que, em vez de realizar um evento a cada cinco anos aproximadamente, o tempo agora era propício para que Parlamento se reunisse a cada dois anos. A data e o local ainda não foram definidos, mas os mecanismos já estão preparados para um "Parlamento em dois anos".

Definindo o cenário para a busca continuada do Parlamento pela harmonia global, um comentário durante a Cerimônia de Encerramento sintetizou tudo: "A união é fundamental. A unicidade é fundamental. Quando a unicidade é alcançada, as coisas mudam rapidamente."


Fonte: Forcing Change, Volume 9, Edição 10.
Data da publicação: 22/11/2015
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/fc-10-2015.asp